Éden - Capítulo 7: Santo Espadachim

O ar ao redor parece se tornar mais denso com a tensão que paira no ambiente. Samuel ainda luta para aceitar o que seus olhos estão vendo, sentindo um misto de incredulidade e raiva. O som de passos lentos, mas firmes, ecoa pelo local, e uma voz calma, quase indiferente, corta o silêncio.

— Ah... desculpem. Minha arma biológica se moveu sem minhas ordens. Parece que ela ainda preserva algum traço de personalidade — a voz pertencente ao Cientista é fria, com uma ponta de sarcasmo.

Diante deles, uma figura feminina de aparência perturbadora. Cabelos negros e longos caem sobre seus ombros, mas o que mais chama atenção são as partes cibernéticas de seu corpo. Seus olhos negros, sem vida, e a falta de expressão no rosto tornam sua presença inquietante. Vestida com uma calça justa e uma camisa com um decote, ela parece uma mistura bizarra de humano e máquina.

Ela suspira, um som mecânico que reverbera em sua voz.

— Ahh... — murmura a "arma biológica", em um tom robótico, quase vazio.

Samuel, ainda atordoado, dá um passo à frente, e sua voz finalmente quebra o gelo.

— Arma biológica? — sua expressão de incredulidade logo se transforma em raiva. — O que você fez com ela?! — Ele se levanta, o corpo tensionado, os punhos cerrados.

O Cientista levanta uma sobrancelha, indiferente à fúria crescente de Samuel.

— O que eu fiz? — Ele dá de ombros, com um sorriso satisfeito. — Eu simplesmente dei uma nova vida a ela.

— Nova vida?! — Samuel dá um passo agressivo em direção ao Cientista, o olhar furioso, a voz carregada de dor e indignação. — Isso não é vida!

Zack, ainda de joelhos e visivelmente ferido, levanta a mão, impedindo que Samuel avance mais. Ele respira com dificuldade, o corte em seu peito ainda sangrando, mas sua voz se mantém firme.

— Samuel... — ele sussurra, sua mão trêmula, mas determinada a detê-lo. — Não... não seja imprudente...

Com esforço, Zack se levanta, equilibrando-se enquanto luta para recuperar o fôlego. Ele lança um olhar em direção à figura cibernética e, com a voz calma, questiona:

— Você... parece conhecê-la. Quem é ela?

Samuel abaixa a cabeça por um momento, sua expressão oscila entre a tristeza e o desespero.

— Ela... estava morta — diz ele, a voz carregada de dor.

O Cientista, ao ouvir isso, solta uma risada sarcástica, quase como se estivesse se divertindo com a revelação.

— Morta? Para ser mais preciso, ela estava morrendo. Eu a salvei. Fiz algumas melhorias — ele sorri perversamente enquanto desliza a mão pelas partes cibernéticas dela. — Faltavam algumas... peças, então eu tive que improvisar.

Samuel range os dentes, seus punhos se cerrando com tamanha força que seus nós dos dedos empalidecem. Ele está prestes a avançar quando Zack, mais uma vez, se coloca entre ele e o Cientista, impedindo uma possível tragédia.

— Você trabalha para a Organização? — Zack pergunta, a voz firme, encarando o Cientista com um olhar duro.

O Cientista dá um sorriso despreocupado, balançando a cabeça.

— A Organização? Ah... não, não trabalho para eles. Apenas forneço meus elixires de variantes em troca de... cobaias. Inclusive, essa obra de arte aqui foi presente deles. Ela é a minha criação mais preciosa — diz, deslizando a mão pelo rosto da mulher, apertando suas bochechas com uma intimidade perturbadora. — Pena que só sobrou o rostinho bonito. O resto... foi reconstruído.

Os olhos de Samuel brilham com uma raiva que parece à beira de explodir. Sua voz sai como um grunhido baixo e ameaçador.

— Toque nela de novo, e eu te juro... vou arrancar essa sua mão imunda.

O Cientista recua a mão rapidamente, erguendo-a em sinal de rendição.

— Calma, calma! Eu sempre me empolgo com minhas criações. Mas parece que vocês dois têm algum tipo de passado... que pena. Eu adoraria testar o desempenho dela numa luta. — O olhar dele se torna distante, como se estivesse planejando algo.

Zack tenta falar, sugerindo que ele poderia ser o oponente, mas Samuel o interrompe.

— Eu luto com ela. — Sua voz é firme e determinada. — Mas com uma condição.

O Cientista inclina a cabeça, curioso.

— E qual seria essa condição?

— Se eu vencer, você a liberta — diz Samuel, com um olhar que não aceita negociação.

O Cientista sorri de forma sinistra.

— Interessante. Mas... se você perder, vou levá-lo comigo para um dos meus experimentos. O que acha?

Samuel hesita por um momento, mas seu olhar determinado não vacila.

— Aceito.

Enquanto eles se preparam para o confronto, Zack se aproxima, preocupado. Ele olha para Samuel, com o peito enfaixado, claramente ainda ferido da última batalha.

— Tem certeza de que quer fazer isso? — pergunta ele, a voz carregada de preocupação. — E com essa condição?

Samuel respira fundo, seus olhos não desviam do Cientista nem da mulher diante dele. Ele alonga os músculos, preparando-se mentalmente para a batalha que virá.

— Sim, Zack... — Ele olha para o amigo com seriedade. — E, por favor, não interfira, não importa o que aconteça.

A tensão no ar é palpável, e tudo parece prestes a explodir em uma tempestade de emoções e violência.

Zack acena com a cabeça, aceitando silenciosamente a decisão de Samuel. Ele compreende a gravidade do momento e respeita a vontade do amigo. Ambos se posicionam, com as espadas firmemente empunhadas, prontos para o combate. O silêncio pesa no ar, interrompido apenas pelo som do vento. Num instante, como se obedecessem a um comando invisível, eles avançam.

O som metálico de suas espadas colidindo ressoa pelo campo, faíscas saltam no ar, iluminando seus rostos determinados. Os dois recuam apenas para avançar novamente, desferindo cortes rápidos e precisos. Movimentos diagonais, verticais, horizontais, todos tão rápidos que o olho mal pode acompanhar. Cada golpe é defendido, cada investida rebatida, e faíscas continuam a saltar conforme os espadachins trocam golpes com precisão letal.

Samuel, com um grito baixo e determinado, pula, girando o corpo no ar e desferindo um ataque mortal. A mulher cibernética levanta sua lâmina a tempo de bloquear, o impacto a faz recuar, mas ela se recupera com uma rapidez sobre-humana. Aproveitando o breve momento em que Samuel se estabiliza, ela avança com uma investida perfurante, sua espada reluzindo como uma lança afiada. Samuel, ágil, desvia o ataque por um triz e contra-ataca com um golpe ascendente, quase cortando sua oponente. A lâmina passa a milímetros de seu rosto, cortando apenas sua franja.

Eles param. O silêncio é preenchido pelo som da respiração ofegante. Ambos se encaram, seus olhares cruzados com uma intensidade que revela muito mais do que palavras poderiam expressar. A mulher sorri, quase imperceptivelmente, um sorriso que desarma Samuel por um breve segundo. Surpreso, ele retribui o gesto. Era como se, por um instante, a sombra de quem ela foi ainda estivesse ali.

Sem perder mais tempo, ela aperta a espada com firmeza e avança com uma velocidade assustadora. Samuel esquiva por um triz, seu corpo respondendo automaticamente ao perigo, e então contra-ataca com toda sua força, desferindo um golpe diagonal. Ela recua, mas imediatamente retorna ao ataque. As espadas voltam a colidir com força, criando uma onda de pressão que empurra o ar ao redor. Raios caem no horizonte, a tempestade cresce à medida que a batalha entre os dois atinge um novo nível de intensidade.

Enquanto as lâminas estão travadas, os dois se encaram profundamente, como se aquele momento fosse uma dança coreografada de memórias. Um sorriso nostálgico brota nos rostos de ambos, uma lembrança distante da infância que ambos compartilharam, quando duelar era algo simples, puro. Os flashes das memórias são rápidos, mas suficientes para lembrar a Samuel quem ela era.

As lâminas se chocam novamente, desta vez com mais força. Por longos minutos, a luta se estende, cada golpe mais feroz que o anterior. Eles se afastam, respirando pesadamente. Ambos estão cobertos por cortes — não fatais, mas dolorosos. O sangue pinga de suas roupas, se misturando à chuva que agora começa a cair.

E então, algo muda. Os olhos de ambos brilham com uma nova determinação. De seus corpos, auras começam a emanar, como se a própria essência de suas almas estivesse se manifestando. As auras tomam formas imponentes — a de Samuel, um dragão vermelho, feroz e selvagem; a dela, um dragão azul, elegante e letal.

Eles se preparam para o último ataque.

As espadas brilham enquanto as auras rugem ao redor deles. O som dos dragões se entrelaça com o trovão ao longe. Então, num piscar de olhos, ambos avançam, suas figuras desfocadas pela velocidade. O impacto das espadas cria uma explosão de energia, levantando destroços e poeira. A força do choque é tão grande que o solo treme.

Quando a poeira finalmente começa a assentar, uma espada voa, fincando-se no chão com força. E então, quando tudo se acalma, Samuel é revelado de pé, com a lâmina apontada para o pescoço da mulher. Ofegante, mas firme, ele sorri com esforço.

— Ganhei... — diz ele, entre respirações pesadas.

De longe, escondida atrás de destroços, Emi emerge. A pequena criatura corre até Zack, que observa tudo com um leve sorriso no rosto, aliviado.

— Parece que ele venceu, Emi — diz Zack, sem tirar os olhos da cena.

— Kyuu — responde Emi, abanando o rabo alegremente.

Do outro lado, o Cientista, insatisfeito com o resultado, murmura para si mesmo.

— Outra falha... — diz ele com desprezo, antes de se virar para ir embora.

No entanto, o alívio não dura muito. O chão começa a tremer violentamente, sacudindo tudo ao redor. Emi se encolhe, com as orelhas abaixadas de medo. Debaixo de Samuel, o solo se rompe, e um enorme escorpião surge, destruindo tudo em seu caminho. Samuel e a mulher cibernética são jogados para o alto, caindo pesadamente no chão.

O escorpião, sem perder tempo, ataca com seu ferrão mortal, mirando diretamente em Samuel, que ainda está caído, vulnerável. Vendo o perigo iminente, a mulher, num ato desesperado, se joga na frente do ataque, o ferrão atravessando seu corpo.

Ela olha para Samuel, sangue escorrendo pela boca, um sorriso triste nos lábios.

— Você não mudou nada, baixinho... — diz ela, seus olhos voltando ao normal, sua expressão finalmente humana, enquanto a chuva começa a cair com mais intensidade.

— Miyu... — sussurra Samuel, os olhos arregalados, as pupilas tremendo com a lembrança do passado. Ele vê flashes de suas memórias no dojo, os dois treinando juntos, ela sorrindo para ele, o momento em que ela se sacrificou pela primeira vez para que ele pudesse escapar.

— Essa expressão... — ela tosse sangue. — ...não combina com você.

O escorpião recua o ferrão, e Miyu cai de frente no colo de Samuel, sujando-o com seu sangue. Zack, percebendo o perigo, corre para atacar o escorpião, desferindo um soco poderoso. O golpe não causa muito dano, mas é o suficiente para desviar a atenção da criatura.

A chuva, agora torrencial, cai em ondas. Trovões reverberam pelo céu. Samuel, com as mãos tremendo, vira Miyu em seus braços. Sua voz falha enquanto morde os lábios, lágrimas começando a se misturar com a chuva.

— Por quê... por que você fez isso de novo? — pergunta ele, a dor rasgando sua voz.

— Eu faria... infinitas vezes... se fosse preciso — responde Miyu, a voz fraca, quase desaparecendo. — Eu prometi ao mestre... que cuidaria de você... e... Samuel, lembra da nossa aposta?

Samuel pega sua espada, erguendo-a para o céu, mesmo com o peso das lágrimas.

— Sim... eu lembro... quem vencesse... herdaria a espada do coração do outro...

Miyu, com seu último resquício de força, segura a lâmina junto com Samuel, um sorriso fraco em seus lábios.

— O vencedor... herdaria a espada do coração... — E então, suas mãos caem sem vida.

Samuel permanece em silêncio, os olhos fixos nela enquanto as lágrimas escorrem pelo seu rosto. Ele a deita no chão com cuidado, as mãos no peito de Miyu. Ele se levanta, ainda em silêncio, mas agora algo dentro dele mudou.

Zack, ferido, luta contra o escorpião, mas está em desvantagem. O escorpião avança, mas então um som cortante preenche o ar. O ferrão da criatura é decepado em um único golpe. Zack, surpreso, vira-se e vê Samuel caminhando em sua direção, empunhando duas espadas. Sua aura assassina emana com força total, enquanto lágrimas escorrem de seus olhos. Ao fundo, trovões caem com uma fúria quase sobrenatural.

Naquele momento, nascia o Santo Espadachim.

...----------------...

...----------------...

(Arte Conceitual, Miyu)

Mais populares

Comments

Alin3

Alin3

.

2023-02-15

1

Alin3

Alin3

o zack coitado só se lasca kkkkkk

2023-02-15

1

Quarto Gamer

Quarto Gamer

tá quem mais vai morrer pra ele virar o Zoro?

2023-02-15

3

Ver todos

Baixar agora

Gostou dessa história? Baixe o APP para manter seu histórico de leitura
Baixar agora

Benefícios

Novos usuários que baixam o APP podem ler 10 capítulos gratuitamente

Receber
NovelToon
Um passo para um novo mundo!
Para mais, baixe o APP de MangaToon!