[Alguns anos atrás... no Dojo]
O dojo ficava isolado em uma área rural, cercado por cerejeiras que dançavam suavemente ao vento, criando uma atmosfera serena. O chão de terra batida da área de treinamento ao ar livre era marcado pelos passos firmes dos discípulos, enquanto o salão interno ecoava o som das espadas de madeira se chocando. Os dormitórios eram simples, mas suficientes para acomodar os discípulos, separados em alas para homens e mulheres. Samuel, ainda muito jovem, morava nas proximidades e se matriculou no dojo. Foi ali que, pela primeira vez, conheceu Miyu.
Desde o primeiro dia, os dois pareciam destinados a se encontrarem. Ambos começaram o treinamento ao mesmo tempo, e desde então um espírito competitivo nasceu entre eles. Samuel e Miyu treinavam sempre juntos, desafiando um ao outro em tudo: quem aguentava mais tempo brandindo a espada, quem conseguia manter a postura perfeita por mais tempo. Esses desafios eram parte da rotina diária deles, e, embora disputassem ferozmente, uma amizade sólida se formava a cada novo treino.
Após um intenso treinamento com espadas sob o olhar rigoroso do mestre, Samuel e Miyu, ainda crianças, estavam deitados lado a lado no chão do dojo, os corpos cansados e suados. O calor da tarde fazia o ar parecer mais pesado, e a respiração dos dois era o único som que se ouvia no ambiente.
— Ahh... — resmungou Samuel, tentando recuperar o fôlego. — O velho não pega leve... tô todo dolorido.
Miyu, igualmente exausta, sorriu de lado, o rosto suado e as mãos ainda marcadas pelo impacto da espada de madeira.
— Ele nunca facilita. Nem para crianças. — A voz dela era leve, mas carregada de admiração pelo mestre, apesar do cansaço.
Samuel resmungou mais uma vez, agora com um tom brincalhão, mas havia uma pitada de seriedade em suas palavras.
— Um dia, eu vou arrancar os últimos fios de cabelo daquele velhote...
Miyu riu, mas logo ficou séria, voltando-se para Samuel com um brilho nos olhos.
— Ei, Samuel... — começou ela, com um sorriso travesso. — Que tal fazermos uma aposta?
Samuel virou a cabeça, curioso.
— Uma aposta? Sobre o quê? — perguntou, ainda tentando controlar a respiração.
Com um gesto repentino, Miyu pegou sua espada de madeira e a ergueu para o céu, o brilho do sol refletindo na lâmina desgastada pelo treino.
— Quando formos mais velhos, vamos lutar de verdade, com nossas espadas de verdade. O vencedor... — ela fez uma pausa, um sorriso travesso iluminando seu rosto. — O vencedor fica com a Espada do Coração do perdedor. O que acha? — Os olhos dela brilhavam com a expectativa, apesar de sua juventude.
Samuel também ergueu sua espada, cruzando-a com a dela no ar.
— Você sabe que eu não gosto de perder, Miyu. — Ele sorriu, aceitando a aposta com a mesma determinação que colocava em cada duelo.
— Eu também não! — Miyu respondeu com uma risada, sua voz leve, mas cheia de competitividade.
A **Espada do Coração** era um dos maiores ensinamentos passados pelo mestre. Ele dizia que, quando duas pessoas confiavam suas lâminas uma à outra em um duelo, o laço entre elas forjava a espada mais poderosa, mas apenas uma delas poderia possuir esse legado. Confiar a Espada do Coração ao outro era o maior sinal de respeito e afeto.
Miyu, desde sempre, foi uma garota enérgica, com um senso de justiça afiado e uma competitividade ardente. Sempre protetora, intervinha quando Samuel era vítima de provocações por parte dos outros discípulos mais velhos, defendendo-o com destreza e firmeza. Com o tempo, foi ela que ajudou Samuel a encontrar coragem para se defender, tornando-o mais forte, mais confiante.
Os dois construíram uma amizade profunda e inabalável ao longo dos anos. As competições entre eles continuaram, mas havia um respeito mútuo que só crescia com o tempo. Quando o mestre os presenteou com suas espadas de verdade, o destino parecia selado: Samuel recebeu uma espada de punho vermelho e preto, enquanto Miyu empunhava uma de punho azul e branco. Suas lâminas eram mais do que apenas armas; eram uma extensão da jornada que trilharam juntos.
Mas tudo mudou numa noite fatídica.
O dojo, que sempre fora um santuário de paz e disciplina, foi invadido por sombras. As chamas se alastravam rapidamente, consumindo a estrutura de madeira, enquanto os gritos dos discípulos ecoavam ao longe. O cheiro de sangue e fumaça dominava o ar, e corpos de companheiros caíam ao chão sem vida. Samuel e Miyu, já crescidos e hábeis com suas espadas, lutavam lado a lado, defendendo o que restava do lugar que chamavam de lar.
Após derrotarem vários invasores, correram até o salão do mestre. O cenário que os aguardava era devastador: o mestre estava caído no chão, uma espada cravada nas suas costas. O choque os paralisou por um breve momento, mas logo perceberam que não havia tempo para o luto. Mais invasores entraram na sala, prontos para acabar com qualquer resistência.
— Vai na frente, Samuel — disse Miyu, apertando sua espada com força, o olhar determinado. — Vou segurá-los. Você precisa sair daqui.
Samuel balançou a cabeça, a raiva fervendo dentro dele.
— Não. Eu não vou! — Seus olhos se encheram de fúria ao olhar para os invasores que destruíram seu lar. — Eu vou fazê-los pagar por isso!
Miyu soltou um suspiro profundo, já prevendo a teimosia do amigo. Ela se preparou para o ataque, levantando a espada com uma determinação implacável.
— Sabia que você diria isso. Eu também quero vingança. — E com isso, eles avançaram juntos, como sempre fizeram.
A batalha foi brutal. Eles lutaram lado a lado, suas espadas dançando no ar, cortando os invasores que ousavam se aproximar. Mas o desgaste físico e o calor do fogo começaram a cobrar seu preço. O dojo já estava prestes a desmoronar, o teto se desfazendo em chamas, quando uma figura misteriosa, rápida como o vento, surgiu das sombras. Num movimento quase imperceptível, o inimigo desferiu um golpe mortal contra Samuel.
Miyu, sem hesitar, lançou-se à frente de Samuel, empurrando-o para fora da sala. O golpe, que deveria ter sido para Samuel, acertou Miyu em cheio, decepando seu braço. Ela gritou de dor, mas manteve-se firme, erguendo a espada com a mão que restava.
— Foge, Samuel... — disse ela, a voz trêmula, mas decidida.
— Nunca! — gritou ele, tentando se levantar.
— Vai logo, por favor! — suplicou Miyu, virando-se para ele, os olhos cheios de lágrimas, implorando que ele a deixasse.
Samuel hesitou, a frustração e a raiva borbulhando dentro dele, mas, vendo o olhar desesperado de Miyu, ele finalmente cedeu. Com uma expressão de pura frustração e dor, ele correu, fugindo pelas chamas.
Enquanto via Samuel desaparecer, Miyu sussurrou para si mesma:
— Me desculpe... e obrigada...
Com um último suspiro, ela se virou para o inimigo, lágrimas escorrendo pelo rosto, e partiu para o ataque, sabendo que aquele seria seu último ato. O dojo desmoronava ao redor dela, mas Miyu estava em paz. Ela havia cumprido sua promessa.
E naquele dia, sem saber, Samuel herdou a Espada do Coração de Miyu, um vínculo que jamais poderia ser quebrado.
[Voltando ao presente...]
O escorpião, com o ferrão decepado, começou a se debater em agonia, suas patas rasgando o chão em movimentos desordenados. Mas Samuel, implacável, avançou. Com as duas espadas firmemente empunhadas, ele desferiu um golpe feroz. O escorpião usou seus palpos para defender, e o impacto gerou uma chuva de faíscas. Samuel aproveitou o recuo da colisão para se lançar ao chão e deslizou por baixo da criatura, cortando suas patas com uma velocidade impressionante. Uma após a outra, as extremidades do monstro foram arrancadas. O escorpião, agora imobilizado, continuava se contorcendo em desespero. Samuel estava torturando a criatura, retirando cada um de seus membros com precisão letal.
Finalmente, sem qualquer piedade, Samuel ergueu as duas lâminas e as cravou com força na cabeça da criatura. Com um movimento certeiro, cortou o escorpião ao meio, deixando seu corpo dividido e imóvel.
Porém, do mesmo buraco de onde o primeiro escorpião havia saído, mais três criaturas surgiram. Samuel, exausto e coberto de sangue, ergueu a espada de Miyu ao céu, sua expressão carregada de dor e tristeza. Os novos escorpiões avançaram com furor, mas Samuel, com um profundo suspiro, abaixou a espada e fechou os olhos. O som do ferrão rasgando o ar foi seguido pelo silêncio absoluto. Samuel desapareceu num salto alto, subindo aos céus como um raio. Durante a queda, sua voz ecoou suave e firme:
— Arte da Espada Celestial: Estilo Duas Espadas: Lâminas Meteóricas!
O impacto de sua descida foi devastador. O chão tremeu como se um meteoro houvesse colidido com a terra, e uma explosão de poeira e destroços se espalhou ao redor. Quando a poeira baixou, os três escorpiões estavam dilacerados, seus corpos reduzidos a pedaços espalhados por uma cratera enorme. Samuel, agora coberto de sangue, saiu lentamente do centro da destruição, suas forças esvaídas.
Antes que pudesse sequer respirar, o chão voltou a tremer. Rachaduras se formaram no solo, e, de dentro delas, olhos vermelhos e brilhantes surgiram. O Escorpião Rei, uma versão maior e mais aterrorizante da criatura anterior, irrompeu com tudo, seu corpo negro reluzindo à luz da lua.
Mesmo esgotado, Samuel levantou suas espadas, os braços trêmulos de cansaço. O Escorpião Rei avançou com fúria, e seu palpo gigantesco cortou o ar com uma rajada de vento poderosa. Samuel tentou se defender, mas foi lançado para longe como uma folha ao vento. Quando seu corpo voava, Zack pulou atrás dele, agarrando-o no ar e suavizando sua queda.
— Consegue dar mais um daqueles golpes? — Zack perguntou, segurando Samuel e observando a criatura monstruosa.
Samuel ofegou, lutando para se levantar.
— Consigo... mas depois disso, não vou conseguir me mover.
Zack sorriu, preparando-se.
— Isso já é o bastante. Vou te jogar direto para cima dele. Você ataca quando ele estiver distraído.
Samuel assentiu com a cabeça, ciente do plano arriscado. O Escorpião Rei, impiedoso, avançou, levantando uma nuvem de poeira com seu ataque. Samuel e Zack esquivaram-se rapidamente. Samuel correu em direção ao amigo, e, em sincronia perfeita, pulou, pisando na mão de Zack. Carregando sua aura na mão, Zack arremessou Samuel para o alto com toda sua força.
Enquanto subia em direção ao monstro, Samuel gritou com toda a sua força:
— Arte da Espada Celestial: Estilo Duas Espadas: Dragões Gêmeos!
Duas figuras espectrais de dragões, um azul e outro vermelho, emergiram de suas lâminas. Eles avançaram com Samuel, seus rugidos ecoando pelos céus. O corte foi preciso e brutal. As lâminas de Samuel rasgaram o rosto do Escorpião Rei ao meio, e o impacto abriu o céu, dissipando as nuvens e fazendo a chuva cessar.
Samuel, sem forças, começou a cair. Seus olhos pesados, o corpo exausto. Zack correu até ele e o segurou antes que atingisse o chão, soltando um suspiro aliviado. No entanto, atrás deles, o Escorpião Rei começou a se regenerar rapidamente. Sua carne se recompôs, e ele voltou a avançar, agora mais furioso do que nunca.
— Maldição... — murmurou Zack, ainda de costas para a criatura. Mas, ao invés de pânico, um sorriso apareceu em seus lábios. — Tá atrasada, mestra.
No alto Dos destroços de um prédio, uma figura feminina surgiu com uma postura imponente. Ela trazia uma mão na cintura, o olhar confiante, vestindo uma calça preta e um top justo.
— Desculpe a demora, garoto. — A voz de Roxyne era grave e carregada de poder. — Vim o mais rápido que pude.
A simples presença dela fez o Escorpião Rei hesitar. Seus olhos vermelhos brilhavam intensamente, e a atmosfera ao redor dela parecia tremer. Num piscar de olhos, Roxyne desapareceu de onde estava e surgiu bem abaixo do monstro. O Escorpião tentou esmagá-la com seus palpos gigantescos, mas ela os bloqueou com uma única mão.
— Vamos acabar logo com isso. — Roxyne sorriu. — Estou com fome.
Sua aura densa emergiu, e o chão rachou sob seus pés. Com um único soco, ela lançou o Escorpião Rei para o ar, e, com um grito feroz, fez o monstro explodir em mil pedaços. O núcleo de energia da criatura, uma esfera brilhante, caiu no chão. Roxyne pegou o núcleo e o observou com interesse.
— Parece que esse núcleo emana a mesma energia que ele. Curioso...
Emi, a pequena criatura, surgiu ao lado dela, olhando com olhos suplicantes para o núcleo.
— Kyuu! — choramingou Emi, abanando o rabo.
Roxyne sorriu, mas guardou o núcleo em seu bolso, ignorando os olhares de Emi. Depois de um breve momento, eles começaram a caminhar de volta para o esconderijo. Zack carregou Samuel o caminho inteiro, já que ele mal conseguia se mover.
Algum tempo depois...
Samuel acordou de madrugada, seus músculos doloridos e cobertos de curativos. Ao seu lado, Aline dormia, sentada em uma cadeira, os olhos tranquilos. Parecia que já haviam tratado seus ferimentos. Ele se levantou com dificuldade, pegou suas espadas e saiu, sentindo a necessidade de ar fresco.
Lá fora, sob o céu estrelado, ele se sentou sobre uma grande pedra à beira de um lago. As espadas repousavam ao seu lado enquanto ele olhava para a lâmina de Miyu, acariciando-a suavemente. Memórias surgiram de quando eram crianças, dos treinos, das risadas e do laço que os unia. Sem perceber, lágrimas começaram a escorrer por seu rosto.
— O que aconteceu? — A voz suave de Aline quebrou o silêncio. Ela se aproximou, vestindo um casaco, trazendo uma coberta.
— Nada... — respondeu Samuel, limpando rapidamente as lágrimas e virando o rosto.
Aline sentou-se ao lado dele, silenciosa, e depois de um momento, disse suavemente:
— Se quiser, posso ouvir o que está te machucando... — Sua voz era gentil, seu olhar fixo no lago.
Após alguns minutos de silêncio, Samuel finalmente falou, a voz carregada de tristeza:
— Durante a missão... eu encontrei alguém que achei que estava morta... — Ele contou a história de Miyu, do mestre e de tudo o que aconteceu naquela noite fatídica.
Aline o ouviu com paciência, sem interrompê-lo, até que ele concluiu, a voz falhando:
— Como eu sou patético, não é? Miyu e o mestre... no fim...
Antes que ele pudesse continuar, Aline o envolveu na coberta e o surpreendeu ao segurar a espada de Miyu, pressionando-a contra o peito de Samuel.
— Você não é patético. Miyu deu a vida por você, porque ela se importava e te amava. Ela confiou a Espada do Coração a você, não foi? Você não a sente aqui dentro? — disse ela, enquanto pressionava a lâmina contra o peito dele.
Samuel apertou a espada, os olhos cheios de lágrimas.
— Eu... eu sinto... — Ele murmurou, lembrando-se de todos os momentos que passou com Miyu, das risadas, dos treinos, das competições e dos sorrisos dela.
Aline o abraçou, e Samuel finalmente cedeu, desabando em lágrimas em seus braços.
Enquanto isso, a Catástrofe se aproximava, destruindo outra cidade distante, suas chamas se alastrando como um presságio do que ainda estava por vir...
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 26
Comments
Alin3
essa obra ta d+
2023-02-16
1
Alin3
nem li ainda mas ja sei q ta bom
2023-02-16
1