— Certo, idiota. Precisamos achar alguém
suficientemente corajosa para ir nesse maldito casamento sem noção.
Estamos em uma
biblioteca. Helena senta bem do lado, puxando uma cadeira. David se contenta com
um livro de biologia nas mãos, extremamente concentrado. Poucos alunos estão
presentes, enquanto todo o restante participa de atividade física.
— O que acha de Rebeca? —
pergunta Helena, demonstrando toda impaciência e agitação possível. — Ela me
parece idiota o suficiente. Acho que iria gostar de acompanhar você.
— A doida fissurada por
cobras? — David ergue o olhar e dá um sorrisinho. — Acho que temos outras opções,
não acha?
— E o que o bobão
fissurado por baleias sabe de alguma coisa? — rebate Helena. Parece mesmo
alterada. Vejo irritação em seu olhar.
David repousa o livro em
cima da mesa, cuidadosamente.
— Você sabia que o
coração de uma baleia-azul bate tão alto que pode ser escutado a três
quilômetros de distância? Certamente você jamais seria uma baleia — diz ele,
encarando os olhos escuros da menina em sua frente. — Nem coração tem. —
Termina em um sussurro.
Helena faz questão de
avançar na direção de David, mas parece desistir da ideia na metade do caminho.
Suas narinas se abrem, como um touro raivoso.
Uma fraca luz paira sobre
nossa mesa. Não é bem um assunto que eu gostaria de tratar no momento. Garotas?
Claramente não é o meu ponto forte. Eu sei que escolher alguém para o casamento
será uma tarefa complicada. Quem gostaria de acompanhar um garoto amedrontado,
ansioso e extremamente preocupado com olhares alheios?
— Jéssica? Ela sabe fazer
bolos gostosos — sugere Helena, voltando sua atenção para mim. — Se lembra da
vez que convenceu metade da turma a votar nela para presidente da sala?
— Se fosse para arrecadar
dinheiro ou fazer meu primo desistir de casar, acho que seria uma boa ideia —
digo baixinho.
— Thaís?
Nego com a cabeça.
Helena bufa.
— Carol? Amanda? Isadora?
Fala alguma coisa, Caio! — eleva seu tom. Alguns estudantes se viram em nossa
direção. — Você quer ou não quer alguém para esse casamento?
Meu cérebro trava por
algum tempo. Não tenho ideia do que quero. Por que eu precisaria levar alguém?
Para preencher lugares? Mostrar para meu primo que consigo levar uma pessoa?
— Eu não sei — respondo
quando alguns segundos se passam. Coço minha cabeça. — Merda — suspiro.
— Aposto dez reais que
Caio irá desistir e não levará ninguém para o casamento. O que me diz? —
pergunta David, cruzando os braços no alto do peito.
— Cala boca, idiota. Você
é amigo dele, deveria é incentivar. — diz ela. — Caio, iremos ajudar você, tudo
bem? Não liga para esse esquisito aí, ele não sabe o que diz. Só precisamos de
alguém que seja bonita, com bom gosto musical, engraçada, inteligente e todas
essas baboseiras que vemos em filmes. E claro, precisará gostar de você
primeiro.
— Irão construir um robô?
— pergunta David, exibindo um largo sorriso.
— Cala boca!
— Olha, eu sei que não
deveria dizer isso, mas... Caio, você sabe como será difícil — diz o garoto que
me encara. Apesar de tudo, demonstra tranquilidade em sua voz. — Estamos
falando de uma escola onde cinquenta por cento dos alunos tiram fotos mostrando
uma vida perfeita e os outros cinquenta tiram fotos mostrando que não tem nada
perfeito em suas vidas. Estamos em um mundo digital, somos apenas pessoas
descartáveis buscando por um pouco de atenção. Que garota irá aceitar ir a um
casamento de alguém completamente desconhecido e fingir que nada está
acontecendo? Não é o mesmo que encontrar um dinheiro na rua e levar para casa.
Estamos falando de humanos. Na verdade, estamos falando de garotas, para ser
mais exato.
— Isso não quer dizer
nada, cabeça de vento. Se você quiser, eu posso ir com você, Caio. O que acha?
— Para o primo do Caio
saber que ele não consegue levar ninguém e precisou da ajuda de uma amiguinha
estranha? — questiona David. — Acho que Caio já tem problemas o suficiente.
— Então o que você
sugere, gênio? Que ele pague uma garota para acompanhar até o casamento?
David me encara por algum
tempo, com os cenhos franzidos. Um breve silêncio se faz presente. Alguns
outros alunos preenchem o lugar espaçoso e repleto de livros. São poucos os
estudantes que gostam do professor Jorge; suas roupas coloridas e ajustadas,
além de não possuir papas na língua, costumam afastar muitas pessoas, que
preferem uma biblioteca a uma quadra de basquete.
— O que? Vocês estão
pensando mesmo que pode ser uma boa ideia pagar alguém? — pergunta Helena,
percebendo minha troca de olhar com David. — Essa ideia é completamente...
— Lógica. É completamente
lógica. — David a interrompe. — Bem, uma garota certamente não iria gostar de
acompanhar Caio até um casamento desconhecido. Mas... Se ele pagasse por isso?
Poderia funcionar, não é mesmo?
— Claro. — Helena deixa
um sorriso surgir, totalmente irônico. — Até porque muitas meninas precisam de
dinheiro e não ligam com o fato de ser uma acompanhante, né? Porque é isso que
ela será, uma acompanhante. Vocês sabem disso, não sabem?
— Quanto você tem, Caio?
— pergunta David, ignorante tudo o que Helena disse agora pouco.
Penso por um instante.
— Acho que... Mil?
— Mil? — seus olhos se
arregalam. — Por que alguém teria mil reais?
— Eu estava guardando
para comprar uma câmera — respondo.
— Espera um pouco. Vocês
querem mesmo pagar alguém para ir nesse maldito casamento? Caio, você é um
garoto esperto. Sabe que isso não irá funcionar. — Irritação e impaciência,
tudo o que exala de Helena.
— E o que a doida
fissurada por garotos que usam camisetas de caveiras sabe disso? — David exibe
seus dentes brancos.
— Cala boca, idiota!
Talvez eu não esteja
pensando da melhor forma possível. Uma acompanhante? Uma ideia um tanto quanto
assustadora, eu diria. Helena tem mesmo razão. Não posso simplesmente pagar
alguém para me acompanhar. Minha mãe certamente não me apoiaria, assim como meu
pai e irmã.
— O que me diz, Caio?
Você não irá conseguir alguém com um simples diálogo, sabe disso. — David
interrompe meus pensamentos. Infelizmente, ele também está certo. Eu o encaro
por um momento. — Só precisamos achar alguém que necessite desse dinheiro e
queira te acompanhar. Não deve ser tão difícil assim, não é mesmo? Somos
movidos pelo dinheiro.
— E o que vocês pensam
sobre o lado moral dessa história? — pergunta Helena. — Estão dizendo que uma
garota receberá dinheiro para ir a um casamento. Conseguem entender? O que os
amigos dela dirão sobre isso? Os familiares?
— Não é como se Caio
fosse fazer sexo com ela, Helena. Está pagando para acompanhá-lo, não para
deitar em uma cama — responde David. — Então, Caio, o que me diz? Podemos fazer
uma seletiva?
Uma
seletiva?
Os olhos de David brilham
em minha direção. Parece mesmo animado com essa ideia. Diferente de Helena, que
mantém boca aberta e olhos arregalados, incrédula. Ela está certa de alguma
forma, poderia ser um desrespeito para quem receberá o dinheiro. Assim como
David também tem seu lado correto. Sinto minha cabeça girar. Não consigo pensar
da melhor maneira possível.
Respiro fundo.
— Eu jamais conseguiria
pagar uma garota para me acompanhar — digo depois de longos segundos em silêncio,
refletindo.
— Eu avisei. — Helena
abre um sorriso.
— Por isso vocês
precisarão escolher alguém para me acompanhar. Não posso fazer isso sozinho.
— Isso! — David deixa um
grito sair de sua garganta. Olhares percorrem nossa mesa, principalmente vindo de
Mônica, nossa bibliotecária. David abaixa o tom de voz imediatamente: — Agora
só precisamos saber como iremos escolher alguém para essa missão.
— Não acredito que vocês
farão mesmo isso. — Helena parece mesmo decepcionada. — E como será, colocará anúncios
em toda escola, é? É uma ideia idiota, se querem mesmo saber.
— Anúncios? Seria
perfeito — diz David. — “Procura-se namorada de aluguel”. O que acham?
— Sério? Estão pensando
mesmo em colocar anúncios? São garotas de programas, por acaso?
— Namorada de aluguel,
para ser mais exato. O que me diz, Caio? Podemos fazer essa seletiva?
— E se não aparecer
ninguém? — pergunto.
— Alguém irá surgir, eu
sei disso. Não somos ricos, garoto. Tem alguém nesse momento precisando de
dinheiro, e é exatamente essa pessoa que iremos atraí-la.
— Vocês estão ficando
malucos, se querem minha opinião. — Helena cruza os braços, bufando. —
“Namorada de aluguel”. Esse nome é ridículo. Eu jamais aceitaria essa ideia
idiota. Acho que ninguém aceitaria.
— Bem, se uma pessoa
aceitar, acho que estaremos no lucro, não é mesmo? — David sorri. — Farei
panfletos e deixarei em toda escola. Um amigo precisa de nossa ajuda, não é?
Não respondo. Sinto algo
queimar em meu estômago. Não estou pronto para ter uma namorada de aluguel,
tampouco para espalhar panfletos por toda escola. Rirão de mim, muito mais do
que estou acostumado. Serei considerado o palhaço desse lugar. Um garoto
amedrontado que é incapaz de conversar e convencer uma simples de garota de
acompanhá-lo até um casamento.
— Não podem colocar meu
nome — digo, tendo falhas em minha voz. Respiro fundo. Fecho meus olhos por
pouco tempo.
Tudo
ficará bem. Respire fundo.
— Não se preocupe, você
será um completo anonimato — avisa David. — Helena, também precisaremos de sua
ajuda. Você sabe que garota seria ideal para Caio. Seria bom se estivesse
conosco.
Ela sorri.
— Ninguém irá aceitar
essa “oferta” idiota. Acha que alguém está desesperada por dinheiro dessa
forma?
— Vai nos ajudar ou não?
— pergunta David.
Helena o encara. Suas
sobrancelhas estão juntas. Mandíbula firme.
— Só estou dizendo que
não aparecerá ninguém — diz ela. — Mas... sim, poderei ajudar esses dois panacas.
Contando que façam minha atividade por um mês.
— Eu faço. Negócio
fechado? — David não hesita e estende sua mão, esperando que Helena possa
apertá-la.
— Vocês são mesmo
idiotas. Não acredito que estou concordando com isso — Helena aperta a mão de
David. — Negócio fechado.
O sinal soa, mostrando
que toda aula de educação física foi embora.
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Atualizado até capítulo 31
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