Capítulo 7

— Certo, idiota. Precisamos achar alguém

suficientemente corajosa para ir nesse maldito casamento sem noção.

Estamos em uma

biblioteca. Helena senta bem do lado, puxando uma cadeira. David se contenta com

um livro de biologia nas mãos, extremamente concentrado. Poucos alunos estão

presentes, enquanto todo o restante participa de atividade física.

— O que acha de Rebeca? —

pergunta Helena, demonstrando toda impaciência e agitação possível. — Ela me

parece idiota o suficiente. Acho que iria gostar de acompanhar você.

— A doida fissurada por

cobras? — David ergue o olhar e dá um sorrisinho. — Acho que temos outras opções,

não acha?

— E o que o bobão

fissurado por baleias sabe de alguma coisa? — rebate Helena. Parece mesmo

alterada. Vejo irritação em seu olhar.

David repousa o livro em

cima da mesa, cuidadosamente.

— Você sabia que o

coração de uma baleia-azul bate tão alto que pode ser escutado a três

quilômetros de distância? Certamente você jamais seria uma baleia — diz ele,

encarando os olhos escuros da menina em sua frente. — Nem coração tem. —

Termina em um sussurro.

Helena faz questão de

avançar na direção de David, mas parece desistir da ideia na metade do caminho.

Suas narinas se abrem, como um touro raivoso.

Uma fraca luz paira sobre

nossa mesa. Não é bem um assunto que eu gostaria de tratar no momento. Garotas?

Claramente não é o meu ponto forte. Eu sei que escolher alguém para o casamento

será uma tarefa complicada. Quem gostaria de acompanhar um garoto amedrontado,

ansioso e extremamente preocupado com olhares alheios?

— Jéssica? Ela sabe fazer

bolos gostosos — sugere Helena, voltando sua atenção para mim. — Se lembra da

vez que convenceu metade da turma a votar nela para presidente da sala?

— Se fosse para arrecadar

dinheiro ou fazer meu primo desistir de casar, acho que seria uma boa ideia —

digo baixinho.

— Thaís?

Nego com a cabeça.

Helena bufa.

— Carol? Amanda? Isadora?

Fala alguma coisa, Caio! — eleva seu tom. Alguns estudantes se viram em nossa

direção. — Você quer ou não quer alguém para esse casamento?

Meu cérebro trava por

algum tempo. Não tenho ideia do que quero. Por que eu precisaria levar alguém?

Para preencher lugares? Mostrar para meu primo que consigo levar uma pessoa?

— Eu não sei — respondo

quando alguns segundos se passam. Coço minha cabeça. — Merda — suspiro.

— Aposto dez reais que

Caio irá desistir e não levará ninguém para o casamento. O que me diz? —

pergunta David, cruzando os braços no alto do peito.

— Cala boca, idiota. Você

é amigo dele, deveria é incentivar. — diz ela. — Caio, iremos ajudar você, tudo

bem? Não liga para esse esquisito aí, ele não sabe o que diz. Só precisamos de

alguém que seja bonita, com bom gosto musical, engraçada, inteligente e todas

essas baboseiras que vemos em filmes. E claro, precisará gostar de você

primeiro.

— Irão construir um robô?

— pergunta David, exibindo um largo sorriso.

— Cala boca!

— Olha, eu sei que não

deveria dizer isso, mas... Caio, você sabe como será difícil — diz o garoto que

me encara. Apesar de tudo, demonstra tranquilidade em sua voz. — Estamos

falando de uma escola onde cinquenta por cento dos alunos tiram fotos mostrando

uma vida perfeita e os outros cinquenta tiram fotos mostrando que não tem nada

perfeito em suas vidas. Estamos em um mundo digital, somos apenas pessoas

descartáveis buscando por um pouco de atenção. Que garota irá aceitar ir a um

casamento de alguém completamente desconhecido e fingir que nada está

acontecendo? Não é o mesmo que encontrar um dinheiro na rua e levar para casa.

Estamos falando de humanos. Na verdade, estamos falando de garotas, para ser

mais exato.

— Isso não quer dizer

nada, cabeça de vento. Se você quiser, eu posso ir com você, Caio. O que acha?

— Para o primo do Caio

saber que ele não consegue levar ninguém e precisou da ajuda de uma amiguinha

estranha? — questiona David. — Acho que Caio já tem problemas o suficiente.

— Então o que você

sugere, gênio? Que ele pague uma garota para acompanhar até o casamento?

David me encara por algum

tempo, com os cenhos franzidos. Um breve silêncio se faz presente. Alguns

outros alunos preenchem o lugar espaçoso e repleto de livros. São poucos os

estudantes que gostam do professor Jorge; suas roupas coloridas e ajustadas,

além de não possuir papas na língua, costumam afastar muitas pessoas, que

preferem uma biblioteca a uma quadra de basquete.

— O que? Vocês estão

pensando mesmo que pode ser uma boa ideia pagar alguém? — pergunta Helena,

percebendo minha troca de olhar com David. — Essa ideia é completamente...

— Lógica. É completamente

lógica. — David a interrompe. — Bem, uma garota certamente não iria gostar de

acompanhar Caio até um casamento desconhecido. Mas... Se ele pagasse por isso?

Poderia funcionar, não é mesmo?

— Claro. — Helena deixa

um sorriso surgir, totalmente irônico. — Até porque muitas meninas precisam de

dinheiro e não ligam com o fato de ser uma acompanhante, né? Porque é isso que

ela será, uma acompanhante. Vocês sabem disso, não sabem?

— Quanto você tem, Caio?

— pergunta David, ignorante tudo o que Helena disse agora pouco.

Penso por um instante.

— Acho que... Mil?

— Mil? — seus olhos se

arregalam. — Por que alguém teria mil reais?

— Eu estava guardando

para comprar uma câmera — respondo.

— Espera um pouco. Vocês

querem mesmo pagar alguém para ir nesse maldito casamento? Caio, você é um

garoto esperto. Sabe que isso não irá funcionar. — Irritação e impaciência,

tudo o que exala de Helena.

— E o que a doida

fissurada por garotos que usam camisetas de caveiras sabe disso? — David exibe

seus dentes brancos.

— Cala boca, idiota!

Talvez eu não esteja

pensando da melhor forma possível. Uma acompanhante? Uma ideia um tanto quanto

assustadora, eu diria. Helena tem mesmo razão. Não posso simplesmente pagar

alguém para me acompanhar. Minha mãe certamente não me apoiaria, assim como meu

pai e irmã.

— O que me diz, Caio?

Você não irá conseguir alguém com um simples diálogo, sabe disso. — David

interrompe meus pensamentos. Infelizmente, ele também está certo. Eu o encaro

por um momento. — Só precisamos achar alguém que necessite desse dinheiro e

queira te acompanhar. Não deve ser tão difícil assim, não é mesmo? Somos

movidos pelo dinheiro.

— E o que vocês pensam

sobre o lado moral dessa história? — pergunta Helena. — Estão dizendo que uma

garota receberá dinheiro para ir a um casamento. Conseguem entender? O que os

amigos dela dirão sobre isso? Os familiares?

— Não é como se Caio

fosse fazer sexo com ela, Helena. Está pagando para acompanhá-lo, não para

deitar em uma cama — responde David. — Então, Caio, o que me diz? Podemos fazer

uma seletiva?

Uma

seletiva?

Os olhos de David brilham

em minha direção. Parece mesmo animado com essa ideia. Diferente de Helena, que

mantém boca aberta e olhos arregalados, incrédula. Ela está certa de alguma

forma, poderia ser um desrespeito para quem receberá o dinheiro. Assim como

David também tem seu lado correto. Sinto minha cabeça girar. Não consigo pensar

da melhor maneira possível.

Respiro fundo.

— Eu jamais conseguiria

pagar uma garota para me acompanhar — digo depois de longos segundos em silêncio,

refletindo.

— Eu avisei. — Helena

abre um sorriso.

— Por isso vocês

precisarão escolher alguém para me acompanhar. Não posso fazer isso sozinho.

— Isso! — David deixa um

grito sair de sua garganta. Olhares percorrem nossa mesa, principalmente vindo de

Mônica, nossa bibliotecária. David abaixa o tom de voz imediatamente: — Agora

só precisamos saber como iremos escolher alguém para essa missão.

— Não acredito que vocês

farão mesmo isso. — Helena parece mesmo decepcionada. — E como será, colocará anúncios

em toda escola, é? É uma ideia idiota, se querem mesmo saber.

— Anúncios? Seria

perfeito — diz David. — “Procura-se namorada de aluguel”. O que acham?

— Sério? Estão pensando

mesmo em colocar anúncios? São garotas de programas, por acaso?

— Namorada de aluguel,

para ser mais exato. O que me diz, Caio? Podemos fazer essa seletiva?

— E se não aparecer

ninguém? — pergunto.

— Alguém irá surgir, eu

sei disso. Não somos ricos, garoto. Tem alguém nesse momento precisando de

dinheiro, e é exatamente essa pessoa que iremos atraí-la.

— Vocês estão ficando

malucos, se querem minha opinião. — Helena cruza os braços, bufando. —

“Namorada de aluguel”. Esse nome é ridículo. Eu jamais aceitaria essa ideia

idiota. Acho que ninguém aceitaria.

— Bem, se uma pessoa

aceitar, acho que estaremos no lucro, não é mesmo? — David sorri. — Farei

panfletos e deixarei em toda escola. Um amigo precisa de nossa ajuda, não é?

Não respondo. Sinto algo

queimar em meu estômago. Não estou pronto para ter uma namorada de aluguel,

tampouco para espalhar panfletos por toda escola. Rirão de mim, muito mais do

que estou acostumado. Serei considerado o palhaço desse lugar. Um garoto

amedrontado que é incapaz de conversar e convencer uma simples de garota de

acompanhá-lo até um casamento.

— Não podem colocar meu

nome — digo, tendo falhas em minha voz. Respiro fundo. Fecho meus olhos por

pouco tempo.

Tudo

ficará bem. Respire fundo.

— Não se preocupe, você

será um completo anonimato — avisa David. — Helena, também precisaremos de sua

ajuda. Você sabe que garota seria ideal para Caio. Seria bom se estivesse

conosco.

Ela sorri.

— Ninguém irá aceitar

essa “oferta” idiota. Acha que alguém está desesperada por dinheiro dessa

forma?

— Vai nos ajudar ou não?

— pergunta David.

Helena o encara. Suas

sobrancelhas estão juntas. Mandíbula firme.

— Só estou dizendo que

não aparecerá ninguém — diz ela. — Mas... sim, poderei ajudar esses dois panacas.

Contando que façam minha atividade por um mês.

— Eu faço. Negócio

fechado? — David não hesita e estende sua mão, esperando que Helena possa

apertá-la.

— Vocês são mesmo

idiotas. Não acredito que estou concordando com isso — Helena aperta a mão de

David. — Negócio fechado.

O sinal soa, mostrando

que toda aula de educação física foi embora.

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