PEDRO HENRIQUE REVIA as gravações. Acompanhava o circuito interno a partir do momento em que Janine saiu da porta de embarque e desembarque do voo de Lisboa para Barcelona. Ela segue até o local para restituição de bagagem. Pedro batia os horários de forma minuciosa. Até que parou no último registro de Janine: esperando um táxi por alguns minutos fora do aeroporto. A câmera de circuito externo consegue registrar, de forma nítida, a placa do carro e a companhia de táxi. Com essas informações, Pedro descobriu o nome do motorista e marcou um encontro com o mesmo. Para a sua sorte, o rapaz ainda se lembrava da moça.
— Janine, Janine… — Pedro deu uma pausa no vídeo, falando baixinho para si mesmo: — Estou chegando perto de saber o que aconteceu. Espero não dar uma má notícia.
Pegou o bloquinho de notas e a caneta, escrevendo à mão a próxima pista que vai seguir: achar o destino final que Janine pediu ao motorista.
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HUGO E JOYCE CHEGARAM na Dragons — um bar cultural ao ar livre, mas o couvert é 5,00 com direito ao acesso interno. Esse bar foi inaugurado há mais de dez anos, num casarão clássico. Todo o dinheiro arrecadado no couvert e consumo, é destinado para a manutenção periódica da infraestrutura — de modo que mantenha o casarão de pé. Ele é muito bonito por fora e por dentro. A praça que carregava o ar clássico com o contraste boêmio da juventude, e as músicas ecléticas, tornava a vibe do local única. Era esse tipo de vibe que fez Hugo e Joyce se sentirem em casa desde a primeira vez que foram pra lá.
— Saudade que eu tava daqui… — Hugo olhava em volta, com um copo de cerveja na mão. Tinha pago quatro long neck para ir bebendo conforme a garrafa ficasse vazia. — Faz tempo que não venho pra cá e não mudou quase nada… Tô amando.
— Também não venho muito pra cá, não — Joyce bebeu um gole de cerveja. — Mas a sensação que tenho, toda vez que resolvo pisar por aqui, é que só melhora.
O DJ tocava alguns clássicos da música pop. Como chegaram cedo, o lugar ainda não estava cheio como de costume. Mas isso era só questão de horas…
— Não vai chamar nenhum boyzinho pra cá? — Hugo cutucou a irmã, com um empurrãozinho de leve. — Agora é a minha vez de perguntar: cadê o contatinho?
— O contatinho que eu conversava um dia foi com Deus — ela deu de ombros, fazendo muxoxo.
— Mas por quê, garota?
— Muito babaca. Falou uma coisinha que me tirou o tesão.
— E o que foi que ele disse?
— Que ele tem dedo podre pra pegar mulher vacilona e por isso prefere não ter compromisso algum.
— Nossa… — Hugo fez uma leve careta de nojo. Bebeu mais um gole de cerveja. — Nada a ver o que ele falou. Isso diz bastante sobre ele do que qualquer mulher que ele tenha se envolvido. Ele pode ter conhecido uma que realmente tenha vacilado… Mas uma não pode definir todas, né?
— Exatamente. Mas, enfim… Comecei a dar uma desculpa no cara. Depois fui clara com ele, afirmando que não tava mais a fim de nenhum tipo de envolvimento. Cada um seguiu com a vida. E é sobre.
— Menos mal… — Hugo olhou a galera chegando, aglomerada perto do DJ e dançando as músicas. — Vambora pra ali? Tem uma galera... Quero ver se acho alguém conhecido.
— Também vou ver se acho…
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ÀQUELA ALTURA, A DRAGONS estava lotada. Hugo e Joyce fizeram amizades com desconhecidos, enquanto bebiam. Joyce trocou a cerveja pelo Corote, algo que Hugo não faria — porque odeia misturar bebida. A playlist aleatória do DJ variava entre o pop e o funk. Do rock ao nacional. A próxima música sempre era uma surpresa. Algo típico da Dragons. Hugo dançava com um desconhecido que havia se tornado seu amigo, até que alguém lhe toca no ombro.
— Você por aqui? — O rapaz abriu um sorriso largo. O cabelo era na máquina dois, e tinha tatuagens no pescoço e no peito semiaberto pelo decote V da camisa de botão.
— Raul!
Hugo se jogou nos braços do rapaz, que era seu conhecido de longa data. Raul deu-lhe um beijo no rosto, mantendo as mãos na cintura dele.
— Quanto tempo! — Hugo desvencilhou-se um pouco até manter as mãos sobre o peito dele. — Tava por aqui?
— Na Dragons? Sim! — Raul riu. — Mas e você? Quando foi que voltou pra cá?
— Voltei três dias atrás — Hugo ajeitou o cabelo. — Vim aqui só pra passar as férias antes de voltar pra São Paulo.
— Peraí… — Raul ergueu a palma da mão. — Você não mora no Rio?
— Acabei de me mudar, menino — Hugo deu uma risadinha. — Eu fui promovido na PF e me transferiram pra São Paulo… Uma loucura!
— Depois eu vou querer saber desse babado, garoto — Raul apertou no braço dele, de leve. — Vou precisar ir, encontrar um amigo meu. Fala comigo no insta, por favor!
— Com certeza — Hugo prometeu.
— A gente vai marcar de sair. Quero muito saber como você tá.
— Eu também — Hugo sorriu. — Quanto tempo, amigo…
— Pois é! — Raul apertou a mão dele, afastando-se em seguida. — Preciso ir. Beijo!
— Beijo!
Hugo deu de ombros, sorrindo genuinamente. Não sabia que a sensação de reencontrar um amigo de longa data era tão boa. A distância não afetou em nada no que ele nutria por Raul. Bebeu mais um gole de cerveja. Até que alguém tocou o seu ombro, dando-lhe um apertão de leve.
— Oi — Um rapaz alto, branco, de óculos, abriu um sorriso quase que sedutor. — Tá lembrado de mim?
— Tô… — Hugo virou-se para frente, franzindo testa, batendo com a ponta do copo no queixo bem devagar. E continuou: — Luís?
— Eu mesmo.
— Quanto tempo…
A conversa ganhou um clima mais casual e íntimo. Luís era um antigo paquera de Hugo. Ao que parecia, nada tinha mudado. O olhar do rapaz ainda era de interesse.
— Pois é — Luís disse, coçando a nuca. Hugo o achava fofo. — Vi você aqui e nem acreditei.
— Por quê?
— Pensei que não ia voltar tão cedo pra cá… — Ele abriu um meio sorriso. — Mas que bom te ver aqui.
— Também… — Hugo começou a brincar com os dedos no peitoral do rapaz.
— Que tal a gente ir ali trocar uma ideia? Conversar com mais calma…
Hugo pensou na sugestão. Deu de ombros, respondendo:
— Por que não?
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IRINA E RUY FINALMENTE chegaram em Recife. Ambos foram se hospedar num hotel localizado na zona mais central da cidade, em quartos separados. Irina zelava pela privacidade. Ruy queria marcar alguns encontros — era um tanto mulherengo. Eles estavam juntos no táxi a caminho do hotel.
— Mais de trinta garotas se candidataram à vaga… — Irina passava com o dedo na tela do seu tablet. — Isso é muito bom. Amanhã vamos ver quantas vão chegar às dez horas.
— Quem sabe Hank não deixa mais cinco preencherem a vaga…
— Não — Irina rebateu, seca.
— Por que não?
— Cinco são cinco.
— Não custa nada perguntar… — Ruy pegou no celular, mas Irina o segurou na mão.
— Não liga pra ele, seu idiota. Não agora. Lá tá de madrugada e ele tá dormindo.
— Ah, sim — Ruy guardou o celular no bolso. — Foi mal.
— Livrei o teu pescoço mais uma vez.
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AURA TAMBÉM SEGUIA VIAGEM. Carregando uma mala de mão pelo Santos Dumont, foi direto para a Segurança. Depois que chegou na sala de embarque, o celular dela tocou.
— Tô quase entrando no avião, Hank — começou ela, atendendo. — O que foi agora?
— Você viu a Irina pelo Rio?
— Ela já deve ter ido pra Recife. Você não tinha mandado os dois pra lá, não tinha?
— Ótimo.
— Aí no complexo já é de madrugada. Devia estar dormindo ao invés de encher meu saco. Eu juro que vou te avisar pra você parar logo com isso.
— Não tô no complexo.
— Não?
— Vim dar um pulo em Lisboa, resolver uns problemas.
— Ah, tá.
— Eu ainda não acabei por aqui — no outro lado da linha, Hank conversava com um homem sisudo e robusto que vestia um terno. — Quando chegar, a gente conversa mais. Só quero te pedir mais uma coisa.
— Então peça a milésima coisa.
— Você só vai pisar na delegacia quando eu mandar.
— Tá bom — Aura deu de ombros. — Só isso?
— Preciso encerrar aqui.
— Até daqui algumas horas… — Aura desligou primeiro.
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A MADRUGADA NO COMPLEXO era silenciosa. Janine não conseguia dormir, por causa da ansiedade para executar o seu plano. Sentou-se na cama, olhando para o duto coberto pela grade. Soltando o ar, ela se ajoelhou sem fazer barulho. Tateando na penumbra, ela conseguiu alcançar as laterais para remover a grade. Colocou-a bem ao lado da entrada. Concentrada, fez aquele mesmo passo a passo da última vez: esquerda, avança; direita, avança…
Ela notou que havia chegado perto da sala de Hank, mas estava escura. Passou por cima da fresta média, com cuidado, seguindo em frente. Assim que conseguiu ficar fora de vista, soltou o ar — silenciosamente — aliviada. Continuou seguindo, atenta, para ver até onde aquele duto a levaria. Devagar, com cuidado para não fazer barulho, com a cabeça rente ao chão e o olhar sempre à frente. Percebeu que o duto viraria à esquerda após alguns metros. Ela parou, fazendo uma pequena manobra para continuar seguindo.
Por um lado, ela estava determinada a descobrir se existe “uma luz no fim do duto”; por outro, sentia medo de não descobrir nada ou até mesmo descobrir coisa pior. Sentiu um pequeno frio na barriga quando viu mais um desvio, só que dessa vez era para a direita. Mais uma vez, Janine fez a manobra para seguir em silêncio. E o que estava logo ali, a alguns metros, fez seu coração disparar.
Uma grade de proteção igual a do seu quarto. Uma iluminação fraca, consequência da luz natural da madrugada, passava pelas frestas. Contendo a própria ansiedade e o medo de ser descoberta, ela continuou até chegar na grade. E parou, respirando fundo. Estava nervosa, agora. Não sabia o que encontraria depois daquela grade. Tomou coragem, colocando as duas mãos nas laterais. A grade abria somente por fora, deduziu, que nem a do seu quarto. Fez um pouquinho de força até que viu a grade pender para o lado, depois segurou com as duas mãos para que pudesse colocar ao lado da entrada. A visão que tinha agora era muito além de uma surpresa.
A luz no fim do duto realmente existe.
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Atualizado até capítulo 70
Comments
Terezinha Gouveia
que a janine descubra a saída, e encontre o Pedro
2024-08-29
0
Carla Santos
estou torcendo por isso e que ela não caia na solitária se for pega ela deveria ter alguma dessas mulheres quer toma conta do lugar ajudasse a sair dale autora faz com quer alguém ajude ela sair dali
2023-11-22
2
Cleide Almeida
tomara q essa menina saia em segurança e dê d cara cm.pedto logo
2023-10-09
1