Sobreviventes Do Caos
A batalha no céu estava acirrada, anjos lutavam contra guardiões. Seria uma batalha ganha pelos anjos, se os guardiões também não fossem anjos.
A diferença era na posição de cada um, os anjos eram querubins que faziam parte do exército celestial. Já os guardiões, eram anjos destinados a proteger a vida dos humanos.
Esta batalha iniciou pela desobediência e inveja de um único querubim, que foi contra as leis celestiais e ousou afrontar e tentar destruir os humanos. Não dava para saber ainda, qual dos dois lados ganharia. Tanto anjos como guardiões, despencavam do céu, caindo na Terra.
A batalha estava intensa na Terra também, eram os homens, magos e feiticeiros, contra vampiros e lobisomens e outras espécies. Era uma luta muito desigual, mas haviam guardiões lutando ao lado dos humanos. Em meio a toda a desgraça de cidades destruídas, corpos espalhados, incêndios em todo canto, uma família fugia.
Era uma família especial, carregavam uma bebê, recém nascida ali mesmo no meio da batalha. Sua mãe não teve tempo sequer de descansar, envolveu a pequena em um pano qualquer e forrando-se, correu em meio ao tumulto, tentando se afastar o máximo possível, enquanto o pai batalhava para lhes dar uma chance de escaparem.
Estava exausta quando chegou ao sopé de um alto monte e parou, oculta pela mata e escorada em uma árvore. A bebê estava inquieta e procurando seu peito, que ela desnudou e deixou-a mamar. Não percebeu que estava sangrando muito e findou por desfalecer.
A batalha continuou até que nuvens densas surgiram no céu e raios queimavam anjos e guardiões, dissipando a batalha, pois todos voaram rápido, fugindo da tempestade de raios que inundava o lugar.
Na Terra foi o mesmo e vários guardiões voaram para longe, enquanto os feiticeiros incendiavam os corpos dos mortos espalhados pelo chão. A maioria dos seres viventes havia morrido, mas a guerra não teve vencedores.
A chuva só caiu quando todos os corpos haviam virado cinzas e lavou tudo. Inclusive o corpo da mulher que havia morrido amamentando sua filha. Uma feiticeira fugida que passou por ali, percebeu a mulher morta, ouviu o resmungo do bebê e parou.
Não teve dúvidas em pegar a pequena, pois lhe teria alguma serventia. Continuou seu caminho subindo o monte e se embrenhando pelo lado rochoso, passou por uma falha entre as rochas, entrando em uma caverna e continuou, se aprofundando cada vez mais, até alcançar uma série de túneis e entrar por um deles, específico para chegar onde queria.
A bebê foi posta sobre um balcão, no lugar para onde a feiticeira a havia levado.
— O que quer que eu faça com isso? — Perguntou o atendente, um homem atarracado, com aspecto indolente, cabelos grudados com pasta e um pequeno óculos na ponta do nariz, ajudavam seus olhos pequenos a enxergarem a bebê.
— Você, eu não sei, mas se a feiticeira me vender , eu compro — ofereceu um mercador de escravos que acabara de chegar.
— Com todo prazer. Ela é filha de uma humana que morreu no parto.
— Ótimo! Assim não terei surpresas — deu um saco de moedas a ela, pegou o embrulho e se retirou.
Em meio a destroços e dejetos, entre espécies diferentes, a criança que recebeu o nome de Ava, sobreviveu. Escravizada, na clausura, sofrendo maus tratos e torturas, foi crescendo dentro de si, a revolta e o desejo de fugir daquele lugar, mesmo sem saber se existia algo melhor.
Sua essência era a mais pura, mas sua criação, a mais impura.
Sensações que se chocavam dentro dela e lutavam entre si para sobreviver e a despertavam para uma vida bem diferente da que vivia.
Não conhecia uma vida diferente para poder comparar, por isso tornou-se uma rotina dolorosa e cruel, viver daquela maneira todos os dias. Não tinha o mínimo de suas necessidades satisfeitas.
Passava frio e fome. No inverno precisava dormir agarrada com outros escravos, para se aquecer, mas conforme foi crescendo e vieram os abusos, começou a se isolar e mesmo com frio, não se encostava mais em ninguém.
Estava sempre olhando para o chão, com os cabelos lhe cobrindo o rosto e a sujeira, assim como as roupas masculinas grandes, escondiam sua feminilidade. Por ser muito magra, aproveitava o tempo de sono, para se embrenhar pelos túneis mais estreitos e assim criou um mapa e descobriu como sair daquele lugar.
Notou que seu corpo estava mudando e precisava escapar antes de não caber mais naqueles túneis. Foi o que fez. Aproveitou o dia da mudança, onde trocavam todos os escravos de lugar, para que não decorar como era o lugar e assim como ela estava fazendo, tentassem fugir.
Na passagem de um grupo para o outro, ela aproveitou a confusão e escapou por um buraco que daria em um dos túneis mais estreitos e esperou a hora do sono, quando todos dormiam, foi quando se arrastou e saiu finalmente daquele lugar
Quando enfim conseguiu sair, descobriu que o mundo do lado de fora era tão diferente da prisão onde estava, que não conseguia saber para onde iria e dentro dela surgiu um desespero e pela primeira vez, ficou sem ação.
Olhou para o céu, ao qual nunca tinha visto e pensou:
"O que eu faço agora, para onde vou, como vou sobreviver aqui?"
Estava começando a pensar em desistir e voltar, quando ouviu uma voz em sua mente que dizia:
"Desça, corra, desça"
Então ela olhou para baixo e percebeu que realmente estava em uma elevação e não viu isso, porque estava escuro. Iniciou a descida, com cuidado, pois era um caminho íngreme e não conseguia enxergá-lo bem.
Passou horas descendo e depois andando por uma terra seca e árida, até chegar em uma floresta, já estava clareando o dia e ela podia enfim avistar toda aquela beleza que não sabia que existia. Ela também não imaginava que fora ali que ela perdeu sua mãe e fora levada. Continuou andando e avistou frutos em uma árvore diferente, conhecia-os por já tê-los comido. Era raro, mas às vezes trocavam o mingau por essas frutas.
Ela deu um jeito de agarrar o imenso rabo que tinha o cacho e puxou, se pendurando e derrubando a "árvore". Deu a sorte das frutas não estarem verdes e após derrubar tudo no chão, comeu várias. Mais tarde descobriria que eram bananas e não era bom comer tantas de uma vez.
*
Um ser alado, alheio a tudo o que acontece no mundo, dormia o sono dos desesperançados, até que seu coração começou a bater devagar e ele despertou.
Ela chegou!
*
Sobrevivendo, lutando, correndo atrás do que foi perdido, ela descobre quem verdadeiramente é e usa tudo que tem, para se tornar a guardiã dos atravessadores. Davam esse nome àqueles que conseguiam fugir do cárcere e encontravam a saída do labirinto de túneis subterrâneos, chegando a uma superfície árdua e desprovida de tudo. A Fronteira.
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Atualizado até capítulo 47
Comments
Maria Helena Macedo e Silva
📖👀🌪💣👠👒
2024-10-24
0
Gabriella Oliveira Uchoa
muito legal se fosse eu eu Moriá kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk é sem comida sem água
2023-08-31
1
Gabriella Oliveira Uchoa
caraça
2023-08-31
1