Capítulo 8. O Laço

Trash correu para ampará-la, pois parecia que cairia a qualquer momento.

— Ava, você está bem?

Ela se forçou a equilibrar o corpo e voltar ao controle, olhou para Trash, mostrando suas dúvidas em seu olhar.

— Agora você sabe como é. — disse ele, referindo-se ao laço de companheiros.

— É, agora entendo e não gosto.

— Está sentindo ele, não é? Que nem eu sinto minha vampira, mesmo dormindo.

— Ela é filha dele e ele nem sabe, foram os magos que fizeram.

— Oh, então é por isso que ela é assim? — perguntou ele, refletindo.

— Você se refere a beber sangue?

— Sim, também ao poder que sinto nela, é igual ao que sinto nele, só que menor.

— Entendo. Ele voltou a montanha, não sei o que vai fazer, mas não temos tempo, o exército está voltando, temos muito o que fazer.

— Também quero muito saber sobre esse exército e porque não usou ele antes.

— Você fraquejou na hora que precisei, porque acha que vou continuar confiando em você?

— Você vai entender logo, que não temos controle sobre isso.

— Então tudo agora será justificado pelo laço.

— Mais ou menos isso.

Ouviram um som estridente vindo da montanha, era um alarme. Ava perguntou aos seus líderes onde estavam e recebeu a informação de que todos já haviam deixado a montanha e corriam pelas terras escaldantes. Ela levantou vôo para ajudar, antes que, seja lá o que Luziel estivesse fazendo, se completasse. Percorreu a distância, a máxima velocidade que conseguia alcançar e logo os avistou.

Observou todos e resolveu recolher os mais debilitados, que pareciam desmaiados sobre os lobos. Pegou uma das crianças mais despertas e colocou em suas costas, entre as asas e ainda sem tocar o chão, pegou mais duas crianças com os braços e subiu. Desceu na margem do rio, onde Trash esperava já com o restante da equipe e ao pousar, ouviu Luziel em sua mente:

— " Se você se alimentar com sangue, terá suas forças dobradas e conseguirá trabalhar melhor."

— " Não sou uma sangue-suga."

— " Ah, você é sim, meu amor."

Ela percebeu que alguns dos mais velhos de sua equipe, vieram até ela e lhe ofereceram o pescoço.

— " O que está fazendo, ou melhor, como está fazendo isso?'

— " Beba! "

— Beba, Ava, um pouco de cada um, não lhes fará mal. Se você é como eles, esse é seu alimento. — disse Trash, com sabedoria.

Ela refletiu sobre todos que ainda precisavam dela e se forçou ao pulsar mais próximo que sentiu e firmou suas presas que se salientaram mais.  Quando o sangue alcançou suas papilas gustativas, precisou se controlar para não ceder a sede que lhe acometeu. Foram necessários quatro jovens, para que sentisse sua necessidade saciada e com força nova, subiu aos céus novamente.

Levou um tempo, mas logo todos estavam na floresta e puderam descansar. Então ouviram o estrondo e a explosão se fez. A montanha foi pelos ares com tal força e uma chuva de terra atingiu a floresta, mas não causou danos. 

— Minhas pesquisas, todas destruídas, o trabalho de séculos, todo perdido — choramingou o mago, que estava amarrado, sentado e escorado em uma pedra, junto com o feiticeiro.

— Sim, com certeza uma porcariada totalmente contra os princípios que regem a vida. Vocês ainda vão me explicar isso, mas não agora. Vamos primeiro cuidar de todos os que vocês prejudicaram quase até a morte.

— " Senti meu sangue neles. Seja lá o que fizeram, queriam ter a nossa força e sobrevida."

— " Quer sair da minha cabeça, você parece um inseto intrometido." — a risada dele foi suave e gostosa em sua mente e ela acabou sorrindo também.

— "Somos companheiros, querida e você também pode se estender até mim e ver o que estou fazendo, venha."

Ela não resistiu a curiosidade e viu ele sobrevoando a planície que se formou, cheia de escombros da montanha. Seu poder se estendia aos escombros, que se erguiam e misturavam com alguns pontos de água que fluía da terra e a argamassa que formava, construíram estruturas baixas e aos poucos uma vila surgia, entremeada de vegetação, cujas origens, ele pegou na floresta.

Era um trabalho novo e deslumbrante e ela compartilhou a imagem com seus líderes, que compartilharam com seus liderados e logo todos estavam parados, apreciando o trabalho daquele ser tão especial e poderoso.

— " Isso é extraordinário, Ava. Teremos um lugar para acomodar todos. " — disse o líder dos lobisomens.

— " Sim. Creio que precisaremos reestruturar toda nossa comunidade." — respondeu Ava.

— " Verdade e talvez você dê mais ouvido ao que eu falo." — a voz de uma fêmea se fez ouvir.

— " Depois quero saber mais sobre isso, Cassandra.  Pelo visto, Natanael não tem lhe dado ouvidos."

— " É um cabeça dura, vive desfazendo de minhas ideias."

Ava riu, aquela briga dos dois era antiga e só eles ainda não tinham percebido que se completavam.

— " Vamos trabalhar, peço que todos os líderes organizem seu pessoal, vamos selecionar os acampamentos."

— " Como?" — perguntou Trash, que foi inserido ao grupo e ouviu tudo calado.

— " Para começar, diurnos e noturnos, em seguida, familias e só então, espécies."

— " Entendido, chefe."

Todos concordaram e se retiraram, fechando a comunicação. Entenderam o esquema de Ava, pois haviam os que poderiam viver nas residências que Luziel estava construindo, mas, outros teriam que continuar nas cavernas, como os lobisomens, que são notívagos. Os resgatados foram alimentados e vestidos. Havia um estoque pronto para essa hora e Ava contou com a experiência dos mais antigos para aprenderem a usar a pele e os ossos dos animais caçados, para confecção de vestes e calçados.

Logo estavam todos prontos para descansar, pois precisavam recuperar as forças, teriam muito o que fazer para seguirem com a vida. Não seria fácil, principalmente por não saberem de qual espécie foram gerados, já que foram gerados pelos sobreviventes no interior da montanha. Ava havia presenciado vários abusos que geraram novas vidas, inclusive praticados pelos bruxos.

Os mais velhos foram identificados, principalmente os lobisomens, que se transformavam em uma certa idade. Os bruxos sabiam quem era quem, pois para cada espécie, havia um feitiço de controle de sua espécie e só por isso os lobisomens não perdiam o controle de sua parte selvagem. Ava contava com o bruxo que capturou, para descobrir o que fizeram com cada espécie e como poderiam desfazer.

Era a chance de recuperar o mundo sobrenatural de uma forma organizada e solidária, sem desavenças entre as espécies. 

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