Capítulo 10. Confusão

Ava ficou à espera de informações, estava cansada, mas não foi descansar, devido a apreensão que sentia com o resultado da liberação da magia do povo. Mas depois de duas horas, parecia tudo calmo. Havia tido uma agitação entre Zeruia e Trash, mas logo se acalmaram e Ava precisou lembrá-los de fechar a ligação mental, pois estavam transmitindo seu "entendimento" para todos.

O feiticeiro foi acomodado e no dia seguinte iria até a Alcateia para ver Cassandra.

O mago branco estava preso por um feitiço, que Menfis adorou colocar. Já o mais novo, continuava na floresta e com mais magia fluindo naquela parte do planeta, ele já não estava tão debilitado e começou a usar esse poder para abrir a mata e se localizar melhor através das estrelas. Iniciou uma rota em direção ao antigo monte, que ele nem imaginava não existir mais.

Quase amanhecendo, Ava ouviu um pedido de socorro, era o Alfa da Alcateia.

— " O que houve, Natanael?"

— " Cassandra me prendeu em uma árvore, de cabeça para baixo e agora está fazendo um motim com meus lobos."

Ava não conseguiu resistir e deu risada, Cassandra aproveitou seu poder e se vingou da falta de atenção do macho e da rejeição de suas ideias.

— " Não liga pra ele não, Ava. Os machos estão organizando as mudanças. Já separamos todo o povo e estamos realocando, mas o Alfa, não queria deixar ninguém ir embora."

— " Fazem parte da família, Ava!"

— " Está questionando as minhas ordens, Natanael. Acha que está errado o meu planejamento?"

— " Desculpe, chefe. Acho que me apeguei de mais a todos."

— " Eles só vão se mudar, não vão morrer! "

— " Tá certo, mas manda ela me pôr no chão."

— " Vocês precisam se resolver. Explique a ele, Cassandra, pare de enrolar. "

— " Não entendo como ele não percebeu, Ava. É natural para os lobos, o dele devia ter percebido."

— " Percebido o quê? "

— " Que Cassandra é sua companheira."

— " Eu sei, mas não quero uma fêmea mandona. Ááááiii!"

— " O que foi isso? " — perguntou Ava.

— " Ela lançou um raio em mim! Me tira daqui, Ava."

— " Você ouviu, Ava, ele me rejeitou…"

Ava fechou a ligação, resolvendo ir até lá. Pelos anos em que convivia com os lobisomens, sabia que não era bom uma rejeição de companheiros, principalmente de uma Luna e Natanael estava sendo muito machista. Voou aos céus e logo estava na Alcateia. Viu Natanael pendurado, mas Cassandra havia sumido. Ava o retirou da árvore e quando ele pisou no chão, ficou meio desorientado pelo excesso de sangue em sua cabeça.

— Agora, me explica essa história.

— Eu sempre soube que ela é minha companheira, por isso me mantive distante.

— Por quê?

— Eu sabia que ela era parte feiticeira, sou bem mais velho e conheço seu pai. Os feiticeiros tem vida eterna, além de muito poder, os lobisomens não. Ela demonstrou sua personalidade mandona, desde que se transformou e eu queria uma fêmea doce, não a que vive me afrontando.

— Você conversou sobre isso com ela?

— Não. Não gosto de estar próximo a ela, pois meu lobo pede para reivindicá-la.

— Você não faz ideia do que desejo fazer com você…

— Nem vem, sabe que tenho razão.

— Razão em que, em desafiar a natureza? Você sabe que as companheiras completam os machos e você sequer tentou conquistá-la. Está sendo um fraco e ela precisa de um macho forte. Pena que não exista um feiticeiro para ser companheiro dela, estaria melhor acompanhada, do que com um idiota como você. Resolva isso.

Ava foi embora, voando pelo alvorecer, sentindo os primeiros raios de sol baterem em suas asas e as revitalizar. Aproveitou ao máximo aquela sensação e foi para casa. Pensou sobre Zeruia, se ela era filha de Luziel, porquê não podia ficar ao sol? Precisava investigar mais sobre isso.

Enquanto isso, Cassandra se escondia em um recanto da floresta, tentando segurar a onda da rejeição do Alfa. Não entendia o que o desagradava nela. Desde nova, fazia de tudo para agradá-lo, mesmo não sabendo, ainda, que eram companheiros, era apaixonada por ele e se tornou uma guerreira forte para acompanhá-lo, mas ele sempre se manteve distante.

Agora que o reconheceu como seu, descobriu que ele não a queria e isso estava doendo em seu peito. Não aguentou ficar parada, deixou sua loba sair e correram pela floresta, desviando das árvores, pulando galhos e atravessando riachos, até cansar. Só então caçou uma lebre e se alimentou à beira de um riacho.

— Olha quem eu encontrei aqui!

A loba olhou para o homem sujo e com as vestes rasgadas, cheirou o ar e não o reconheceu. Voltou a forma humana, já conjurando vestes para si e perguntou:

— Quem é você?

— Você me deu uma boa ideia. — com um gesto mudou sua aparência e voltou a sua imagem normal.

— Agora sim, você é o mago branco que conseguiu fugir.

— Não me condene sem me conhecer. Nunca estive do lado de fora e fui criado para fazer o que fazia, talvez eu só precise aprender novas coisas.

Cassandra não sabia se podia acreditar no que aquele homem dizia. A vida toda viu ele como o algoz dos prisioneiros, mas o que ele disse fazia sentido e o cheiro dele, depois que se limpou e vestiu, era muito agradável.

— Que tal se formos ver nossa líder?

— A guardiã?

— Não sei o que ela é, a chamamos de Ava. Então?

— Eu pretendia voltar para a montanha.

— O guardião destruiu a montanha.

— Então, tudo em que trabalhamos não existe mais?

— Não e estamos bem distante daquele local, levaremos tempo para chegar lá, andando.

— Mas você é uma feiticeira, pode abrir um portal.

— Não sei como fazer isso.

— Da mesma forma que produziu as roupas, pense onde quer ir, mentalize o portal e pronto, a magia faz o resto.

Ela tentou e apareceu uma luz girando à sua frente e pensou nela se expandindo e o portal se abriu, dentro da caverna de Ava. O primeiro a passar foi o mago e Cassandra o seguiu e assim que ela passou, percebeu que o mago estava elaborando um feitiço, então não teve dúvidas, deixou sua loba sair e pulou sobre ele, mordendo seu ombro e o impedindo de se mexer.

Ela abriu a ligação e chamou os guardas, que chegaram e o amarraram, depois que ela voltou ao normal e saiu de sobre ele.

— Então você é um escorpião e não um sapo. O que pretendia?

— Eu só queria encontrar meu pai.

— Ah, coitadinho do filhinho desamparado…

— É pecado querer saber de sua família?

Cassandra olhou para ele, séria e falou:

— Te dei uma chance e você zombou de mim, agora você perdeu. — olhou para os guardas e ordenou — levem-no e mantenham ele preso, sozinho.

— Mas ele é um mago, conseguirá sair.

— Não com o que eu vou fazer.

Levaram o mago para uma das reentrâncias na parede e fecharam a porta improvisada e Cassandra teceu vários fios de magia, que impediriam o mago de passar. Só então, foi visitar o feiticeiro, para pedir que lhe ensinasse a usar sua magia, sem saber ainda, que ele é seu pai.

No meio da floresta, um imenso lobo negro corria seguindo o cheiro de sua companheira. Natanael começava a se desesperar, pois sentiu o perigo rondando Cassandra e liberou seu lobo para segui-la, mas quando chegou no riacho, ela já não estava e o cheiro dela estava junto com outro odor, nada agradável.

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