Capítulo 12. Comunicação

Luziel olhou em volta e percebeu que o lugar era muito público para eles. Pelo visto, Ava transformou tudo em uma imensa comunidade, onde tudo era de todos. Precisaria mudar aquela situação e criar um espaço só deles para terem privacidade, mas por

agora, era bom estarem todos ali, para ele comunicar o que queria, uma vez só.

— Então, vamos todos lá para fora, aqui ficará apertado e tenho muito a dizer. 

— Chame os outros, Trash. — pediu Ava.

— Incluindo, Cassandra? Ela é Lobisomem.

— Mas também é feiticeira.

— Terá lobos na aldeia dos bruxos?

— Vá logo, Trash!

— Tá bem, tô indo.

— Podia ter chamado você mesma. — disse Luziel.

— As vezes é bom não estar na mente dos outros.

— Sei, por isso me bloqueou, entendi.

— Vamos sair, tem um lugar que usamos para nossas reuniões.

Seguiram para uma clareira, com uma formação de pedras, circular, no centro, onde faziam uma fogueira em noites com e sem lua e com vários troncos de árvore secos em volta, servindo de bancos.

— Antes dos lobisomens formarem sua Alcateia, nos reuníamos aqui, em noite de lua cheia. Eles caçavam e assavam a caça na fogueira. Já nas noites sem lua, relembrávamos os tempos de escravidão, quando não víamos o dia. — Explicou Ava.

— Boa ideia para manter o grupo unido e lembrar o que não queriam reviver. Agora tenho muitas coisas para contar.  — disse Luziel.

Todos foram se acomodando, era dia e não precisavam da fogueira. Quando chegaram todos, Luziel se ergueu e se apresentou:

— Meu nome é Luziel, fui o líder dos chamados pelos humanos de anjos da guarda, fomos criados para guardar os humanos e quando eles foram ameaçados de extinção pelos anjos caídos e seu líder, fui enviado para liderar a defesa, quando estávamos quase vencendo, alguns sobrenaturais: magos, feiticeiros e bruxos, criaram um feitiço poderoso de contenção, na tentativa de parar com a guerra, mas me prenderam e o outro conseguiu fugir.

— Então pegamos o ser errado e o outro está solto por aí, podendo nos atacar de novo? — perguntou o feiticeiro.

— Sim e por isso saí para rodear o mundo, na tentativa de encontrar uma pista de seu paradeiro. Não cheguei a rodear o mundo todo, mas encontrei algo muito interessante.

— Alguma cidade? — perguntou Trash.

— Não existem cidades, eu percorri muitos lugares e não encontrei nada e nem ninguém. — disse Ava.

— Acontece, que você percorreu só o espaço ao redor deste lugar e o mundo é muito maior do que isso.

— Tão grande assim?

— Bem maior e sim, encontrei outros sobreviventes e cidades inteiras e modernas. Os sobreviventes se uniram e aproveitaram os escombros e reconstruíram cidades. Restauraram as comunicações, já que os satélites não foram atingidos e abriram poços artesianos para captar água pura, pois daquele lado do planeta, a água ainda está contaminada.

— Desculpe, Luziel, mas não entendi nada do que disse. O que são satéliques, poços atesianos e a água está contaminada com o quê? — perguntou Ava, que nunca ouviu falar daquelas coisas.

Luziel percebeu pelos rostos de todos, que além do feiticeiro, ninguém mais sabia o que eram aquelas coisas e viu que precisaria ensinar sobre muitas coisas.

— Vejo que terei muitas coisas a ensinar sobre o velho mundo, mas por hora, basta que saibam que existem mais habitantes e são como nós, uma miscigenação de raças e espécies e vivem em paz. Encontrei guardiões e anjos, meus amigos e que auxiliam a manter a paz e segurança. Estão mais adiantados em cultura do que nós, mas com esforço, conseguiremos crescer em conhecimento e um dia, confraternizar com eles.

— Isso é surpreendente, mas por quê nunca vieram até aqui, como você foi até lá?

— Parece que o feitiço dos magos, bloqueou este lugar e ninguém conseguia sair ou entrar. Conforme vocês conseguiram fugir e faltou alimento para eles, o feitiço foi enfraquecendo e passei mais tempo acordado, absorvendo o poder deles e enfraquecendo a barreira. A explosão da montanha, acabou com tudo.

— É muita informação, minha cabeça ficou cansada. — disse um dos filhos do bruxo.

— Mas ainda precisamos resolver sobre as mudanças. — avisou Ava.

— Mudança de lugar?

— Sim, Galego. A aldeia criada por Luziel, ficará para os possuidores de magia. A Alcateia já tem seu local e Natanael poderá organizar específicamente para os lobos. Resta ver onde ficarão os humanos, que são bem poucos. — disse Ava.

— Nas cidades antigas, havia um livro de regras e algumas pessoas eram escolhidas como governantes. No caso da aldeia da magia, podem ser os mais velhos, que são o feiticeiro e o bruxo, sempre decidindo em votação com o povo, cada medida que tomarão.

— Você se lembra de tudo isso? — perguntou Natanael — também sabe como eram as Alcateias.

— Vou procurar por livros, mas terão que aprender a ler e escrever. Nossa! É muita coisa para fazer. — disse Luziel.

— Já decidimos boa parte, creio que já podem se mudar. — disse Trash.

— Podem seguir para a aldeia mas chegando lá, terão que ser divididos e essa tarefa será do feiticeiro e do bruxo. Os humanos fiquem por aqui e discutiremos sobre o melhor local para vocês e como será. Por hoje é só, depois informarei sobre os estudou.

— Tem algo errado, Luziel… — disse Ava, olhando para o céu.

O sol pareceu sumir e nuvens pesadas cobriam o céu e à medida que avançavam, ficavam pesadas e escuras, soltando raios e trovões.

— Não é natural, Ava, é magia. — disse Menfis.

— Precisaremos subir para desfazer, Ava. — disse Luziel.

— Nós?

— Sim, nós. Esse tipo de magia negra, só nós, podemos desfazer, vamos, lá em cima te digo como será.

Os dois subiram voando e adentraram as nuvens pesadas, de mãos dadas, pois o ar era denso e escuro. Uma  confusão de água, vento e eletricidade, girava ao redor deles. A estática estalava a volta deles e ondas que pareciam algodão sujo, embolavam pelo lugar.

— " Venha até mim e me abrace, mantendo as asas abertas. Vamos nos beijar e trocar nosso sangue e deixar a energia dessa união, expandir através de nosso corpo, se espalhando para todo lugar."

Ela fez o que ele disse e como já tinham feito aquilo antes, sabia do que ele estava falando. Assim que sentiu o poder da mistura de seu sangue, percorrer seus corpos, expeliu com força e ele também o fez, ao mesmo tempo e raios de luz brilharam ao redor, desfazendo as trevas que se espalhavam.

Logo estavam só os dois, entregues em um beijo profundo e não perceberam os xingamentos do mago velho, lá no solo. 

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