Amanda
Observo a expressão chocada de Rebeca ao ver Neil dirigindo seu Audi branco. Agora sabe quem os estava seguindo na noite em que assassinaram Camila. Mas está drogada demais para assimilar a realidade, para tomar qualquer decisão coerente.
Afasto as lagrimas do meu rosto com as costas das mãos, sufoco a dor que dilacera minha alma, por ter perdido o homem que amo, seguro Rebeca pelos ombros, forçando-a a encarar-me e falo:
-- Presta atenção, Rebeca. O cara que você conhece como Logan se chama Neil, é viúvo de uma das mulheres que você e Marlon mataram. Ele sabe que vocês são os assassinos e está indo agora mesmo entregar vocês à policia. O celular dele não vai funcionar porque está chovendo, mas em dez minutos ele estará na delegacia e em mais dez a policia estará chegando aqui. Por isso precisamos fugir agora. V ocê me entendeu?
Seus olhos azuis expressam espanto.
-- Você sabe a verdade? Como?
-- Eu sempre soube, como não vem ao caso agora. Seu carro está aqui?
-- Sim. Mas não podemos sair assim, preciso avisar Marlon, se ele for preso vai me dedurar.
-- Não há tempo para isso, criatura.
Temos que ir agora!
Ela não me dá ouvidos, desvencilha-se das minhas mãos e corre para dentro do bar. Sigo-a, da porta a avisto aproximar-se de Marlon a falar algo ao seu ouvido.
Ambos correm agitados na direção da saída. Marlon passa direto por mim, deixando o estabelecimento.
-- Agora podemos ir. – Rebeca fala, colocando-se diante de mim.
-- Onde está seu carro? – Pergunto, irritada.
-- Do outro lado da rua.
Corremos para o carro dela, peço lhe as chaves e sento-me ao volante, enquanto ela se acomoda no assento do carona. Partimos em alta velocidade rumo à saída de Teresópolis. Ainda chove grosso, o que deixa minha visão da estrada embaçada.
Não tenho um plano traçado, não sei onde escondê-la, preciso pensar em algo rapidamente.
À essa altura a policia de Teresópolis provavelmente já solicitou a vigilância de todos os aeroportos do Rio, deixar a cidade de avião está fora de cogitação.
Dirigir para outro estado também pode ser perigoso, acredito que as fronteiras estejam sob vigilância.
Logo a foto dela estará em todos os noticiários, então será cada vez mais difícil se locomover.
V asculho minha mente em busca de uma solução, quando então me recordo da velha casa de praia da nossa família em Itacuruçá. Duvido que a polícia pense em procurar lá, primeiro por estar abandonada há anos, segundo por ser um local completamente isolado da civilização.
-- Como você descobriu? – Rebeca pergunta, despertando-me dos pensamentos. Está encolhida sobre o assento, agarrada às pernas dobradas diante do corpo. É impressionante como não parece assustada ou sobressaltada com a situação, age como se nada estivesse acontecendo.
-- Eu contratei um detetive particular pela internet que segue Douglas há anos. Desde que ele começou a se ausentar de casa a noite. Após terminar o caso que tinha com você as outras amantes começaram a ser mortas, então foi só ligar as coisas. Isso sem falar que o detetive viu o carro do Marlon seqüestrando uma delas, como aconteceu com Neil.
-- V ocê sempre soube que tive um caso com Douglas e mesmo assim me aceitou na sua casa? – Ela parece perplexa.
-- O que eu podia fazer? V ocê é minha irmã.
-- E você é praticamente uma santa.
-- Sou apenas sensata. O que faltou de juízo em você sobrou em mim.
Ela sorri. Não parece alguém que está sendo perseguida pela polícia.
É dia quando atravessamos a capital do Rio de Janeiro, seguindo diretamente para Itacuruçá. A chuva cessou, o sol ilumina a manhã daquele novo dia.
-- Pra onde estamos indo? – Ela pergunta ao me ver seguindo rumo a Mangaratiba.
-- V amos nos esconder na antiga casa de praia de papai. Estaremos seguras lá.
-- Não quero ficar isolada naquele lugar horrível.
-- Acontece que você não tem outra opção. Se tentar fugir da cidade será facilmente presa.
-- E tudo por causa daquele maldito peão. Quando o pegar vou acabar com a raça dele. – O ódio parece a única emoção que consegue expressar com clareza.
Me magoa ouvi-la falar de Neil assim.
-- Ele não tem culpa de nada. Só estava tentando fazer justiça pela morte da esposa.
-- V ocê ainda tem coragem de defender esse canalha? O que ta rolando entre vocês, héim?
-- Nada Rebeca. – Me recuso a dividir com ela algo tão intimo.
-- E quanto a Douglas, vocês estão separados?
-- É, estamos.
-- Posso saber o porquê?
Recordo-me da violência com a qual me tratou na ultima vez que o vi e meu corpo estremece de pavor.
-- Ele me tratou com violência. – Respondo, mecanicamente.
Rebeca solta uma sonora gargalhada. Parece uma louca, em um minuto está com ódio no olhar, em outro está gargalhando.
-- Eu sabia que um dia ele mostraria as garras pra você.
-- O que você quer dizer com isso?
-- Ele trata todas as suas amantes com violência. É um praticante de sadismo. Aposto como disso você não sabia. – Ela continua sorrindo.
Como pode?
-- Ele machucou você também?
-- Muitas e muitas vezes. Eu adorava. – Ela solta outra gargalhada histérica. – E estaria machucando até hoje se não fossem todas aquelas putas dando em cima dele. – Agora sua expressão é sombria. Como pode mudar tão depressa?
-- Por que vocês cortavam os mamilos das mulheres? – A pergunta escapa antes que eu possa evitar.
-- Porque é a parte do corpo da mulher que ele mais gosta. V ocê nunca percebeu isso não?
-- Não.
-- V ejo que ele te poupou de muita coisa, mas isso foi bom, pois te manteve pura.
Por fim chegamos a Itacuruçá.
Percorremos alguns quilômetros de estrada cercada de um lado pelo mar e do outro pela floresta. Estamos bastante afastadas de Mangaratiba, ou de qualquer outro lugar onde há moradias, quando alcançamos a casa.
Embora seja localizada há poucos metros de distancia da praia, tem uma aparência deplorável. O mato está crescido diante dela; a pintura da sacada está descascada; as paredes parecem caindo aos pedaços. Trata-se de uma casa pequena, com um andar apenas, sem muros ou cercas.
Foi comprada pelo nosso pai quando ainda era jovem e abandonada à medida em que ele ficava rico e dava preferência às praias fora do país.
-- Cruzes credo! Não vou conseguir ficar nesse nojo de lugar. – Rebeca fala, ao saltarmos do carro.
-- Não reclama Rebeca. Tenho certeza de que é melhor que a cadeia.
Ela me olha de soslaio.
Coloco minha mochila nas costas e entramos. A porta velha de madeira abrindo com facilidade, sem necessidade de chave. O lado de dentro parece ainda pior. O chão está coberto pelo lixo, os móveis pela poeira, o teto pelas teias de aranha. Há infiltração nas paredes e a pintura está descascando, sem falar que há um cheiro de mofo impregnado no ar.
-- Depois de uma faxina fica melhor. – Tento parecer otimista.
-- Será que pelo menos tem luz elétrica e água encanada?
Acendo uma luz, satisfeita por termos eletricidade, embora todos os eletrodomésticos pareçam ter sido roubados. V ou até a cozinha, abro a torneira e a água cai abundante.
-- Pelo menos isso temos. V amos à faxina? – Proponho.
-- Olha, se quiser limpa você. V ou até a cidade comprar algo para comer. Estou faminta e cansada.
Droga! Não posso deixá-la solta por aí, por outro lado também não posso ficar dando uma de babá.
O celular dela vibra, acaba de receber uma mensagem.
-- Marlon está escondido na floresta. A policia está na cola dele.
Está perguntando onde estou. V ocê acha que devo dizer? – Ela fala ao ler a mensagem.
-- Claro que não! Você ficou louca?
-- E por que não? Ele pode ficar aqui conosco.
-- De jeito nenhum. A policia pode segui-lo e pegará você também.
-- É, você tem razão.
Ela espicha-se sobre o velho sofá empoeirado e continua trocando mensagens com Marlon e aparentemente com outras pessoas, enquanto limpo a casa como posso.
Por volta das duas da tarde, tomo um banho demorado e visto roupas limpas.
-- V ou até a cidade comprar comida. Há algo que você queira em especial? – Falo.
Ela pula do sofá.
-- Vou com você.
-- Rebeca será que você não raciocina? A essa altura sua foto está estampada em todos os jornais.
É melhor você ficar aqui e não ser vista.
-- E qual é o seu plano? Me deixar trancada nessa espelunca pro resto da vida?
-- Pro resto da vida não. Mas pelo menos até a poeira baixar e você poder sair do país.
Ela volta a espichar-se sobre o sofá, resignada.
-- Traga batata frita e refrigerante.
– Fala, sem desviar o olhar da tela do celular.
Felizmente me lembrei de trazer meus cartões de crédito, isso porque ao deixar a casa no sitio acreditava estar indo morar com Neil, que reconstruiria minha vida do lado dele e precisaria de dinheiro. Como as coisas mudaram depressa.
Em Mangaratiba compro comida suficiente para mais ou menos um mês; uma pequena televisão para que possa acompanhar os noticiários e algumas roupas para Rebeca. Não encontrei nada do estilo dela, mas para ficar em casa qualquer coisa serve.
Ao retornar a encontro na mesma posição sobre o sofá, mexendo no celular. Me espanta que ele tenha área de cobertura num lugar tão remoto.
Preparo uma rápida macarronada, instalo a televisão e sentamos juntas no sofá com nossos pratos nas mãos, diante da TV , como costumávamos fazer quando crianças.
Como eu esperava, é exibido no telejornal a notícia sobre os assassinatos das mulheres, com detalhes agora. Mostram uma foto de Rebeca e outra de Marlon, apontando-os como os assassinos.
-- Eu não te disse? Se sair na rua é caixão. – Falo.
Ela me encara sem expressão alguma no olhar. Mas não fala nada.
Após a refeição Rebeca continua no sofá, troca o canal da TV , passando a assistir desenhos animados. Quem diria. Quanto a mim, lavo a louça arrumo a cozinha e a convido para um passeio na praia. Como ela recusa vou sozinha.
É fim de tarde, o sol está gostoso, fico extasiada com a beleza daquele lugar, são quilômetros e mais quilômetros de praias totalmente desertas.
Caminho por cerca de uma hora, então sento-me na areia, observando o por do sol, que me proporciona um belíssimo espetáculo. Penso em Neil, no seu corpo gostoso de encontro ao meu, seus olhos castanhos claros me fitando com devoção. Gostaria tanto que ele tivesse me compreendido e ficado ao meu lado, mas entendo seus motivos, não posso julgá-lo e apesar de saber que nunca mais voltarei a vê-lo, sempre o amarei, com todas as forças da minha alma.
As lembranças dos nossos momentos juntos se recusam a deixar minha mente. A saudade toma conta de mim, quase me sufocando, levando as lágrimas aos meus olhos.
Mal posso acreditar que por pouco não ficamos juntos, mas a felicidade não é para todos.
É noite quando retorno ao casebre.
Rebeca está no banho. Preparo sanduíches para nós duas. Mais tarde voltamos a nos sentar diante da TV comendo os sanduíches com refrigerante. Rebeca e Marlon estão em todos os canais agora. Não exibem outra coisa que não a história dos assassinatos das mulheres. Há muitas e diferentes versões para o caso.
De repente uma repórter entra ao vivo com a notícia de que Marlon é apanhado pela policia, encontrado na floresta nas proximidades de Teresópolis.
Rebeca não expressa qualquer reação diante da notícia.
-- Caraca! Pegaram o Marlon! – Falo, para me certificar de que ela ouviu corretamente o noticiário.
-- Agora ele vai me dedurar. V ai dizer que o persuadi a me ajudar.
-- E isso é verdade?
-- Claro. Que outros motivos ele teria para participar disso tudo?
Fito-a perplexa, com a certeza de que ela foi a mentora de todos os assassinatos, usando Marlon para ajudá-la.
-- Mas você está segura aqui. Ele pode te dedurar o quanto quiser que não te encontrarão.
Ela faz aquele olhar sombrio que assustaria o mais valente guerreiro.
Por volta das dez horas da noite, desligamos a televisão e vamos para os quartos. Rebeca ocupa o maior deles, mobiliado com cama de casal, guarda roupas, criados mudos e uma poltrona antiga. O meu é um pouco menor, embora também tenha cama de casal. Fiz questão de deixar ambos bem limpos, para que tenhamos boas noites de sono.
Porém não é a poeira que me impede de dormir e sim as lembranças de Neil. Posso sentir suas mãos grandes acariciando meu corpo, afastando meus cabelos do rosto, seu cheiro gostoso parece impregnado em mim.
Gostaria que estivesse aqui, agora, apertando-me entre seus braços fortes, tirando-me o fôlego com seus beijos selvagens. Mas no fundo sei que me resta apenas esquecê-lo.
Com tais pensamentos, adormeço.
Os raios de sol penetram o quarto pelas frestas na janela de madeira quando desperto. Olho no visor do celular, são oito horas. Levanto-me, sentindo meu corpo dolorido por causa do colchão duro, desconfortável. Tomo um banho rápido, visto um short jeans curto e blusa de malha e sigo para a cozinha. Preparo café com leite e torradas. Decido esperar Rebeca acordar para não fazer a refeição sozinha. Enquanto isso vou até a sala abrir as janelas para arejar aquele cheiro horrível de mofo. No entanto, quando olho para fora minha surpresa é colossal: o carro não está mais estacionado diante da casa.
Abro a porta, corro para fora, procuro ao redor da residência e não o vejo em parte alguma. Corro para o quarto de Rebeca e, como já esperava, constato que ela não está lá. Provavelmente saiu à noite, enquanto eu dormia. Mas para onde foi? Atentar contra a vida de Neil?
Apesar de ser o primeiro pensamento que me ocorre, acredito que ela não tenha meios de encontrá-lo, pois o Rio de Janeiro é muito grande, ele pode estar em qualquer lugar.
Penso em chamar um táxi pelo celular e ir atrás dela, mas onde?
Não tenho idéia de para que direção partiu, então só me resta esperar que volte e torcer para que esteja em segurança.
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Comments
Luzia Ribeiro
também espero e muito errado o que ela está fazendo por mais que doa ter um irmão nesta situação mas a maneira certa seria ela,procurar tratamento pra irmã ja que é louca mas esconder da justiça que a,irmã é a criminosa se tornou um crime também
2024-04-27
1
Giulia Pereira
espero que ela vá presa tb por cumplicidade .
2024-01-07
6
Zilda Barbosa
gorata burra vai ser taxada como esta acobertando a irmã
2024-01-02
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