Um ano depois.
Neil.
É o meu primeiro dia de trabalho no sitio dos Vasconcelos, sou ajudante de caseiro, uma profissão que jamais escolheria para mim. Em poucas horas já pisei em esterco de cavalo; fui picado por abelhas e quase fui mordido por um Pitt Bull.
Não sei o que me falta acontecer.
Não estou acostumado com a vida no campo, já que nasci na Califórnia e cresci na capital carioca. Todavia, é necessário que eu esteja aqui, pois Douglas Vasconcelos, o milionário herdeiro de um império empresarial, proprietário e morador do sitio, é o principal suspeito pelo assassinato de Rafaela. Preciso investigá-lo, já que a policia é incompetente demais para isto. Se recusam a acusá-lo somente porque ele é rico e poderoso, sendo que facilmente pode ser o assassino, já que uma das mulheres assassinadas, de forma brusca, com os mamilos arrancados, foi vista pela ultima vez na sua companhia, a única pista encontrada até então, o que levou a policia a interrogá-lo uma única vez e acatar sua declaração de inocência, por meio de suborno, supostamente.
Preciso ter certeza de que ele é o culpado e para isto tenho que vigiá-lo vinte e quatro horas por dia, seguir seus passos, pegá-lo em flagrante, pois ele não pararia por ali, após ter tirado a vida da minha esposa, tinha matado mais duas mulheres, em um ano. Ele agiria novamente e eu estaria lá para testemunhar seu crime e fazê-lo pagar.
O sitio é localizado nos arredores da cidade de Teresópolis, onde ele mora com a esposa e a cunhada. São dezenas de hectares de terras desabitadas sediadas por uma imponente mansão de três andares, toda em estilo colonial, diante da qual há um lago onde os gansos nadam livremente. Nos fundos há uma piscina grande com churrasqueira, campo de tênis e um estábulo repleto de cavalos de raças caras, além de uma pequena pista de hipismo. Há cerca de meia dúzia de empregados ali: dois ajudantes do caseiro; uma cozinheira;
arrumadeira e lavadeira. Acho muito estranho que um empresário tão rico escolha morar num lugar tão afastado da civilização, raramente indo à cidade, optando por cuidar dos seus negócios por meio de assessores. É uma pessoa distante da sociedade, quase inacessível, mais um indicio de que pode ser um psicopata.
É fim de tarde, falta pouco para me livrar daqueles afazeres fatídicos e ir procurar um bar para tomar uma dose de uísque. Deixarei para começar a investigação amanhã, estou extremamente cansado, apesar de que certamente no dia seguinte também estarei. O trabalho ali é incessante.
Seguindo as ordens de Raimundo, o caseiro, selo um cavalo negro, deixo-o próximo à pista de hipismo e volto ao estábulo para cuidar da alimentação e higiene dos demais.
Estou escovando a crina de um Quarto de Milha, quando ela entra na pista, a alguns metros de distancia de onde estou, montando o cavalo negro que selei, cavalgando com exatidão, mantendo a postura reta, elegante enquanto o animal salta sobre os obstáculos. Parece uma miragem: linda! Os cabelos louros esvoaçam com o vento, expondo o rosto perfeito, sério, porém sereno; as roupas de montaria emolduram o corpo esbelto, revelando uma silhueta bem desenhada.
Não consigo parar de olhar para ela, estou hipnotizado, sequer vejo mais a crina do cavalo que escovo, mas devo estar fazendo um bom trabalho, já que repito os movimentos mecanicamente, enquanto minha atenção está totalmente concentrada naquela mulher. Quem será ela? Certamente a cunhada de Douglas, pois é muito jovem para ser sua esposa, não tem mais que vinte anos de idade e ele já passou dos trinta e cinco.
O cavalo está saltando por sobre um obstáculo quando ela cai, estatelando-se no chão. Corro para socorrê-la, mas Raimundo chega primeiro, ajudando-a a ficar de pé.
Não parece ter se machucado gravemente. Limpa-se com a mão livre do chicote de montaria.
De perto é ainda mais bela. Tem grandes olhos azuis, a pele rosada, os lábios carnudos, o nariz pequeno.
Parece saída dos contos de fadas.
-- Quem selou este maldito cavalo?
– Ela esbraveja, gesticulando para a sela que foi parar na barriga do animal que ela montava, o que causou sua queda.
-- Foi o novo funcionário senhora.
Ele ainda está em fase de aprendizado. – Raimundo responde, gesticulando para a minha direção.
Não deixei a sela frouxa intencionalmente, foi pura inexperiência.
Ela crava seus olhos azuis em mim, os quais expressam nada mais que desprezo, me examina dos pés à cabeça e subitamente assume uma postura de superioridade que não demonstrou ao se dirigir a Raimundo.
-- Qual o seu nome rapaz?
-- Logan. – Não tinha certeza se a morte de Rafaela apareceu nos noticiários, por via das duvidas mudei meu nome para Logan ao assumir o trabalho no sitio.
-- Um nome nada comum para um peão, não me estranha que seja tão incompetente. Agora saia da minha propriedade, você está despedido.
Merda! Se ela não voltar atrás estou fodido.
-- Por favor, senhora. Me dê outra chance. Prometo que esse descuido não voltará a acontecer.
-- Sem chance rapaz. Por sua causa eu podia ter me machucado grave ou até morrido. Agora vá embora. – Ela dá as costas e começa a caminhar na direção da mansão.
Preciso fazer alguma coisa, não posso perder aquela chance única de descobrir o assassino da minha mulher. Sem pensar, a sigo e seguro-a pelo braço para detê-la.
Ela se vira, me encara com olhos surpresos e ao mesmo tempo irritados. Ergue o chicote para mim, como se pretendesse me bater, mas isso não posso permitir, então seguro sua mão no ar, na metade do trajeto para meu braço.
-- Não se atreva a me bater ou te garanto que farei você se arrepender. – Droga, não era isso que eu devia ter falado, precisava implorar para que me deixasse permanecer no emprego.
Com um safanão, ela se liberta das minhas duas mãos.
-- Não se atreva você a me tocar novamente, seu peão imundo. Agora saia da minha residência ou chamarei meu marido. – Agora seus olhos faíscam de raiva.
Então ela é esposa do suposto assassino. Que desperdício.
Percebo que não tem volta, estou fora do jogo, perco a chance de fazer minha investigação e tudo por causa daquela patricinha mimada que se recusa a voltar atrás. Minha vontade é de deitá-la sobre minhas pernas e dar umas boas palmadas naquele traseiro empinado. Mas não vou piorar as coisas, se a pego agora sou capaz de machucá-la de verdade, tamanha é minha fúria.
Então dou-lhe as costas e me afasto, passo direto por Raimundo, que não diz nada, vou até minha velha pick up vermelha e deixo o sitio, seguindo pela estrada estreita sem asfalto, cercada pelo mato por ambos os lados.
Na primeira vez em que estive ali, achei aquela paisagem linda, formada por morros cobertos por vários tons de verdes, porém agora mal a enxergo, tamanha é a raiva que me domina. Não posso acreditar que perdi aquela chance, depois de um ano gastando dinheiro com detetives particulares, depois de vender minha parte na agência publicitária para Renato e usar o que restou do dinheiro para subornar o caseiro e conseguir o emprego no sitio, com a esperança de descobrir quem tirou a vida de Rafaela, chego perto da única pista que se tem do assassino, o homem na companhia do qual uma das vitimas foi vista pela ultima vez e por um pequeno deslize perco a chance de investigá-lo a fundo, de ter a certeza de que ele é culpado.
Maldito seja aquela loura mimada, tão linda por fora e intolerante por dentro.
Estou estressado, depois de tanto trabalho não estou afim de voltar para o casebre onde estou instalado, preciso de um uísque para relaxar e quem sabe arrumar uma boa briga para descontar em alguém a raiva que aquela loura me fez.
Era o que vinha fazendo durante aquele ano sem minha amada:
bebendo e brigando pelos bares do Rio de Janeiro. Por sorte ainda estou vivo.
Dirijo até Teresópolis, são setenta quilômetros de distancia do sitio até lá. A noite começa a cair quando estaciono diante de um bar movimentado no centro da pequena cidade.
Ao saltar da caminhonete, logo começo a atrair a atenção das pessoas, o que não é de estranhar já que minha aparência é lamentável.
Para que o assassino não pudesse me reconhecer dos noticiários, cortei meus cabelos bem curtos, como os de um soldado do exército;
as tatuagens dos meus braços estão à mostra; ainda uso as roupas com as quais passei o dia trabalhando: uma camisa xadrez de mangas curtas, calças jeans e botas. Me pareço com um selvagem e com aquela roupa um caipira selvagem.
O bar está praticamente vazio, devido ao horário. Alguns caras mal encarados jogam sinuca a um canto.
Ótimo, é possível arrumar uma boa briga com eles.
Me aproximo do balcão e peço uma dose de uísque com gelo. O liquido desce macio pela minha garganta.
Peço outra e mais outra. A garçonete de cabelos vermelhos me lança um olhar insinuante, mas não a enxergo como fêmea, o rosto da loura se recusando a deixar minha mente.
Posso visualizar claramente seus grandes olhos azuis, me fitando com desprezo, depois com raiva. Ainda não tinha me sentido atraído de verdade por outra mulher desde que Rafaela se foi, e comicamente tinha que ser a esposa do seu suposto assassino. Felizmente não voltarei a vê-la, pois o plano agora é contratar um detetive particular para tomar meu lugar no sitio, só não sei se ainda tenho dinheiro para isto.
À medida em que a noite avança o bar vai se enchendo de pessoas, logo uma morena de seios fartos começa a me encarar, quando retribuo com uma piscadela de olho ela se aproxima, sentando-se ao meu lado no balcão.
Nos apresentamos e lhe ofereço uma bebida, afinal uma transa não pode ser descartada esta noite, estou precisando relaxar, mas não antes de uma boa briga. Conversamos por algum tempo sobre bobagens do nosso cotidiano, quando percebo que minha noite com ela está garantida, vou atrás da outra parte da minha diversão. Passo pelos homens que jogam sinuca e esbarro feio em um deles, esperando que este reaja com hostilidade, como é de costume acontecer em bares, porém este me pede desculpas com a maior educação. Mas que porra é essa? Só então me recordo: estou no interior, onde as pessoas são pacificas e educadas.
Desisto da briga e volto para perto da morena, admirando seus seios grandes, à mostra pelo profundo decote do vestido. Imagino como ficariam os seios da loura mimada em um vestido daqueles.
Bebemos mais algumas doses de uísque antes de eu convidá-la para me acompanhar até o casebre onde moro. Ela aceita, fazendo questão de me seguir na sua potente motocicleta, pois, segundo ela, assim poderia voltar na hora que quisesse. Mas tenho certeza de que ela não vai querer voltar tão cedo.
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Comments
Nina M.Q
sítio localizado na minha cidade 🥰🥰
2023-09-30
8
LmA Dicci
Nada convencido o nosso amigo
2023-09-15
1
nem
já começou quente
2023-08-10
2