Amanda
-- Quer comer alguma coisa? – Neil pergunta, com aquele seu meio sorriso que me deixa sem ar. – Não, você tem que querer, afinal não comemos nada o dia inteiro e já são duas horas da tarde.
Passamos toda a manhã fazendo amor, no pequeno quarto do hotel, na cama minúscula de solteiro, apesar de estar completamente dolorida, quero que todas as minhas manhãs sejam assim.
-- Tem serviço de quarto aqui? Não estou nem um pouco afim de sair na rua.
-- Deixa de ser preguiçosa. V amos a um restaurante.
-- Não é preguiça não, é que esse gigante que você tem entre as pernas me deixou meio dolorida.
Ele solta uma gargalhada, parece um garoto descontraído. Fico fascinada.
-- Quer que te compre algum remédio?
-- Não precisa. Daqui a pouco passa. – Lembro-me de que Douglas é uma ameaça para a vida dele.
-- Então, quando vamos embora? – Pergunto, tentando ocultar minha preocupação.
-- Agora mesmo, se você quiser.
Mas antes precisamos ir a um restaurante. Estou faminto.
-- Ok, você venceu. Restaurante.
Tomamos banho juntos, ele veste uma camisa social de mangas curtas cor de vinho e calça jeans, arrepia os cabelos com os dedos e fica lindo, queria que fosse fácil assim também para nós mulheres. Quanto a mim, tenho que vestir o vestido que usava na noite anterior, o qual não me parece adequado para o dia, por ser meio curto. Ainda bem que a cueca dele serve em mim. Demoro meia hora para conseguir desembaraçar os cabelos. Neil junta todas as suas coisas numa mochila e saímos.
Entramos na recepção de mãos dadas. Uma moça loura que está atrás do balcão nos observa com olhos arregalados. Não gosto do jeito que olha para Neil.
-- Boa tarde. Quero fechar a conta.
– Ele fala, com bom humor.
A moça procura algo no caderno de anotações, em seguida informa-lhe o preço. Ele paga com dinheiro vivo e deixamos o estabelecimento.
Seu Audi branco está estacionado diante do hotel, entramos e partimos rumo ao restaurante.
-- V ocê vai voltar ao sitio para pegar suas coisas antes irmos embora? – Neil pergunta. Fito-o perplexa.
-- V ocê acha mesmo que Douglas me deixaria sair de lá carregando alguma bagagem?!
-- Por que não trouxe logo o que precisava?
-- Porque não sabia se você ia me aceitar de volta.
-- E você tinha alguma duvida?
-- Sim, tinha. – Penso por um instante, sobre o quanto minha vida será diferente daqui em diante. – O que faremos da nossa vida agora? – Pergunto.
-- V amos morar do meu apartamento no Leblon, voltarei a trabalhar na minha antiga agencia publicitária e você ficará em casa cuidando dos nossos filhos.
Solto uma sonora gargalhada.
Douglas sempre tomou todas as decisões sobre os rumos da minha vida, mas com Neil será diferente, não permitirei que decida por mim.
-- E se eu quiser trabalhar?
-- A decisão é sua. O que você sabe fazer?
-- Sou formada em Filosofia, posso dar aulas nessa área.
-- Então seja uma professora, mas não se esqueça de que quero meus filhos.
Volto a sorrir, invadida por uma felicidade jamais antes experimentada.
-- Quantos filhos você quer ter? – Pergunto.
-- Pelo menos uns quatro. Dois parecidos com você e dois parecidos comigo.
-- V ocê ta louco! Não vou ter quatro filhos, dois está ótimo.
-- Com medo de estragar esse corpo lindo? – Ele percorre o olhar pelo meu corpo com malicia.
-- Não se trata disso. Quanto menos filhos tivermos, melhor podemos cuidar deles.
-- Então teremos dois. Mas os quero o quanto antes.
-- Talvez eu já esteja grávida.
Afinal não tomamos nenhuma precaução.
Ele sorri, expondo a fileira de dentes brancos e perfeitos. Tira os olhos da direção do carro, trazendo seus lábios até os meus, beijando-me.
Afasto-o com punhos cerrados, dizendo:
-- Olha pra estrada, seu doido.
Quer nos matar?
V olta a atenção para a direção, seus lábios ainda curvados naquele sorriso lindo.
Estacionamos diante de um pequeno restaurante no centro da cidade. A movimentação de pessoas na rua é intensa, temo que Douglas nos encontre antes que deixemos Teresópolis. Neil parece não se preocupar nem um pouco com sua vida, ou está subestimando Douglas.
Faz questão de caminhar até a entrada do restaurante de mãos dadas comigo.
Além disso não cogita a hipótese de que seu carro foi visto por Rebeca e Marlon, enquanto os perseguia no Rio de Janeiro, que podem atentar contra a sua vida a qualquer momento. Embora acredite que Rebeca seja incapaz de machucá-lo se souber que o amo.
Ocupamos uma mesa no fundo no longo salão, completamente vazio, por ter passado do horário do almoço. Uma garçonete muito jovem para este trabalho vem nos atender.
Pedimos frango grelhado com legumes e arroz, acompanhado de vinho tinto.
Pretendo terminar a refeição o mais depressa possível, para que possamos ir o quanto antes para o Rio. Estou receosa, sobressaltada, com a sensação de que a qualquer momento Douglas nos encontrará, machucará Neil e me levará de volta para o sitio.
-- O que você tem? Parece nervosa.
– Ele pergunta, enquanto comemos, depois de um longo momento de silencio.
-- Estou com medo que Douglas nos alcance antes que deixemos a cidade.
-- Pois que venha, não tenho medo dele. – Fala com audácia.
-- Acontece que se ele vier, não será sozinho.
-- Mesmo assim não tenho medo.
-- Você é muito confiante.
Ele pensa por um instante, ingere um gole de vinho antes de perguntar:
-- E os assassinos que segui há dois dias, você não tem medo que venham atrás de mim?
É uma indireta. Irrito-me pela sua insistência em tocar naquele assunto.
-- Eles não virão. – Falo.
-- Como você pode ter certeza disso? – Ele me olha de soslaio, só faltou afirmar que sei quem são os assassinos.
-- Será que dá pra parar de falar sobre isso? – Falo, irritada. Não posso culpá-lo por ter suas desconfianças, afinal é inteligente e está no caminho certo.
Ele deita a cabeça para o lado, fitando-me com afeto. É a criatura mais bela sobre a qual já coloquei meus olhos. Preciso de um esforço para controlar o impulso de agarrá-lo ali mesmo e abrir o zíper da sua calça com os dentes.
-- O que eu ganho se parar? – Pergunta, erguendo uma sobrancelha com malicia.
Instantaneamente o formigamento começa no meio das minhas pernas.
Faço meu olhar mais sedutor, umedeço os lábios com a língua e respondo:
-- O que você quiser.
Ele ajeita a cabeça de volta no lugar, arregala os olhos, fita-me com intensidade. Sei que está de pau duro, conheço aquela cara.
-- V ocê não imagina as coisas que tenho em mente.
Eu poderia convidá-lo para uma rapidinha no banheiro do restaurante, mas estou tensa, receosa, não consigo relaxar.
Continuamos com aquele joguinho de sedução até terminarmos a refeição, quando finalmente deixamos o restaurante, voltando para o carro, pegando a estrada para o Rio de Janeiro.
À medida em que nos afastamos de Teresópolis, vou ficando mais tranqüila, com a certeza de que tudo dará certo, viveremos em paz e seremos felizes juntos.
Estamos na auto estrada, cercada pelo mato por ambos os lados, onde o tráfego é quase inexistente, o carro em baixa velocidade, quando de repente dois outros veículos surgem do interior da floresta densa, tomando-nos a frente, obrigando Neil a parar.
Imediatamente reconheço o Dodge de Douglas. O outro é um Mercedes preto.
Neil tenta partir em marcha ré, mas o Mercedes coloca-se atrás do Audi, impedido o veiculo se sair do lugar.
Douglas salta do Dodge e vem na nossa direção, três homens saem do Mercedes, seguindo-o.
O sangue gela nas minhas veias, meu coração quase para de bater.
Não temo pelo que ele possa fazer a mim e sim a Neil.
-- E agora o que vamos fazer? – Pergunto, em pânico.
-- Enfrentá-los.
Com uma confiança que não sei de onde ele tira, Neil deixa o carro, partindo para cima de Douglas, porém antes que o alcance os três homens o seguram ao mesmo tempo, precisando fazer uso de muita força para imobilizá-lo.
Douglas passa por ele, fitando-o com desprezo. Aproxima-se do Audi, abre a porta do lado em que estou, puxa-me para fora, encara-me com uma fúria bestial nos olhos verdes.
Sem uma palavra, desfere-me uma bofetada no rosto.
Neste momento Neil parece enlouquecer. Fazendo uso de todas as suas forças, consegue se libertar dos três homens, avança para Douglas, mas é apanhado novamente, pelos três que o seguram com mais firmeza, embora ele não desista de tentar se libertar.
-- Por que não vem bater em mim seu covarde! – Neil grita, o rosto contorcido de fúria. – V enha me encarar de frente. Seja homem seu verme!
Douglas o ignora. Dirige-se aos seus comparsas, dizendo:
-- Levem ele no Audi até a serra de Petrópolis, chegando lá, coloquem-no ao volante, mesmo que seja desacordado e joguem o carro serra abaixo, para que sua morte pareça um acidente. Não queremos um escândalo aqui na cidade.
É assustadora a frieza com que ele dá as ordens.
Entro em estado de choque, me recuso a permitir que meu amor seja morto. Então avanço para ele, com a esperança de conseguir libertá-lo dos três trogloditas que o aprisionam, mas Douglas me segura firme pelos pulsos, com facilidade, já que não possuo metade da sua força. Debato-me tentando me libertar, mas é inútil.
-- Não! V ocê não pode fazer isso! – Grito, desesperada, prefiro morrer a ter que perder Neil.
-- Mas é claro que posso. V ocê é minha esposa, estava me traindo com ele, posso fazer o que quiser com vocês dois. – Ele fala, com aquela frieza que assusta.
Percebo que não há saída, Neil está condenado. Lagrimas de desespero começam a escorrer dos meus olhos.
Então viro-me para Douglas e imploro:
-- Por favor deixe-o viver. Prometo nunca mais te trair, serei a melhor das esposas, eu juro.
-- Não se humilhe para esse bosta Amanda, ele não merece sua suplicas. – Neil fala.
-- V ocê será a melhor das esposas mesmo depois que ele estiver morto.
Andei me descuidando de você durante todos esses anos, mas vou te ensinar algumas lições de vida. Se é uma vaga bunda que você quer ser, então uma vaga bunda você será.
Sem mais palavras empurra-me em direção ao Dodge, enquanto os três homens forçam Neil a entrar no Audi. Por Deus! Não posso acreditar no que está acontecendo.
Será mesmo a ultima vez que o vejo com vida? Minha mente se recusa a aceitar.
Quando Douglas me arremessa para dentro do seu carro, vejo o Audi arrancar em alta velocidade, cantando pneus sobre o asfalto, com Neil no seu interior, rumo a Petrópolis, o Mercedes ficando abandonado no meio da pista.
A certeza de que ele será morto dentro de poucas horas toma conta de mim, imobilizando-me sobre o assento do carro, minha mente enevoada, quase perdendo a consciência. Mal percebo quando Douglas dá a partida, retornando para Teresópolis.
Ainda estou em choque quando chegamos ao sitio. Douglas segura meu braço com brutalidade, arrancando-me do carro, levando-me para o interior da mansão. A casa parece completamente vazia.
Onde está Rebeca quando preciso dela? Poderia pedir-lhe que chamasse a policia e salvasse a vida de Neil, se ainda não é tarde.
Imagino-o dentro do carro, descendo serra abaixo, com a certeza de que vai morrer e a angustia se intensifica dentro de mim, fazendo-me soluçar, em prantos. Se tivesse a frieza de Rebeca, tiraria a vida de Douglas sem pensar duas vezes.
Ele arrasta-me para o quarto, atirando-me sobre a cama.
-- Aqui é o seu lugar e não em quartos de hotéis com outro homem!
Nunca mais você sairá desta casa, está me entendendo? V ou fazer de você minha putinha, viverá apenas para me dar prazer e não se esqueça de que foi você quem quis assim. Eu te respeitava, mas você tirou isso de você mesma.
-- Você nunca me respeitou. Eu sei de todas as amantes que você teve!
Seus olhos refletem espanto.
-- Elas eram apenas objetos sexuais para mim, você era a mulher que eu amava, a quem escolhi como companheira de vida, queria te poupar! Mas a partir de hoje, você será meu objeto sexual, vai se submeter a todos os meus desejos e não pense que sou pouco exigente, porque não sou.
Suas palavras soam com um duro tom de ameaça e um calafrio percorre-me a espinha. Do que ele está falando?
Tranca a porta da sacada, enfia a chave no bolso da sua calça, em seguida deixa o quarto, trancando a porta pelo lado de fora.
Sou sua prisioneira agora, em breve escrava sexual, mas isso não é nada comparado ao trágico destino de Neil. Ainda estará vivo?
Pergunto-me, as lagrimas banhando meu rosto.
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Comments
Amanda
😔😔😔😔
2023-09-10
6
sol
Agora vamos para os próximos capítulos de muita adrenalina. e expectativas
2023-08-24
0