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Neil.

Desde que iniciei as investigações para descobrir o assassino de Rafaela Renato vem me auxiliando descobrindo o que eu preciso com um detetive amigo seu. Enviei as fotos da mulher com quem Douglas saiu na noite anterior, junto com seu endereço e descobri que ela se chama Camila, tem vinte anos de idade, é estudante de psicologia, trabalha como vendedora nas horas vagas e mora sozinha.

Mas o edifício que ela mora é muito luxuoso para uma simples vendedora, talvez Douglas a beneficie financeiramente.

É noite, estou no meu Audi, estacionado próximo à mansão, esperando Douglas sair para segui-lo. Quem sabe hoje tenha sorte e consiga pegá-lo em flagrante, assassinando Camila, arrancando seus mamilos como fez com as outras, inclusive com Rafaela.

Ele demora. Recosto-me ao assento, sentindo-me exausto após passar o dia transando com Amanda.

Uma exaustão que vale à pena, que quero sentir todos os dias. Foram os melhores momentos da minha vida desde muito tempo. Ainda posso sentir seu cheiro gostoso de fêmea, o sabor dos seus lábios, a fragilidade do seu corpo de encontro ao meu.

Qualquer homem perderia a cabeça por uma mulher como ela, no entanto preciso manter a minha no lugar, concentrar-me no meu objetivo, mesmo que isso acarrete não poder mais tocá-la.

O Dodge deixa a propriedade, é Douglas. Espero que ele se afaste o suficiente para não notar que está sendo seguido e parto atrás dele.

Fazemos o mesmo percurso da noite anterior, seguindo para o Rio de Janeiro, Ipanema, o prédio de Camila. Em segundos ela surge do interior do edifício. Aproveito para tirar mais fotos. Entra no carro.

Seguem rumo à barra da tijuca.

Estacionam diante de um restaurante sofisticado. Não se demoram muito lá, logo partem rumo à baixada fluminense, entram no mesmo motel de antes. Não entendo porque freqüentam um motel localizado num lugar tão remoto, se Amanda não está por perto para vê-los e de acordo com o amigo de Renato Camila é solteira.

Horas depois saem do motel. Ele a leva de volta para casa, deixando-a na entrada do edifício, partindo de volta para Teresópolis.

Até ali não acontece nada de errado, a não ser o adultério por parte dele. Estou começando a ficar impaciente. Quando vai matá-la?

Pode demorar meses e eu naquela rotina, perdendo sono, me estressando. Mas não estou disposto a desistir, na hora certa vou pegá-lo.

Ao atravessarmos Teresópolis não resisto, me dirijo a uma bar movimentado. Preciso de um ou dois uísques para relaxar o corpo, diminuir o estresse, esquecer a certeza de que aquele idiota logo estará deitado ao lado de Amanda, o lugar onde eu quero estar. Se ela fosse minha jamais a trairia, como ele faz.

Apesar de passar das duas horas da madrugada o bar está abarrotado de gente, pessoas comuns, não muito sofisticadas que se divertem jogando sinuca, se balançando na pista de dança ou apenas conversando.

Aproximo-me do balcão e peço uísque com gelo. A bebida desce macia pela minha garganta, me fazendo relaxar de imediato.

De repente alguém aproxima-se por trás de mim, colocando as duas mãos sobre meus olhos, são mãos de mulher, por isso não reajo, mas não tenho idéia de quem seja.

-- Para quem marcou comigo às nove você está bem atrasado. – Ela fala ao meu ouvido, então reconheço a voz de Rebeca.

Puxo-a pelos pulsos, colocando-a na minha frente. Tem uma aparência péssima: os cabelos estão desgrenhados, a maquiagem borrada, as roupas amarrotadas. Usa um mine short jeans desfiado nas pernas, blusa preta e uma jaqueta jeans por cima. Parece completamente bêbada e drogada.

-- Tive um compromisso mais cedo. Só agora consegui vir. – Eu sequer me recordava de que tinha marcado algo com ela.

-- V ocê não sabe o que perdeu.

Teve show ao vivo com uma banda de Rock de Vitória.

-- Ainda bem que não vim então.

Não sou muito chegado a rock.

Ela acena para a garçonete, pedindo o mesmo que estou bebendo.

-- Então, esse seu compromisso, era com uma garota?

Reflito por um instante antes de responder. É obvio que ela está flertando comigo. Se fingir que estou correspondendo, terei mais chances de arrancar dela informações sobre Douglas. Por outro lado, ela não parece uma mulher que fica apenas nos amassos e sou incapaz de possuí-la após ter vivido os momentos que vivi nos braços de Amanda. Não seria justo com ela.

-- Não. Tenho um trabalho de vigia noturno no Rio de Janeiro à noite. – Minto.

-- Então quer dizer que você não tem ninguém?

-- Não e você?

-- Completamente solitária. – Sua bebida chega, ela ingere um grande gole. Parece ter dificuldade em ficar de pé, pelo efeito do álcool e pelo que mais tenha usado.

-- E o que rola entre você e o Douglas? – Pergunto, forçando o tom casual.

As feições dela se contraem, uma ruga surge no meio da sua testa.

-- Por que você acha que eu teria alguma coisa com ele? – Pergunta, séria agora.

-- Eu vi o jeito como vocês dois se olham.

Ela reflete por um instante, parece ter dificuldade em organizar os pensamentos.

-- Dá pra perceber, é? – Ótimo, ela mordeu a isca.

-- Claro como a neve. Acho que vocês dois se gostam.

-- Não é tão simples assim.

-- Então conte-me a história. Temos todo o tempo do mundo.

-- Promete que não vai contar nada pra Amanda?

-- Claro.

Ela fica em silencio por um longo momento, fitando o vazio à sua frente, como se escolhesse as palavras. Espero que seja o tipo de pessoa que quando está bêbada se abre com facilidade.

-- Tive um caso com ele. Mas não tenho mais. Pronto, falei.

-- Por que terminaram?

Espero que ela diga que sua consciência pesou pelo fato de estar traindo a própria irmã, mas sua resposta é outra.

-- Douglas é o tipo de homem que se cansa com facilidade das mulheres. Por isso vive arranjando amantes por aí. Só não se cansa de Amanda porque não faz com ela o que fez comigo e faz com as outras.

-- O que ele faz com as outras?

-- Ele é praticante do sadismo.

Gosta de humilhar e maltratar as mulheres com quem tem relações sexuais. Fui submissa dele por algum tempo, mas não demorou para se cansar de mim.

Me recordo de que, certa vez, Rafaela me propôs fazer esses tipos de jogos sexuais, mas recusei. Um gosto amargo se faz na minha boca, ao concluir mais uma vez que ela pode ter sido amante do homem que tirou sua vida. Sou incapaz de compreender seus motivos se éramos felizes juntos, ou pelo menos eu acreditava sermos. Porém, tudo parece fazer mais sentido agora:

apenas um sádico seria capaz de assassinar mulheres com tamanha brutalidade, torturando-as, arrancando os mamilos, para depois enfiar uma bala nas suas cabeças.

Mesmo que Rafaela tenha sido sua amante, vou pegá-lo, afinal ninguém merece ter o fim que ela e tantas outras tiveram. Ele precisa pagar.

-- E por que ele não faz esses jogos com Amanda?

Rebeca dá de ombros, ingerindo mais um gole de uísque.

-- Não sei. Acho que é apaixonado por ela de verdade e a respeita. Não a vê como um objeto sexual, como vê as outras. – Ela detém seus olhos sobre minhas tatuagens. – Não quero mais falar de Douglas, vamos falar de você. Qual o significado das suas tatuagens?

-- As fiz quando estava no ensino médio. Meus pais são americanos, nos mudamos para o Brasil quando eu tinha dez anos de idade, aprendi falar português bem depressa, mas alguns caras da escola me zoavam por causa do meu sotaque, então tive que aprender a brigar e logo ganhei fama de encrenqueiro e para enfatizar minha fama fiz as tatuagens.

Gosto delas.

-- Pra falar a verdade, também gosto delas. – Ela me encara com malicia, finjo não perceber.

É muito parecida com Amanda, tem os mesmos olhos azuis, a pele rosada, a boca bem desenhada, mas não me atrai como a irmã.

-- Quem é mais velha, você ou Amanda?

-- Eu. Tenho vinte e seis e ela vai fazer vinte e quatro quarta feira. E você, quantos anos tem?

-- Vinte e cinco.

Neste momento, um homem com cerca de trinta anos de idade, alto, forte e mal encarado se aproxima de nós.

-- Qual é a tua Rebeca? V ai me deixar sozinho na mesa? – Pergunta, seu tom ríspido irritando-me.

-- Não estou mais afim de beber com você. Agora estou com Logan.

O sujeito me examina dos pés à cabeça, demorando-se mais nas minhas tatuagens.

-- Então esse é o carinha tatuado da cidade que está morando na cabana da floresta? – Agora seu tom é irônico, irritando-me um pouco mais.

-- Carinha não, mermão. Meu nome é Logan.

-- Parece que tu é marrento em cara. Fica na tua que a mina ta comigo.

-- Mas se ela não está afim de ir contigo vai vazando.

-- V aza tu colega. Aqui é minha área. – Ele me empurra pelos ombros.

Como não rejeito uma boa briga, esmurro-lhe o rosto, atirando-o no chão.

Logo as pessoas param à nossa volta para observar a briga, enquanto Rebeca sorri exultante, parecendo uma louca, por ver dois homens brigando por causa dela.

O sujeito é teimoso, fica de pé e vem com tudo para cima de mim.

Cerro os punhos, esmurrando-o no estomago com facilidade e novamente no rosto, quando sinto os ossos do seu nariz se quebrando de encontro à minha mão. Ele volta a cair, sem que desta vez consiga se levantar.

-- Cara! V ocê briga bem demais! – Rebeca fala. – Agora vamos sair daqui antes que os amigos dele apareçam.

-- Não tenho medo desses caipiras.

-- Acho melhor ter, a turma é grande – Ela me puxa pelo braço, conduzindo-me para a saída do estabelecimento. Continua soltando gargalhadas. – Onde está sua pick up? – Pergunta.

Olho para meu Audi branco estacionado do outro lado da rua. Se ela souber que é meu vai desconfiar que não sou apenas um ajudante de caseiro e meu disfarce pode ir por água abaixo.

-- Não vim com ela. Estou de carona. – Minto.

-- De carona com quem?

-- Com um cara que me deixou aqui e foi embora.

-- Então vou te levar no meu carro.

Ela volta a me puxar pelo braço, guiando-me em direção a um Jaguar preto com vidros escuros que já vi antes na garagem da mansão. Abre a porta do carona, gesticulando para que eu entre.

-- Eu dirijo. – Nem morto eu entraria em um carro guiado por uma bêbeda como ela.

-- Está bem. – Ela concorda, entregando-me as chaves, sentando-se no banco de passageiros.

Olho para meu lindo Audi, talvez pela ultima vez, em seguida sento-me ao volante do Jaguar e dou a partida, seguindo para o sitio.

-- Pode ir para sua casa, deixo você lá e volto para o sitio no carro.

– Ela fala.

-- Está bem. – Concordo, lamentando que o dia esteja quase amanhecendo e daqui a pouco tenha que trabalhar, sem descansar o suficiente.

Rebeca coloca um rock pesado ensurdecedor no som do carro, flerta comigo durante todo o trajeto, que dura cerca de quarenta minutos.

Pousa sua mão sobre minha perna, apertando minha coxa, declarando o quanto meus músculos são firmes ali; encontra posições que permitam que seu corpo encoste no meu.

A única coisa que consigo sentir é o hálito de cigarro misturado com álcool que parte dela.

Por fim estaciono diante da choupana onde estou instalado. Ela desliga o som.

-- Então, obrigado. – Falo. Quando tento deixar o carro ela me detém, segurando-me o braço.

-- Não vai me convidar para entrar gatinho?

-- Acho melhor não. Preciso descansar, daqui a pouco tenho que trabalhar.

Sem que eu espere, ela monta no meu colo, repentinamente, esfregando seu sexo no meu por sob os tecidos das roupas.

É inevitável, tenho uma ereção.

-- Então podemos dar uma rapidinha aqui no carro mesmo.

Tenta beijar-me os lábios, desvio o rosto. Continua esfregando seu corpo no meu, o tesão aumenta, mas não o deixo tomar conta de mim, Amanda não merece que eu faça isso com ela, embora não tenhamos nenhum compromisso, embora nada ficou marcado entre nós, embora pertença a outro homem, sinto que devo fidelidade a ela, por se entregar a mim sem reservas, me escolher como homem, como amante, experimentando pela primeira vez, nos meus braços, o verdadeiro prazer sexual. Eu preciso ser digno dela, merecê-la.

Com tais pensamentos, seguro Rebeca pela cintura e a tiro de cima de mim, deixando o carro.

-- Ei cara! Por acaso você é gay? – Ela grita, do interior de veículo, puta da vida.

-- Não. Apenas não estou afim de você. Agora vá embora, preciso dormir.

Sem mais palavras entro no casebre, de onde posso ouvir o ronco do motor do Jaguar partindo em alta velocidade através da estrada sem asfalto.

Sem trocar de roupas deixo-me cair sobre a cama, estou exausto, mas ainda assim não consigo adormecer.

Me recordo das palavras de Rebeca ao afirmar que Douglas é praticante do sadismo. Imagino-o machucando, humilhando e transando das formas mais pervertidas possíveis com Rafaela. A sensação que me toma é a pior possível, um misto de raiva, indignação e nojo. Não consigo compreender porque ela foi infiel a mim a tal ponto se sempre me jurou amor. E principalmente não consigo entender porque foi infiel com um sádico, capaz de torturá-la ao extremo, ao ponto de matá-la.

Desde sua morte acreditava que ela foi pega à força por seu assassino, mas agora tudo indica que ela tinha um caso com Douglas, mais uma das amantes que ele coleciona para depois exterminar. O que a levou a ficar com ele? O dinheiro? O amor?

O sadismo? Se gostava dele porque não me deixou?

O dia amanhece e os pensamentos continuam atormentando-me a mente.

Levo-os até Amanda. Está ela segura ao lado daquele homem? É verdade que ele a ama ao ponto de não ser capaz de maltratá-la, como afirmou Rebeca?

A única certeza que eu tenho é a de que preciso acabar com ele, pegá-lo antes que faça outra vítima, fazê-lo pagar pelas vidas que tirou.

Os raios do sol penetram o quarto através das frestas na madeira, indicando que é hora de ir trabalhar, mas não estou afim, sinto-me cansado, afadigado e preciso ir buscar meu carro em Teresópolis.

Telefono para o sitio, quem atende é Soraia, a empregada, não dou muitas explicações, digo apenas que estou resfriado e que avise aos patrões que trabalharei no domingo, antecipando minha folga para aquele sábado. Eles não vão me despedir por isso, afinal todo ser humano tem direito a uma folga.

Levanto-me, tomo um banho demorado, visto uma cueca confortável, como um sanduíche de queijo e volto a me deitar. Afasto todos os pensamentos da minha mente e finalmente consigo adormecer.

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Comments

vanuza dantas

vanuza dantas

Quer dizer q Rafaela traia Neil?

2023-11-30

5

Sandra Regina

Sandra Regina

também acho que são os dois que estão juntos matando as amantes

2023-11-16

1

Alessandra Almeida

Alessandra Almeida

Desconfiei que quem mata as mulheres é a Rebeca com ciúmes do Dolglas.😲🤨🤔

2023-11-16

3

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