A Amante
Stella caminhava à minha frente, falando ao telefone com alguém que devia ter muita paciência, pois ela falava palavrões a todo momento. Ao parar repetidamente, quase esbarrei em seu corpo, por sorte consegui desviar apoiando a mão na parede, tentando manter o equilíbrio.
— Vá a merda! — gritou desligando o celular. — Aquele cretino me paga! — falou com um sorriso diabólico. — Desde quando nossas modelos são rejeitadas dessa maneira ?
— Então foi isso — falei entediada retirando as fotos de sua mão, já que estava atrás dela apenas para pegá-las e ir fazer meu trabalho.
— Fiquei sabendo que eles estão trabalhando com as ridículas daquela agência imunda, a Glamour. Pode uma coisa dessas? Uma agência que se chama Glamour não pode ser levada a sério. — Revirei os olhos saindo e logo ela quem me seguia. — As modelos da Storm estão em um nível bem mais elevado. Aqueles idiotas vão me pagar na próxima.
— Stella, não exagera.
Somos sócias há alguns anos, mas confesso ser difícil suportá-la.
— Você é muito sangue frio.
— Eu sei perder uma vez ou outra, não costumo me descabelar por pouca coisa. Fui modelo desde os seis anos de idade e suportei o inferno e o capeta, enquanto você passou três anos modelando e não viveu nem metade do que é a realidade da profissão lá fora. Então baixa essa tua bola e te acalma, temos muitas coisas para resolver. — Ela nada disse, ficando para trás e respirei aliviada.
Entrei na sala de reuniões dando início a escolha do cast para a festa da revista Look e isso levou horas.
Passava-se das sete da noite quando vi através da parede de vidro de minha sala quando minha sócia passou falando ao telefone, gesticulando enlouquecida. Provavelmente brigando com alguém. Me perguntei a quanto tempo não transava, pois tanto estresse me fazia questionar se não era falta de um bom orgasmo.
Nosso relacionamento sempre foi profissional, raramente sentamos para conversar sobre nossa vida pessoal. Tudo que sabia sobre ela era sobre ser casada.
Olhei no relógio novamente e decidi ir embora, já era tarde e o que mais queria era ir para casa descansar minha mente, mas quando cheguei ao estacionamento encontrei novamente o estresse em pessoa, que logo veio ao meu encontro com uma expressão que anunciava vir bomba.
— Alexia, eu vou para Londres, então você vai a festa da revista nesse fim de semana. — Encarei ela com os olhos semicerrados.
Maldita!
Stella já tinha confirmado presença e eu dei graças a Deus, pois compareci a quatro eventos em uma única semana, enquanto ela passava as noites no conforto de seu lar.
— Eu não posso, planejei um fim de semana com o David e você já tinha confirmado antes. Onde está Bea? Até onde sei era ela quem ia para a festa da Look. Combinamos com antecedência que ela começaria a frequentar esse tipo de evento a partir daí.
— A Beatrice quebrou a perna. Eu já reclamei com ela por ser irresponsável! — Eu nem podia acreditar que ouvia aquele absurdo. — Você tem apenas duas alternativas e creio que vai preferir ir para Londres. — Ela cruzou os braços e revirei os olhos.
— Na festa da Look você tem mais chances de encontrar a editora chefe da Muse Magazine, mas em Londres pode encontrar a estilista que precisamos, em pessoa.
Nós estamos focando na edição de aniversário da revista Muse, onde uma das estilistas mais famosas do país exibirá peças exclusivas. Era nossa chance de ter uma das nossas naquele trabalho.
— A editora? Ah, mas não tenho mesmo — afirmou dando um sorriso forçado. — Aquela mulher não costuma se misturar aqui em Nova York, e menos ainda tratar de negócios fora da revista.
— Se conhece tão bem ela, então porquê diabos não vai encontrá-la de uma vez e consegue a droga do ensaio?
— Porque eu preciso ligar para conseguir uma hora e ela está me enrolando. Parece de propósito, mas ouvi de fonte segura que na edição desse mês estão trabalhando com modelos da Glamour. Quais as chances de conseguirmos fazer com que uma das nossas use um modelo exclusivo do Dion, na edição de aniversário da Muse? Quase a baixo de 1%.
Por fora eu parecia calma, mas por dentro estava furiosa por ter que cancelar o fim de semana com meu marido. Há dias, se não meses, eu não sentava para ver um filme com ele sem ter Stella ligando a todo minuto por motivos banais.
David era Scouter(olheiro) quando eu ainda era modelo. Foi quem me ajudou a suportar muita coisa e nem lembro bem quando nos tornamos namorados. Lembro-me apenas que levei minhas coisas para o apartamento dele e desde então estamos casados. Tudo bem, nós oficializamos no cartório dois anos depois, mas isso nunca significou muito para mim, o importante sempre foi o sentimento e o respeito um pelo outro.
No começo minha família achou precipitado, afinal eu ainda tinha dezoito e uma possível carreira pela frente, mas depois de quase dez anos juntos estamos muito bem e em momento algum me arrependi.
— Tchau Stella, até a minha volta de Londres. — Ela deu um breve sorriso confirmando e foi para o carro.
...(…)...
Desembarquei no aeroporto e como previsto já havia um carro a minha espera. Provavelmente minha sócia enlouqueceu a pobre secretária para conseguir todas minhas mordomias encima da hora, já que eu fiz questão de exigir bem mais que ela havia planejado para si, naquela viagem. E era essa uma parte que me fazia amar meu trabalho, poder desfrutar de bons momentos sozinha, relaxando nos quartos de hotéis em diferentes cidades e países, isso me ajudava a recarregar as energias para voltar a encarar a rotina.
Depois de um bom descanso, recebi a equipe de maquiagem e comecei a me arrumar para o desfile.
Usei um belíssimo modelo com pedrarias, cujo o brilho causava um efeito que só perdia para a quantidade de flashes das câmeras na entrada do evento.
Encontrei vários rostos conhecidos logo de cara, os falsos amigos, digamos assim.
O mundo da moda é repleto de pessoas traiçoeiras, que não perdem a oportunidade de tentar passar por cima uns dos outros, para logo em seguida sorrir e tirar uma foto posando de amigo.
Entre um desfile e outro ,fui até o banheiro retocar a maquiagem e no meio do caminho me deparei com um pequeno tumulto onde várias modelos estavam impedindo a passagem. Enquanto tentava passar não pude deixar de ouvir uma voz feminina alterada.
— Tem noção de quanto isso custa para você cometer uma merda dessas? — dizia ela. Tentei não me importar com aquilo, mas a forma que falava com a garota, que notei manter a cabeça baixa, me fez parar e observar. — Você estudou pelo menos? Tem neurônios aí dentro ainda ou eles saíram junto aos vômitos diários?
— O que pensa que está fazendo? — Diminui a distância enquanto as modelos abriam caminho.
— Quem é você? — perguntou ela com um tom completamente diferente.
— Quanto custa? — indaguei, observando o vestido que estava manchado. — A julgar pela aparência, acredito que tenha dinheiro suficiente para pagar esse vestido e outros vários. Então porquê humilhar alguém, assim?
— Escuta...
— É constrangedor e inaceitável para mim, que estou presenciando, imagine para ela. Tenha um pouco de empatia, por favor. — Sai de lá, antes de ouvir qualquer coisa que viesse dela, estava enojada e preferia não prolongar aquela cena que atraia cada vez mais pessoas.
No fim da noite, enquanto esperava o motorista, estava impaciente notando que a maioria das pessoas já iam embora e eu não via sinal do carro que me levaria de volta ao Hotel.
De repente uma limousine parou à minha frente, olhei rapidamente e logo voltei a procurar o carro com o motorista incompetente, quando a porta do veículo foi aberta e para minha surpresa de lá saiu o aquela arrogante de antes.
— Aceita uma carona? — perguntou se aproximando e encarei seu rosto incrédula, me perguntando se era mesmo necessário responder.
— Não, obrigada. — Desviei o olhar tentando ignora-la.
— Todos estão saindo, não é aconselhável ficar sozinha em um lugar desconhecido.
— Agradeço a preocupação.
— Vamos, prometo que não mordo. — Ela estendeu a mão e a encarei por um momento. — O que preciso fazer para me redimir?
— Por qual motivo está tentando? Não vejo necessidade. Dveria estar se desculpando com a garota que humilhou mais cedo.
— Já resolvemos o assunto, aquilo foi apenas um momento de raiva.
— Não precisa me dar satisfação, só espero que trate melhor as pessoas daqui pra frente. Agora, se me der licença. — Tentei focar na pista e ainda sem sinal do carro.
— Senhorita... — Insistiu e suspirei me perguntando qual era a dela. — Qual é mesmo seu nome?
— Brandon — murmurei meu sobrenome, sem muita vontade, apertando a bolsa carteira, cada vez mais impaciente.
— Prazer, Antonella Venturi. — Olhei novamente para a mulher que me cumprimentava.
Não pode ser! É ela, a editora chefe da Muse Magazine New York, quem estavamos tentando entrar em contato há meses.
— Senhora Venturi. — Sorri de orelha a orelha, esbanjando uma satisfação que acredito chegou a surpreendê-la. — Que coincidência, pois desde o início da semana de dois meses atrás venho tentando entrar em contato com a Muse. — Acabo sendo direta.
— Então minhas suspeitas estavam corretas. Alexia. Brandon, da Storm?— Movi a cabeça confirmando sem deixar de manter o sorriso no rosto.
— Agora, sabendo que de certa forma nos conhecemos, irei aceitar sua carona — falei na maior cara de pau, afinal ela sequer sabia quem eu era e insistia em me dar carona, então eu, ciente, ia desfrutar da sorte que o destino me agraciou.
A mulher sorriu sem mostrar os dentes, abrindo a porta da limusine onde entrei e ela fez o mesmo. Tudo que eu queria era começar a falar sobre negócios, mas o clima ficou extremamente tenso assim que ficamos naquele ambiente fechado.
— O que me diz de irmos a um outro lugar para discutirmos sobre suas constantes ligações? — sugeriu.
Fiquei em dúvida se devia agradecer a Deus ou me envergonhar, mas por fim, preferi ficar com a primeira opção.
— Claro, vamos acabar com as más impressões. — Meu subconsciente gritava ao dizer aquilo.
Minhas impressões anteriores sobre ela estavam certas e dificilmente mudariam, mas negócios são negócios.
Quando entramos no local escolhido, observei ser um bar com ambiente sofisticado e discreto, onde o som da música clássica transmitia uma sensação relaxante, mas a idéia de beber me causava um certo medo, pois não era algo que fazia com frequência.
Nos acomodamos em uma mesa com poltronas confortáveis e o garçom veio nos atender, sugerindo que provassemos um novo drink que estava em fase de teste. Não pensei muito sobre o caso, afinal o outro garçom já estava parado ao lado segurando a bandeja com dois copos, contendo uma bebida verde que chamou minha atenção.
Antonella pareceu surpresa quando aceitei o teste e peguei a bebida, dei um pequeno gole e senti o sabor refrescante que me fez sorrir aprovando.
— Espero não me arrepender por tomar algo que não seja vinho — disse ela pegando o outro copo e os garçons sairam.
— Na vida existem coisas bem piores que deveria se arrepender. — falei, ainda pensando na cena com a modelo e ela sorriu percebendo isso.
— Então senhorita Brandon, pelo que vi já conheço um pouco sobre você, afinal mesmo depois do que aconteceu hoje, ainda deseja que eu análise a idéia de trabalhar com sua agência. É uma mulher acima de tudo ambiciosa.
— Senhora — corrigi, afinal sou muito bem casada. — E não, não me considero uma ambiciosa. — Tomei um grande gole da bebida, tentando encontrar naquele copo a coragem suficiente para aquela conversa. — Deve ter percebido que busco ser justa. Quero o melhor para as pessoas que trabalham comigo. Mesmo diante do que vi de você, não muda o fato de ser uma ótima oportunidade para minhas modelos. — Eu tinha muito o que falar, mas ia acabar comentando o acontecido de mais cedo, então preferi me calar e tomar meu drink enquanto ela sorria de forma perturbadora, me fazendo desejar descobrir o que pensava.
— Devo confessar que é admirável. — Seus olhos não saíram de mim enquanto levava o copo a boca e tomava todo o conteúdo, logo em seguida chamou o garçom pedindo mais dois drinks.
As horas passaram muito rápido enquanto falávamos sobre possibilidades de trabalhos. Era admirável a forma com que ela falava sobre a revista e todos os planos para a edição de aniversário.
Fique tão submersa ao assunto que não me dei conta que havia ingerido mais álcool do que costumo beber um ano inteiro. E assim, a conversa tomou um rumo que nem em meus piores sonhos poderia imaginar.
— As mulheres americanas não tem a mesma paixão que as brasileiras.
— Está me dizendo que vai ao Brasil apenas pelas mulheres? — Ri. — Eu nem imaginava que você fosse lésbica. — Minha voz saia tão arrastada que ficava difícil terminar cada frase.
— Então você não acompanha sites de fofoca — disse ela gesticulando em direção ao rapaz, pedindo uma outra bebida, mas pedi licença para ir ao banheiro.
Após tanto tempo bebendo sentada, senti minhas pernas doloridas, por isso pensei seriamente que fosse aquele o único motivo para meu pé esquerdo tropeçar no direito e quase cair. Me apoiei na mesa e Antonella segurou em meu braço rapidamente. Agradeci, afirmando que conseguia me manter de pé.
Usei de todo o resto de consciência para tentar fingir estar sóbria enquanto caminhava em direção ao banheiro. Meu corpo pesava, meus sentidos estavam uma confusão, temi cair no meio do lugar e passar vergonha e o pensamento me fazia rir como uma idiota.
Quando me olhei no espelho do banheiro, disse a mim mesma que era hora de parar e ir para o hotel, mas quando voltei para a mesa, o copo que estava sobre ela tinha uma bebida de cor de rosa que me deixou excitada, desejando provar.
...(…)...
Meu telefone tocava em algum lugar do quarto. Resmunguei sem abrir os olhos e sorri ao perceber que o barulho insistente parou, mas algo bateu em minhas costelas, me assustando. Abri os olhos rapidamente puxando o edredom para baixo, tentando sentar na cama, mas assim que percebi estar totalmente sem roupas. também vi que alguém dormia ao meu lado, por isso imediatamente me cobri.
O desespero me fez petrificar, notando os longos cabelos claros que se espalhavam pelo travesseiro, denunciando que ao meu lado estava uma mulher.
Com a cabeça doendo horrores e a sensação de que ia vomitar a qualquer momento, cutuquei ela com o dedo e virou-se na cama afastando a coberta, revelando também estar completamente nua.
Deus, diz que eu não dormi com a editora.
...*...
...Vou postar os capítulos diariamente, quando finalizar Rainha do Gado....
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Atualizado até capítulo 36
Comments
Ivana Soares
Começando a ler e já amando
2024-06-01
0
Såd_ Grıł_Đemøn
Achei que ela fosse dar uns pegas na sócia
2023-02-18
3
Ju Sato
Queria dizer nada não, mas acho que dormir foi pouco em ( Altos drinques a noitada)
2022-12-15
8