Stella caminhava à minha frente, falando ao telefone com alguém que devia ter muita paciência, pois ela falava palavrões a todo momento. Ao parar repetidamente, quase esbarrei em seu corpo, por sorte consegui desviar apoiando a mão na parede, tentando manter o equilíbrio.
— Vá a merda! — gritou desligando o celular. — Aquele cretino me paga! — falou com um sorriso diabólico. — Desde quando nossas modelos são rejeitadas dessa maneira ?
— Então foi isso — falei entediada retirando as fotos de sua mão, já que estava atrás dela apenas para pegá-las e ir fazer meu trabalho.
— Fiquei sabendo que eles estão trabalhando com as ridículas daquela agência imunda, a Glamour. Pode uma coisa dessas? Uma agência que se chama Glamour não pode ser levada a sério. — Revirei os olhos saindo e logo ela quem me seguia. — As modelos da Storm estão em um nível bem mais elevado. Aqueles idiotas vão me pagar na próxima.
— Stella, não exagera.
Somos sócias há alguns anos, mas confesso ser difícil suportá-la.
— Você é muito sangue frio.
— Eu sei perder uma vez ou outra, não costumo me descabelar por pouca coisa. Fui modelo desde os seis anos de idade e suportei o inferno e o capeta, enquanto você passou três anos modelando e não viveu nem metade do que é a realidade da profissão lá fora. Então baixa essa tua bola e te acalma, temos muitas coisas para resolver. — Ela nada disse, ficando para trás e respirei aliviada.
Entrei na sala de reuniões dando início a escolha do cast para a festa da revista Look e isso levou horas.
Passava-se das sete da noite quando vi através da parede de vidro de minha sala quando minha sócia passou falando ao telefone, gesticulando enlouquecida. Provavelmente brigando com alguém. Me perguntei a quanto tempo não transava, pois tanto estresse me fazia questionar se não era falta de um bom orgasmo.
Nosso relacionamento sempre foi profissional, raramente sentamos para conversar sobre nossa vida pessoal. Tudo que sabia sobre ela era sobre ser casada.
Olhei no relógio novamente e decidi ir embora, já era tarde e o que mais queria era ir para casa descansar minha mente, mas quando cheguei ao estacionamento encontrei novamente o estresse em pessoa, que logo veio ao meu encontro com uma expressão que anunciava vir bomba.
— Alexia, eu vou para Londres, então você vai a festa da revista nesse fim de semana. — Encarei ela com os olhos semicerrados.
Maldita!
Stella já tinha confirmado presença e eu dei graças a Deus, pois compareci a quatro eventos em uma única semana, enquanto ela passava as noites no conforto de seu lar.
— Eu não posso, planejei um fim de semana com o David e você já tinha confirmado antes. Onde está Bea? Até onde sei era ela quem ia para a festa da Look. Combinamos com antecedência que ela começaria a frequentar esse tipo de evento a partir daí.
— A Beatrice quebrou a perna. Eu já reclamei com ela por ser irresponsável! — Eu nem podia acreditar que ouvia aquele absurdo. — Você tem apenas duas alternativas e creio que vai preferir ir para Londres. — Ela cruzou os braços e revirei os olhos.
— Na festa da Look você tem mais chances de encontrar a editora chefe da Muse Magazine, mas em Londres pode encontrar a estilista que precisamos, em pessoa.
Nós estamos focando na edição de aniversário da revista Muse, onde uma das estilistas mais famosas do país exibirá peças exclusivas. Era nossa chance de ter uma das nossas naquele trabalho.
— A editora? Ah, mas não tenho mesmo — afirmou dando um sorriso forçado. — Aquela mulher não costuma se misturar aqui em Nova York, e menos ainda tratar de negócios fora da revista.
— Se conhece tão bem ela, então porquê diabos não vai encontrá-la de uma vez e consegue a droga do ensaio?
— Porque eu preciso ligar para conseguir uma hora e ela está me enrolando. Parece de propósito, mas ouvi de fonte segura que na edição desse mês estão trabalhando com modelos da Glamour. Quais as chances de conseguirmos fazer com que uma das nossas use um modelo exclusivo do Dion, na edição de aniversário da Muse? Quase a baixo de 1%.
Por fora eu parecia calma, mas por dentro estava furiosa por ter que cancelar o fim de semana com meu marido. Há dias, se não meses, eu não sentava para ver um filme com ele sem ter Stella ligando a todo minuto por motivos banais.
David era Scouter(olheiro) quando eu ainda era modelo. Foi quem me ajudou a suportar muita coisa e nem lembro bem quando nos tornamos namorados. Lembro-me apenas que levei minhas coisas para o apartamento dele e desde então estamos casados. Tudo bem, nós oficializamos no cartório dois anos depois, mas isso nunca significou muito para mim, o importante sempre foi o sentimento e o respeito um pelo outro.
No começo minha família achou precipitado, afinal eu ainda tinha dezoito e uma possível carreira pela frente, mas depois de quase dez anos juntos estamos muito bem e em momento algum me arrependi.
— Tchau Stella, até a minha volta de Londres. — Ela deu um breve sorriso confirmando e foi para o carro.
...(…)...
Desembarquei no aeroporto e como previsto já havia um carro a minha espera. Provavelmente minha sócia enlouqueceu a pobre secretária para conseguir todas minhas mordomias encima da hora, já que eu fiz questão de exigir bem mais que ela havia planejado para si, naquela viagem. E era essa uma parte que me fazia amar meu trabalho, poder desfrutar de bons momentos sozinha, relaxando nos quartos de hotéis em diferentes cidades e países, isso me ajudava a recarregar as energias para voltar a encarar a rotina.
Depois de um bom descanso, recebi a equipe de maquiagem e comecei a me arrumar para o desfile.
Usei um belíssimo modelo com pedrarias, cujo o brilho causava um efeito que só perdia para a quantidade de flashes das câmeras na entrada do evento.
Encontrei vários rostos conhecidos logo de cara, os falsos amigos, digamos assim.
O mundo da moda é repleto de pessoas traiçoeiras, que não perdem a oportunidade de tentar passar por cima uns dos outros, para logo em seguida sorrir e tirar uma foto posando de amigo.
Entre um desfile e outro ,fui até o banheiro retocar a maquiagem e no meio do caminho me deparei com um pequeno tumulto onde várias modelos estavam impedindo a passagem. Enquanto tentava passar não pude deixar de ouvir uma voz feminina alterada.
— Tem noção de quanto isso custa para você cometer uma merda dessas? — dizia ela. Tentei não me importar com aquilo, mas a forma que falava com a garota, que notei manter a cabeça baixa, me fez parar e observar. — Você estudou pelo menos? Tem neurônios aí dentro ainda ou eles saíram junto aos vômitos diários?
— O que pensa que está fazendo? — Diminui a distância enquanto as modelos abriam caminho.
— Quem é você? — perguntou ela com um tom completamente diferente.
— Quanto custa? — indaguei, observando o vestido que estava manchado. — A julgar pela aparência, acredito que tenha dinheiro suficiente para pagar esse vestido e outros vários. Então porquê humilhar alguém, assim?
— Escuta...
— É constrangedor e inaceitável para mim, que estou presenciando, imagine para ela. Tenha um pouco de empatia, por favor. — Sai de lá, antes de ouvir qualquer coisa que viesse dela, estava enojada e preferia não prolongar aquela cena que atraia cada vez mais pessoas.
No fim da noite, enquanto esperava o motorista, estava impaciente notando que a maioria das pessoas já iam embora e eu não via sinal do carro que me levaria de volta ao Hotel.
De repente uma limousine parou à minha frente, olhei rapidamente e logo voltei a procurar o carro com o motorista incompetente, quando a porta do veículo foi aberta e para minha surpresa de lá saiu o aquela arrogante de antes.
— Aceita uma carona? — perguntou se aproximando e encarei seu rosto incrédula, me perguntando se era mesmo necessário responder.
— Não, obrigada. — Desviei o olhar tentando ignora-la.
— Todos estão saindo, não é aconselhável ficar sozinha em um lugar desconhecido.
— Agradeço a preocupação.
— Vamos, prometo que não mordo. — Ela estendeu a mão e a encarei por um momento. — O que preciso fazer para me redimir?
— Por qual motivo está tentando? Não vejo necessidade. Dveria estar se desculpando com a garota que humilhou mais cedo.
— Já resolvemos o assunto, aquilo foi apenas um momento de raiva.
— Não precisa me dar satisfação, só espero que trate melhor as pessoas daqui pra frente. Agora, se me der licença. — Tentei focar na pista e ainda sem sinal do carro.
— Senhorita... — Insistiu e suspirei me perguntando qual era a dela. — Qual é mesmo seu nome?
— Brandon — murmurei meu sobrenome, sem muita vontade, apertando a bolsa carteira, cada vez mais impaciente.
— Prazer, Antonella Venturi. — Olhei novamente para a mulher que me cumprimentava.
Não pode ser! É ela, a editora chefe da Muse Magazine New York, quem estavamos tentando entrar em contato há meses.
— Senhora Venturi. — Sorri de orelha a orelha, esbanjando uma satisfação que acredito chegou a surpreendê-la. — Que coincidência, pois desde o início da semana de dois meses atrás venho tentando entrar em contato com a Muse. — Acabo sendo direta.
— Então minhas suspeitas estavam corretas. Alexia. Brandon, da Storm?— Movi a cabeça confirmando sem deixar de manter o sorriso no rosto.
— Agora, sabendo que de certa forma nos conhecemos, irei aceitar sua carona — falei na maior cara de pau, afinal ela sequer sabia quem eu era e insistia em me dar carona, então eu, ciente, ia desfrutar da sorte que o destino me agraciou.
A mulher sorriu sem mostrar os dentes, abrindo a porta da limusine onde entrei e ela fez o mesmo. Tudo que eu queria era começar a falar sobre negócios, mas o clima ficou extremamente tenso assim que ficamos naquele ambiente fechado.
— O que me diz de irmos a um outro lugar para discutirmos sobre suas constantes ligações? — sugeriu.
Fiquei em dúvida se devia agradecer a Deus ou me envergonhar, mas por fim, preferi ficar com a primeira opção.
— Claro, vamos acabar com as más impressões. — Meu subconsciente gritava ao dizer aquilo.
Minhas impressões anteriores sobre ela estavam certas e dificilmente mudariam, mas negócios são negócios.
Quando entramos no local escolhido, observei ser um bar com ambiente sofisticado e discreto, onde o som da música clássica transmitia uma sensação relaxante, mas a idéia de beber me causava um certo medo, pois não era algo que fazia com frequência.
Nos acomodamos em uma mesa com poltronas confortáveis e o garçom veio nos atender, sugerindo que provassemos um novo drink que estava em fase de teste. Não pensei muito sobre o caso, afinal o outro garçom já estava parado ao lado segurando a bandeja com dois copos, contendo uma bebida verde que chamou minha atenção.
Antonella pareceu surpresa quando aceitei o teste e peguei a bebida, dei um pequeno gole e senti o sabor refrescante que me fez sorrir aprovando.
— Espero não me arrepender por tomar algo que não seja vinho — disse ela pegando o outro copo e os garçons sairam.
— Na vida existem coisas bem piores que deveria se arrepender. — falei, ainda pensando na cena com a modelo e ela sorriu percebendo isso.
— Então senhorita Brandon, pelo que vi já conheço um pouco sobre você, afinal mesmo depois do que aconteceu hoje, ainda deseja que eu análise a idéia de trabalhar com sua agência. É uma mulher acima de tudo ambiciosa.
— Senhora — corrigi, afinal sou muito bem casada. — E não, não me considero uma ambiciosa. — Tomei um grande gole da bebida, tentando encontrar naquele copo a coragem suficiente para aquela conversa. — Deve ter percebido que busco ser justa. Quero o melhor para as pessoas que trabalham comigo. Mesmo diante do que vi de você, não muda o fato de ser uma ótima oportunidade para minhas modelos. — Eu tinha muito o que falar, mas ia acabar comentando o acontecido de mais cedo, então preferi me calar e tomar meu drink enquanto ela sorria de forma perturbadora, me fazendo desejar descobrir o que pensava.
— Devo confessar que é admirável. — Seus olhos não saíram de mim enquanto levava o copo a boca e tomava todo o conteúdo, logo em seguida chamou o garçom pedindo mais dois drinks.
As horas passaram muito rápido enquanto falávamos sobre possibilidades de trabalhos. Era admirável a forma com que ela falava sobre a revista e todos os planos para a edição de aniversário.
Fique tão submersa ao assunto que não me dei conta que havia ingerido mais álcool do que costumo beber um ano inteiro. E assim, a conversa tomou um rumo que nem em meus piores sonhos poderia imaginar.
— As mulheres americanas não tem a mesma paixão que as brasileiras.
— Está me dizendo que vai ao Brasil apenas pelas mulheres? — Ri. — Eu nem imaginava que você fosse lésbica. — Minha voz saia tão arrastada que ficava difícil terminar cada frase.
— Então você não acompanha sites de fofoca — disse ela gesticulando em direção ao rapaz, pedindo uma outra bebida, mas pedi licença para ir ao banheiro.
Após tanto tempo bebendo sentada, senti minhas pernas doloridas, por isso pensei seriamente que fosse aquele o único motivo para meu pé esquerdo tropeçar no direito e quase cair. Me apoiei na mesa e Antonella segurou em meu braço rapidamente. Agradeci, afirmando que conseguia me manter de pé.
Usei de todo o resto de consciência para tentar fingir estar sóbria enquanto caminhava em direção ao banheiro. Meu corpo pesava, meus sentidos estavam uma confusão, temi cair no meio do lugar e passar vergonha e o pensamento me fazia rir como uma idiota.
Quando me olhei no espelho do banheiro, disse a mim mesma que era hora de parar e ir para o hotel, mas quando voltei para a mesa, o copo que estava sobre ela tinha uma bebida de cor de rosa que me deixou excitada, desejando provar.
...(…)...
Meu telefone tocava em algum lugar do quarto. Resmunguei sem abrir os olhos e sorri ao perceber que o barulho insistente parou, mas algo bateu em minhas costelas, me assustando. Abri os olhos rapidamente puxando o edredom para baixo, tentando sentar na cama, mas assim que percebi estar totalmente sem roupas. também vi que alguém dormia ao meu lado, por isso imediatamente me cobri.
O desespero me fez petrificar, notando os longos cabelos claros que se espalhavam pelo travesseiro, denunciando que ao meu lado estava uma mulher.
Com a cabeça doendo horrores e a sensação de que ia vomitar a qualquer momento, cutuquei ela com o dedo e virou-se na cama afastando a coberta, revelando também estar completamente nua.
Deus, diz que eu não dormi com a editora.
...*...
...Vou postar os capítulos diariamente, quando finalizar Rainha do Gado....
Pulei da cama levando comigo o edredom. Minha roupa não parecia estar em lugar algum, mas quando decidi me trancar no banheiro para tentar organizar as idéias. encontrei, vestido junto a lingerie jogados no chão. Uma lágrima quase escorreu ao perceber que estavam molhados, mas eu não tinha tempo para chorar, meu vôo sairia ao meio dia e não fazia idéia de onde estava naquele momento.
— O que foi que eu fiz? — me perguntei, curvada pegando a calcinha, não conseguindo conter a raiva, o sofrimento e frustração diante daquela situação.
Naquela altura eu só conseguia pedir a Deus que fosse uma estranha naquela cama.
Saí do banheiro, usando a roupa molhada mesmo, porque não me restavam muitas alternativas. Peguei também minha bolsa, que avistei jogada no canto do quarto. Queria sair o mais rápido possível, mas antes verifiquei e confirmei que sim, era a arrogante Antonella Venturi naquela cama.
...(...)...
No aeroporto fui recebida por David, para minha surpresa. Amoroso como sempre, me ajudou com a pequena mala e durante o caminho para casa se manteve.em silêncio, pois afirmei estar morrendo com uma infeliz dor de cabeça, quando na verdade quem doía mesmo era minha consciência.
Jamais imaginei que cometeria tal loucura.
Tentar lembrar o que aconteceu era desesperador, pois existia um imenso vazio entre ver a bebida rosa encima da mesa e acordar ao lado daquela mulher. Por um momento me perguntei se ela teria colocado alguma coisa em meu drink, mas a idéia sumiu logo em seguida.
Assim que chegamos em nosso apartamento fui direto tomar um demorado banho, na tentativa de relaxar. Quando saí encontrei meu marido esperando deitado, sem blusa, com as mãos atrás da cabeça me olhando de cima a baixo.
— Relaxou? — perguntou sorrindo e me observando andar pelo quarto em direção ao closet.
— Sim. Não foi trabalhar hoje? — Eu queria manter distância para evitar que ele notasse a nuvem negra da traição que pairava sobre minha cabeça.
— Amor, hoje é domingo. — Forcei um sorriso e entrei no closet. Peguei um vestido de tecido leve e o coloquei. Quando saí, David me esperava de pé e veio me abraçar. — Alexia, aconteceu alguma coisa que te chateou durante a viagem?
— Não, apenas estou cansada. Vou comer algo e dormir um pouco. — Depositei um beijo singelo em seus lábios e saí do quarto.
Era difícil disfarçar quando ele me conhecia tão bem.
Tomei comprimidos e dormi até a manhã de segunda. David odiava quando eu fazia isso, recorrer a remédios sempre que estava com a cabeça cheia, mas daquela vez eu tentava fugir dele.
Naquela manhã acordei sozinha, como de costume, e após um banho rápido desci para a cademia do condomínio, mas nem o esforço físico me fazia esquecer a bobagem que fiz, ou melhor, não evitava minha tentativa de lembrar que tipo de bobagem fiz.
Cheguei na agência às dez da manhã e de longe ouvi os gritos de Stella. Eu tentei desviar indo direto para minha sala, mas ela me viu e seguiu falando bobagens como sempre.
— Olha isso. — Jogou uma revista sobre minha mesa.
— Não vejo problema algum aqui — falei pegando a revista, analisando a capa onde havia uma modelo com roupa de banho.
— Como não? Eu falei pra dispensar essa gorda no mês passado, no entanto você manteve e fica arranja trabalho para ela! Olha esse corpo Alexia, nem photoshop deu jeito! Isso é uma vergonha para nossa agência. — Joguei a revista e sentei em minha cadeira.
— Stella, honestamente não estou com cabeça para isso...
— A Glamour deve estar rindo da nossa cara agora — falou ela com as mãos na cintura, ignorando o que eu disse.
— A Glamour nem lembra que nós existimos e você fica aí com essa obsessão. — Ela revirou os olhos. — Stella, presta atenção... — digo tentando manter a calma. — No dia que jogarem um processo nas suas costas espero que venda sua parte na agência, pois não quero que isso aqui vá para o fundo do poço junto com você!
— Nossa, o que deu em você hoje? — Ela saiu batendo a porta com força e quase pude ver o fogo saindo por suas narinas.
Eu estava me sentindo exausta apenas por ter aturado a loira por alguns minutos, imagine o dia todo.
Quando nos conhecemos ela era uma garota alegre e simpática, foi por isso que nos juntamos mais tarde para fazer sociedade na agência, mas quanto mais o tempo passava menos eu via aquela Stella de antes.
Na hora do almoço liguei para Beatrice, na intenção de saber como ela estava e me informou que tinha sido apenas uma leve torção no tornozelo. Em menos de uma semana voltaria. Fiquei aliviada, pois ela era uma boa profissional.
Já no fim do dia, saía um pouco mais cedo, quando fui barrada por minha sócia.
— Você esta intimada a comparecer em minha casa hoje a noite.
Fiquei encarando-a, incrédula, afinal quando foi a última vez que fui a casa dela? A resposta era nunca.
— Algo especial? — perguntei desconfiada.
— Vou receber algumas visitas e como não tenho familiares em Nova York gostaria que você e o David fossem.
Pensei sobre aquilo por um minuto.
Claro que eu gostaria muito de recusar, porém ela era minha sócia e seria uma oportunidade de reaproximação. Não dava para conviver com alguém que não suportava, por isso confirmei presença.
...(...)...
— Temos mesmo que ir? — perguntou meu marido pela décima vez enquanto eu me arrumava.
Estava sentando na cama me olhando e bufando, não gostando nenhum pouco da idéia.
— Para de resmungar!
— Amor, qual o problema? — Ele levantou vindo em minha direção, mas imediatamente entrei no closet para pegar sapatos.
— Estresse. É só isso! — Após calçar os sapatos voltei e o encontrei me encarando de braços cruzados.
— Fale a verdade, eu te conheço muito bem. — Respirei fundo a procura de uma desculpa.
A verdade era que passei o dia focada no trabalho, tentando esquecer meu erro, mas naquele momento parecia que minha cabeça tinha apenas Antonella Venturi, nua naquela cama. E o pior, sabia que deveria entrar em contato com a revista Muse o mais rápido possível.
— Stella me cansa, você sabe, mas precisamos nos aproximar, não aguento conviver com alguém que não compreendo. Por mais que ache difícil entendê-la, acredito que posso domar a fera pelo menos, então vamos a esse jantar e não se fala mais nisso! — Segurei em sua mão e o puxei para a porta.
Assim que chegamos fomos recebidos por uma empregada e pelo que pude ver, fomos os primeiros. Sentamos a espera da loira e mesmo que ela não tenha mencionado, imaginei que finalmente ia conhecer o marido.
Os sons dos saltos descendo a escada não demoraram a ecoar pela casa. Quando virei naquela direção, fui pega completamente de surpresa.
Avistei Antonella. Seu charme e traços ainda estavam vívidos em minha memória, mas era como se a iluminação naquele momento estivesse realçando cada detalhe que perdi antes.
Não consegui ver nada mais ao meu redor, somente aquela mulher que caminhava com os olhos fixos em mim, não demonstrando nenhuma surpresa.
Em minha cabeça girava um milhão de perguntas e logo se formou um nó na garganta.
Voltei ao planeta terra apenas quando senti a mão de David me puxando um pouco para levantar.
— Que bom vocês vieram — falou Stella, abraçando David.
Os dois se conheciam muito bem, afinal ele tinha trabalhado algum tempo conosco na agência.
— Alexia, David, essa é Antonella... — Ela pareceu hesitar antes de concluir. — Minha esposa.
— Como assim esposa? — Não estava em meus planos verbalizar aquele pensamento, mas aconteceu e todos me olharam. — Bem... Eu não imaginava que você fosse casada com a editora chefe da Muse.
Ao menos eu tinha aquela desculpa e foi suficiente para que minha sócia desse um sorriso sem graça, tentando mudar de assunto.
Antonella apertou a mão de David e quando chegou na minha vez senti a firmeza tanto na palma quando no olhar que ela lançou.
— Sentem-se. — A voz de Stella me tirou daquele transe.
Elas sentaram no sofá ao lado e a loira puxou assunto com meu marido. Eu não conseguia pensar em algo que não fosse tudo que aconteceu em Londres. Meus pensamentos estavam me traindo e o olhar que Antonella lançava em minha direção era desconcertante. Vez ou outra eu olhava para David temendo que ele notasse, mas parecia muito concentrado em sua conversa sobre agências.
Pedi licença para ir ao banheiro, precisava me acalmar. Stella ia chamar a empregada para mostrar o caminho, mas a esposa ficou de pé, dizendo que ela mesma me acompanharia. Meu sangue gelou na mesma hora e tive vontade de me agarrar ao David e ficar lá mesmo, pois algo no olhar dela dizia que não tinha boas intenções, mas ao invés disso, levantei e segui pela casa, a seu lado.
— Que bela surpresa, não é mesmo? — falou baixo, mas permaneci em silêncio.
Quando chegamos no fim do corredor ela abriu uma das várias portas e me deu passagem, olhei para o interior e era um escritório. Hesitei dando um passo atrás, mas Antonella colocou uma mão em minhas costas e empurrou meu corpo, praticamente me obrigando a entrar, fechando a porta em seguida.
— Eu ia te encontrar de qualquer maneira, mas pelo que vejo Stella preferiu economizar meu tempo.
— O quê? — Tentei manter o tom de voz baixo. — Uma bela surpresa? Você sabia o tempo todo que sou sócia da sua mulher e não me disse nada!
— Qual a importância disso? Eu não planejei nada, mas aconteceu.
— Aconteceu? — Massageei as têmporas tentando me acalmar. — Tem certeza de que dormimos juntas? — Ela riu parecendo se divertir. — Felizmente não lembro de absolutamente nada!
Na verdade queria muito lembrar.
— Você achou que o fato de estarmos completamente nuas era devido ao calor? — Coloquei as mãos no rosto não querendo imaginar, mas não conseguia deixar de fantasiar o que fizemos e pior, ela sabia exatamente o que tinha feito, enquanto eu não. — Saiba que mesmo lembrando, não significa que pude desfrutar devidamente de nossa noite, afinal fomos movidas por uma enorme quantidade de álcool.
— O que quer dizer com isso? Não foi sua melhor performance na cama? — Ri sem humor. — Meu marido e sua mulher estão na sala e você me trás aqui para rir da minha cara? — Tentei sair, mas ela rapidamente colocou a mão na maçaneta.
— Na verdade, você fugiu sem que pudéssemos esclarecer as coisas.
— Tudo bem, vamos esquecer.
— Se prefere assim. Então, quando nos veremos novamente?
— Ligarei amanhã para a revista, ou melhor, Stella pode muito bem fazer isso.
— Minha intenção não é conversar sobre trabalho — esclareceu.
— E sobre o quê então? — Tentei retirar sua mão da maçaneta, mas ela segurou firme.
— Quero sair para jantar com você. Tivemos uma conversa agradável antes e gostaria de repetir, mas dessa vez estando sóbrias.
— E acabamos da pior forma. Recuso seu convite.
— Por que está tão amedrontada? Apenas finja que nada aconteceu. Ou por acaso tem medo de repetir o erro? — Cruzei os braços encarando ela, mas me arrependi e desviei o olhar diante de seu sorriso presunçoso. — Senhora Brandon, se não tivesse se mostrado tão interessante em nosso primeiro encontro, eu certamente não estaria agora disposta a conhecê-la melhor.
— Agora a culpa é minha? Você é prepotente e arrogante! Acha mesmo que desejo me aproximar de alguém assim? Além do mais é casada e também sou muito bem casada. Não existe motivo algum para uma aproximação que vá além da profissional.
— Você não considera a hipótese de que eu venha a recusar trabalhar com sua agência?
Acabo rindo ao ouvir suas palavras que soavam como uma ameaça.
— É claro que considero, mas ainda assim quero acreditar que você prefere separar os assuntos pessoais do trabalho. Afinal, porquey sua mulher tinha que ligar todos os dias para a Muse? Por que nesse caso vocês separaram os assuntos tão bem e agora comigo está usando disso como ameaça?
— Você deve conhecê-la o suficiente para saber que Stella não é alguém que mereça tudo de bandeja. Mas não estou te ameaçando, minha intenção era apenas irritá-la um pouco mais. Saiba que tudo o que conversamos anteriormente continua de pé, pode entrar em contato com a revista amanhã. — Ela retirou a mão da maçaneta e me deu passagem. — Tenho certeza que nos encontraremos muitas outras vezes.
Saí o mais rápido possível.
Quando voltamos a sala eu me sentia com a palavra culpada colada em minha testa. E para a minha desgraça total, havia também uma mulher ao qual fui apresentada. Era a mãe de Antonella e pelo que notei, minha sócia quis passar uma imagem diferente para a mulher, me tratando como se fôssemos amigas intimas, ou quase irmãs.
A mulher inicialmente me pareceu simpática, mas com o decorrer da conversa não deixei de notar que foi um tanto hostil quando se tratava de Stella.
O ponto alto do jantar, que causou uma aura negra sobre o casal, foi quando a senhora Venturt deixou claro ser totalmente a favor da volta da filha para a Itália, seu país de origem.
Stella parecia pequena diante de cada palavra da sogra, que ignorava completamente o fato de Antonella estar em um relacionamento.
— Antonella, não acha que Alexia faria um ótimo trabalho na Muse Magazine New York? Se você decidir voltar para a Itália, tenho certeza que ela daria conta dos negócios aqui — sugeriu a mulher surpreendendo a todos. — Não sou uma stalker, mas gosto de me manter informada sobre talentos e a última matéria que vi sobre você, me surpreendeu muito.
Eu estava sem jeito.
Antonella, no entanto, parecia firme quanto a manter-se em Nova York e incomodada com tudo o que a mãe dizia.
David concordou que me sairia bem na Muse, mas esclareceu que sou melhor em meu próprio negócio.
Enquanto isso Stella parecia estar fechada em seu próprio mundo.
Eu não consegui entender aquele relacionamento entre minha sócia e a Venturi, mas não pretendia quebrar minha cabeça tentando. O melhor seria me manter de fora daquilo, por isso inventei uma desculpa para ir embora pouco tempo depois do jantar.
David deitou-se ao meu lado, me puxando para seu peito onde me aconcheguei me sentindo cansada e sonolenta.
— Como pode ser tão bom dormir com a mesma mulher por sete anos? — falou ele ainda ofegante, após fazemos amor. Me encolhi, preferindo não pensar no assunto. — Eu te amo.
— Por que está dizendo isso? O que deu em você? — Ele sempre foi carinhoso, mas não era sempre que dizia aquelas palavras.
— Quando estávamos na casa de Stella, vi o quão frio é o relacionamento dela. Fiquei pensando sobre isso e não quero que aconteça conosco — explicou.
Me sentia suja. Como pude deixar outra pessoa me tocar tendo um marido maravilhoso?
— Eu também não quero — sussurrei.
...(...) ...
Enquanto saía de casa para o trabalho, Angeline, minha empregada, veio ao meu encontro comunicando sobre alguém ter ligado logo cedo informando que meu almoço estava marcado no restaurante Romanini, ao meio dia e meia.
— Apenas isso? Não falou sobrenome? Se era da parte de alguém?
— Disse apenas que chamava-se Lauren e que a senhora saberia do quê se trata.
Olhei o relógio em meu pulso e vi que era quase dez da manhã. Seria David? Não lembrava se a secretária dele chamava-se Lauren.
Quando cheguei na agência não vi Stella em parte alguma, mas Bea já me esperava em minha sala.
— Que bom ver que você já está bem — falei abraçando-a.
— Pois é, voltei para enfrentar a fera — brincou sentando enquanto eu fazia o mesmo.
— A propósito, onde ela está? — perguntei estranhando, pois a loira era sempre uma das primeiras a chegar.
— Não faço idéia, até agora não apareceu.
A manhã seguiu agitada, entre seleções para cast de comerciais e eventos. Focada no trabalho não tive tempo para pensar em mais nada até a hora do almoço, quando terminava uma breve reunião com Stella e Beatrice, que logo saiu nos deixando a sós
— Alexia, vou almoçar aqui perto, você vem? — perguntou minha sócia.
Estava claro que ela vinha tentando uma aproximação, mas justo quando eu tinha menos condições para me manter próximo.
— Não, eu tenho um compromisso no Romanini — afirmei, mesmo ainda um pouco indecisa, não tendo certeza se deveria ir.
— Romanini? Antonella adora esse restaurante.
Imediatamente fiquei em alerta.
— Ah, é? — Virei para sair, mas parei novamente. — Você por acaso conhece alguma Lauren? — Ela olhou para o nada enquanto pensava um pouco.
— Que me lembre agora, apenas aquela maldita secretária da Muse.
Era ela. Antonella Venturi quem marcou o almoço.
— Por falar nisso, desculpa por não ter contado antes sobre sermos casadas. Eu sabia que de algum jeito ia acabar me cobrando mais desse trabalho, enquanto eu não poderia fazer nada além de ligar todos os dias. Antonella é uma mulher difícil de lidar quando se trata de trabalho, não tinha muito o que eu pudesse fazer.
Mais difícil que ela? Eu estava feita então.
— Entendo, separar o trabalho da vida pessoal é o melhor a fazer — falei um tanto pensativa e logo saí da sala.
Estava decidida a não sair para almoçar, mas Beatrice insistiu muito e acabamos indo a um restaurante bem próximo a agência.
Quando voltei fui direto para minha sala, não encontrando ninguém pelos corredores. A maioria das pessoas ainda estavam em seus horários de almoço e Bea acabou indo aproveitar alguns minutos com o namorado que ligou quando estávamos voltando.
Entrei na sala e me joguei na cadeira. Os saltos me matavam, mesmo tendo feito uma curta caminhada.
— Isso que dá usar presente de sogra — resmunguei lembrando que eles foram um dos tantos que a mãe de David me enviava no natal.
— Será que você é tão rabujenta quanto Stella? — Assustei-me olhando na direção do banheiro de minha sala, de onde Antonella saía ajeitando as mangas da blusa social que vestia.
— Deus! — Trouxe a mão ao peito, sentindo o coração acelerado. — O que faz aqui? — Levantei enquanto ela caminhava até as persianas da parede de vidro e as fechou.
— Foi muito indelicado me deixar à sua espera — falou voltando-se para mim. — Marquei um almoço e você não compareceu, então vim até aqui tirar satisfações. — Ela deu alguns passos em minha direção e eu dei um para trás, logo me chocando contra a mesa. — Temos negócios a tratar. Pelo que sei, não ligou para a revista ainda e a sessão de fotos será próxima semana.
— E-eu estava pensando em uma forma de dizer sobre isso para sua mulher. Ela vai estranhar... — Antonella se aproximava feito uma cobra prestes a dar o bote. — Não se aproxime! — alertei, temendo o que ela pretendia fazer.
— Por que? Está com medo? — Sorriu, parando somente quando estava bem próximo. — Não deseja lembrar o que aconteceu em Londres?
— Não — afirmei, com minha falsa segurança.
— Tem certeza? — Com sua proximidade fui obrigada a me inclinar um pouco sobre a mesa, apoiando as mãos na mesma. Engoli em seco enquanto confirmava com a cabeça. — Não é o que seus olhos dizem.
— Meus olhos não dizem nada!
— Nem o seu corpo. — Ela passou os olhos por meu corpo. — Tenho certeza de que entre suas pernas está começando a incomodar. — Sua voz baixa, unida a aquele olhar perigoso, estavam me deixando totalmente desnorteada. — Imagina meus dedos tocando sua...
— Por Deus Antonella, eu jamais faria isso estando sóbria. — Ela aproximou o rosto do meu, indo de encontro a meu ouvi e fechei os olhos apenas por sentir sua respiração alí.
— Imagina minha língua deslizando entre duas pernas.
— Por favor... — Minha voz saiu em forma de gemido.
Eu estava arfando, meu peito subia e descia tão rápido. A adrenalina passeava por cada parte de mim e a maldita excitação anunciava que as palavras pronunciadas por ela me causavam um efeito que nem mesmo David era capaz de despertar com tão pouco.
— Você pode negar, mas seu corpo deseja isso — afirmou.
Seu hálito quente se chocava contra minha pele quando ela segurou as laterais de minha saia e puxou para cima, o suficiente para expor minhas coxas. Arregalei os olhos, meu coração batia acelerado, mas eu não conseguia reagir, me mover e empurrá-la, porque por mais que eu negasse em palavras, algo em mim estava gostando. Sim, meu corpo estava ansiando por aquele maldito toque.
— Não faça isso — alertei quando senti a ponta dos dedos dela deslizando por minha coxa. — Por favor...
Antonella roçou a ponta dos dedos bem próximo a minha virilha e aquele contato naquela região foi o suficiente para saber que eu permitiria que ela fosse além.
Lambi os lábios, cedenta, apenas com o pensamento de sentir seus dedos se infiltrando em minha peça íntima, mas uma batida na porta me assustou o suficiente para que eu a empurrasse rapidamente, descendo minha saia antes que Stella abrisse a porta.
— Antonella?— disse ela, surpresa.
Precisei me apoiar na mesa novamente, para não cair, sentindo que a sala diminuiu naquele momento.
— Estávamos agora mesmo falando sobre você — disse a cínica que sorriu alternando olhares entre nós duas. — Vim te buscar para almoçarmos e aproveitei para falar com a Brandon sobre o ensaio que faremos na próxima semana.
— Almoçar? — Stella estava visivelmente surpresa, a ponto de não dar a minima importância ao fato de que a outra confirmou o trabalho. — Pensei que teria um compromisso.
— Infelizmente o cliente me deixou plantada no restaurante, mas creio que da próxima vez tudo ocorrerá como planejado — afirmou desviando o olhar para mim que até sentei, temendo cair. Tinha certeza de que nunca me senti tão vulnerável quanto diante daquela mulher. Era como se ela me tivesse nas mãos. — Depois conversamos sobre a escolha da modelo — concluiu, aproximando-se de Stella. — Vamos?
O ambiente ficou mais leve quando as duas saíram. Suspirei aliviada, mas ainda assim envolvida com aquele clima que a Venturi deixou no ar.
Olhei para meus pés descalços e fechei os olhos apoiando a cabeça nas mãos, me perguntando como me meti com aquela mulher. Antonella sabia persuadir Srella e estava claro que ela ficava cega por qualquer coisa que a outra viesse a dizer.
...(...)...
Dion era uma estilista bastante exigente quando se tratava das modelos que usariam suas peças. Principalmente aquelas para a revista.
Fazia quase duas horas desde que ela começou a julgar cada uma das seis modelos selecionadas, apontando os prós e os contras de tê-las usando uma peça sua, de acordo com o rosto e corpo. Eu já sentia minha bunda dolorida e com as pernas cruzadas, mudava de lado a todo instante.
Mesmo que já estivesse preparada para aquilo, não imaginava ficar tão cansada mentalmente, apenas observando. Parecia que ela estava fazendo de propósito, afinal foi um tanto rude desde que nos encontramos e sua expressão ao olhar para mim não era das melhores.
— Finalmente ela chegou! — disse e segui o olhar da estilista.
Na entrada da sala surgiu Antonella. Ela era sexy e tinha plena consciência disso, tanto que em cada passo que dava carregava uma segurança absurda.
— Se não fosse por ela nenhuma das suas modelos usaria algo feito por mim — afirmou, Dion em voz baixa, aproximando o rosto de mim, sem tirar os olhos da mulher a nossa frente.
Incrédula, arqueei as sobrancelhas encarando ela que sorriu indo de encontro a outra.
— Venturi, que prazer reencontrá-la.
— O prazer é todo meu.
Soltei uma lufada de ar, antes de sorrir de forma mecânica.
— Com sorte teremos um agradável almoço hoje — comentou Dion.
— Certamente, iremos a um ótimo restaurante aqui perto. — Afirmou Antonella, olhando diretamente para mim. Fiz uma leve careta passando a mão na têmpora, logo ganhando um olhar de desprezo da estilista. — Terminaram?
— Ainda nã...
— Claro, aquela ali do meio para mim está ótima. — Minha boca ficou entreaberta ao ser cortada por aquela desgraçada insuportável. — Podemos ir almoçar agora.
Joguei o material com as fotos das modelos sobre a cadeira que estava sentada antes e encarei Antonella.
— Espero que tenham um almoço agradável, preciso trabalhar. — Saí da sala sinalizando para que as modelos se retirassem enquanto a garota que foi escolhida, de forma aleatória, tinha um sorriso no rosto e corria para me acompanhar.
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