20 • Intenso

Eu queria não ter ouvido ou entendido aquela frase.

Todos ao meu redor sabiam exatamente o que estava acontecendo e eu estava no meio daquilo como uma perfeita idiota.

— Como pôde não me deixar ciente disso antes? — Me afastei indo em direção a sala. — Só agora que insisti você me diz isso assim? Me sinto uma imbecil!

— Não fala assim. — Ela me seguiu. — Se não falei antes é porque não queria que isso interferisse em sua decisão sobre o divórcio.

— Como assim? O que tem a ver uma coisa com a outra?

— É algo muito mais complicado do que possa imaginar.

— Então explica. Me fala de uma vez!

— Não falei nada antes porque não queria contar pela metade.

— Por que contaria?

— Para não te preocupar. Sei lidar com Stella e como você mesma disse, confesso que sei manipular ela ao meu jeito. Não era necessário contar que ela acha que estou apenas me divertindo, assim como sempre fiz com todas. por isso não se importa.

— Que loucura é essa?

— Mas quando ela descobrir sobre seu divórcio talvez não tenha tanta certeza sobre isso ser apenas diversão. Eu venho tentando contornar a situação, antes que saiba sobre sua separação.

— Como pôde esconder de mim?  Estou no meio disso, o mínimo seria estar ciente do tipo de relação estranha que vocês tem!

Observei ela caminhar pela sala como se ainda estivesse decidindo se devia ou não falar mais alguma coisa.

—  O que há entre vocês duas? — perguntei novamente, tentando parecer um pouco mais calma. — Sejamos sinceras, essa relação passa longe de ser considerada normal.

— Stella e eu compartilhamos um segredo — falou finalmente. — Vivemos sob nossas próprias regras e eu posso fazer o que bem entender, desde que nada ameace nossa relação. Isso nunca me foi um problema, afinal jamais me interessei por ninguém a esse ponto... Mas agora já não posso afirmar. Mesmo assim Alexia, quero resolver as coisas ao meu jeito, a última coisa que desejo é te envolver nisso mais do que já está envolvida.

— Que tipo de segredo?

Ela nada disse e eu temi o que seria.

— O que Stella pode fazer contra você? — decidi mudar a pergunta, mesmo assim ela evitou responder. — Então, na cabeça dela nós podemos transar, mas sem se apaixonar? Não existe uma forma disso dar certo porque já estou envolvida!

— Você acha que eu não? Estou arriscando tudo, aqui e agora, como jamais fiz antes. — Sua confissão me desarmou. — Desde que ameaçou sair definitivamente de minha vida, não consigo pensar em nada além do desejo de me livrar de Stella e poder viver livremente.

— Antonella... — Me aproximei dela, levando as mãos a seu rosto. — Não gosto da maneira que fala sobre se livrar das pessoas. Por favor, não faz nenhuma besteira.

Novamente aquele par de olhos indecifráveis me encaravam de maneira perturbadora. Era intenso e claramente perigoso.

— Foi você, não foi? A Beatrice... — arrisquei perguntar novamente.

— Não fui eu — afirmou. E daquela vez eu realmente senti segurança. — Mas teria sido, caso não tivessem chegando antes.

Meu coração falhou uma batida.

— Você não pode sair por aí fazendo besteira, se livrando das pessoas como se... A vida delas não importasse!

— Beatrice te ameaçou, eu não podia permitir que ela continuasse tentando atrapalhar sua vida. Não é que eu não me importasse com a vida dela, mas a sua vale bem para mim. E alguém que passou anos concentrada em uma vingança insana, não me parece digna de segundas chances.

Ela me puxou pela cintura, colando a testa na minha. Fechei os olhos tentando absorver todas aquelas informações, lutando para não surtar.

— Eu queria a confirmação de que sente algo por mim — falei, antes de afastar o rosto para olhar em seus olhos. — Mas não esperava que isso seria assim tão... assustador.

— Eu não devia ter dito nada. — Ela se afastou, mas busquei trazê-la de volta para que pudesse me olhar nos olhos. — Está com medo de mim?

— Tenho medo que faça alguma coisa que te prejudique ou prejudique outras pessoas.

— Não farei nada que venha a desaprovar, Brandon — afirmou. — Já foi difícil o suficiente quando me acusou e se afastou por causa daquela louca, quando eu sequer cheguei a fazer nada.

— Promete que vai tentar resolver tudo com a Stella de uma forma que ninguém se machuque.

— Vai ser bem difícil...

— Promete Antonella — insisti, segurando o rosto dela.

— Você não conhece a Stella.

— Mas estou tentando te conhecer, te entender. Se você não estiver disposta a permitir e tentar fazer o certo, será difícil seguir com isso...

— Quanta intensidade — falou com um sorriso brincando nos lábios.

— Isso parece loucura, mas não posso mais negar que estou completamente apaixonada por você. Se eu não baixar a guarda e for sincera agora, talvez me arrependa para sempre. E se você não fizer o mesmo, talvez devamos parar por aqui.

— Se você soubesse todas as vezes que cogitei me abrir dessa forma. Eu realmente não esperava essa reação. Pensei que me mandaria embora e pediria para não te procurar mais. Em minha cabeça surgiram tantas cenas diferentes e desastrosas, que as minhas ações me levavam apenas a tentar ser o mais indiferente e fria possível, para que talvez você desistisse aos poucos e consequentemente eu também, mas todas as vezes me peguei sendo puxada em sua direção como um ímã. Agora só resta me render e confessar que te quero Alexia.

Seus lábios uniram-se aos meus em um beijo intenso, enquanto as mãos já se livravam de minhas roupas. Sem parar o beijo puxei ela em direção ao quarto, onde a empurrei encima da cama, ficando de pé para encarar aquela mulher perigosamente linda e gostosa.

Subi encima dela começando a retirar suas roupas até que finalmente estivéssemos ambas completamente nuas.

— Repete o que disse — murmurou em meus lábios enquanto me encaixava entre suas pernas. — Sobre sua loucura. — Ela sorriu em meus lábios  antes de gemer quando minha pele entrou em contato com a dela.

Me movi para que pudesse sentir sua boceta em minha coxa. Ela fechou os olhos e eu suspirei, movendo meu corpo devagar.

— Que estou apaixonada por você? — falei enquanto me movia sentindo o roçar de forma lenta. — Estou louca por você Antonella.

— Isso... — Gemeu segurando meus quadris, movendo o próprio corpo contra o meu..— Assim... — Ela apertou minha pele com mais força. —  Você é minha, Brandon...

— Sou tua — gemi buscando apoio para minhas mãos no intuito de tentar me encaixar mehor.

Nosso sexo foi mais intenso e entregue que em qualquer outro dia. Antonella me tocou de uma forma que jamais fez antes. Ela de fato me fez dela naquela cama e eu sabia que seria também fora dela.

Parecia loucura aquela relação, mas eu estava cada vez mais envolvida, não tinha como voltar atrás.

Já era quase manhã quando em meio ao sono, percebi ela se arrastando para fora da cama. Abri os olhos quando senti o toque em minha testa, mas minha sonolência não permitiu que acordasse o suficiente para me despedir.

Ao chegar no trabalho naquela manhã eu não sabia como encarar Stella, mas como de costume ela estava em meu caminho até a sala, esperando para me acompanhar, me deixando a par de alguns assuntos referentes ao trabalho.

— E antes que esqueça, fomos convidadas para a inauguração da nova boutique de Cherry...

— Estou cansada de eventos, você pode ir sozinha — falei, mantendo o foco no que digitava e percebi que ela ficou em silêncio. — Mais alguma coisa?

— Sou sua assistente por acaso? Apenas estou informando para que não use qualquer trapo no dia. E saiba que sua presença não é uma opção. Cherry é importante. — Já saía, mas voltou. — Leve o David.

Eu nada disse, apenas observei sua saída.

Marquei uma reunião com minha advogada naquela tarde e pontualmente estava em seu escritório. Quanto antes desse entrada nos papéis do divórcio, mais rápido David se concientizaria de que não havia mais volta.

Já chegava de volta a agência quando me deparei com um oficial de justiça e uma intimação. Eu só consegui pensar no caso de Beatrice. E mesmo não tendo nada a ver com aquilo, senti um certo medo do que viria a seguir.

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