15 • Culpa

O último lugar onde imaginei que acabaria aquela noite, era numa delegacia.

Saí da sala logo avistando Stella, que seria a próxima a entrar, afinal foi a única quem viu Beatrice naquela manhã. Ao lado de minha sócia estava Antonella, quem eu estava evitando encarar. Me aproximei de David que me envolveu pelos ombros e juntos caminhamos em direção a porta de saída. Me perguntei se a polícia chegaria até ele, sendo ex marido de Beatrice. Tentei também encontrar em seu rosto algum indício de tristeza, mas ele não esboçou nenhuma reação.

— Você sabe que odeio quando toma aqueles comprimidos, mas podemos abrir uma excessão essa noite — dizia ele se livrando do terno enquanto eu estava sentada na cama. — Vai ser bom dormir um pouco.

— Você nunca encontrou Beatrice — comentei.

— Por incrível que pareça, apesar de você sempre falar sobre ela, não chegamos a nos encontrar — respondeu, sem parar de andar de um lado para o outro no quarto. — Sinto muito, anjo. — Ele se aproximou e segurou meu rosto. — Sei que é difícil, mas tenta descansar.

David inclinou-se para me beijar, mas virei o rosto rapidamente.

— Tem razão — falei ficando de pé. — Vou tomar um remédio.

Precisei de dois comprimidos para conseguir me desligar um pouco. Na manhã seguinte acordei sozinha, mas ao meu lado havia uma rosa e um bilhete solidário de David, que tentava me apoiar e animar.

Suspirei voltando a fechar os olhos.

Evitamos abrir as portas da agência naquele dia, então eu basicamente fiquei horas na cama sem ação, me permitindo derramar algumas lágrimas de pesar, até tomar uma atitude e contatar a família de Beatrice. O mínimo que eu podia fazer era oferecer ajuda no que fosse preciso.

Como a vida tinha que continuar, no dia seguinte eu estava na agência, sob o olhar solidário de Stella, durante uma reunião.

— Não pudemos conversar naquela noite, mas sinto muito — dizia minha sócia enquanto saíamos juntas da sala. — A Bea passava mais tempo com você. Ela era a memória que você não tem. Deve estar sendo difícil.

Eu apenas confirmei, logo seguindo para minha sala.

Havia uma confusão de sentimentos. A dor e o pesar se misturavam com a culpa que torturava minha cabeça, diante das circunstâncias.

Perdi as contas das vezes que me perguntei se Antonella tinha a ver com aquela morte. Ainda não havia nada confirmado, mas Beatrice foi morta a tiros, logo depois da editora afirmar que daria um susto nela.

E se a pessoa que ela contratou passou do ponto? Ou ela realmente tinha intenção de ir além e fazer exatamente isso, dar um fim dessa maneira a vida de Beatrice? 

Eu não queria acreditar que a editora era esse tipo de pessoa, mas ficava difícil pensar o contrário.

Naquela noite, me permiti estar em casa mais cedo. Mesmo que a última coisa que quisesse era ficar na presença de David. Por sorte ele avisou que chegaria tarde.

Só não contava com uma ligação de Antonella.

— Precisamos nos encontrar — disse ela assim que atendi.

— Não temos nada o que conversar.

— O quê deu em você, Brandon?

— Ainda pergunta? Depois do que você... — baixei o tom de voz. — Depois do que aconteceu, acha mesmo que tem como continuar com isso?

— O quê a morte daquela louca tem a ver com nossa relação?

— Não fala dessa maneira! Será que não tem um pingo de sensibilidade? E que relação? Você me assusta o suficiente para não querer mais manter contato. Então por favor, não me procura mais.

Desliguei o telefone e joguei o aparelho encima da cama.

Não sei quanto tempo levou até a campainha tocar e estranhando o horário, segui até lá, onde ao abri a porta me deparei com Antonella.

— Você tá louca? David podia estar em casa. Inclusive ele está prestes a chegar.

— Estou completamente louca, Alexia! — falou entrando apartamento a dentro. — Você está ignorando minhas ligações e falando sobre não voltar a me encontrar...

— Lógico! Tem noção da merda que fez? Eu não quero mais nenhum tipo de ligação com uma sociopata feito você!

— Está me acusando de matar Beatrice?  — gritou.

— Fala baixo — pedi, temendo que David chegasse a qualquer momento.

— Realmente acha que sou esse tipo de pessoa? Eu estava tentando livrar sua cara daquela maluca e agora você me acusa dessa forma.

— Não fale como se não tivesse interesse nisso. Você mesma disse que costuma dar um jeito nas suas merdas. E a nossa relação não passa de mais uma das suas tantas sujeiras, que no fim das contas quer empurrar para debaixo do tapete, mas eu não vou compactuar com essa porra!

— Eu... — Ela aproximou-se de mim com raiva no olhar. — Não vou te perdoar por isso.

Engoli em seco, tentando me manter firme.

— Sai da minha casa.

Seu olhar cortante se afastou de mim, até que ela saísse.

Prendi a respiração, voltando a soltar o ar apenas quando ouvi o som da porta sendo fechada.

A angústia em meu peito cresceu ainda mais.

Não me dei conta quando David chegou, estava em meio as lágrimas que caiam de maneira incessante. E eu nem sabia mais o porquê. Me vinham tantas coisas em mente ao mesmo tempo.

A dor, culpa e arrependimento me consumiam naquele momento em que me permiti ser abraçada e consolada por meu marido.

A decisão de falar sobre o divórcio foi adiada.

Meu trabalho voltou a ser meu foco principalmente porque a família de Beatrice pediu minha ajuda para acompanhar a investigação sobre a morte da filha, por isso, mais do que nunca eu precisava ocupar minha mente.

Sem nenhuma nova descoberta da polícia, com o sumiço do telefone de Beatrice e aparentemente de todo o material que ela disse ter para me ameaçar, assim como também não haviam rastros do assassino, aos poucos tudo foi se acalmando.

Tudo parecia tranquilo também dentro de mim.

Pelo menos era o que eu pensava.

A edição da Muse Magazine em que sairia minha entrevista ganharia um coquetel de lançamento. O convite estava sobre minha mesa há semanas e eu me peguei encarando o mesmo, todos os dias, me perguntando se não seria melhor evitar comparecer. 

Eu não havia voltado a encontrar Antonella desde aquela noite. E por mais que me pegasse pensando nela às vezes, minha cabeça dizia que era melhor permanecer como estávamos.

Apesar de toda minha confusão mental, na data marcada eu estava lá, posando para os flashes e storys da revista. Tentando disfarçar o frio na barriga que estava sentindo.

— Alexia Brandon — disse um fotógrafo que eu não lembrava o nome, mesmo assim sorri cumprimentando. — Posso tirar uma foto das duas?

Os olhos dele foram para além de mim e eu quase não consegui coragem para virar e me deparar com ela.

Antonella se aproximava e rapidamente confirmando, parou ao meu lado pronta para a foto, enquanto eu ainda estava processando sua chegada, tentando lidar com sua presença.

Forcei uma sorriso e logo fomos clicadas.

— Obrigado — disse o homem, saindo logo em seguida.

Desviei o olhar dele para a mulher ao meu lado, mas não tive tempo para sequer dizer nada.

— Fique a vontade — disse ela antes de me dar as costas e sair.

Estava sendo uma noite longa e desconfortável em que me entreti em meio a conversas vazias, até achar um horário confortável para pedir licença e ir embora.

Já saia do salão quando dei de cara novamente com a editora.

— Já de saída? — perguntou, parando diante de mim. — Realmente não vai me pedir desculpas? — Arqueei as sombrancelhas diante de sua repentina mudança no tom de voz. — Não acha que mereço? Nessa altura dos fatos, ainda acha que eu... Fiz alguma coisa?

— Eu não sei. Afinal o que sei sobre você? Como espera que eu pense o contrário quando o máximo que se abriu para mim foi para contar sobre... dar sumiço em pessoas — falei mais baixo a última parte.

Ela segurou em meu braço, me levando para longe de todos, parando apenas quando estávamos de fato sozinhas.

— Eu acreditei quando me disse que te passava segurança, tanto que me abri sobre o fato de ter conseguido certas coisas através de meios não tão corretos. Você realmente não levou isso em consideração? Eu poderia ter feito tudo sem dizer nada, mas preferi te contar. Em troca você me encarou com aquele olhar acusatório e assustado, como se eu fosse alguém capaz de matar uma pessoa.

— Eu sinto muito — lamentei. — Estava assustada, com medo, triste. Foram tantos sentimentos. E você naquela noite... eu estava acima de tudo magoada com você — confessei.

— Magoada? — Ela franziu o cenho me encarnado e eu baixei a cabeça.

Não queria dizer que estava chateada por além de dividir mesa com ela e Stella, presenciar seu flerte com aquela modelo. Por mais que eu fosse uma amante também, como mulher... Como achou que me senti?

Depois veio a notícia da morte de Beatrice e me perguntei se ela não estava fazendo tudo aquilo apenas porque se tratava da sua reputação.

— Não vem ao caso. — Tentei mudar de assunto. — De qualquer forma,  me perguntei se você queria apenas limpar a própria barra, sem medir meios pra isso.

— Posso ter muitos defeitos, Alexia, mas não sou egoísta. Falei que cuidaria do assunto não apenas por mim. Na minha cabeça estávamos juntas nisso, mas você...

— Eu sei, fui uma idiota e eu sinto muito por isso.

— Sente mesmo? Porque se eu não tivesse te encurralado aqui e agora, provavelmente nunca ouviria isso, não é mesmo? Sabe o pior? É que eu nunca imaginei que me afetaria ao ponto de precisar fazer isso, esclarecer as coisas. Porque em qualquer outra ocasião, com qualquer outra pessoa, eu simplesmente esqueceria a existência dela e minha vida seguiria muito bem, como sempre seguiu, mas você... — Ela segurou em meu ombro e me encostou contra a parede, fazendo meu coração saltar no peito. — Brandon, você não sai da droga da minha cabeça.

Nem pude pensar em responder nada. Antonella me beijou sem aviso prévio.

Seus lábios junto aos meus naquela sincronia já conhecida, me fez perder completamente o juízo. Me agarrei a ela com urgência em um beijo avassalador. Sua mão logo estava em minha coxa, o corpo sendo precionado contra o meu que queimava de desejo.

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Comments

Nataly Lopes

Nataly Lopes

Topppppp

2022-12-20

4

Nataly Lopes

Nataly Lopes

Antonella já está apaixonada

2022-12-20

1

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