02 • Jantar

Pulei da cama levando comigo o edredom. Minha roupa não parecia estar em lugar algum, mas quando decidi me trancar no banheiro para tentar organizar as idéias. encontrei, vestido junto a lingerie jogados no chão. Uma lágrima quase escorreu ao perceber que estavam molhados, mas eu não tinha tempo para chorar, meu vôo sairia ao meio dia e não fazia idéia de onde estava naquele momento.

— O que foi que eu fiz? — me perguntei, curvada pegando a calcinha, não conseguindo conter a raiva, o sofrimento e frustração diante daquela situação.

Naquela altura eu só conseguia pedir a Deus que fosse uma estranha naquela cama.

Saí do banheiro, usando a roupa molhada mesmo, porque não me restavam muitas alternativas. Peguei também minha bolsa, que avistei jogada no canto do quarto. Queria sair o mais rápido possível, mas antes verifiquei e confirmei que sim, era a arrogante Antonella Venturi naquela cama.

...(...)...

No aeroporto fui recebida por David, para minha surpresa. Amoroso como sempre, me ajudou com a pequena mala e durante o caminho para casa se manteve.em silêncio, pois afirmei estar morrendo com uma infeliz dor de cabeça, quando na verdade quem doía mesmo era minha consciência.

Jamais imaginei que cometeria tal loucura.

Tentar lembrar o que aconteceu era desesperador, pois existia um imenso vazio entre ver a bebida rosa encima da mesa e acordar ao lado daquela mulher. Por um momento me perguntei se ela teria colocado alguma coisa em meu drink, mas a idéia sumiu logo em seguida.

Assim que chegamos em nosso apartamento fui direto tomar um demorado banho, na tentativa de relaxar. Quando saí encontrei meu marido esperando deitado, sem blusa, com as mãos atrás da cabeça me olhando de cima a baixo.

— Relaxou? — perguntou sorrindo e me observando andar pelo quarto em direção ao closet.

— Sim. Não foi trabalhar hoje? — Eu queria manter distância para evitar que ele notasse a nuvem negra da traição que pairava sobre minha cabeça.

— Amor, hoje é domingo. — Forcei um sorriso e entrei no closet. Peguei um vestido de tecido leve e o coloquei. Quando saí, David me esperava de pé e veio me abraçar. — Alexia, aconteceu alguma coisa que te chateou durante a viagem?

— Não, apenas estou cansada. Vou comer algo e dormir um pouco. — Depositei um beijo singelo em seus lábios e saí do quarto.

Era difícil disfarçar quando ele me conhecia tão bem.

Tomei comprimidos e dormi até a manhã de segunda. David odiava quando eu fazia isso, recorrer a remédios sempre que estava com a cabeça cheia, mas daquela vez eu tentava fugir dele.

Naquela manhã acordei sozinha, como de costume, e após um banho rápido desci para a cademia do condomínio, mas nem o esforço físico me fazia esquecer a bobagem que fiz, ou melhor, não evitava minha tentativa de lembrar que tipo de bobagem fiz.

Cheguei na agência às dez da manhã e de longe ouvi os gritos de Stella. Eu tentei desviar indo direto para minha sala, mas ela me viu e seguiu falando bobagens como sempre.

— Olha isso. — Jogou uma revista sobre minha mesa.

— Não vejo problema algum aqui — falei pegando a revista, analisando a capa onde havia uma modelo com roupa de banho.

— Como não? Eu falei pra dispensar essa gorda no mês passado, no entanto você manteve e fica arranja trabalho para ela! Olha esse corpo Alexia, nem photoshop deu jeito! Isso é uma vergonha para nossa agência. — Joguei a revista e sentei em minha cadeira.

— Stella, honestamente não estou com cabeça para isso...

— A Glamour deve estar rindo da nossa cara agora — falou ela com as mãos na cintura, ignorando o que eu disse.

— A Glamour nem lembra que nós existimos e você fica aí com essa obsessão. — Ela revirou os olhos. — Stella, presta atenção... — digo tentando manter a calma. — No dia que jogarem um processo nas suas costas espero que venda sua parte na agência, pois não quero que isso aqui vá para o fundo do poço junto com você!

— Nossa, o que deu em você hoje? — Ela saiu batendo a porta com força e quase pude ver o fogo saindo por suas narinas.

Eu estava me sentindo exausta apenas por ter aturado a loira por alguns minutos, imagine o dia todo.

Quando nos conhecemos ela era uma garota alegre e simpática, foi por isso que nos juntamos mais tarde para fazer sociedade na agência, mas quanto mais o tempo passava menos eu via aquela Stella de antes.

Na hora do almoço liguei para Beatrice, na intenção de saber como ela estava e me informou que tinha sido apenas uma leve torção no tornozelo. Em menos de uma semana voltaria. Fiquei aliviada, pois ela era uma boa profissional.

Já no fim do dia, saía um pouco mais cedo, quando fui barrada por minha sócia.

— Você esta intimada a comparecer em minha casa hoje a noite.

Fiquei encarando-a, incrédula, afinal quando foi a última vez que fui a casa dela? A resposta era nunca.

— Algo especial? — perguntei desconfiada.

— Vou receber algumas visitas e como não tenho familiares em Nova York gostaria que você e o David fossem.

Pensei sobre aquilo por um minuto.

Claro que eu gostaria muito de recusar, porém ela era minha sócia e seria uma oportunidade de reaproximação. Não dava para conviver com alguém que não suportava, por isso confirmei presença.

...(...)...

— Temos mesmo que ir? — perguntou meu marido pela décima vez enquanto eu me arrumava.

Estava sentando na cama me olhando e bufando, não gostando nenhum pouco da idéia.

— Para de resmungar!

— Amor, qual o problema? — Ele levantou vindo em minha direção, mas imediatamente entrei no closet para pegar sapatos.

— Estresse. É só isso! — Após calçar os sapatos voltei e o encontrei me encarando de braços cruzados.

— Fale a verdade, eu te conheço muito bem. — Respirei fundo a procura de uma desculpa.

A verdade era que passei o dia focada no trabalho, tentando esquecer meu erro, mas naquele momento parecia que minha cabeça tinha apenas Antonella Venturi, nua naquela cama. E o pior, sabia que deveria entrar em contato com a revista Muse o mais rápido possível.

— Stella me cansa, você sabe, mas precisamos nos aproximar, não aguento conviver com alguém que não compreendo. Por mais que ache difícil entendê-la, acredito que posso domar a fera pelo menos, então vamos a esse jantar e não se fala mais nisso! — Segurei em sua mão e o puxei para a porta.

Assim que chegamos fomos recebidos por uma empregada e pelo que pude ver, fomos os primeiros. Sentamos a espera da loira e mesmo que ela não tenha mencionado, imaginei que finalmente ia conhecer o marido.

Os sons dos saltos descendo a escada não demoraram a ecoar pela casa. Quando virei naquela direção, fui pega completamente de surpresa.

Avistei Antonella. Seu charme e traços ainda estavam vívidos em minha memória, mas era como se a iluminação naquele momento estivesse realçando cada detalhe que perdi antes.

Não consegui ver nada mais ao meu redor, somente aquela mulher que caminhava com os olhos fixos em mim, não demonstrando nenhuma surpresa.

Em minha cabeça girava um milhão de perguntas e logo se formou um nó na garganta.

Voltei ao planeta terra apenas quando senti a mão de David me puxando um pouco para levantar.

— Que bom vocês vieram — falou Stella, abraçando David.

Os dois se conheciam muito bem, afinal ele tinha trabalhado algum tempo conosco na agência.

— Alexia, David, essa é Antonella... — Ela pareceu hesitar antes de concluir. — Minha esposa.

— Como assim esposa? — Não estava em meus planos verbalizar aquele pensamento, mas aconteceu e todos me olharam. — Bem... Eu não imaginava que você fosse casada com a editora chefe da Muse.

Ao menos eu tinha aquela desculpa e foi suficiente para que minha sócia desse um sorriso sem graça, tentando mudar de assunto.

Antonella apertou a mão de David e quando chegou na minha vez senti a firmeza tanto na palma quando no olhar que ela lançou.

— Sentem-se. — A voz de Stella me tirou daquele transe.

Elas sentaram no sofá ao lado e a loira puxou assunto com meu marido. Eu não conseguia pensar em algo que não fosse tudo que aconteceu em Londres. Meus pensamentos estavam me traindo e o olhar que Antonella lançava em minha direção era desconcertante. Vez ou outra eu olhava para David temendo que ele notasse, mas parecia muito concentrado em sua conversa sobre agências.

Pedi licença para ir ao banheiro, precisava me acalmar. Stella ia chamar a empregada para mostrar o caminho, mas a esposa ficou de pé, dizendo que ela mesma me acompanharia. Meu sangue gelou na mesma hora e tive vontade de me agarrar ao David e ficar lá mesmo, pois algo no olhar dela dizia que não tinha boas intenções, mas ao invés disso, levantei e segui pela casa, a seu lado.

— Que bela surpresa, não é mesmo? — falou baixo, mas permaneci em silêncio.

Quando chegamos no fim do corredor ela abriu uma das várias portas e me deu passagem, olhei para o interior e era um escritório. Hesitei dando um passo atrás, mas Antonella colocou uma mão em minhas costas e empurrou meu corpo, praticamente me obrigando a entrar, fechando a porta em seguida.

— Eu ia te encontrar de qualquer maneira, mas pelo que vejo Stella preferiu economizar meu tempo.

— O quê? — Tentei manter o tom de voz baixo. — Uma bela surpresa? Você sabia o tempo todo que sou sócia da sua mulher e não me disse nada!

— Qual a importância disso? Eu não planejei nada, mas aconteceu.

— Aconteceu? — Massageei as têmporas tentando me acalmar. — Tem certeza de que dormimos juntas? — Ela riu parecendo se divertir. — Felizmente não lembro de absolutamente nada!

Na verdade queria muito lembrar.

— Você achou que o fato de estarmos completamente nuas era devido ao calor? — Coloquei as mãos no rosto não querendo imaginar, mas não conseguia deixar de fantasiar o que fizemos e pior, ela sabia exatamente o que tinha feito, enquanto eu não. — Saiba que mesmo lembrando, não significa que pude desfrutar devidamente de nossa noite, afinal fomos movidas por uma enorme quantidade de álcool.

— O que quer dizer com isso? Não foi sua melhor performance na cama? — Ri sem humor. — Meu marido e sua mulher estão na sala e você me trás aqui para rir da minha cara? — Tentei sair, mas ela rapidamente colocou a mão na maçaneta.

— Na verdade, você fugiu sem que pudéssemos esclarecer as coisas.

— Tudo bem, vamos esquecer.

— Se prefere assim. Então, quando nos veremos novamente?

— Ligarei amanhã para a revista, ou melhor, Stella pode muito bem fazer isso.

— Minha intenção não é conversar sobre trabalho — esclareceu.

— E sobre o quê então? — Tentei retirar sua mão da maçaneta, mas ela segurou firme.

— Quero sair para jantar com você. Tivemos uma conversa agradável antes e gostaria de repetir, mas dessa vez estando sóbrias.

— E acabamos da pior forma. Recuso seu convite.

— Por que está tão amedrontada? Apenas finja que nada aconteceu. Ou por acaso tem medo de repetir o erro? — Cruzei os braços encarando ela, mas me arrependi e desviei o olhar diante de seu sorriso presunçoso. — Senhora Brandon, se não tivesse se mostrado tão interessante em nosso primeiro encontro, eu certamente não estaria agora disposta a conhecê-la melhor.

— Agora a culpa é minha? Você é prepotente e arrogante! Acha mesmo que desejo me aproximar de alguém assim? Além do mais é casada e também sou muito bem casada. Não existe motivo algum para uma aproximação que vá além da profissional.

— Você não considera a hipótese de que eu venha a recusar trabalhar com sua agência?

Acabo rindo ao ouvir suas palavras que soavam como uma ameaça.

— É claro que considero, mas ainda assim quero acreditar que você prefere separar os assuntos pessoais do trabalho. Afinal, porquey sua mulher tinha que ligar todos os dias para a Muse? Por que nesse caso vocês separaram os assuntos tão bem e agora comigo está usando disso como ameaça?

— Você deve conhecê-la o suficiente para saber que Stella não é alguém que mereça tudo de bandeja. Mas não estou te ameaçando, minha intenção era apenas irritá-la um pouco mais. Saiba que tudo o que conversamos anteriormente continua de pé, pode entrar em contato com a revista amanhã. — Ela retirou a mão da maçaneta e me deu passagem. — Tenho certeza que nos encontraremos muitas outras vezes.

Saí o mais rápido possível.

Quando voltamos a sala eu me sentia com a palavra culpada colada em minha testa. E para a minha desgraça total, havia também uma mulher ao qual fui apresentada. Era a mãe de Antonella e pelo que notei, minha sócia quis passar uma imagem diferente para a mulher, me tratando como se fôssemos amigas intimas, ou quase irmãs.

A mulher inicialmente me pareceu simpática, mas com o decorrer da conversa não deixei de notar que foi um tanto hostil quando se tratava de Stella.

O ponto alto do jantar, que causou uma aura negra sobre o casal, foi quando a senhora Venturt deixou claro ser totalmente a favor da volta da filha para a Itália, seu país de origem.

Stella parecia pequena diante de cada palavra da sogra, que ignorava completamente o fato de Antonella estar em um relacionamento.

— Antonella, não acha que Alexia faria um ótimo trabalho na Muse Magazine New York? Se você decidir voltar para a Itália, tenho certeza que ela daria conta dos negócios aqui — sugeriu a mulher surpreendendo a todos. — Não sou uma stalker, mas gosto de me manter informada sobre talentos e a última matéria que vi sobre você, me surpreendeu muito.

Eu estava sem jeito.

Antonella, no entanto, parecia firme quanto a manter-se em Nova York e incomodada com tudo o que a mãe dizia.

David concordou que me sairia bem na Muse, mas esclareceu que sou melhor em meu próprio negócio.

Enquanto isso Stella parecia estar fechada em seu próprio mundo.

Eu não consegui entender aquele relacionamento entre minha sócia e a Venturi, mas não pretendia quebrar minha cabeça tentando. O melhor seria me manter de fora daquilo, por isso inventei uma desculpa para ir embora pouco tempo depois do jantar.

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Jérsica Santos

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