17 • Divórcio

Eu sabia que aquele jantar seria difícil, diante do fato de Megan estar disposta a me insultar. Mas não imaginei que seria tão difícil ao ponto de chegar a tremer vendo Antonella levantar da cadeira onde estava e vir em minha direção.

Meus olhos acompanharam cada movimento dela com tamanho medo que até mesmo esqueci como respirar. Ela não esboçava nenhuma expressão e isso era pior. Eu não conseguia imaginar o quê pretendia fazer, até que finalmente estivesse a meu lado.

— Boa noite — falou.

Eu não consegui olhar em sua direção, meus olhos estavam em David e Megan que responderam.

— Que coincidência, Brandon — disse, e me obriguei a levantar o olhar para encara-la. — Me dá um minuto?

Eu não sabia se seria capaz de ficar em pé e dar um passo, mas precisava acabar logo com aquele clima sufocante.

— Cla-claro — respondi.

— Espere — pediu David segurando em meu braço de repente. — Estamos aqui para jantar. Não podem deixar a conversa para depois?

— Não — respondeu ela. — É importante.

— Volto logo — afirmei levantando de uma vez.

Ela seguiu na frente e tentei acompanhá-la de perto, até que chegássemos a uma saída lateral que dava para uma área externa do restaurante, pouco movimentada, onde Antonella parou, ficando de costas para mim.

— Então esse era seu compromisso de última hora? — disse, mas eu nada respondi, então ela virou. — Um jantar em família.

— Você não podia ter me tirado de lá dessa forma. David...

— Que se foda o David! Ele sabe sobre nós.

Arregalei os olhos ao ouvir aquilo.

— O-o quê? — Me aproximei rapidamente e segurei em seu braço, fazendo com que se mantesse de frente para mim. — Do quê está falando?

— Ele me procurou na revista há um tempo atrás exigindo que me afastasse de você.

— E só agora me diz isso? — Eu estava com uma terrível sensação de fuga da realidade. — Como você... Como teve coragem de ir até aquela mesa e me trazer aqui?

— Percebe o quanto se importa com o que aquele canalha pensa? Esse homem não é quem você costumava achar que fosse. E mesmo sabendo disso, inventou um desculpa esfarrapada para mim e está aqui com ele. Sinceramente Alexia, eu esperava mais de você.

Ela simplesmente saiu, me deixando ali com o choque daquela notícia.

Então ele sempre soube? Como conseguia me olhar? Tocar? E ainda ser compreensivo.

Precisei de alguns minutos até que pudesse voltar para a mesa.

— Gosta de Bernard? — perguntou David com um sorriso assim que me aproximei.

— É um nome feio — comentou a mãe.

— Do quê estão falando? — perguntei.

— Nomes para meus netos — explicou Megan, antes de sorrir apertando a mão de David que piscou para ela.

Eu apenas baixei o olhar, ainda processando o que Antonella me disse. Não consegui sequer olhar na direção da mesa onde ela estava, nem para David, ou até mesmo entrar em discussões com Megan.

Quando o jantar chegou ao fim, fiquei aliviada por finalmente sair do campo de visão da editora. A mistura de raiva e vergonha era algo terrível de experimentar. Raiva por ela não ter me deixado ciente daquilo antes e vergonha por não ter coragem de cumprir minha própria vontade e ela saber disso.

Assim que nos despedimos de Megan, fechando a porta do quarto, senti a mão de David em meu ombro, mas me afastei rapidamente.

— Não posso mais fazer isso, David.

— Do quê está falando, amor? — perguntou ele e virei para encara-lo.

— Por que procurou Antonella exigindo que se afastasse de mim?

— Ela tocou nesse assunto... Hoje?

— Como consegue...

— Meu amor. — Ele se aproximou, mas dei um passo atrás. — Nada disso importa. Como eu disse, sei que tudo colabora para que fiquemos um tanto distantes ultimamente, mas você sabe que eu sempre quis manter nossa paixão acesa.

— Eu não consigo entender.

— Não entende que te amo? Que nossos anos juntos são mais importantes que qualquer erro que venha a ter cometido.

— Não é tão simples.

— Prefere que eu grite com você? Faça uma cena? Agora eu quem não te entendo, Alexia.

Querer que ele tivesse sido sincero, quando nem eu mesma consegui ser, era o cúmulo do absurdo.

Nunca me vi numa situação parecida com aquela, porque jamais trai alguém ou sequer cogitei fazer algo do qual não me orgulhasse. No entanto, estava bem lúcida quando tomei cada decisão que me levou até ali.

— Quero o divórcio — falei de uma vez. — Apenas isso.

— Por causa daquela mulher? Você tem noção do que está me dizendo?

— Não tem nada a ver com ela. Tem a ver com o que estou sentindo. Na verdade, com o que já não sinto mais por você.

— Depois de tudo isso, você ainda tem a coragem de dizer que não tem nada a ver com ela?

— Não vamos colocar a culpa disso em terceiros.

— Não quer que eu culpe sua amante? — Ele riu. — Tem noção do quê está me falando? Nunca imaginei isso vindo de você.

— Nem eu, David! — Alterei o tom, nervosa e louca para dar um fim a aquela conversa. — Mas não sou mais aquela garota de dezoito anos que se moldou a vida com você. Estou descobrindo e desejando construir minha própria vida, baseada no que quero e gosto.

— Gosta daquela mulher? Quer construir algo com ela? — Ele gargalhou. — A Stella sabe disso?

— Eu não falei nada disso!

— Que gritaria é essa aqui? — falou Megan entrando no quarto de repente. — Que história é essa? Você traiu meu filho com uma mulher?

— Era só o que faltava — murmurei passando a mão pelos cabelos, quando fui surpreendida com a aproximação dela que de repente me deu um tapa.

— Puta! — gritou.

— Mãe, por favor... — David segurou ela pelos ombros enquanto eu alisava meu rosto tentando engolir a raiva que sentia.

— Sempre soube que não valia nada!

— Agora não valho nada, mas até horas atrás meu útero estava perfeito para abrigar uma criança, atendendo aos seus caprichos! Se seu filho tivesse me traído, ainda estaria torcendo para que eu o perdoasse e te desse logo seus netos. Não é assim que funciona na sua cabeça? Tudo bem, eu realmente não presto. Não para isso!

Segui para a porta por onde saí rapidamente.

— Alexia? — chamou David. — Onde vai? Precisamos conversar.

— Não vou ficar aqui e aturar mais nada da sua mãe.

Saí do apartamento sem saber exatamente para onde ir.

Eu queria chorar.

De repente tudo estava fora do lugar. Minha vida que meses antes parecia perfeita, já não existia mais. Na verdade nunca existiu. Vivi fingindo que tudo estava onde devia estar, quando na verdade nem sabia o que realmente queria.

Fiz check in em um hotel próximo a agência, onde pude deitar, tentando acalmar meus pensamentos.

Olhei no visor do celular, me perguntando se devia ceder a meu desejo de falar com Antonella. O último olhar e a frase que ela me lançou não saiam de minha mente.

Por que ela tinha que parecer se importar tanto, quando não estava totalmente livre?

Eu tinha medo de me entregar demais a aquela relação, principalmente depois de ter dado um fim a meu casamento. Me assustava a idéia de ficar disponível demais para alguém que só poderia ter pela metade.

— Oi — disse ela de forma seca ao atender o telefone.

— Dei o primeiro passo para o divórcio — falei. — Sei que esta decepcionada comigo, mas...

— Onde você está agora?

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