13 • Temor

Não conseguia acreditar nem entender como Beatrice estava diante de nós, me encarando de uma maneira que jamais vi antes. Era um olhar superior. Talvez até vitorioso.

Antonella virou para me olhar, logo em seguida voltou a encarar minha assistente, que sorriu.

— Eu sabia — disse ela. — Você não ia conseguir manter a farsa de esposa perfeita por muito tempo. Fui paciente até agora. Tenho vídeos, fotos... O quê mais? Gravações de áudio. Mensagens de celular. — Ela enumerou nos dedos.

Em choque. Fiquei completamente sem reação ao ouvir aquilo.

— O que você quer com isso? — perguntou Antonella, dando um passo na direção de Beatrice , mas ela ignorou, entrando no quarto sem desviar o olhar de mim.

— Quero a sua desgraça, Alexia Brandon. — Ela tinha ódio no olhar.

— Por que está dizendo isso, Bea? O que eu te fiz?

— Você destruiu a minha carreira. Me tirou o amor da minha vida. Uma puta, ninfeta! Eu fiquei no fundo do poço por sua causa e durante todos esses anos me alimentei do desejo de vingança.

— Eu não sei do quê está falando.

— Não sabe? — Ela gargalhou. — Também não sabe como caiu de boca na boceta da esposa da Stella? Você é tão sonsa. Todo mundo cai nesse papinho de boa esposa, boa profissional injustiçada pela sósia má. Esse seu discurso de vitimismo sempre que está diante da realidade que a Stella joga na sua cara, é tão ridículo. Agora diz que não sabe que não passa de uma puta? O que o David diria disso aqui? E a Stella?

— Já chega desse discurso ridículo! — Antonella aproximou-se rapidamente e segurou no braço de Beatrice que soltou-se bruscamente.

— Bea, eu não sei porquê está dizendo isso, não entendo o quê te fiz para que declare todo esse ódio agora, mas por favor não...

— Não contar a verdade? — Seu olhar ameaçador me fez temer o que ela faria. — Tenho você aqui. — Apontou a palma da mão. — Onde posso fazer o que bem entender!

— Beatrice...

— O quê será que os sites de fofoca fariam com tanta informação?

Antonella puxou Beatrice de repente, pelos ombros.

— Você não é louca de nos expor na mídia!

— Calma aí sua bruta, quem está na minha mão aqui é vocês!

— Acha mesmo que se por acaso nos expor, vai sair disso por cima? Eu acabo com a tua raça sua vadia fracassada. Não teve competência de segurar aquele babaca e levou dez anos amargurada tentando se vingar com tamanha imaturidade? — Antonella sorriu. — Você é patética.

— Antonella... — Segurei no braço dela na tentativa de fazê-la se acalmar e soltar Beatrice, afinal a última coisa que queria era um escândalo.

Jamais vi a editora daquele jeito, furiosa e ameaçadora. Ela parecia prestes a jogar Beatrice do outro lado do cômodo.

— Vamos ver quem é patética aqui. — Bea se soltou e caminhou em direção a porta.

— Beatrice... — Tentei alcança-la, mas Antonella me impediu. — O quê está fazendo? Essa mulher pode tornar minha vida um inferno em um piscar de olhos.

— Ela não está com cara de quem vai fazer isso. Não agora. Será que não viu o quanto aprecia essa falsa sensação de que te tem nas mãos? É óbvio que vai dar um jeito de prolongar isso, não vai ser assim de uma hora para a outra.

— Falsa sensação? Eu estou achando bem real! Só não entendo porquê...

— Você foi mesmo ingênua o suficiente no passado ao ponto de não imaginar que aquele canalha te fez de amante?

— O-o quê?

Antonella me contou tudo o que sabia, coisas que de fato jamais imaginei. Eu era só uma menina de dezoito anos, sendo precionada pela mãe a seguir carreira como modelo. David me conquistou, me encantou com suas falas e gestos. Jamais desconfiei que ele fosse na verdade casado e que a vida de Beatrice havia se revirada de tal forma.

— Beatrice nunca deu um indício sequer de que me odiava a esse ponto. Isso é loucura!

— Tome cuidado.

— O que eu faço? — Andei de um lado para o outro. — David e Stella não podem saber dessa forma. Na verdade, eles jamais devem saber nada disso!

— Acho melhor você se preparar para o pior, ou... Beatrice tem que sumir do mapa.

Observei ela seguindo até a mesa, onde pegou a garrafa de vinho e encheu a taça enquanto eu ainda estava assustada com suas palavras.

Lembrei de quando Beatrice mencionou sobre a possibilidade de Antonella ter dado um fim a antiga editora chefe da Muse.

— Falando desse jeito você me assusta.

— Vale a pena deixar essa louca por aí com fotos e vídeos nossos?

— Então seria melhor tranca-la em um calabouço?

— Um susto capaz de obriga-la a entregar qualquer prova para nós, seria suficiente.

— Um susto? — Me aproximei rapidamente. — Isso me parece errado.

— E o que estamos fazendo é certo? — Ela acariciou meu rosto antes de tomar um gole do vinho. — É uma questão de prioridades, Brandon. Você prefere seu bem estar pessoal e profissional ou ser chantageada por sua até então assistente?

— Não vai machuca-la, não é? Se fizer isso vai ser só um susto, certo?

Ela me encarou com a sobrancelha arqueada.

— Apenas durma tranquilamente a noite. Ok? — Ela segurou meu queixo e selou nossos lábios.

— Não sei se consigo — confessei, puxando ela para mais perto. — Nesse fim de semana vou conversar com David sobre o divórcio. Quero que seja algo tranquilo, sem brigas e mágoas.

— É bom saber que está decidida. Por isso mesmo quero que fique tranquila e siga com o plano. Não permitirei que Beatrice interfira.

— Droga, você me passa segurança.

— Por que fala como se isso fosse ruim?

Eu apenas sorri desviando o olhar.

— Preciso ir, se não quiser começar uma DR com David ainda hoje.

Quando cheguei em casa encontrei meu marido dormindo tranquilamente. O pensamento sobre tudo o que fiquei sabendo me fez cair em uma onda estranha de nostalgia. Lembrava-me tão bem o quanto era apaixonada pela forma que ele me tratava, me fazendo sentir especial, me dando liberdade e apoio para escolher seguir ou não a carreira.

Como fui idiota. Foi apenas mais um homem casado se esforçando para envolver uma menina mais jovem em sua teia. Era doloroso pensar assim. Mas ao mesmo tempo quando lembrava tudo o que vivemos juntos em quase dez anos, não era como se tudo tivesse sido uma grande mentira. Eu fui verdadeiramente feliz.

— Mas acabou — falei para mim mesma, olhando o reflexo no espelho do banheiro.

Dormir foi uma tarefa difícil quando Beatrice não saia de minha mente.

Junto aos pensamentos sobre minha assistente, vinham os pensamentos sobre Antonella e sua idéia um tanto absurda, mas era o que restava diante da minha falta de alternativas.

Talvez eu não conhecesse a editora tão bem quanto imaginei.

Eu estava me interessando por um rosto bonito, um sexo gostoso e uma boa conversa, mas obviamente havia muito mais além disso. Eu sequer sabia como era a relação dela com Stella.

No dia seguinte entrei na agência temendo encontrar Beatrice, mas com quem dei de cara foi Stella e seu humor dos infernos.

— Eles me pagam! — gritava ela ao telefone.

— Bom dia — falei passando o mais rápido possível, sabendo que ela me seguiria. — Pensei que passaria uma semana de férias.

— Férias? Eu estava descansando depois de todo o trabalho que você empurrou para cima de mim. Como está a saúde? Me parece forte como um touro.

— Estou ótima — falei parando de repente, virando para ela que parou antes que pudesse se chocar contra mim. — Hoje a tarde vou dar a entrevista. a Muse. Você pode por favor tomar frente da reunião sobre o catálogo da Stteff? Te pago o jantar hoje a noite.

Forcei meu melhor sorriso. 

Eu temia sua reação caso sonhasse sobre meu envolvimento com Antonella. Se Beatrice agiu daquela forma depois de anos, não queria imaginar como seria com minha sócia.

— Dispenso o jantar. Tenho planos para hoje a noite com a Bea.

— Beatrice? Ela já chegou? — Olhei ao redor rapidamente.

— E já saiu. Disse que você mandou fazer alguma coisa externa.

— Vocês nunca saíram juntas. — Forcei um sorriso. — O que estou perdendo?

Eu precisava saber o que Beatrice estava tramando.

— Não precisa ter ciúmes, pode ficar com a assistente e amiga inteirinha para você. Eu nem sei bem o motivo do convite para o jantar, afinal não somos tão próximas, mas a forma com que ela falou era como se estivesse prestes a me contar algo importante.

Precisei respirar fundo antes de voltar a seguir para minha sala, tentando não demonstrar o temor que provavelmente estampava meu rosto.

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