19 • Verdade

No horário em que Antonella afirmou que chegaria, fiquei andando de um lado para o outro com o celular em mãos, a espera. O tempo passou, mas ela não deu um sinal de vida.

A comida esfriou.

Me peguei encolhida no sofá observando o visor do telefone, até que ele vibrasse com uma mensagem que infelizmente vi ser de David. Suspirei jogando o aparelho de lado, me sentindo estúpida por esperar demais daquela noite.

Joguei a cabeça para trás, apoiando no encosto do sofá, encarando o teto por sabe-se lá quanto tempo, até que uma nova mensagem chegasse. Me apressei a ler e de fato era dela, pedindo desculpa e comunicando que não podia vir, sem explicar exatamente motivo.

Stella, talvez.

Comi sozinha, me dando conta de que aquela seria minha vida dali pra frente. Não que eu costumasse jantar com David todas as noites, mas era diferente.

No dia seguinte acabei saindo para o trabalho mais tarde que de costume. Chegava a ser ridículo me atrasar justo quando estava morando próximo a agência.

Assim que entrei segui para minha sala o mais rápido possível, deixando claro que não desejava conversar com ninguém, mas quando abri a porta me deparei com David.

— O que faz aqui a essa hora? — perguntei, indo até minha cadeira onde coloquei a bolsa, ficando de pé encarando ele.

— Precisamos conversar. Achou que fosse desistir de nós assim? São quase dez anos, Alexia. E eu te amo como há dez anos atrás. Talvez até mais.

— Não posso fazer mais nada sobre isso. Meus sentimentos mudaram. Eu mudei. Não há mais o que ser dito sobre isso. Vou entrar em contato com meu advogado...

— Não! — Ele fez a volta na mesa e se aproximou, logo segurando meu rosto entre as mãos. — Não quero te perder Alexia, por favor não faz isso.

— Ale... — Stella entrou na sala de repente e me afastei de David rapidamente. — Perdão, volto depois. Oi David. — Ela acenou e sorriu, saindo logo em seguida.

— Por favor, vai embora — pedi.

David se foi me deixando com a sensação de que eu ainda estava sendo a pessoa errada e até mesmo ruim naquela história.

Sentei em minha cadeira, ligando o computador. De maneira despretensiosa acessei o site da Muse antes de me deixar levar pelos sites que costumava acessar diariamente. E de alguma forma ir parar em um blog de fofoca onde encontrei fotos da inauguração de um restaurante, onde em meio a algumas pessoas avistei Antonella. Busquei ela em meio a outras fotografias, mas não havia nenhum outro registro.

Me perguntei se Stella também estava lá, ou se ela escolheu como acompanhante alguma modelo que não saiu nas fotos.

— Vi sua entrevista para a Muse — comentou Valentina que me convidou para almoçar. — É uma ótima equipe. Confesso ter ficado bem impressionada com a nova editora, afinal a anterior era o descaso em pessoa. Eu tinha horror a aquela revista por causa daquela mulher. Mas Antonella Venturi... — Ela sorriu de maneira sugestiva.

— Ela é incrível — comentei enquanto tomava um pouco de água.

— Uma vadia, cá entre nós.

Arqueei as sobrancelhas, surpresa com aquele comentário.

— Mas uma excelente profissional — afirmou.

— Pela forma que fala parece que conhece bem a editora — comentei, na esperança de descobrir algo novo.

— Eu a conheci na França, onde passava por cima de quem quer que fosse para conseguir o que deseja. Além de ser conhecida em Paris por pegar todas as mulheres do ramo da moda, desde as modelos, estilistas, costureiras... — Ela riu. — Confesso sentir um pouco de inveja dessa capacidade dela.

Se me restava alguma dúvida, ela se dissipou ao ouvir tudo aquilo. Antonella não era do tipo que se mantinha interessada por muito tempo. Não era nada além de uma mulher atraída pela aventura e a excitação causada por um desafio para conseguir levar pra cama quem deseja.

— Mas vamos falar sobre seu desfile — sugeri, forçando um sorriso, tentando afastar qualquer pensamento sobre a editora.

Naquela tarde eu estava me deixando levar pelo trabalho e deu certo, até receber uma mensagem da Venturi, pedindo que enviasse novamente meu endereço para que pudéssemos nos encontrar naquela noite.

— Apagou minha mensagem para sua mulher não ver? — perguntei assim que ela atendeu minha ligação, afinal não estava disposta a ficar trocando mensagens.

— Lógico — falou com aquela naturalidade descarada. — Estarei lá na hora marcada.

— Verdade? Não estou afim de me programar para receber visita e no fim das contas levar um bolo.

Ela riu do outro lado da linha.

— Pensando melhor, vou te buscar na agência.

— Não vem não — sorri, achando que ela estava brincando. — Você vem?

Não obtive resposta, ela simplesmente desligou.

Ela de fato ama o perigo.

Quando menos esperava, no começo da noite recebi a mensagem avisando estar a minha espera.

Assim que entrei no veículo encarei ela que sorriu colocando o carro em movimento.

— Gosto de como você transparece no olhar quando está chateada comigo — disse.

— Não estou chateada.

— Não é atoa que David descobriu sobre nós, você é péssima disfarçando sentimentos.

Revirei os olhos, cruzando os braços enquanto olhava na direção oposta.

— Ok — murmurei.

— Surgiu um compromisso ontem e eu tentei desmarcar, mas foi inevitável.

— Não precisa me dar explicações.

— Então olhe para mim.

Eu não queria olhar apenas porque ela estava pedindo. Por isso acabei me mantendo na mesma posição.

— Brandon? — Ela chamou, parando no sinal e logo senti seus dedos em meu queixo, fazendo com que virasse para olhar em seus olhos que estavam bem próximos.

Seus lábios tocaram os meus e foi inevitável baixar a guarda e não aprofundar o beijo, esquecendo completamente onde estávamos, até o carro de trás apitar.

— Não estou chateada, apenas... Não consigo ler você assim como faz comigo. E isso é frustrante.

— Não há nada sobre mim que precise saber. Nada além do que já sabe.

— Você quer me convencer de que é apenas isso? — Gesticulei com a mão em direção a ela. — Antonella Venturi se resume ao que vejo?

— Com você sou apenas o que vê.

— E se eu quiser ir além?

Ela me olhou de canto, mas nada disse. Notei que estávamos prestes a entrar na garagem do prédio, por isso deixei o assunto para depois.

Antonella estacionou e eu saí primeiro, seguindo em direção ao elevador, mas antes que pudesse entrar no mesmo, fui puxada por ela.

— Quando falei sobre estar apaixonada você se fez de ofendida, como se eu tivesse falando um absurdo. Agora confessa que deseja ir além da cama?

— Não confessei... Quero dizer, eu só... Talvez de lá pra cá as coisas tenham mudado para mim.

— Me diga como devo agir.

— Eu não sei.

— Também não sei como fazer isso, porque nunca antes cheguei a esse nível com alguém, na situação em que me encontro.

— Qual situação?

— Vamos subir?

Eu apenas confirmei, logo entrando no elevador, mas ela ficou para trás.

— Vai na frente, esqueci algo no carro.

Confirmei, apertando o andar e segui sozinha.

Assim que entrei no apartamento verifiquei se estava tudo em ordem, enquanto guardava minha bolsa e retirava os sapatos.

Antonella não demorou a tocar a campainha que eu abri e me deparei com ela e uma garrafa de vinho em mãos.

— Ia trazer ontem para nosso jantar.

— Se você for um pouco paciente, posso preparar algo para nós agora.

— Serei — afirmou, dando um breve sorriso enquanto entrava.

Prendi os cabelos, seguindo para a cozinha que praticamente fazia parte da sala, onde ela colocou a garrafa sobre a mesa de vidro redonda e seguiu até as cortinas da varanda.

— É aconchegante — comentou.

— Gostei dele por isso.

Eu estava prestes a começar a preparar uma massa quando ela voltou a se aproximar.

— Quer ajuda?

— Quero que me fale sobre sua atual situação — falei, desviando o olhar dos ingredientes, observando ela seguindo até o o sofá onde sentou.

— Depois...

Para quem não cozinhava há tempos, eu estava me saindo muito bem, modéstia parte.

Quando servi a massa a carbonara, sentamos ao redor da pequena mesa e ansiosamente esperei seu veredito.

— Por que está me olhando como se estivéssemos no Masterchef? — perguntou antes de levar o garfo a boca.

— Desculpa — Sorri sem graça. — É que faz bastante tempo que não cozinho.

— Devo me preocupar?

Sorri negando e ela finalmente provou.

Comemos enquanto eu falava sobre minha falta de tempo na cozinha devido a dedicação ao trabalho e em parte também porque David raramente estava em casa.

— Por falar nisso, fiquei sabendo que ele esteve na agência hoje — comentou ela.

— Stella é seu bichinho de recado? Ou estou perdendo mais alguma coisa? — Fiquei em pé, retirando os pratos de cima da mesa. — Porque David morando sob o mesmo teto que eu, sabia de coisas que eu não fazia idéia. Além de ter mentido para mim no passado. O que mais não sei?

Segui até a pia onde depositei a louça.

Logo Antonella estava ao meu lado, me fazendo virar para olhar em seus olhos.

— Não quero que fique chateada.

— Stella faz parte da minha vida, assim como você também agora. Nada mais justo que eu saber exatamente com quem estou me relacionando. Qual a verdade sobre sua relação com ela?

— Não é algo fácil de dizer e acredito que não será também fácil compreender.

Era a primeira vez que eu via algum sinal de receio em seu tom de voz.

— Tenho certeza de que posso lidar com isso.

— Tudo bem... então você precisa saber que Stella sabe sobre nós.

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Comments

mary_🕷️🎧🕸️

mary_🕷️🎧🕸️

cara eu tô bobinha aq elas são tão bunitinhas juntas

2023-12-26

1

Såd_ Grıł_Đemøn

Såd_ Grıł_Đemøn

que back Brasil

2023-02-21

0

Silvia Galdino

Silvia Galdino

caramba

2022-12-28

2

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