04 • Acidente

Enquanto dirigia em direção a agência meu celular tocava insistentemente, mas eu não tinha intenção de atender ao volante e muito menos parar. Meu humor estava péssimo, então permaneci ignorando-o e mesmo nos sinais preferia não olhar o número.

Sentia-me cansada por ter ido dormir muito tarde esperando David chegar do trabalho e ainda assim não o vi.

Já estava próximo a meu destino e fazia quase quinze minutos que ouvia aquela musica insuportável, então decidi estacionar.

— Alô.

— Tem menos de dez minutos para chegar aqui. — Ordenou a voz impossível de não reconhecer.

— Espere sentada. — Eu ia desligar, mas ela falou rapidamente.

— Nem pense nisso! Preciso conversar com você, estou na Toby's Estate. Venha logo. — Sua voz era autoritária. O que me fez rolar os olhos. — É apenas uma conversa, Brandon. — Fiquei em silêncio por um minuto, me perguntando o quê mais poderia ser senão uma conversa.

— Por que eu iria... — Ela desligou na minha cara e fiquei encarando o celular sem reação alguma por alguns minutos.

Assim que entrei no café avistei Antonella de longe. Ela deu um breve aceno e segui até a mesa, olhando ao redor me certificando de não ter conhecidos. Sempre que me encontrava com ela sentia-me como se estivesse cometendo um crime.

Sentei a sua frente e ela continuou me olhando fixamente, com um sorriso se formando nos lábios, como se tivesse vencido ao ter conseguido que eu fosse ao seu encontro.

— Sabia que essa cafeteria ficou famosa depois de aparecer no filme, O Estagiário, com Anne Hathaway e o Robert De Niro? — comentou, levando a xícara aos lábios.

— Tenho apenas alguns minutos antes de ir para a agência. Será que dá para ir direto ao ponto? — No mesmo momento uma moça trouxe um café e colocou à minha frente. — Eu não...

— Pedi por você. Gosta desse, não é mesmo? Tem suas vantagens ser casada com sua sócia. — Franzi o cenho encostando-me na cadeira. — Não se preocupe, eu fui discreta em minha pequena investigação particular.

Eu estava pasma.

— O que deseja? — Ela ficou séria e endireitou-se na cadeira. Seus olhos queimavam minha pele. Tive que desviar minha atenção para o café que peguei e tomei um pequeno gole.

— Desejo uma matéria com você, para a próxima edição da revista. — Ela estreitou os olhos. — O que me diz?

— E quanto a Stella? — Coloquei o copo sobre a mesa, sem tirar os olhos dela que tomava o café.

— Apenas você, Stella terá sua chance um dia desses.

— Ela não vai gostar...

— Stella não tem que gostar. Vocês são sócias, mas cada uma tem vida e carreiras a parte. E sejamos sinceras, a sua é bem mais interessante. — Ela sorriu e permaneci séria, logo depois me inclinei, peguei minha bolsa sobre a outra cadeira e levantei.

— Vou pensar sobre isso. Está na minha hora, com licença.

Saí do local e atravessei a rua. Já estava prestes a chegar a meu carro quando ouvi um barulho logo atrás e ao virar vi Antonella no chão, no meio da pista. O motorista de um táxi que aparentemente chocou-se contra ela, saía do veículo desesperado, com as mãos na cabeça.

Assustada, corri até ela que levantava afirmando estar bem e tentava tranquilizar o homem.

— Está bem mesmo? — perguntei segurando em seu braço, notando que ela pareceu fraquejar ao dar um passo.

— Perdão senhorita, eu não sei o que aconteceu — repetia o taxista.

— Tudo bem, não foi nada. Você ainda estava colocando o carro em movimento, por isso não foi nada demais — alegou novamente e ajudei ela a caminhar até o outro lado da pista.

— Esse aqui é meu cartão, pode ligar se precisar de alguma coisa — disse ele.

Antonella pegou o cartão que o homem entregava e parou apoiando-se em meu carro.

— Não parece bem, mal consegue andar direito. — Tentei analisa-la aos minimos detalhes. — Precisa ir ao hospital.

— Minha perna esquerda dói um pouco. — Finalmente demonstrou não estar bem. Olhei ao redor e logo em seguida para ela que tinha uma expressão de dor. — Chame um outro táxi, irei para o hospital.

— Por que não aceitou ajuda do motorista descuidado?

— Ele ficaria ainda mais preocupado achando que fez algo grave. Eu quem fui descuidada ao atravessar.

— Vamos, vou leva-la ao hospital.

— Não é necessário, você precisa trabalhar, eu pego um táxi.

—  Eu não me sentiria bem te deixando sozinha quando poderia muito bem levá-la. Agora deixe de teimosia e entre nesse carro, — Ela sorriu antes de fazer o que eu disse. Respirei fundo antes de entrar e dar partida. — Está doendo muito? — perguntei ao perceber que resmungou algo.

— Preocupe-se com a direção. — Revirei os olhos.

— E você deveria ter se preocupado ao atravessar a pista.

Não demoramos a chegar ao hospital, fiquei a espera enquanto ela fazia uma série de exames. Aproveitei e liguei para Bea avisando que ia apenas depois do almoço. Até pensei avisar Stella , mas preferi não comentar. Talvez Antonella não quisesse preocupá-la.

— Pronto, estou inteira e entupida de analgésicos — disse ela ao se aproximar. — Me sinto melhor.

— Fico mais tranquila — afirmei levantando, então seguimos para a saída.

— Está com pressa? — perguntou.

— Vou trabalhar após o almoço. Por quê?

— Gostaria de levá-la a um lugar. — Parei  encarando ela, ao chegarmos no estacionamento. — Não é um motel. 

— Se não for para um bar... — Sorri.

— Fique tranquila, caso aconteça algo quero que esteja sóbria. — Meu sorriso sumiu imediatamente e fuzilei ela com o olhar. — Estou brincando, Brandon.

Em meu carro seguimos sem que eu soubesse ao certo qual era nosso destino, até chegarmos a uma galeria.

Ao sair do veículo pude perceber que ela ainda parecia sentir dor, mesmo assim se recusava a assumir isso.

— São fotografias muito bonitas — afirmei parando diante de um imenso quatro em preto e branco, assim como todos os outros da exposição que retratava mendigos e trabalhadores de rua, mas com sorrisos de encher os olhos e a alma.

— É o trabalho de um amigo. — Virei encarando ela que sorrio sem tirar os olhos do quadro. — Gostaria de conhecê-lo?

— Sem dúvidas. — Empolgada, continuei caminhando observando os quadros, sendo seguida.

— Jante conosco um dia desses. — Sorri percebendo que ela usava aquilo como pretexto.

— Leve também a Stella.

— Ela não gosta desse meu amigo. — Não contive a risada. — Estou sendo sincera.

Antonella caminhou até algumas poltronas, então segui e sentei a seu lado.

— Posso saber o porquê?

— Stella gosta apenas de si mesma. Pedi que abrissem o espaço nesse horário apenas para nós e mesmo assim ela deixou claro que não viria. — Olhei ao redor percebendo que o lugar realmente estava vazio.

— Mas ela gosta de você — afirmei cruzando os braços, desviando minha atenção para as fotos

— Nosso relacionamento é apenas fachada. — Arqueei as sobrancelhas ao ouvir aquilo. — Talvez tenha sido real nos primeiros meses, mas de lá pra cá, viemos apenas levando e agora estamos em um nível em que o divórcio é a melhor alternativa.

— Mas... Ela tem sentimentos por você.

— É complicado...

— Eu acho que sou capaz de entender— insisti e ela pareceu relutante. — Ah, vamos Venturi. Você é atrevida o suficiente para ir até minha sala me provocar, mas se sente intimidada a me contar a verdade por trás do seu relacionamento?

— O quê posso fazer se sou melhor fazendo outras coisas... — Seu olhar provocativo deixava claro que ela não pretendia contar mais nada e levaria a conversa a um caminho perigoso, para mim.

Seguimos para o estacionamento e após uma viajem silenciosa, não demoramos a chegar de volta ao café onde Antonella tinha deixado o carro.

Já se passava do meio dia e mesmo que ela tenha insistido em almoçarmos juntas, recusei, afinal já tinhamos passado horas demais juntas. Era suficiente para um dia. O dia em que eu estava de mal humor e acabei esquecendo os problemas e focando nela que demonstrou ser alguém mais fácil de estar em companhia do que imaginei.

— Eu disse que nossa conversa enquanto bêbadas foi agradável, agora não pode negar que mesmo sóbrias nos damos bem — afirmou ela quando estava prestes a abrir a porta do carro, me fazendo sorrir.

— Tchau Venturi.

— Até breve, Brandon. Obrigada pela ajuda e pelas horas a seu lado. — Observei ela sair do carro e suspirei pensativa, sobre o quão melhor foi passar um tempo fora da agência.

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Comments

ju~

ju~

então um shippo absurdo de perfeito

2024-10-19

0

Nataly Lopes

Nataly Lopes

eu muito shipo as duas kkkk

2022-12-16

5

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