Capítulo 8 - O Mágico/Parte 2

A madrugada estendeu-se bastante para os dois, ao perceberem que as estrelas não sairiam do seu lugar, e iluminavam o céu aberto, tudo aquilo impressionava thome, enquanto para o mágico, as lembranças dos dias em que ele e a sua filha, ficavam deitados sobre o gramado do campo, após um piquenique. A fixar os seus olhos para as luminosas anãs brancas, é o momento em que ele se encontra ao lado do seu mais novo amigo, a dor da saudade começa a diminuir, e assim a noite terminava, e thome não tirava os olhos da luneta, o seu olhar era fixo aos detalhes, até que:

Mágico — Sabia que um dos últimos estágios de evolução de uma estrela é a anã branca?

Thome — Sério? Eu não sabia, interessante.

Mágica — Gosta das estrelas, não é?

Thome — Só quando elas estão mortas...

Mágico — Mas, por que só quando elas estão mortas?

Thome — Quando não se tem um valor em vida, poderá ter o brilho eterno depois que morre.

Mágico — Onde você aprendeu isso?

Thome — Observando as estrelas. Não são todas, mas, uma parte delas estão destinadas a serem lidas anãs brancas, com o preço de morrerem no último estágio de evolução.

Mágico — Mas...

Thome — Eu não sei sobre o estudo das estrelas, isso é somente algo que acredito, não precisa dar atenção a um pensamento de uma criança.

Mágico — Nossa, eu não iria-te questionar em nada, e também, é sempre bom algumas coisas não terem resposta, isso nos dá a liberdade de imaginá-las.

Thome — Perdoe-me pela forma como falei com o senhor.

Mágico — Não tem problema, eu sou grato por passar esse momento ao seu lado. Mas preciso ir descansar.

Thome — Tudo bem, eu vou ficar aqui mais um pouco, tenha uma ótima noite, senhor mágico.

O mágico de despede de thome e entra na casa, ele ao perceber isso, pega a luneta e tenta tirar a lente dela, com muita dificuldade, thome vai até à sua mochila e pega algo que poderia ser útil na remoção do objeto desejado. Após algumas tentativas, ele consegue tirar a parte da luneta, com ele em mãos, o seu objetivo era ir até à sala de estar, o lugar onde está uma das entradas do portal, sem que ninguém estivesse por perto, o seu plano foi posto em prática.

Ao chega de frente para o retrato, thome procura nos cantos do cômodo, o monóculo do mágico, que havia deixado no chão, ao encontrar o objeto, ele tenta de alguma forma, adaptar a lente da luneta no monóculo, o que certamente não seria possível, mesmo não conseguindo, ele vai até o retrato e coloca a lente da luneta no olho direito, a ver com isso uma espécie de cadeado, no meio da barreira que o espectro havia posto, para que ninguém ultrapassasse o seu limite.

E de repente, a unidade das faces autorretratadas despertam, e um dos retratos diz para thome:

(— Thome, a sua tentativa de alcançar o objetivo de ana, é um ato nobre, porém, não se esqueça que tem os seus objetivos também.)

— Vocês novamente, será que podem-me ajudar?

(— Thome... Iremos o ajudar, mas não para esse objetivo, é sim, para aquilo que procura a tanto tempo.)

— Eu não estou a entender...

[O autorretrato sem cor e com pouco contorno diz para ele]

(— Não fique confuso por não entender, do que estamos a falar, nos sabemos uma parte da sua história.)

— O quê? A minha história...

(— Por favor, thome, não perca o foco. Queremos que entenda, não somos meros rascunhos ao vento, e não existimos ao acaso, uma parte sua nos compõe.)

— Mas, isso não faz sentido... Eu acordei no meio da floresta, não tinha como eu ter contato com vocês antes.

(— Lembre-se, para podermos contar algo, precisaríamos entrar em um acordo.)

(— E decidimos ajudar-te, sobre o assunto da sua casa, através do portal— Disse o retrato sem olhos)

— Digam-me o motivo de dizerem que eu sou uma parte de vocês?

(— Isso, thome. Não depende mais de todos nós, a unidade das faces autorretratadas.)

(— Mas, o que nós podemos fazer para lhe ajudar, será feito agora— Diz o retrato sem olhos.)

A porta da entrada da casa se abre, e o portal era nítido aos olhos de thome, que não tinha visto antes, e logo após isso, um dos retratos fala:

(— A sua casa, está além do portal. O que estiver do outro lado, não sabemos, mas terá que aceitar o que encontrar.)

E então thome caminha em direção ao portal que leva para a sua tão desejada casa, tudo aquilo era inacreditável para ele, pois, nunca imaginou que encontraria o seu maior objetivo, mas um dos autorretratos diz para ele:

(— Tudo isso tem um preço thome... Só irá poder entrar no portal, e voltar para o seu lugar de onde veio, se deixar essa casa é a ana para trás...)

— O quê? Mas eu não posso voltar aqui?

(— É um caminho sem volta, thome. O destino não irá dar mais oportunidades como essa.)

Thome fica pensativo quanto ao que acabou de ouvir, tudo o que ele passou na floresta junto ao seu melhor companheiro, "os caminhos", foi para que ele no fim, chegasse ao seu destino, mas, ele aceitou o fato de ana ser a sua nova família, ter que abandoná-la sem que ao menos saiba, era algo que ele nunca faria, isso faz com que ele se veja indeciso, sobre a decisão que irá tomar.

No quarto de ana, o cosmos começa a miar no ouvido de ana, enquanto começa a andar por cima dela, isso faz com que ela acorde a querer entender o motivo dele ter a despertado no meio da madrugada, o gato logo desce da cama e vai até à porta, o seu miado dizia-lhe que o acompanhasse. Ana então segue o cosmos até a escada, ao descer devagar e ainda com sono, ela vê o gato a ir à perna de thome e se esfregar nele, que percebe ana no degrau, e ela percebe o portal aberto na estrada da porta.

Em segundos, ambos começam a pensar sobre o cenário em que se encontrava, a cada descida do degrau da escada, ana podia ver com mais calma e certeza, que era realmente aquilo que estava a acontecer, thome em poucas palavras, resume a ela sobre o que aconteceu nos últimos minutos, e agradeceu ao cosmos, por ter a chamado até a sala de estar, para que aquela decisão não fosse tomada somente por ele, já que eles se amavam como verdadeiros irmãos, e melhores amigos.

Ana volta o seu olhar para os retratos, mas eles já não mais estavam despertados, e no autorretrato no meio, que estava pintado uma garota e uma sombra escura atrás dela, destacou um detalhe que ela percebeu ao longe. Os olhos da menina do quadro começa a derramar lágrimas, mesmo que isso não seja possível, nada mais era oculto para ela, perguntas precisavam ser respondidas, algumas coisas precisavam ser resolvidas, e para os dois, uma delas seria, mostrada por diante.

Thome arrisca dar dois passos para a frente, mas ana sabia algo que ele poderia ter esquecido, com o discurso que acabou de ouvir, isso a faz ir até ele e o segurar, para que não avance sem que tenha uma última conversa, ela queria de alguma forma o convencer, só não sabia como fazer isso.

— Thome, por favor, não vá até o portal, sem ao menos saber se o que eles disseram é verdade.

— Tem como provar-me o contrário, ana?

— Não, mas acredito que tenha esquecido do que lhe falei a tempos atrás, que havia um portal na entrada da casa que levava para uma floresta e casa, muito diferente da nossa, toda velha e com aspecto sombrio.

— O mesmo portal que somente você podia entrar? Talvez seja diferente, talvez esse seja o verdadeiro portal.

— Isso pode não ser real, afinal, eu sei o que vi, e até onde nós sabemos, não tem como um portal mudar repentinamente, se esse fosse o caso, o espectro não teria colocado uma barreira no portal do quadro na parede.

— Independente dos fatos, eu tenho que arriscar.

— Thome, por favor, não faça isso...

— Me solta! Me solta. Deixa eu voltar para a casa.

— Não existe nenhuma casa...

— Existe sim! Por que está a falar essas coisas!? Eu acreditei que quisesse que eu conquistasse o meu objetivo, mas quando finalmente aparece, o que eu acreditava é posto em dúvidas.

— Pense o que quiser, thome. Só não pense que irá ir até aquele portal, enquanto eu fico aqui, só para me despedir, como se eu quisesse isso. Foi você mesmo quem disse que não terá mais volta, o que me faz pensar que querem de um jeito ou de outro, fazer com que eu me separe de você... por que somente você não percebe isso? Eu sei o que passou, eu entendo o seu sofrimento...

— Você não entende o meu sofrimento!— Diz thome, com os seus olhos a ficar de cor preta.— Não sabe o como é lá fora ana, em algum momento já parou para pensar, sobre quem é a sua família, sobre como veio parar aqui, sozinha?

— Não...

— Pois eu pensava todas as vezes, em que me encontrava no meio da floresta, queria poder ter por perto quem eu acreditei ser a minha família. Ana, se estivesse no meu lugar, se tivesse crescido com a mesma esperança que eu, e o objetivo de voltar para a casa, qual seria a sua decisão nesse momento?

Ana fica sem respostas, mesmo a entender os motivos pelo qual thome agiu daquela maneira, e como o coração dele não conseguia expressar tudo o que sentia naquele momento, ele não podia ir, não agora, pensava ela, pois, uma parte dela estava nele, e uma parte dele estava nela. E não saberem o que irá acontecer se ambos se separasse, só fez com que demorasse cada vez mais, até que thome em lágrimas, prossegue nos seus passos em frente, ele sentia que tinha que ir o quanto antes, que precisava deixá-la, mas...

Os seus passos foram interrompidos por ana, ao abraçá-lo com força por trás, a dizer em lágrimas:

— Por favor, thome. Não vá, não me deixe. Eu não posso continuar sem você, eu preciso de você, irmão... Eu amo-te, meu irmão...

Ao ouvir essas palavras, thome tem uma epifania, metade do seu corpo e coberto por uma fina e brilhante camada de cristal, "os caminhos", o seu maior companheiro junta-se ao seu corpo, e logo ao fazer isso, ele escuta na sua mente a voz da ave, e os dois tem uma conversa:

(— Thome, sabe que precisa seguir em frente, a sua hora chegou, e não há nada o que eu possa fazer, apenas, se despeça de ana.)

— Mas, eu não posso... Eu não posso deixá-la. Será que não tem outra escolha?

(— Não existe outra escolha, apenas um preço.)

— Qual seria esse preço?

(— Não posso deixar que isso aconteça, thome.)

— O que não pode deixar? Por favor, diga-me. Eu nunca vou-me esquecer de tudo o que fez por mim, e os momentos em que passou do meu lado, talvez chegou a hora de tudo mudar.

(— Eu sabia que essa hora iria chegar.)

— Se realmente sabe, que tudo entre nós, entre a ana e toda a história irá mudar, então por favor, meu amigo e companheiro, não esconda tudo o que eu preciso saber, essa decisão precisa ser feita por mim.

(— Está bem, thome. O preço de não seguir o seu caminho para o portal, mudar de uma vez a sua história, será a morte...)

— Então... Se eu ficar com a ana, e não voltar para a casa, o meu destino será a morte...

(— Eu não quero isso para você, thome. Agora que sabe a verdade, conte a ana e assim, ela irá entender os seus motivos de partir.)

— Eu não sei o que fazer... Mas, os caminhos...

(— Diga, amigo thome.)

— Independente da minha decisão, por favor, não me deixe...

(— Eu nunca o abandonaria, ficarei ao seu lado, até o último momento...)

Thome recobra a consciência, ainda de pé e com ana agarrada na sua costa, a falar para ele:

— Eu sei o quanto quer voltar para a casa, para a sua família, e viver feliz ao lado deles. E não, eu não entendo o seu sofrimento, por que eu nunca saio dessa casa, eu sempre tive alimento e um refúgio para ficar, tudo, enquanto você estava a lutar para sobreviver em meio ao frio e a noite... Mas se hoje estou a lutar para que não me deixe, e poder-te chamar de irmão, é pelo fato de eu e você não termos uma vida de verdade, ainda que haja alegria e momentos bons juntos, ainda que a diferença de situação seja notável, não temos a vida, apenas existimos nessa realidade, isso foi-nos imposto, para ser aceito sem questionar.

— Ana, eu...—Tenta dizer thome, a ser logo em seguida interrompido.

— Lembra do que disse sobre a existência? Que ela é mais importante que a vida, pois, ainda que nós não tenhamos essa vida, ainda temos uma existência que importa, com a qual nem mesmo a morte poderá tirar das memórias, o que faz respirar... Sentir... Ainda que você não tenha vida, thome, assim como eu, a sua existência e muito importante, é o que me faz continuar a ter força e coragem que escondia dentro de mim, o que me fez encontrar o meu objetivo e lutar para eu conseguir...

Após ana dizer isso, o portal fecha-se lentamente na entrada, e thome decide ficar ao lado de ana, "os caminhos" volta a sua forma de pássaro, a ficar ao seu lado, e então o quadro principal da casa, onde está a menina, para de derramar as lágrimas, enquanto a lente da luneta que ficou no chão, começa a brilhar atrás deles, ao perceber, ela pergunta:

— Thome, o que é isso?

— É a lente da luneta que encontramos no baú, eu descobri algo sobre esse objeto.

— O que descobriu?

— Essa lente pode fazer com que eu veja o que está na barreira, que não dá para ver com os nossos olhos.

— Isso é bom, assim podemos saber qual será a forma certa de desfazer esse portal.

— Na verdade, não esse portal. Tem um cadeado que não é visível, mas está aí, significa que não tem como desfazer, não de forma simples.

— Mas, esse não é a única barreira, existe a que ainda está no livro, talvez não tenha esse detalhe.

— Tem razão, mesmo que o espectro tenha posto essa barreira, ela não é tão importante quanto o quadro, talvez não tenha esse detalhe mesmo.

— Vamos para o meu quarto, descobrir.

Ana e thome sobem a escada, em direção ao seu quarto, e "os caminhos" permanece no ombro dele, ao subirem eles percebem o mágico sentado no chão, do cômodo onde fica o porão, que ao ver as duas crianças junta, o homem se levanta com uma pequena caixa na mão, e outra deixada no chão, ele sorrir a chamar eles para perto, que resolveram se aproximar a saber o que ele queria, então o mesmo diz para eles:

Mágico — Crianças, que bom que estão aqui. Eu já preparei o presente de vocês, está aqui.

Ana — Agradecemos a gentileza, mas, estamos ocupados agora.

Mágico — Ah por favor, não faça desfeita. Pegue.

Thome — Não estamos a fazer desfeita do seu presente, senhor mágico. Apenas iremos abrir os nossos presentes mais tarde.

Mágico — Bem, eu irei antes do amanhecer, não ficarei por muito tempo, e já que vocês não estão a dormir, eu queria aproveitar para entregar os presentes que fiz com carinho, e ver abrirem.

Ana — Nós entendemos, mas temos algo mais importante a fazer agora.

Mágico — Vocês não entenderam, vocês têm que abrir esses presentes!

Thome — Ana, se afasta, ele está a agir estranho.

O mágico então abre a caixinha, e algo sai como uma fumaça roxa, e antes de thome e ana verem o que era, "Os caminhos" voa em direção a esse algo e o dilacera no mesmo instante a sumir logo em seguida, então ana grita:

Ana — Quem é você, e qual é a sua intenção!?

Mágico — Muito bem! eu vou contar. Essa caixa tinha um dos meus truques, que faz com que mude a essência de quem é atingido. Você ana, se parece muito com ela, a minha filha, vocês não entendem o que é perder alguém que ama... E eu já não posso mais suportar esse vazio que carrego, por isso, eu estou aqui, você ana é uma garota ideal para substituir a minha pequena filha, mas, ainda tem muitas coisas negativas na sua essência, com as quais eu pretendo mudar, para que eu possa a levar comigo, para a casa...

Thome — Você é um louco!

Mágico — Irei levar você ana, querendo ou não.

Então o mágico pega a sua varinha a apontar na direção dela, e então faz com que o objeto venha a se estender e enrolar, como uma serpente, de repente o cosmos pula na varinha e arranca dela, que junto a thome corre para dentro do quarto, a se trancarem dentro, com o gato junto, logo após isso, o mágico faz com que a sua cartola passe pela fresta debaixo da porta e cresça de maneira que sugue thome para dentro, e, além disso, da cartola aparece mãos com luvas para agarrá-lo e garantir que ele seja sugado, mas o cosmos se transforma num felino ainda maior e ataca o objeto a fim de destrui-lo.

A porta do quarto dela começa a sumir, e então o mágico consegue agarrar ana pelo vestido com força, enquanto ela se debate a gritar por socorro e ser puxada para próximo dele, num descuido próximo da escada, ana escorrega no degrau e cai a ter o seu vestido rasgado por ele, que ainda estava a segurar, ao chegar em baixo, ela teve alguns ferimentos leves, mas o seu braço ficou muito machucado, tanto que ela começa a chorar de dor, o que fez ele descer com pressa para socorrê-la, pois, não queria que isso viesse a acontecer.

E então um som de batida do coração, os olhos a abrir em meio a escuridão, o espectro desperta do seu efêmero pessoal a ir até onde ana estava, ao chegar com rapidez, um impulso semelhante ao um punho do vento, joga o mágico na parede da sala de estar, ana não consegue dizer nada devido à dor que sente em seu corpo. E logo ao pôr-se de joelhos no chão, e tentar explicar algo para se justificar, o espectro aparece ao seu lado, quando o mágico olha para ele, recebe um golpe de poder que faz um buraco em seu rosto, a espirrar sangue por todos os lados do cômodo.

O espectro mata o mágico na hora, e faz tudo isso em silêncio, enquanto ana fica sem reação, diante do cenário sangrento aos seus olhos, e a cartola dele é despedaçada pelo cosmos, o que faz thome se soltar e sair do quarto rapidamente, a encontra no centro do cômodo onde fica o porão, a caixinha restante que ele havia deixado lá, além disso, ele também observa a janela e percebe que o amanhecer chegou...

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