A sua primeira reação deveria ter sido muito menos complexa que aquela, parada como uma estátua diante dele. Todo o seu corpo estava entrando em colapso, tanto de medo quando de aflição. Teve que engolir um completo "nada" impregnado na garganta.
Os seus olhos cambalearam dos lábios daquele homem e desceram para o pescoço, ressaltado pelos nervos físicos, depois a sua visão desceu dos seus ombros, coberto pelo pano branco da sua t-shirt social, e parou nas suas mãos. Sol amava mãos, mãos de homens e a sua rigidez máscula, e as mãos deles eram perfeitamente iguais as dos seus sonhos. Grandes, com dedos grossos, unhas bem-feitas, veias pulsantes sobre a sua pele.
"Tenso", não tinha palavra para descrever aquele momento tão devastador e prazeroso para ela. O que era novo, pois jamais havia sentido prazer em toda a sua vida.
— Solare Campos. — Ele sussurrou, encarando-a com uma tremenda intensidade. — Sr. Miles a perturbou mais uma vez?
Ela negou, sem saber o que falar.
— Estou comprando o Ravioli, decidi esta manhã. Talvez não veja mais Jacobi Miles. — Falou, astuto. Sol prestou atenção. — Devo-lhe um emprego, Solare Campos.
— Você deve. — Ela cochichou.
Por um impulso, foi o que ela disse e assim que percebeu os olhos do homem fixo nela, o seu corpo inteiro entrou em combustão.
— Posso trabalhar como a sua secretária, Sr. Alexandre. A minha amiga disse que ainda estão precisando e eu agradeceria muito se você... digo, o senhor... pudesse contratar-me.
— Bom, eu...
— Eu sou eficiente em tudo, senhor. Eu tenho um filho de quatro anos, e trabalhar seria mais que uma obrigação para mim. Eu faço horas extras, limpo se precisar. Preciso muito de um emprego, muito mesmo. — Começou a dizer e ele prestou atenção. — Venho de manhã e posso ir embora a noite, se preferir... eu... faço qualquer coisa aqui.
— Interessante. — Ele desencostou-se da mesa. — Como você é uma bela mulher que adora conversar, como posso ver, quero propor-lhe um negócio.
Sol arregalou os olhos, com medo.
— Depois diz que Jacobi Miles é um imprestável. O senhor é do mesmo jeito. Como pode acreditar que posso chegar a esse ponto? Me chamando "bela", destruindo o meu emprego. O que quer que eu faça? H-hum? Diga.
O homem calou-se, perturbado pela reação dela e abriu um sorriso, elegante. Sol ficou ainda mais brava, com medo e assustada.
— A sua histeria é compreensível, Sra. Campos. — Ele enfiou as duas mãos no bolso. — A minha proposta não tem nada a ver com o que você está pensando, muito pelo contrário, quero que finja que me conhece muito mais tempo do que três dias.
Sol ficou em silêncio.
Tentou pensar no que ele poderia estar falando, mas nada incoerente tornou-se compreendido.
— Não estou entendendo. Como assim?
— Simples, quero que finja para toda a minha família de que nos conhecemos há quatro anos. — Ele começou. — Quero que diga a eles que tivemos um romance, passageiro, e que agora nós reencontramos e apaixonemo-nos perdidamente...
— Espera... espera... — Ela passou a mão na cabeça, totalmente confusa. — E a sua namorada? Isso é loucura, que droga de negócio é esse?
— Ela seria uma boa candidata, admito, mas ela está apaixonada por mim de verdade e não posso tolerar esse tipo de sentimento. — Ele contou e ela estreitou os olhos. — Você preenche todos as minhas especificações. É a candidata perfeita.
— Isso é loucura... eu ainda não estou entendendo nada... eu...
— Quero que finja que estamos juntos para a minha família, que tivemos um romance há quatro anos e isso gerou um filho. Quero que se case comigo.
— O quê? Caio? Está louco? — Ela ficou nervosa. — Não vou colocar o meu filho no meio dessa palhaçada. Está o quê? Entediado? É isso?
Ele riu.
— O meu pai pretende dar a empresa para o primeiro neto da família. Só me dará a empresa se eu tiver um herdeiro.
— E, porque não se casa e tem um filho? — Ela passou a mão no vestido.
Ele prestou atenção.
— É exatamente isso que quero com você. Se não fui claro o bastante, eu tenho um irmão mais velho, que está disposto a fazer de tudo para herdar toda a H.A., não posso permitir esse ultraje com a empresa que fiz de tudo a minha vida inteira para pôr nos eixos.
— Então, tudo isso é por capricho?
— Não. Heitor Alexandre não se importa com a empresa, apenas com os lucros que ela o oferece. — Ele explicou. — Não posso permitir isso.
Sol respirou fundo.
— Você é maluco se acreditou que por um segundo eu fosse aceitar uma coisa dessas. Isso é crime! Falsidade ideológica...
— Não será se casar comigo no papel. — Ele falou e ela arregalou os olhos. — Te darei um tempo para pensar, hoje se for necessário.
— Por que me escolheu para isso? — Ela perguntou e ele permaneceu em silêncio. — A minha resposta é "não".
O seu celular começou a tocar no bolso e ele assentiu, para ela poder atender. Caminhou para o canto da sala e virou as costas para o homem.
Na sua frente, um enorme vidro transparente, dando-a a visão completa e perfeita de São Paulo. Os prédios alinhados, as casas paralelas, mansões e milhares de carros nas ruas. Sol soltou um suspiro e atendeu, rapidamente.
— Oi! Amiga. — Elisa começou a dizer, ouvindo a gritaria do outro lado.
— Onde você está? Que gritos são esses? Onde está Caio?
Ficou preocupada, enquanto Alexandre prestava atenção na sua voz e de cabeça baixa.
— Teve um menino, aqui na rua, eu desci para brincar com ele e o menino jogou uma pedra no carro da frente. Todos os maricas, sabe...
— O que houve?
— O menino idiota, disse que foi Caio que jogou. Sol, amassou e arranhou o carro do homem...
— Viu se foi ele mesmo? — Sol perguntou, preocupada. — Meu Deus!
— Não foi, mas você sabe em quem irão acreditar. Oh, amiga, o conserto não será barato... eu posso ajudar, falar com o dono...
Sol parou de ouvir e desceu o celular para a pequena bolsa de lado, abaixando os olhos e tentando sugar todo o oxigênio possível. Os seus dedos estavam tensos, eufóricos e rígidos.
Não foi a primeira vez que aquilo aconteceu com o filho, seno acusado por algo que não teve culpa, mas quem eram eles para negar? Até quando seguiria a sua vida se o mundo não era compatível com ela?
Virou o rosto na direção do homem, que também estava virado para ela. Não saberia lidar com o que poderia acontecer depois daquele dia, mas faria o possível para que a sua vida mudasse para sempre. Ele era um homem com muito dinheiro, ajudaria a vida dela e não se preocuparia com mais nada.
Ela só precisava esperar que o pai daquele homem assinasse os papéis da empresa e se livraria daquele caos.
— Quanto está disposto a me pagar mensalmente? — Sol perguntou.
O homem ergueu-se rapidamente, na direção dela.
— Vinte mil reais todo o mês, um carro, um apartamento...
— Quero cinquenta mil reais. Todo o mês. — Ele abriu um sorriso, caminhando na direção dela. — Isso ou passo por aquela porta e não me verá mais.
Ele ergueu as sobrancelhas, surpreso com a determinação daquela jovem. Observou o cabelo ondulado sobre os ombros dela e depois ergueu os olhos na sua direção, ainda surpreso.
Levantou a mão direita, disposto a pagar o que ela propôs, então ela agarrou-o.
— Pode me chamar de Hales, daqui para frente.
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Atualizado até capítulo 69
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