20 • Cell

Jóias, dinheiro, maridos e eventos eram os assuntos que aquelas mulheres mais comentavam enquanto o chá fumegava em suas xícaras.

Cinco peruas além de Verônica que parece ser a mais jovem entre elas.

Inicialmente fui muito elogiada pelo par de brincos e colar que uso, logo depois começaram a comentar sobre a matéria na revista, o atentado a Alexa e seguiram por diversos assuntos.

Se elas achavam o casamento entre duas mulheres uma absurdo — assim como aquela senhora do prédio onde Hazel foi esfaqueada — eu jamais saberia, pois nenhuma alí me parecia sincera o suficiente. Claramente queriam apenas estar perto de quem tinha fama e poder.

Percebi que Verônica conversava pouco, mas muito observava. Ela tinha chegado com dois seguranças que ficaram lá fora e pareciam ser o motivo do desconforto. Em determinado momento notei que enquanto tomava seu chá, parecia muito concentrada em outra coisa e segui seu olhar até um garçom servindo as mesas na outra área.

— Katherine não faria isso, ela acabou de casar. Não é mesmo? — Ouvi uma delas falar e as outras riram.

— Mas quem nunca aventurou-se com um belo amante, mesmo nos primeiros anos de casada? Agora somos senhoras e paramos de brincar, mas todas sabemos sobre as amantes de nossos maridos — diz a mulher chamada Judith, casada com um empresário do ramo cervejeiro.

— Quem tem sorte é Eleanor, pois Sebastian nem sai de casa. Como poderia traí-la? — Ri a outra.

— Nunca se sabe. — A voz de Verônica chama a atenção de todas. — Homens sempre dão um jeito.

— Desde que a primeira esposa morreu...

Paro de ouvir o que elas dizem quando Verônica levantou e segue para o banheiro, sempre olhando ao redor, provavelmente a procura do garçom. Já me preparo para levantar quando uma frase chama minha atenção.

— O governador Watson é tão controlador que mantém seguranças em torno até mesmo da amante — cochicha Judith referindo-se a Verônica.

Após receber aquela informação valiosa vou direto ao banheiro onde ao entrar avisto Verônica que retira da bolsa o batom e me olha através do espelho.

—  Você tem bom gosto, ele é bonito — falo abrindo minha bolsa, fingindo não encontrar o que procuro.

— Não sei do quê está falando. — Me entrega o batom dela.

— Eu soube que ele gosta de mulheres mais velhas. — Encaro meu reflexo no espelho dizendo a mim mesma que posso fazer isso. Logo depois meus olhos encontram os dela que parece intrigada.

— Tenho capacidade de conseguir sozinha — afirma se encostando na pia a meu lado sem tirar os olhos de mim.

— Com aqueles seguranças na porta do restaurante? Você não parece tão confiante... — Verônica sorri.

Assim que viro para ela sou pega por sua aproximação, me encarando de forma intimidadora.

— Tudo bem, caso consiga que eu me encontre com aquele rapaz de forma discreta, ficarei te devendo uma, mas se eu for descoberta será você quem estará em dívida. — Ela segura meu queixo entre o polegar e o indicador e aproxima a boca da minha me fazendo engolir em seco, mas para a poucos centímetros. — Saiba que cobro um preço bem alto.

Se afasta com um sorriso.

— Fechado. — Procuro passar aquela segurança que eu não tenho, mas preciso.

Verônica me dá mais uma encarada e sai do banheiro. Sinto o ar um pouco menos pesado, permitindo que possa respirar. Me encosto na pia vendo em minha mão o batom e suspiro me perguntando onde estou me metendo.

Antes de sair vasculho minha bolsa onde encontro um cartão qualquer e também uma caneta, risco o nome e número e do outro lado escrevo o meu. Logo depois saio do banheiro passando os olhos pelo restaurante a procura do garçom, até de repente esbarrar nele.

— P-perdão, senhorita.

— Tudo bem, era você mesmo quem eu procurava. — Faço a minha melhor pose de Katherine com nariz empinado. — Tenho uma amiga que gostaria de conhecê-lo melhor, mas é algo perigoso e requer muita descrição.

— Uma amiga? — Ele observa ao redor e seus olhos encontram a mesa do outro lado onde estão as senhoras. — Verônica Martino? — Seus olhos se arregalam mais ainda ao constatar.

— Caso tenha interesse... — Coloco o cartão dentro do pequeno bolso do avental dele e saio.

Quando me aproximo da mesa as mulheres estão eufóricas, como se tivessem acabado de presenciar a cena de um filme quentíssimo e para minha grande surpresa a estrela desse filme sou eu.

— Você é das minhas! Rápida, decidida e com bom gosto — afirma Judith e minha boca se escancara em espanto.

— Viram como eu tinha razão? — diz a outra para as amigas. — Muito melhor quando Eleanor não vem, ela costuma ameaçar contar nossos segredos, mas veja só a nora, torna as coisas muito mais interessantes.

Estou sem dúvidas horrorizada.

No dia seguinte deixo para descer mais tarde e tomo café na cozinha conversando com Lydia, aproveitando para pedir que ela ligue para a secretária de Verônica fazendo um convite em meu nome para o evento na fundação. Quando volto a subir, ao abrir a porta do quarto me deparo com o cômodo todo revirado. Alexa está sentada no sofá, ao seu lado uma de minhas bolsas com tudo que havia dentro espalhado, em sua mão está o celular que eu tinha esquecido alí.

Paro, não conseguindo dar uma passo para frente ou para trás. Ela está ofegante, seu olhar que antes parecia perdido se fixa em mim e engulo em seco.

— Por quê? — pergunta e sinto minha garganta fechar. — Quem é você, Katherine? — grita ficando de pé, se aproximando.

— D-desculpa, eu... — Ela segura meus ombros.

— Permiti que se aproximasse e você me apunhalou novamente! — Fecho os olhos me amaldiçoando, sem nada dizer, permitindo que ela descarregue toda a raiva. — Por quê? — grita novamente. — O que você quer de mim? — Permaneço com os olhos fechados e a porta é aberta tão repentinamente que mal abro os olhos e Alexa já estava sendo empurrada para longe por Emily. — Fica fora disso! — aponta para a outra que dá um tapa na mão dela.

— Converse com ela ao invés de ficar gritando desse jeito!

— Foi você também? Vai dizer que foi você quem mandou ela pegar meu celular e esconder o fato de Hazel estar morrendo no hospital?

— Eu também sabia sobre isso. E aí? Venha, descarregue sua raiva! — provoca Emily abrindo os braços. — Você não vem porque quer descarregar suas frustrações encima dela. Assuma de uma vez a droga dos seus sentimentos.

Ainda estou absorvendo a situação, me perguntando como pude ser tão burra a ponto de esquecer o celular dela em minha bolsa. Só então lembro também do relógio e quero me bater diante de tanta burrice.

— Emily, obrigada por me defender, mas você não tem que fazer isso sempre. — falo e ela vira para me encarar, em seguida sai.

Alexa me encara, mas eu apenas dou as costas a ela e também saio. Não ia ficar me explicando. As coisas aconteceram daquela forma e ponto.

— Emily? — chamo quando ela já abre a porta do próprio quarto.

— Por que não posso te defender? — indaga se voltando para mim.

— Porque eu não quero — respondo tentando manter a calma, mas está difícil ao imaginar como será daqui pra frente.

— Você podia ter se metido em problemas por causa dela ao ir até até lá! 

— Ela não sabe exatamente o que aconteceu... — Emily passa a mão pelos cabelos e logo em seguida aponta para o corredor.

— Ok, vai lá! — Arqueio as sobrancelhas notando que pela primeira vez vejo ela realmente chateada.

— Você vai ficar com raiva de mim agora?

— Quer que eu fique como?

— Eu não sou ela, Emily! Eu não sou a... — Ela trás a mão até minha boca impedindo que continue.

— Realmente acha que tenho te ajudado porque me lembra ela? Ou que eu tenha algum sentimento por você? Foi ela quem eu amei e miseravelmente percebi que ainda amo. Então pode ficar em paz, pois não quero nada com você! — Ela se afasta e bate a porta do quarto com força.

Quando volto para o quarto olho na direção do segundo andar não vendo sinal de Alexa, mas ao ouvir um barulho vindo do closet encontro ela jogando várias peças de roupas dentro de uma mala e a cena me deixa em pânico.

— O quê está fazendo? — pergunto, mesmo sendo óbvio.

— Por que você está fazendo isso comigo, hã? — indaga, parando o que faz. — Me responde! Por que você me apunhala e depois me beija? Me faz desejar tê-la a meu lado e logo depois me engana? Por que me deixa em dúvida sobre os meus sentimentos quando os seus nunca existiram?

Suas palavras se chocaram contra mim e fecho os olhos não sabendo o que dizer, mas preciso se não quiser ficar sozinha e ser descartada por todos como uma peça imprestável naquele maldito jogo.

Eu só teria algum valor para as pessoas se mantesse minha ligação com ela e a família, minha existência dependia dela, mas além disso eu não queria perdê-la de vista.

Aqueles dias em que afastou-se já tinham sido ruins o suficiente para imaginar o quão estranho seria não me ver mais como sua esposa — mesmo que de fachada. Não ouvir seus passos no andar superior, ou sentir o cheiro de seu perfume pelo quarto durante as manhãs. Não tê-la sentado a meu lado durante o café e não existir mais qualquer possibilidade de passarmos momentos como aqueles no Rockefeller.

— Infelizmente não tenho resposta para todas as suas perguntas. Eu quero que faça o que é certo para você, mas ainda assim não quero que vá embora.

— Então ficar não é o certo? Você não tem ou não quer me dar respostas? Seja sincera comigo ao menos uma vez. Apenas isso. Mas caso não seja possível então me deixe ir, pois não quero ficar presa a uma paixão que me fará ainda mais infeliz. Não quero ficar e me envolver em uma mentira, deixando machucada alguém que realmente me ama.

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Comments

Rosinalva Dutra

Rosinalva Dutra

contar tudo

2024-04-15

0

Rosinalva Dutra

Rosinalva Dutra

ela devia dizer a ele

2024-04-15

0

Sammy

Sammy

FALA A VERDADE PRA ELA, MULHEEEEEEEERR!

2022-11-30

4

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