13 • Gift

A vida é realmente uma caixinha de surpresas e quando você se aproxima da família Vielmont essas surpresas se tornam cada vez mais frequentes e assustadoras.

O breve momento de tensão em que eu encarei Alexa — desejando perguntar o quê exatamente ela ouviu — foi interrompido pelo vibrar de meu celular dentro da bolsa que está sobre a poltrona.

Rapidamente levanto indo pegar o aparelho e vejo que é Emily ligando para falar com a irmã.

Enquanto as duas conversam posso entender do quê se tratava ao ouvir Alexa falando que o culpado foi pego.

Ansiosa, nervosa e angustiada, é pouco para descrever como me sinto nesse momento. Com certeza aquela pessoa não era o verdadeiro culpado, e sim alguém contratado para fazer o trabalho sujo, mas se chegasse a entrega-lo, poderia ser minha libertação ou o meu fim.

Alexa me devolveu o aparelho afirmando que posso ir embora já que não há mais riscos e que ela ficará bem sozinha.

Como se eu estivesse aqui para garantir sua segurança.

O que eu não esperava ouvir era que o filho daquela senhora dona do restaurante que conheci no dia anterior, era o culpado.

— Está claro que a mulher desejou se vingar por ter sido despejada e mandou o filho fazer aquilo — dizia Alexa quando me recusei a acreditar.

— Não pode ser! Aquela mulher não faria uma coisa dessas — afirmo já pegando minha bolsa e saindo sem dizer mais nada, mesmo ouvindo ela perguntando para onde vou.

Ligo para Emily na intenção de saber em qual delegacia aquelas pessoas estão e sigo até lá me perguntando se aquilo é verdade, não sabendo mais no quê acreditar.

Quando chego encontro a mulher saindo da sala de interrogatório, parece abatida e seu olhar entristecido é o mesmo de quando entrei naquela cozinha no dia anterior.

— Dona Anastácia... — Me faltam palavras, mesmo querendo dizer alguma coisa, não há nada que eu tenha coragem de pronunciar nesse momento.

— Katherine, o que faz aqui? — pergunta Emily se aproximando e a mulher baixa a cabeça passando por mim.

— O que vai acontecer com ela? — pergunto preocupada.

— Será liberada. O filho acabou de confessar que aceitou estragar a inauguração. Segundo ele para dar um susto em Alexa a mando de alguém que promeu conseguir o restaurante da mãe de volta, mas segue afirmando que não sabe quem é essa pessoa — explica. — Como já tem passagem pela polícia e...

Não ouvi mais o que ela diz, não consigo processar nada devido o fato de que o celular em minha mão vibra e no visor está uma mensagem do número de Katherine. Peço licença me afastando dela e de qualquer outra pessoa para abrir a mensagem.

"Espero que tenha entendido o recado. Não pense que evitar seguir minhas ordens irá facilitar as coisas para você. Se não dançar conforme minha música, pessoas a seu redor começarão a cair e você não vai demorar a você ser o alvo."

Fecho os olhos me encostando na parede tentando não deixar que o medo me domine nesse momento.

Tem de haver uma saída. Não é possível que ficarei presa a essa situação para sempre. Eu vou descobrir um jeito, mesmo que no fundo pense ser impossível, mesmo que minha vontade de desistir de tudo e fugir fale alto nesse momento.

Nunca me considerei uma mulher forte, pelo contrário, sempre fui convarde demais. O maior desafio que encarei foi me mudar sozinha para Nova York e não acho que me sai muito bem. Quando me vi realmente sozinha percebendo que era de fato uma adulta tendo que cuidar de mim mesma, me senti como um feto que foi cuspido do ventre da mãe, não sabendo onde encontrar a fonte para minha sobrevivência dalí pra frente.

Nada daquilo tinha me preparado para passar pela situação em que me encontro, mas não significa que não posso conseguir.

Ao contrário de todas as outras vezes em que fiquei assustada demais para enviar uma mensagem para aquele número, dessa vez respondo perguntando o motivo de tudo aquilo e o quê aquela pessoa espera conseguir, mas antes que eu tenha uma resposta Emily chama minha atenção se oferecendo para me levar embora. Eu recuso porque pretendo voltar ao hospital. Ela claramente precisa descansar, no rosto está estampado que não dormiu quase nada naquela noite em que provavelmente ficou em claro focada na busca pela pessoa responsável pelo atentado a Alexa.

Antes de sair procuro Anastácia e mesmo com minha cabeça cheia tento confortá-la. Ver aquela mulher perder o negócio que era seu sustento e até mesmo o filho devido a ganância de outras pessoas é de partir o coração.

...***...

O último lugar no mundo onde eu quero ir é a casa dos Vielmont, não naquele dia em que Eloise desejava me levar para sabe Deus onde. Esperava que pelo menos Alexa não comentasse sobre o que ouviu, pois eu preferia não saber exatamente o quê ela ouviu.

Mesmo que eu fosse amante de Eloise, seria um problema meu, não é mesmo? É o que digo a mim mesma enquanto caminho pelo corredor do hospital.

Quando abro a porta do quarto meu coração quase pula de meu peito ao ver justamente Eloise.

— Onde você estava? Saiu feito uma louca, nem pagou a enfermeira — fala Alexa, alheia a nervosismo. — Mas não se preocupe, a Eloise já quitou sua dívida. Pelo que vejo ela gosta muito de você.

Não sou capaz de decifrar seu olhar devido a meu nervosismo nesse momento, mas suas palavras deixam claro que sabe mais do que eu gostaria.

— Não exagere. — Eloise dá um sorriso. — Mesmo que o casamento de vocês seja fachada considero Katherine minha cunhada, nada mais justo que ajudá-la no que for preciso. Por isso mesmo estou aqui, vim buscá-la para irmos olhar o imóvel que deseja vender, lembra? — Arqueio as sobrancelhas, de início não entendendo a quê ela se refere, mas então percebo que é uma desculpa para me tirar do hospital.

— E-u preciso ficar...

— Não precisa não — afirma Alexa.

No mesmo momento a porta é aberta e usando roupa de enfermeira Hazel entra carregando uma badeja com um copo d'água. Ela me encara brevemente, então sorri se aproximando da cama.

— Já tenho alguém que cuide de mim.

Bufo incrédula encarando as duas. A situação em que me encontro quase faz o pingo de sanidade que ainda me resta ir para o ralo. Preciso respirar fundo para não enlouquecer diante de Eloise que está louca para me arrastar até algum lugar desconhecido e Alexa que ignora o fato de eu ser amante da irmã casada, para ficar sozinha com Hazel.

Eu quero gritar dizendo que tudo isso está errado, que meu lugar é ao lado dela e Hazel deve sair, se não quiser se machucar. Ou até mesmo dizer que eu não sou Katherine e que nada disso tem a ver comigo. Mandar todos se ferrar e ir embora. Mas tudo o que faço é sorrir pedindo licença e entro no banheiro.

Me encosto na porta e analiso a situação buscando uma forma de sair dela, quando de repente algo me vem em mente, ou melhor, alguém.

Ligo para casa e peço para falar com Eleanor. Com muita falta de vergonha na cara e o desejo de criar uma situação que me impeça de sair com Eloise, conto sobre Hazel, mesmo sabendo que a mulher me chamaria de incompetente por não conseguir dar conta da garota e ainda permitir que entre no quarto ficando ao lado de Alexa.

Depois que Eleanor afirma que dará um jeito, desliga na minha cara e fico mais alguns minutos ainda, com medo de ter que atravessar a porta da rua com Eloise. O medo que tenho da Vielmont mais velha é maior que a pena que cheguei a sentir de Hazel. Era eu ou ela.

Depois de respirar fundo saio do banheiro e na mesma hora a porta do quarto é aberta. Dois dos homens que estavam lá embaixo cuidando da segurança para evitar que jornalistas subam, entram sem dizer nada indo direto até Hazel e praticamente arrastam ela para fora.

Engulo em seco olhando a cena, vendo Alexa ficar enlouquecida diante da garota que tenta resistir ao ser levada. Ela tira o soro que estava no braço e começa a levantar exigindo que soltem Hazel, mas corro para impedi-la.

Eu nunca tinha visto ela tão desesperada, não que conhecesse ela o suficiente para ter visto muitos de seus lados. Fica de pé mesmo que eu esteja a sua frente tentando impedi-la e consequentemente a ferida protesta. Sua expressão de dor devido ao ferimento mesclado ao desespero me faz sentir um pouco mal por ter causado tudo aquilo.

Em meio a aquela confusão eu vejo Eloise parada, apenas me olhando tentar impedir que a irmã saia feito uma louca. Por sorte, ou azar, a dor física venceu e Alexa se apoia na parede, se inclinado com a mão sobre o ferimento.

— Chame a enfermeira! — grito para Eloise que parece cogitar ficar alí parada apenas nos assistindo um pouco mais.

Por sorte não houve problema com o ferimento. Um médico veio examiná-la e após ser medicada ela adormeceu. Mas o que devia ser um alívio tornou-se assustador quando me vejo sozinha e Eloise que me chama lá fora para conversar.

— Preciso ficar — me apresso a dizer. — Eleanor me mata se por acaso Alexa sair para procurar Hazel. — Me calo ao notar o olhar dela sobre mim, parecendo me analisar enquanto pensa em alguma coisa.

— Tudo bem. — Sua resposta apesar de curta me assusta mais que uma ameaça, pois seu olhar diz que não está nada bem. — Deixamos para depois nosso passeio e o seu presente.

Franzo o cenho.

— Presente?

— Lembra de nossa última noite em Paris, quando fui te visitar e você contou sobre o casamento? — Ela faz uma pausa, provavelmente esperando que eu confirme lembrar, então coloca uma mão em meu ombro me fazendo dar um passo atrás e consequentemente me choco contra a parede. — Eu perguntei o que desejava ganhar de presente e você afirmou que algo bem caro, então prometi que te daria uma coisa que jamais imaginou ganhar antes. — Eloise solta meu ombro, enfia a mão na bolsa de onde retira o celular e após buscar alguma coisa ela sorri. — Agora finalmente encontrei o melhor presente que poderia te dar, apesar de ser algo que um dia você jogou no lixo. — Ela coloca o aparelho diante de meu rosto e no visor há a foto de uma criança, um menino que deve ter aproximadamente seis ou sete anos. — O seu filho — conclui.

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Comments

Anne Jay

Anne Jay

Mermão que plost twist é esse?

2024-05-05

0

A.G

A.G

Me socorre aqui. Como assim filho? 👀

2024-04-12

1

:)

:)

to passada chocada .

2023-01-09

2

Ver todos

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