18 • Son

Alexa pareceu estar sob um feitiço que quebrou rápido demais. Assim como na primeira vez que nos beijamos foi como se um clic em sua cabeça tivesse feito ela despertar e decidir que o melhor seria que fôssemos embora.

Depois de me beijar e confundir ainda mais minha mente, nós voltamos para casa em um silêncio perturbador. Eu queria poder saber o que havia em seus pensamentos, pois na minha cabeça não parava de rodar nosso beijo como um filme, uma cena de cinema, um CD arranhado, voltando diversas vezes e me torturando.

Confesso que cheguei a acreditar que íamos pra cama naquela noite, pois tudo indicava isso, todas as sensações antes, durante e depois do beijo.

O pior era que eu entendia e me recriminava por pensar em dormir com ela quando estava carregada de segredos e mentiras que pesavam em minhas costas. Quando sabia que ela tinha outra em no coração. Nos envolvemos apenas devido a carência, solidão e nossa busca por uma fuga de nossas infelicidades. Cada uma sendo a válvula de escape da outra.

Foram uma tarde e início de noite maravilhosos. Tão bom que me fez desejar a vida daquela forma leve e engraçada ao lado dela, mas infelizmente tudo que é bom uma hora acaba.

Quando entramos em casa subo direto para o quarto na intenção de não ver ninguém, deixando Alexa para trás conversando com Lydia ao pé da escada. Depois que entro no cômodo espero que ela entre, mas nem sinal.

Fico impaciente me perguntando onde ela está e passo quase uma hora nessa curiosidade, até sair do quarto e descer a procura de Lydia que me conta sobre ter recebido uma ligação que informava sobre alguém que Alexa conhece estar no hospital.

Não sei descrever quais meus sentimentos nesse momento. É tudo muito confuso, algo entre o certo para elas e o melhor para mim.

Perdida em meus pensamentos absurdos voltando para o quarto, avisto Emily no corredor.

— Liguei para você várias vezes. — Para a minha frente estreitando os olhos parecendo analisar meu rosto. — Hazel está viva.

— Acabei de ficar sabendo. — Não posso evitar um suspiro.

Não é que eu desejasse que ela estivesse morta, mas também não entendo o motivo de estar tão desanimada com a notícia.

— Quer beber alguma coisa? — pergunta e apenas confirmo com a cabeça. — Aqui tem um ótimo bar, sabia?

Descemos a escada rápido demais para a lentidão que esta minha mente.

Eu com certeza não conheço bem a casa, pois Emily abriu uma pequena porta e acendeu as luzes da sala onde há um bar. O balcão diante de uma imensa porta de vidro que proporciona a bela visão da piscina iluminada. Caminho até uma banqueta e sento analisando a quantidade de bebidas na prateleira.

Emily vai para o lado de dentro e escolhe um whisky sem nem me perguntar. Inicialmente colocou dois dedos da bebida em cada copo, mas depois acrescentou mais um pouco em um deles e colocou uma pedra de gelo.

— Hoje você pode beber a vontade, afinal já está em casa. — Ela pisca deslizando o copo sobre o balcão.

— O que te faz pensar que preciso beber tanto assim? — Pego o copo e após levá-lo até próximo ao nariz sentindo o aroma, podendo apreciar o real sabor da bebida, logo em seguida dou um gole.

— Está escrito em sua testa. Entendo que esteja envolvida com Alexa, vocês estão cada vez mais próximas é normal. Assim como é natural que se sinta desconfortável com a relação dela com Hazel — Fico olhando o copo entre minhas mãos, sem nada dizer. — Sorte sua que agora tem uma amante. — Sorrio confirmando e levanto o copo então brindamos.

— Por falar nisso, precisava mesmo dizer que eu estava grávida? — Ambas rimos, mas Emily se inclinou apoiando os braços no balcão, me encarando de perto.

Engulo em seco com aqueles olhos atentos me fitando como se pudessem ver minha alma. Com Emily me sinto despida, pois ela sabe mais de mim que qualquer outra pessoa.

— Eu nunca te disse isso, mas é perturbador olhar para você — confessa.

— Por quê? — Franzo o cenho sem desviar o olhar ou me afastar, por mais que ela esteja muito perto.

— Porque você me lembra ela. As vezes não sei se... — Sua voz não sai, os lábios entreabertos parecem congelados impedindo que continue a frase. Seus olhos tremem. Ela se afasta pegando o copo e toma todo o conteúdo.

— Não sabe o quê?

Frases devem ser concluídas.

— Se você é diferente ou farinha do mesmo saco. — Ela ri, mas desconfio que não é realmente aquilo que diria.

— Talvez eu esteja ficando um pouco mais parecida com ela. Esse ambiente é muito influenciável para pessoas de mente fraca feito eu — confesso.

Emily dá uma risada  e em um movimento rápido que me assusta ao pular o balcão, logo depois senta na banqueta ao lado.

— Não permita que o meu mundo corrompa sua integridade.

Coloco o cotovelo no balcão, apoiando a cabeça com a mão enquanto encaro ela.

— Como conseguiu? Eu vejo uma pessoa boa em você. Se por acaso tiver segredos ocultos assustadores do tipo um assassinato ou ordenado um sequestro, será uma grande surpresa, pois não consigo imaginá-la fazendo tais coisas.

— Sinto-me honrada por me ver com tão bons olhos, mas acredite eu não sou tão boa assim. Às más línguas me chamam de vadia Vielmont e eu costumo responder a todos os comentários ofensivos na web usando um perfil fake. Deixe-me ver o quê mais.... não costumo seguir ordens, muito menos as de meu pai, por isso sou uma filha rebelde e retardada, segundo ele. Também tenho multas suficientes para já ter perdido minha habilitação, mas dou sempre um jeitinho. Sem contar meus amigos que são bem barra pesada. Agora me diga, perdi toda a magia, não foi?

— Você vai ter que usar de algo bem mais pesado para conseguir me fazer te ver de outra maneira. — Ela me encara séria, até demais.

— Se eu pegar pesado você vai acabar saindo correndo — afirma com um ar desafiador que devolvo da mesma forma.

— Será mesmo? — arqueio uma sobrancelha parecendo certa do que estou fazendo, mas por dentro me amaldiçou por ter dito aquilo.

Devagar vejo seu rosto se aproximar do meu, ela desce o olhar para a minha boca e para com a distância de três dedos. Se eu estivesse de pé com certeza minhas pernas teriam bambeado, pois intimidada estava até a alma.

— Você não deve desafiar uma mulher quando não tem intensão de lidar com as consequências  — fala me fazendo sentir seu hálito em minha pele.

Ela sorri virando v para o balcão onde enche novamente o copo. Meu rosto está em chamas e eu quero me abanar, mas tudo que faço é tomar toda a dose de whisky de uma vez, logo depois respiro fundo buscando minha sanidade que foi pelo ralo.

— Ok, você venceu, consegue ser bem assustadora — falo dando um sorriso sem graça vendo ela encher meu corpo, em seguida me olha.

— Por isso gosto de você, não estaria nessa casa ainda se não soubesse lidar com situações que te tiram do sério. — Dá uma piscadela. — Quem te ensinou a beber? Você bebe como um homem, sabia? É preciso muito para te derrubar. Naquele dia eu me esforcei.

— Bebo como um homem? — Ri e minha atenção vai para as garrafas do outro lado do balcão. — Bebo como a mulher forte que sou. Pelo menos quando se trata de álcool, afinal aprendi com meu próprio pai. Ele era dono de um bar bem agitado e eu o ajudava com a limpeza, mas nunca era permitida a sequer cheirar as bebidas, com a promessa de que em meu aniversário de vinte e um ele iniciaria minha formação em alcoólatra. — Ri mais uma vez de minhas próprias palavras. — Papai dizia que uma pessoa que sabe beber é a melhor conhecedora de seu autocontrole, podendo lidar com qualquer situação, consciente dos próprios limites. Naquela noite que bebi com você envergonhei meu velho pai, pois esqueci completamente tudo depois daqueles shots.

Emily da uma risada confirmando.

— Fiquei curiosa sobre seu pai, gostaria de conhecê-lo.

— Ele é uma pessoa única, mamãe sabia disso e o fez fechar o bar devido o assédio que tirava seu sono. Ela nunca foi muito segura, mas acredito que ele sempre foi fiel — falo a última frase um tanto pensativa. Noto que Emily está com o braço apoiando no balcão e com o queixo na mão me olhando. — O que foi?

— Apenas gostei de te ouvir falando sobre sua família. — Suspiro, concluindo que também gostei de falar sobre eles e lembrar de onde vim, o que passei e quem realmente sou. — Vamos medir a quantidade de álcool capaz de fazê-la perder os sentidos hoje? — Ela bate no balcão levantando.

A partir daí começamos de fato a nossa bebedeira enquanto Emily me pergunta sobre meu pai e eu respondo com o maior prazer, pois é muito bom falar sobre ele.

Nos perdemos em conversas, no tempo e nas garrafas que surgem diante de meus olhos.

Foram horas e tenho a impressão de que o dia já estava quase amanhecendo quando decidi parar e subir para o quarto, quase não pisando direito nos degraus da escada.

Acordo algumas horas depois com dor na cabeça e o grito de uma criança vindo do corredor. Viro na cama e durmo novamente, até Lydia me acordar com uma sopa e remédios enviados a pedido de Emily. Pergunto sobre Alexa e depois de afirmar que ela não voltou para casa, me avisa que Sebastian está me procurando desde cedo.

Só me resta tomar banho, engolir a sopa rapidamente e descer para saber do quê se trata, mas ao chegar no escritório tenho que esperar Eloise que por algum motivo precisa estar presente.

O velho me deixa esperando sozinha no escritório, impaciente, andando de um lado para o outro sentindo meu estômago a ponto jogar a sopa de volta até os dois atravessarem a porta e o mais velho ir para trás da mesa onde abre uma gaveta e retira uma folha que joga diante de nós. Eloise pega o papel e estico o pescoço para ler aquelas letras imprimidas que me fazem arregalar os olhos em espanto.

"O quê a mídia diria se soubesse que a criança sob teto dos Vielmont é fruto de um estupro?"

Arregalou os olhos e Eloise solta a folha, o pai pega a mesma, amasa com raiva em seguida joga no rosto da filha.

Sinto meu estômago embrulhar ainda mais, não apenas devido o álcool que ingeri, mas por aquelas palavras que me causam ânsia. um nojo que não é possível descrever.

— Como pôde trazer para baixo do nosso teto uma criança que não devia sequer existir!? — esbraveja o homem.

— Essa criança tem o nosso sangue. — Eloise usa de um tom bem alto. — Ele existe graças a mim que impedi que Katherine o abortasse.

— Você... — Eu tinha certeza que o homem já teria batido nela caso não estivesse do outro lado da mesa.

— Esse menino é o futuro da nossa família. Sabe por quê? Porque o homem que escolheu para casar comigo se baseando em dinheiro, é um inútil estéril que sequer pode me dar filhos. E suas outras filhas são duas vadias que correm atrás de vagabundas por aí e jamais te darão netos. Ele é seu filho! Você o fez, contra a vontade dela, mas o fez. Então por que não posso cria-lo?

Eu já não consigo mais segurar a repulsa que sentia. Tudo que há em meu estômago sai de uma vez, diante de Sebastian e nos pés de Eloise.

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Comments

Anne Jay

Anne Jay

Caraí, tô passada que nem roupa

2024-05-05

0

Anne Jay

Anne Jay

Que isso mana?! Até eu terminar na basa

2024-05-05

0

Míope aleatória

Míope aleatória

tá porra meno /Scare//Scare/

2024-04-16

0

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