19 • Snake

Quando pensei já ter visto de tudo naquela família, eles me surpreendem da pior forma.

— Você planejou tudo isso. — Aponta Sebastian em minha direção.— Teve essa criança e agora aceitou o casamento com minha filha para se infiltrar dentro da minha casa e destruir minha família!

— Não aguento mais ficar aqui. — Eloise sai rapidamente, a ponto de também vomitar.

O velho parece disposto a não encerrar o assunto e eu não sei o que dizer.

— Vocês já estão se alto destruindo e nem se dão conta disso — murmuro antes de lhe dar as costas.

Saio do escritório rapidamente, encontrando pelo caminho as empregadas que correm para limpar o cômodo e quando me aproximo da escada me deparo com Eleanor dando um tapa em Alexa que aparentemente acabava de chegar. Ela está visivelmente abatida, o rosto cansado denunciando que passou a noite em claro, não expressando nenhuma reação diante da ação da mulher.

— Como você e aquela mulherzinha ousam me fazer passar tal vergonha? As pessoas da revista ficaram horas à espera das duas e tive que inventar uma desculpa. Agora você chega depois de provavelmente ter passado a noite com aquela Hazel, uma qualquer!

— Não chame ela assim. — O tom de Alexa me faz perceber que está chegando ao limite. — Hazel é alguém melhor que eu e você juntas. Não merece ter o nome pronunciado por sua boca.

— Como se atreve a defendê-la me tratando assim... — A mulher levanta a mão para dar mais um tapa na filha como se ela fosse uma criança que merece ser castigada, mas me coloco entre as duas segurando em seu pulso.

— Não encoste mais um dedo nojento nela ou em mim! — Solto seu braço de uma vez enquanto ela me encara com os olhos enormes em surpresa. — Alexa pode não ter coragem suficiente para contar a todos o que você fez, mas eu não tenho medo de jogar sua sujeita no meio dessa maldita casa.

— Como você... eu não posso acreditar na cobra que tenho sob meu teto — balbucia levando a mão a têmpora.

— Acho melhor pensar duas vezes antes de tratar como lixo as pessoas que sabem que você não vale um tostão do que os Vielmont tem e ainda assim permanecem caladas. — Não lhe dou oportunidade de resposta, nem volto a olhar para Alexa, apenas sigo meu caminho subindo a escada.

Já tinha suportado o suficiente daquela família.

Preciso tomar outro banho para lavar minha alma, tentar me livrar de tudo de ruim que há em mim.

Enquanto a água morna cai sobre minha cabeça, penso em tudo. Não posso baixar a guarda ou vou acabar como Katherine, morta depois de ter levado uma vida miserável.

Saio do banheiro usando roupão e levo um susto ao me deparar com Alexa na porta. Desvio no intuito de seguir para o closet, mas ela segura em meu braço me impedindo de dar mais um passo.

Permaneço de costas esperando ouvir o que tem a dizer e demora mais do que imaginei.

— Desculpa ter sumido ontem...

— Eu fiquei sabendo. Entendo, não tem que se explicar. — Viro para encará-la. — Ela está bem? — Alexa demora um pouco apenas me olhando, mas move a cabeça confirmando. — Que bom. — Coloco a mão sobre a dela que ainda segura em meu braço e faço com que me solte.

— Katherine...

— Se ela é a pessoa que você ama, seja fiel a esse sentimento. Torne-se forte por ela, não aja como uma covarde diante de sua família, caso contrário sugiro que deixe-a livre antes que algo pior aconteça. — Ela nada diz e deu por encerrada nossa conversa.

Enquanto me arrumo encaro meu reflexo no espelho, dizendo a mim mesma que tentarei meu melhor para suportar tudo aquilo.

Não quero aquele destino para mim, desejo minha liberdade antes que me afunde.

Meus pensamentos são interrompidos com o som de mensagem vindo de meu celular dentro da bolsa e quando abro, a primeira coisa que vejo é a imagem de uma daquelas fotografias de Eleanor.

"Você tem até o dia do próximo evento na fundação Vival para se proximar de Verônica Martino e usá-la a seu favor na busca por pistas de onde está Elizabeth, a esposa supostamente morta, de Sebastian. Encontre-a."

Como a fotografia foi parar nas mãos daquela pessoa? O quê ela ganharia encontrando aquela mulher?

Passo horas na biblioteca pensando sobre aquilo, já que é o único lugar onde posso me sentir completamente sozinha. Decido pesquisar na internet algumas matérias sobre Verônica que é uma italiana solteirona de quase quarenta anos.

Quando canso decido procurar alguém que sabe bem demais sobre tudo e todos; Lydia.

Através da empregada fico sabendo quem são as pessoas mais influentes e próximas a Eleanor. Também me contou sobre os eventos que ela fazia para agradar as socialites que investem milhões nos negócios da família. Lydia quando começa a falar não para mais, ela trabalha há cinco anos para os Vielmont e através da cozinheira — que está a mais tempo — ficou sabendo que Sebastian casou-se com Eleanor devido uma época de crise nos negócios. Para a empresa da família onde nasceu, Eleanor — aquela megera — era como um talismã da sorte que conseguia fechar contratos e atrair bons investidores usando de todas as artimanhas possíveis e ao casar passou a ajudar o marido com o grupo Vival, mas quando as filhas de Sebastian se tornaram adultas ela passou a se dedicar somente as lojas de departamento e a fundação.

— Ela sempre quis que Alexa se tornasse presidente. Ouvi várias vezes as duas discutindo porque segundo ela, a filha não tem ambição — diz Lydia.

No final eu sei mais sobre Eleanor do quê sobre Verônica, que Lydia disse nunca ter frequentado a mansão

Como vou me aproximar de alguém que não faço a menor idéia de quem seja?

No dia seguinte consigo o número de todas aquelas peruas que encontrei um dia antes do casamento, estava tudo anotado em uma agenda que Lydia pegou no quarto de Eleanor quando foi limpar. Marquei facilmente um chá com elas, mas quando chegou a vez de Verônica quase mandei a merda a moça que dizia-se sua secretaria por me deixar esperando durante quase meia hora para no fim dizer que Verônica ia pensar sobre o convite.

— Conseguiu convidar todas? — pergunta Lydia enquanto me serve chá na biblioteca.

— Sim e não. — Me ajeito na cadeira. — Gostaria de convidar em especial Verônica Martino, mas ela não me parece muito acessível.

Lydia, esperta como é, aconselhou-me visitar a revista em que eu e Alexa dariamos aquela bendita entrevista. Segundo ela quando Eleanor sumia da mídia as amigas também afastavam-se e a megera recorria a pagar por matérias sobre ela, assim as amigas logo voltavam correndo.

Aquela gente é realmente absurda, eu nunca vou entender.

Decido então seguir aquela idéia.

Passo em uma cafeteria onde compro vários donuts e cafés para todos os gostos, então sigo para o prédio da revista. No andar onde fica a redação procuro a jornalista que visitou a casa dos Vielmont e peço minhas mais sinceras desculpas, distribuindo cafés entre as pessoas da equipe. Todos agradecem muito enquanto eu afirmo que o motivo de nossa ausência foi o atentado que Alexa sofreu recentemente, unido ao fato dela ter se dedicado ainda mais ao trabalho desde então. Também peço compreensão, pois tinhamos acabado de nos casar e como ela trabalha muito, aproveitavamos cada minuto de seu tempo livre.

Compreensão, era o que havia estampado na face da mulher e nem precisei apelar para o suborno, ela decidiu fazer uma matéria comentando sobre minha visita, que não demorou muito, mas saí como símbolo de consideração, humildade e simpatia.

Como sei disso? É o título da matéria em destaque no site da revista no dia seguinte.

Incrivelmente o telefone não demorou a tocar, era a tal secretária com a confirmação de que Verônica ia ao chá, assim como também uma mensagem me parabenizando pela matéria.

De fato Lydia entende das coisas.

...***...

Sentada na cama enquanto olho a agenda de Eleanor quando Alexa chega e sobe sem nem olhar em minha direção. Até mesmo esqueço de esconder o objeto, mas ela passou tão rápido que não fez diferença.

É definitivo, não devo nutrir nenhuma esperança com aquela mulher. Ela não está a meu alcance, nem em corpo, muito menos coração.

Passava de meia noite quando decido descer para tomar água e pela primeira vez encontro o filho de Katherine, sentado nos primeiros degraus da escada, com os bracinhos apoiados nas pernas e mãos no queixo. Eu ainda não o tinha visto e hesito um pouco antes de me aproximar e sentar ao lado.

— Não é hora de você estar na cama? — Ele pisca aqueles pequenos olhinhos que não me são estranhos, talvez o olhar dela, pois definitivamente não são os de Sebastian.

Me pergunto se o homem não acabaria dando um fim a criança e o pensamento me deixa horrorizada.

— Estou sem sono — responde com clareza.

— E no quê está pensando? — Ele desvia o olhar baixando a cabeça.

— Não gosto de morar aqui.

Suspiro, entendendo perfeitamente aquela criança.

— Quer saber? Eu também não gosto dessa casa. — Ele volta a me olhar. — Também vim morar aqui a pouco tempo, mas você se acostuma. Tenho certeza que sua mamãe cuidará muito bem de você — minto

— Acho que ela não gosta de mim.

— Ei, não pensa assim! — Fico de pé. — Vamos, vou te ajudar a dormir. — Ele levanta a cabeça me olhando e também fica de pé.

Nós seguimos até o cômodo onde fico indignada ao ver que sequer decoraram o quarto da criança. Como ele poderia se sentir confortável nessa casa estranha e dormir bem em um ambiente sombrio com cores escuras?

Enquanto o menino vai para a cama observo num canto sua mala e encima dela estão alguns livros infantis, pego um deles e vou sentar na beira da cama.

— Posso ler para você. Quer? — Ele confirma levando o edredom até a altura dos ombros.

— Como é seu nome? — pergunta e só então percebo que não sei o dele. — O meu é Thomas. — Sorrio o observando. Ele fala de uma forma tão fofinha.

— Meu nome é... Katherine. — Hesito por um momento, imaginando que em meu lugar poderia estar sua verdadeira mãe, que mesmo tendo o abandonado acredito que ao olhar o rosto do filho e ver o quanto está carente de alguém que cuide dele, era possível que despertasse nela um pouco de amor.

Começo a ler a historia de uma formiga desbravadora. O livro é curto, mas suficiente para fazê-lo adormecer.

Apago a luz deixando apenas o abajur ligado e depois saio do quarto.

No início do corredor vem Emily, como sempre chegando tarde e com um cheiro de álcool que podia ser sentido a quilômetros. Ela sorri se aproximando, me olhando de cima a baixo e faço o mesmo notando meu robe aberto deixando amostra minha camisola que nem é ousada, mas fecho rapidamente.

— Você sempre chegando tarde — falo cruzando os braços quando ela para a minha frente.

— Eu não sabia que amantes faziam papel de esposa. — Reviro os olhos e ela sorri apontando para a porta do quarto — O quê estava fazendo, ai?

— Colocando seu sobrinho para dormir.

— Sobrinho? — Ela franze o cenho, mas logo parece lembrar. — Não era Eloise quem devia fazer isso?

Encolho os ombros.

— Bom, eu vou dormir. Amanhã vejo com qual celebridade você entrou em um escândalo. — Ela da uma risada e faço sinal pedindo que baixe o tom.

— Será isso uma fagulha de ciúme?

— Não sou... — baixo o tom, me inclinando um pouco na direção dela. — Katherine, então não se iluda.

Emily sorri confirmando e fico observando ela se afastar, me perguntando como reagiria se soubesse que aquela criança era filha de Katherine e seu pai. Isso é tão absurdo.

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Comments

Anne Jay

Anne Jay

Eu ouvi o barulho do lacre daqui, cê é loko braba demais essa diva

2024-05-05

0

Anne Jay

Anne Jay

Essa diva é maravilhosa

2024-05-05

0

Anne Jay

Anne Jay

A informante de plantão kkkkll

2024-05-05

0

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