02 • Breakfast

Assim que o patriarca Vielmont me cumprimenta, sigo para a mesa onde sou surpreendida quando Alexa puxa a cadeira para mim. Sinto vontade de revirar os olhos, mas apenas agradeço baixinho e sento ficando de frente para o outro casal.

Quando os olhos de Eloise encontram os meus fico nervosa. Ela é aquele tipo de mulher que intimida e estimula a imaginação da gente o suficiente para pensar algumas bobagens antes de dormir.

— Cadê a Emily? — pergunta Alexa sentando entre mim e sua mãe.

— Provavelmente chegou tarde depois de mais uma noite de farra — responde Eloise.

— Já pensou sobre os preparativos do casamento? — pergunta a senhora Eleanor, que tem cara de poucos amigos, mas por sorte está sentada do outro lado da filha.

Até onde sei ela é mãe apenas de Alexa e sendo ela filha única, da para entender seu temperamento, não passa de uma mimada.

— Ainda vou... começar — respondo incerta.

Na verdade não tenho a menor idéia do que fazer quanto isso. Lembro que Katherine falou que a mãe viria de Washington para me ajudar. Não sei se é bom ou ruim ter ajuda de alguém que realmente deve conhecer ela.

Outra pessoa que Katherine mencionou sobre me ajudar e saber de todo o plano é Steve, seu irmão mais velho que trabalha como advogado no grupo Vival, mas não sei nada sobre ele.

— Você deve ter estranhado o convite para o café — falou Sebastian. — Ficamos sabendo que alguns repórteres estão investigando a união de vocês duas, já que voltou recentemente da França e mal se viram desde então. Querem espalhar rumores de que será um casamento arranjado.

E não era verdade? Que mania feia as pessoas ricas tem de ficar tentando esconder o óbvio. Eles tem muito dinheiro e poder, mas sempre querem mais dinheiro e mais poder, por isso estão sempre unindo forças através de um casamento de fachada como se todos não estivessem cansados de saber que tudo se basea em negócios.

Eu apenas sorrio sem graça pegando a xícara que a empregada acabou de encher e tomo um gole do café preto.

— Você não disse que odeia café? — Viro o rosto para Alexa me perguntando quando Katherine disse aquilo.

Se encontraram apenas uma vez e ela já tinha deixado brecha para me colocar em mals lençóis diante da mimada.

— Quando passo por situações desagradáveis com pessoas grossas logo cedo, acabo tomando um pouco — falo o mais baixo possível.

Internamente julgo minha atuação digna de um Oscar por falar com tanta calma olhando nos olhos dela.

— Você deve ter gostado muito da França, viveu por tantos anos lá. — Eleanor se inclina para me ver e sorrio tentando manter a calma, antes que eles me peçam para pronunciar todo o alfabeto francês.

— Sim, gostei muito. — Pigarreio percebendo que não soou tão bem.

— Onde foi mesmo que você morou lá? — questionou Alexa levando a xícara aos lábios, mas com os olhos ainda em mim.

Aperto o garfo que seguro, pronta para começar a comer um delicioso pedaço de bolo se eles não estivesse me interrogando.

— Bem... — De repente sinto que minha atuação como atriz de Hollywood vai pelo ralo. Não faço idéia de onde Katherine viveu.

— Quem liga para isso? — A voz de Eloise chama minha atenção, ela tem um sorriso amigável no rosto e automaticamente sorrio também. — Você deve estar cansada de tantas perguntas, mas é melhor se acostumar, eles são sempre assim. — Ela pisca e eu preciso focar no pedaço de bolo sobre o pires a minha frente ou todos vão perceber que fiquei maravilhada.

— Eu também fui colocado contra a parede e interrogado — fala o marido de Eloise pela primeira vez.

O restante do café é silencioso. Os primeiros a sair são o casal e logo depois Eleanor se retira. Termino antes de minha nada adorável noiva e fico a sua espera, mas ela me ignora. Quando o pai também sai da mesa, Alexa levanta de repente avisando que o motorista me levará, pois ela vai para a empresa.

Me vejo sozinha no cômodo e suspiro não sabendo ao certo o que fazer, quando Emily Vielmont atravessa a porta e tenho que juntar toda a minha coragem para levantar e sair.

— Você é realmente um desperdício na mão da minha irmã, sabia? — Paro virando para ela que passeia os olhos por meu corpo.

Não consego dizer nada, apenas saio caminhando, sentindo meu rosto esquentar. Na sala principal uma das empregadas vem a meu encontro carregando meus pertences e me informa que o carro está a minha espera. Ninguém se despediu de mim e de certa forma agradeço mentalmente.

Apenas coloco o sobretudo no braço esquerdo junto a bolsa, enquanto caminho para a saída. Quando chego na frente da mansão um porsche azul num piscar de olhos estaciona atrás do carro onde o motorista me espera.

— Tom, pode ir porque ela vai comigo — fala Emily que sai do veículo jogando um sorriso em minha direção.

Não é como se tivesse escolha. O motorista entra no carro e o retira do caminho me deixando nessa situação que nem em meus sonhos mais loucos imaginei. Emily abre a porta do carona e obrigo minhas pernas a caminhar até lá, onde entrp no veículo observando a mulher dar a volta até o outro lado. Assim que senta no banco me olha com um sorriso e sua ação seguinte me faz petrificar enquanto o coração treme em meu peito. Ela inclina em minha direção deixando o rosto muito próximo ao meu, sem desviar o olhar. Tenho certeza de que serei beijada. Não sei por qual razão fecho os olhos, mas volto a abri-los assim que escuto o clic do cinto de segurança. Devagar e com uma vergonha que não cabe em mim, abro os olhos novamente, percebendo que ela ri.

— Achou que eu ia te beijar? — pergunta e minhas bochechas esquentam. — Não sou esse tipo. — Ela pisca antes de dar partida no carro e arranca saindo tão rápido que tenho que me segurar para não balançar feito geléia no banco enquanto faz a volta na imensa fonte no meio da propriedade.

Não me recupei do mico, mesmo assim tento me manter séria e segura. Nessee momento sou Katherine Volkmer, não a idiota Hanna que cai na lábia de qualquer uma. Sim, é difícil admitir, mas costumo ser esse tipo de pessoa que se deixa levar por um charme qualquer.

Emily é o sonho de consumo de toda mulher, no entanto não para com ninguém. Sem dúvidas, para uma aventura ela é perfeita, mas para as bobas que se apaixonam depois de um beijo — feito eu — é melhor manter máxima distância.

— Está mesmo preparada para entrar naquela família? — pergunta de repente, alternando olhares entre mim e a pista.

— Sim. Por que não estaria? Não é como se estivesse casando por amor ou fazendo um favor.

Estou sendo muito bem paga por sinal.

— Você não é mesmo boba — afirma com um sorriso de canto.

Com certeza não sou. Sei que não será fácil conviver com aquela gente, mas imagino que Katherine no meu lugar não agiria como se estivesse fazendo um favor a eles e não gostaria de ser humilhada em momento algum. Mesmo que no fundo eu já tema comer o pão que o diabo amassou na mão daquela sogra, ainda assim não pretendo baixar a cabeça.

— Só espero que não seja como o seu irmão, aquele filho da puta — continua ela e arqueio as sobrancelhas. — Você deve saber que não nos damos muito bem. — Apenas fico quieta, afinal não sei nada sobre Steve. — Entregue.

— Já? — digo surpresa ao confirmar que de fato estamos em frente ao hotel, mas não tão surpresa quanto quando sinto sua mão em minha coxa.

Meus olhos encontram os dela e engulo em seco. Devagar, ela desliza a mão por cima do vestido indo para a lateral até chegar no cinto de segurança e mais uma vez escuto o clic.

Essa cretina realmente sabe deixar uma mulher desnorteada.

— Nos vemos em breve. — Ela sorri, ciente do efeito que causou e desvio o olhar rapidamente.

— Obrigada pela carona. — Abro a porta do carro e saio sem olhar para trás.

Enquanto subu até o último andar, não consigo acreditar que tudo aquilo tinha acontecido apenas em meu primeiro dia como noiva de um Vielmont. Quando entro na suíte de luxo meus olhos ainda custam acreditar que tudo isso era meu. Quero dizer, pelo menos temporariamente.

Jamais teria a oportunidade de usufruir disso levando a vida de antes, nem mesmo andaria em um carro como aquele ao lado de uma herdeira que costuma viver na presença das mulheres mais lindas do país. Ainda por cima tomar café na mansão ao lado de toda aquela gente que cheira a dólar.

Depois de um longo banho de banheira passo horas experimentando todos — ou quase todos — os modelos de Katherine, que por sinal ficam ótimos em mim.

Na hora do almoço peço tudo que tenho direito ao serviço de quarto. Como na mesa da varanda com uma bela vista para Nova York, me sentindo uma verdadeira rainha até alguém bater na porta e atrapalhar meu momento.

Usando um robe de seda preto por cima de uma camisola rendada, abro um pouco a porta e avisto um cara loiro que rapidamente força a porta para entrar no quarto.

— Ei! — reclamo me segurando para não cair quando ele entra de uma vez.

— É você? — Ri. — Não tem como acreditar que não é ela. — Ele se aproxima e dou um passo atrás. — Isso vai ser divertido.

— Você é o Steve? — pergunto apenas para ter certeza.

— Vou te ajudar no que for preciso e... — Tira o celular do bolso e após procurar algo me entrega o aparelho.

Na tela tem um vídeo e quando dou o play vejo a cena de meus pais chorando no que parece ser um hospital.

— O que significa isso? — pergunto horrorizada.

— Significa que seus pais agora pensam que você está morta e todo o dinheiro que vão receber é uma grana que ganhou antes de morrer, ou algo assim. Não se preocupe, cuidarei de tudo.

— Isso não estava no plano! — grito.

— O plano é Katherine casar com a Vielmont. E se para isso você tem que morrer... — Ele ri parecendo se divertir.

— Mas e depois? — Minha voz sai embargada. — Eu não posso viver para sempre naquela casa!

— Depois de um ano você pede o divórcio e com a grana que vai ganhar de minha irmã e um outro nome, vai viver de boa em outro país. — Caminhp até o sofá onde sento me perguntando porquê me meti nessa enrrascada.

— Estou perdida — murmuro para mim mesma.

— Amanhã minha mãe chega para ajudar com o noivado, lembre-se de ser grossa com ela. — Arqueio as sobrancelhas olhando ele que de pé parece pensar em algo.

— Por que preciso ser grossa?

— Ela não é a mãe biológica da Kathe e as duas não se dão muito bem. Na verdade a Kathe quem se recusa tratá-la bem, mas enfim por enquanto é apenas isso.

Ele vem até mim e puxa o celular de minha mão, em seguida sai.

Eu sinto um bolo se formar em garganta ao lembrar da imagem de meus pais chorando por minha causa. Pensei que estivesse fazendo o certo para ajudá-los, mas acabei causando uma dor terrível. E pior, eu não posso voltar a vê-los.

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Comments

Anne Jay

Anne Jay

Só digo uma coisa: essa aí é treinada nas palavras

2024-05-05

0

Anne Jay

Anne Jay

Braba demais 😌🍷

2024-05-05

0

Míope aleatória

Míope aleatória

Emilly atacante kkkkkkk amei

2024-04-15

0

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