14 • Game Of Life

Ficaram entaladas em minha garganta as inúmeras perguntas que gostaria de fazer, mas não podia. As informações ainda não estavam claras em minha mente, era difícil acreditar que Katherine teve um filho e supostamente abandonou a criança.

Mas se ela abandonou a criança, Eloise encontrou apenas para chantagea-la, para seguir com o romance?

Elas tinham algum tipo de relação de ódio por trás do título de amantes?

Eloise amava ela ou apenas dedicava-se a torturá-la?

E pior, como eu poderia lidar com as consequências das ações de outra pessoa?

Katherine foi um ser humano que me enojava cada vez mais. Sempre que descubro algum de seus podres lembro de suas palavras naquele dia:

"É muito fácil, afinal ninguém naquela casa me conhece"

Falsa. Dissimulada. Um par perfeito para Eloise. As duas se mereciam, eram doentes. Katherine morreu sozinha, não sendo mulher suficiente para encarar aquelas pessoas, deixando para mim aquele fardo.

Eloise parece se divertir com minha expressão de surpresa enquanto vejo a foto diante de meus olhos.

— Eu falei que um dia o encontraria. Queria que você o visse antes de levá-lo para casa. Não se preocupe, serei uma ótima mãe, ao contrário de você que nem merece ser chamada de tal forma.

— Para casa? — Minha voz sai com dificuldade.

— Claro, acha que encontrei ele a troco de nada? Seu filho ficará bem perto de nós. — Ela acaricia meu rosto. — Você nunca o quis, mas logo terá que vê-lo todos os dias. Agora deixarei que fique com Alexa, mas saiba que sua dívida comigo está aumentando.

Eloise sai e de todas as vezes que fiquei aliviada por sair de situações difíceis, essa com certeza é a mais significativa. Não há palavras para descrever o tamanho do alívio que é ver aquela mulher sumindo de minha vista.

O ar fica mais leve, meu coração volta a bater em um ritmo normal e minhas pernas são capazes de caminhar até o quarto.

A hora do almoço passa e não consigo pensar em ir comer nada. Fico perdida em pensamentos encarando Alexa adormecida, pensando no quanto desejo alguém para me defender, alguém que fique a meu lado independente de qualquer coisa, assim como ela desejava defender Hazel. Sinto inveja dela por ser prioridade na vida de alguém. E me sinto ainda mais miserável devido esse sentimento.

Levanto da poltrona e caminho até a beira da cama onde sento olhando o rosto sereno de Alexa enquanto dorme. Lembrando de seu desespero enquanto Hazel era levada.

Nesse momento desejo Alexa para mim. Não apenas quero ela, eu preciso dela.

Se eliminasse Hazel da vida de Alexa e me tornasse sua prioridade, conseguiria escapar ao menos de Eloise.

Alexa já sabe que eu não sou nenhuma santa. Supostamente tenho um envolvimento com a irmã dela e acha que roubei um objeto seu para ajudar Emily, então caso se apaixonasse por mim me aceitaria como acha que sou e afastaria a irmã louca. Pelo menos situações como aquela de mais cedo teriam sido evitadas. Se ao invés de me mandar embora ela quisesse me manter junto a si, nada daquilo teria acontecido.

Então por que não tentar? Por que não ter Alexa para mim?

Para sobreviver nesse mundo de loucos, tenho que me tornar tão louca quanto eles.

Alexa abre os olhos enquanto eu ainda encaro ela e parece demorar um pouco até organizar as idéias.

— Hazel — murmura tentando levantar, mas apoio as mãos em seus ombros, impedindo.

— Você não é louca de levantar dessa cama novamente! — Ela desiste parecendo sentir um incômodo no local da ferida. — Não se preocupe, apenas levaram-na para fora.

— Como sabe? Quem chamou eles aqui? Você?

— Claro que não! — minto. — Eleanor pediu que eles ficassem alerta, afinal desde ontem ela estava rondando o hospital. Você sabe como é sua mãe.

— Minha mãe... — Ela bate a mão sobre o colchão e fecha em punho com raiva. — Por que você não me disse que ela estava aqui desde ontem?

Pelo visto Hazel não tinha contado sobre nosso encontro.

— Por que eu diria? Você não pode me mandar embora e ficar com outra mulher aqui enquanto jornalistas estão esperando uma chance para conseguir alguma foto sua. — Ela suspira fechando os olhos e logo em seguida levanta a cabeça me assustando.

— Você fala como se eu fosse a única a correr o risco de ser flagrada. Pensei ter sido um sonho, mas agora está claro em minha mente, você e Eloise ontem bem aqui ao lado de minha cama.

Arregalo os olhos.

— Eu não... Ela me agarrou, é diferente!

— Se ela te agarrou e hoje veio buscá-la é porque vocês tem intimidade suficiente para tal coisa. Não sente vergonha quando senta-se à mesa diante dela e o marido? Amante de Eloise, Katherine? Isso é tão...

— Pare — alerto. — Não sou amante dela. Eloise fica me rondando e... — Falta-me argumentos.

— Não se faça de santa — diz apontando para mim e bufo virando o rosto.

— Quem deveria ter vergonha era aquela garota.

— Hazel está comigo desde... Espera aí, nós nem temos um relacionamento, não tem porquê eu ficar explicando esse tipo de coisa.

Sim ela tinha toda razão, mesmo assim baixo a cabeça fingindo estar magoada. Na verdade estou com fome, já são quase três da tarde e tudo que fiz durante todo o dia foi pensar em como fazer Alexa se apaixonar por mim. Já era difícil para mim seduzir uma pessoa livre e desimpedida, imagine uma  apaixonada, vivendo um relacionamento de anos contra a vontade da família.

Mas o que custa tentar, não é mesmo?

— O que foi? — pergunta ela depois de alguns minutos de silêncio. — Vai ficar aí parada com a cabeça baixa até quando?

— Eu tenho sentimentos, sabia? Passei a noite inteira dormindo nessa poltrona a seu lado, não porque sua mãe mandou, mas porque me preocupei de verdade. Sabe como me senti quando vi você perdendo a consciência em meus braços naquele dia? Aí eu acordo e vejo que pediu café para mim e me sinto um pouco mais significante, mas depois chego aqui e você me manda embora! — Isso não deixa de ser verdade. — Não estou pedindo para ser mais importante que ela, só que... Esquece! — Suspiro, um suspiro longo e profundo. — Vou comer alguma coisa — anuncio levantando, mas ela segura em meu pulso e meu coração vai a mil em expectativa.

— Desculpa, eu não imaginei que você tivesse ficado tão preocupada. Mas como eu poderia ignorar o fato de que vi você e Eloise abraçadas? E ela ainda por cima veio buscá-la. O que queria que eu fizesse? Mandasse sua amante embora e então ficariam você e Hazel aqui?

— Eu e Hazel? — Dou mais um suspiro, mas dessa vez devido a impaciência. — Você realmente não entendeu nada? Preciso descer, estou sem comer desde o café. — Alexa solta meu braço e vou pegar minha bolsa.

— Você está muito estranha. Agora se preocupa comigo e se mágoa pela forma que te trato?

— Você também se preocupou comigo. — Caminho até porta, mas paro quando ela me chama.

— Não pense em nutrir nenhum tipo de sentimento por mim.

Por que ela tinha que falar disso?

— Para você só existe a Hazel e mais ninguém, não é? Tudo bem... — Saio rapidamente e ao fechar a porta me encosto contra a mesma fechando os olhos.

A Hanna que se apaixona com um beijo consegue fazer alguém sentir o coração acelerar facilmente? Me pergunto isso.

Quando abro os olhos dou um pulo pelo susto ao ver Emily me encarando.

— Deixe-me adivinhar, pelo suspiro você beijou a Alexa novamente. — Nego rapidamente e ela dá uma risada.

— Não seja absurda! — Tento me recompor.

— Vim ficar um pouco com ela, vai pra casa e descansa um pouco.

É tudo o que preciso, descansar.

Me sinto grata por alguém me dizer aquela simples palavra; descanso.

De certa forma gosto de Emily porque ela sempre surge num momento ruim e me faz esquecer os problemas, ou me ajuda de alguma forma.

Vou para casa onde por sorte não encontro ninguém.

Comi e dormi por horas.

Quando acordo já é noite. Me senti bem melhor — se é que isso é possível, afinal minha mente é traiçoeira quando se trata de certas coisas. Saber que Eloise pode estar por perto faz meus sentidos ficar em alerta, temendo ser pega desprevenida mesmo com a porta trancada.

Escolhendo uma roupa no closet observo que na parte de Alexa há uma gaveta entreaberta, ao me aproximar abro um pouco mais e vejo que lá dentro tem um jogo de tabuleiro que conheço muito bem. O Jogo da Vida.

Pego tudo o que preciso incluindo o jogo e desço ouvindo vozes vindo da sala de jantar, mas rapidamente saio da casa.

Decido r com o motorista já que não chamei um táxi. Para meu azar não sabei dirigir e agradeço a Deus por ninguém ter me oferecido um carro.

Em poucos minutos chego ao hospital, passo na cafeteria onde compro alguns doces para comer quando estiver com fome, depois subo.

Quando abro a porta do quarto, Emily que esta na poltrona parece acordar assustada e Alexa que assiste televisão quando me vê com o tabuleiro na mão arquea as sobrancelhas.

— Você mexeu nas minhas coisas — reclama e sorrio me aproximando.

— Por favor me absorva. É por uma boa causa, para você não morrer no tédio.

Ela bufa, mas percebo que ameaça sorrir.

— Bom, já que a sua linda esposa chegou, estou indo embora. — Emily anuncia levantando, mas antes de sair pisca em minha direção.

— Não ouse se aproximar dela novamente — alertou Alexa e a outra para ao ouvi-la. — Lembro muito bem que usou Katherine da última vez que aprontou uma das suas, mas agora ela está comigo.

— Não se preocupe, Katherine tem muitos encantos, mas garanto que se por acaso venha a me aproximar dela novamente, não será para usá-la contra você. — Emily pisca novamente para mim e em seguida sai.

— Conquistadora barata. — Bufa Alexa chamando minha atenção. — Onde já se viu, casei e minhas irmãs ficam voando encima feito abutres. — Arqueio as sobrancelhas encarando ela então sento na ponta da cama.

— Vamos jogar, você está falando muita besteira!

— Cuidado, sou muito boa no jogo da vida.

— Isso é o que veremos — provoco, antes de começar a preparar as peças.

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