04 • Drinking

Eu já havia experimentado uns cinquenta vestidos de noiva apenas numa tarde, especificamente naquela loja, tirando os outros dias em outras lojas que passamos. Como se não bastasse Eleanor e sua chatice, Margot também é extremamente exigente e quando eu escolhia um modelo, elas sempre apontavam defeitos e me impediam de ficar com ele. Já estava cansada daquilo e a ponto de dizer desaforos para as duas que pareciam estar brincando comigo, me fazendo de boneca.

Faltavam dois dias para o casamento quando o modelo que escolhi ficou pronto. O vestido apesar de ter ficado perfeito em meu corpo, passou por diversas modificações. Senti-me menos sobrecarregada depois disso, mas minha tentativa de ficar em paz — mesmo estando às vésperas do casamento — durou pouco.

Como uma espécie de despedida de solteiro fui apresentada para as amigas socialites de Eleanor em um evento que aconteceu em um clube privado. Foi uma espécie de chá da tarde no sofisticado restaurante do local, reservado apenas para nós. Eu claro, fui o centro das atenções por ser a mais nova nora da família Vielmont.

Eleanor e as amigas me enchiam de perguntas me deixando em saia justa, mas acredito ter um poder divino a meu favor, pois consegui me esquivar de todas as situações complicadas que exigiam um grande conhecimento — que eu não tinha — sobre a vida de Katherine.

Já é início de noite quando volto para o hotel, desejando um banho quente, mas acima de tudo precisando de alguém para conversar. Ter que ficar em meio a aquela gente e interagir apenas com eles é cansativo. Não existe ninguém com quem eu possa sentar e desabafar sobre o quanto estou cansada. O pior é que nem começou direito. A partir do dia seguinte entro oficialmente para aquela família e ficarei vinte e quatro horas sob o mesmo teto que todos eles, sendo arrastada para os eventos e aparecendo nas mesmas revistas.

Entrando no hotel me surpreendo ao ser abordada por nada menos que Emily, bonita e sedutora como sempre, girando a chave do carro no dedo, com um sorriso nos lábios.

— Que cara é essa, cunhada? — pergunta analisando meu rosto.

— Cara de quem está exausta — respondo sem muito ânimo e ela ri.

— Venha tomar uma bebida comigo.

Estreito os olhos.

— Não, obrigada. — Estou prestes a sair quando ela segura em meu braço.

— Vamos lá, vai ser bom para relaxar um pouco. — Solta meu braço e suspiro um tanto pensativa.

Relaxar. A palavra me atraí muito devido a necessidade que sinto. Sei que a partir do momento em que me trancar no quarto a realidade vem com o peso de uma tonelada em minhas costas.

Eu vou casar. Sim, logo eu, que nunca me imaginei casando com ninguém, por mais apaixonada e iludida já tenha sido em minha vida. Jamais desejei ou pensei dividir o teto e a vida com alguém. No entanto, vou casar e na pior das situações. Uma farsa. Sou uma farsa e não posso ser nada além disso.

Mesmo que não queira mais, tenho que ser Katherine todos os dias, toda hora. Não posso vacilar, cometer erros que levantem suspeitas.

Já me imagino em um verdadeiro inferno, mas tento pensar no lado positivo que é meus pais sem dívidas, mesmo que pensem que morri. Se é preciso supostamente morrer, ou melhor, matar quem um dia fui para que eles fiquem bem em relação a questões financeiras, eu o faço.

Acabo aceitando o convite de Emily e nós vamos até um bar não muito longe do hotel. Não entendo porquê sempre consigo conversar mais com ela do que com qualquer outra pessoa da família. É mais natural do que eu possa imaginar, tirando o fato dela me deixar sem graça devido a seu estilo conquistadora.

Fizemos nossos pedidos e vejo ela me analisar, mas estou tão mal humorada depois da tarde exaustiva que sou capaz de mandá-la a merda se continuar me olhando de tal jeito.

— Está difícil? Quer desistir? — pergunta.

— Você nem imagina o quanto — confesso.

— Então desista. Por que precisa fazer algo que não deseja? Até onde sei o casamento é do interesse do seu pai, mas você é uma mulher formada, poliglota, uma verdadeira artista. Não tem que se submeter a isso a troco de apoio político.

Baixo a cabeça imaginando como seria bom se aquelas afirmações fossem realmente sobre mim. Quem me dera ser tudo aquilo e minha realidade não fosse tão cruel, se meus pais não estivessem passando necessidade e eu não tivesse que aceitar aquele absurdo.

Me pergunto como está Katherine naquele momento, onde ela está e o quê esta fazendo. Com certeza curtindo a liberdade em um lugar bem longe, afinal ela é tudo aquilo. Uma artista, poliglota, entre tantas outras coisas.

Nossas bebidas chegam e aproveito para tomar um grande gole de meu coquetel.

— Por que está me dando esse tipo de conselho? — pergunto curiosa.

— Porque gostei de você assim que passei os olhos por esse corpo maravilhoso. — Ela sorri de canto e reviro os olhos.

— Meu casamento será amanhã, não me venha com brincadeiras bobas.

— Você merece se divertir um pouco — afirma com o olhar provocativo.

— Me divertir? — Observo ela tomar a vodka com gelo sem tirar os olhos de mim, então confirma com a cabeça enquanto coloca o copo sobre a mesa.

— Quanto tempo faz que teve o último orgasmo? — Arregalo os olhos e ela ri ao ver minha reação. — Não vale masturbação.

— Que pergunta... — Pego o copo sobre a mesa e dou um grande gole que o esvazia.

A última vez que transei foi a mais de três meses, quanto ao orgasmo, aí é um pouco mais complicado de lembrar.

— Pela sua cara já faz um bom tempo. — Fico extremamente sem graça. — Interessante.

— Minha vida sexual não é da sua conta. E não é porque estou às vésperas de um casamento arranjado que irei me jogar em sua cama. — Levanto, mas ela segura em meu braço.

— Calma aí, eu estava apenas brincando. Mulheres deviam falar abertamente sobre sexo...

— Há quem consiga falar sobre o assunto e sobre a própria vida, mas eu não vim aqui para falar sobre minha intimidade, nem ter que ficar me esquivando de suas investidas.

— Realmente acha que estou dando encima de você? — Me encara de maneira atrevida enquanto tenta me convencer do contrário. Ainda estou de pé e sua mão ainda esta em meu braço. — Estou brincando, gosto de te ver ficar vermelha e irritada.  — Ela sorri e sento novamente.

A garçonete coloca mais um copo sobre a mesa e pego o mesmo logo levando aos lábios.

Emily começa a falar sobre o coquetel que tomo e aposta que logo ficarei embriagada, mas afirma que vai me respeitar mesmo quando isso acontecer.

Nossa conversa toma outros rumos, como as capas de resvista que ela sai. Ela conta um pouco sobre o trabalho que no grupo Vival e sobre a vida agitada que leva. Apenas coisas que eu já sei por ver nas revistas.

Em momento algum Emily entra em detalhes quando pergunto sobre os relacionamentos com determinadas modelos. Segundo ela algumas delas eram apenas jogada de marketing, para suas próprias carreiras.

Chego a conclusão de que a grande maioria dos seus casos foram um jogo de fama versos prazer e ela talvez nunca tenha experimentado algo real.

...***...

Acordo com o barulho de meu celular. Rolo para o lado e abro os olhos constatando que estou em meu quarto, não no hotel, mas em meu velho apartamento caindo aos pedaços. Sento rapidamente — o celular parou de tocar — avistando a bolsa jogada no chão faço uma careta coçando a cabeça, tentando lembrar como vim parar aqui.

Oh droga, será que Emily quem me trouxe? Teria eu feito uma cena? O que falei e fiz? Por sorte estou vestida.

Existe um imenso buraco em minha mente desde o momento em que ela me desafiou a tomar cinco shots de tequila seguidos e o momento em que abri os olhos.

Minha cabeça dá uma pontada, meu estômago gira e tudo que tem nele chega a minha garganta. Mal tenho tempo de levantar e correr para o banheiro onde coloco tudo para fora.

O telefone volta a tocar.

Estou sentada no chão frio do banheiro, sem forças para levantar.

Lembro que é o dia do casamento, o dia em que passarei horas me preparando para a cerimônia. Fecho os olhos choramingando por ter feito tal besteira de beber e estar ainda mais indisposta para encarar tudo aquilo.

O telefone ainda toca, deve ser Margot ou Eleanor. Percebo que o toque fica cada vez mais alto, assim como a aproximação, até Emily aparecer na porta do banheiro com o aparelho na mão.

— Não vai atender, Katherine? Ou devo te chamar por Hanna?

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Comments

Anne Jay

Anne Jay

Gente, a invasão de privacidade tá diferente

2024-05-05

0

Anne Jay

Anne Jay

Fudeu cherozin agora

2024-05-05

0

Anne Jay

Anne Jay

Não perde um segundo kkkk

2024-05-05

0

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