08 • Pendrive

Acredito que com o tempo aprenderei a mentir perfeitamente bem, pois com aquela família as oportunidades para treinar e me aperfeiçoar não iam faltar.

Já estou prestes a começar a dar uma desculpa a Emily quando me puxa de repente me encostando contra a coluna e encaro ela surpresa, mas quando a vejo colocando o indicador sobre os lábios pedindo que eu fique em silêncio, escuto a voz de Sebastian e entendo que estamos nos escondendo.

O homem começa a falar com Eleanor sobre Hazel e não demoro a entender claramente que ele ordena que a mulher dê um jeito na garota ou ele mesmo fará algo.

A forma que fala me deixa um tanto assustada.

Volto a encarar Emily e ela mantém a cabeça baixa ouvindo atentamente a conversa.

Eleanor por sua vez deixa claro que eu, ou melhor, Katherine conseguira tirar Hazel do caminho, afinal ela havia procurado saber sobre o tipo de pessoa era a filha do ministro.

Talvez Katherine fosse mesmo capaz de fazer algo bem a altura daquela família. Mas eu?

No fim da conversa, ouvindo as últimas palavras de Sebastian, percebo que se eu não acabar com a relação entre Alexa e aquela garota, ela corre até mesmo risco de vida, pois o homem não está para brincadeiras. O futuro da empresa depende de algo que o ministro trará para eles e o ministro depende de sua boa imagem perante a sociedade. Se houvesse escândalos envolvendo suas filhas, algo daria errado para todos eles.

Eu me sinto andando em um campo minado De todos os lados exigem que faça algo, caso contrário, eu quem estarei ferrada.

Me pergunto porquê justo eu tenho que fazer alguma coisa sobre a namorada de Alexa, afinal ela namorava antes mesmo de casar, então por que eles não resolveram isso antes?

Claro que não gostaria que uma inocente se machucasse por causa da ambição da família, mas a bomba tinha que vir justo para minhas mãos?

— Espero que você saiba como acabar um namoro que já dura quatro anos — fala Emily se afastando um pouco mais depois que o casal parece entrar de volta na casa.

— Quatro anos? — Ela ri da cara que faço.

— Eleanor encobriu a filha durante esse tempo, mas recentemente meu pai descobriu. Não pense que ela não tentou de tudo para separá-las, mas dessa vez se você não conseguir, o senhor Vielmont vai pegar pesado. Ele elimina qualquer pessoa que ameace a família.

— Ah que ótimo, era tudo que que precisava.

Emily novamente ri e aproveito para escapar já que ela aparentemente esqueceu sobre o assunto anterior.

...***...

Depois de dois dias agitados meu corpo pede por descanso, por isso acordo no dia seguinte quase na hora do almoço.

Tomo café na cozinha, a casa está silenciosa, todas as filhas foram trabalhar.

Sebastian vive em seu escritório onde ficava a par de tudo através do advogado. Eleanor costuma visitar algumas lojas do grupo Vival. O marido de Eloise não faz nada além de ir a clube de golfe e ninguém tem o direito de reclamar, pois seu casamento foi muito lucrativo para os negócios da família por ele ser filho de um grande empresário.

Fico sabendo de tudo isso entre um gole e outro em meu café, através de Lydia, uma das empregadas responsáveis por limpar os quartos.

Já termino de comer quando lembro que preciso pegar o tal pendrive.

Vasculho novamente a mesa de Alexa e olho em cada canto do andar inferior, mas nada encontro.

Já é quase hora do almoço quando Steve me envia mensagem cobrando. Como não obtive sucesso, ele sugere que eu vá procurar na empresa, para piorar minha situação.

Como quem não quer nada, mas temendo que a vida se torne mais difícil caso não encontre aquele maldito objeto, coloco um dos vários vestidos de Katherine e me encaro no espelho dizendo a mim mesma que consigo fazer isso.

Sempre que estou arrumada me sinto outra mulher, uma versão mais poderosa. Não que eu possa ficar desarrumada em alguma hora, afinal nessa casa as mulheres estão sempre prontas para uma festa. Eu pensava que era apenas na televisão que as pessoas passavam o dia arrumadas, mas as Vielmont levam isso a sério e eu não me atreveria sair do quarto sem maquiagem e um bom vestido.

Peço ao motorista que me leve até a empresa. Estou nervosa, sentindo minhas mãos frias, tentando encontrar uma boa forma de justificar minha visita.

Jamais imaginei entrar naquele prédio, mas o faço levantando a cabeça, colocando o óculos escuro, encarnando a falecida Katherine. Já havia pedido ao Steve informações sobre qual andar fica a sala de Alexa, então sigo direto pra lá.

Assim que chego e a secretária de Alexa colocou os olhos em mim, parece assustada, como se tivesse visto uma assombração. Me aproximo sem tirar o óculos, como se fosse minha máscara protetora. Pergunto sobre minha esposa e ela informa que está em reunião. Acho perfeito. Peço para esperar em sua sala, mas a mulher diz um não tão rapidamente que me faz chegar a conclusão de que ela não está em reunião nenhuma.

Será que aquela idiota deixou um aviso para que eu não seja permitida entrar?

Ah, mas ela vai me ouvir!

Sigo em direção a porta da sala e a secretária corre para pedir que eu não entre, mas é tarde, já estou com a mão na maçaneta e abro a porta de uma vez, avistando a cena de Hazel no colo de Alexa A loira levanta rapidamente ao me ver.

Retiro o óculos do rosto enquanto encaro a Vielmont. Se a cretina fez um maldito casamento por conveniência por causa dos negócios, deveria levar a sério, não ficar se agarrando com a amante justamente na empresa.

Para acabar de completar, eu quem devo lidar com aquela bomba.

— O quê está fazendo aqui? — pergunta Alexa

— Amanda, quantas vezes disse para não deixar ninguém entrar em minha sala! — dirigiu-se a secretária.

— Perdão...

— Ninguém? Eu por acaso sou ninguém? Até onde todos sabem, estou casada com você. E o lugar dessa garota... — Aponto para Hazel que está de pé proximo a ela. — Não é aqui.

— Pode ir — diz Alexa acenando com a mão e a secretária sai rapidamente.

Ela fica de pé colocando a mão nas costas de Hazel e começa a encaminhar ela até a porta. A loira nada diz, mas mantém o queixo erguido enquanto passa por mim.

Aproveito o momento e me aproximo da mesa dando uma olhada para ver se o tal pendrive está lá, mas quando avisto um objeto em formato de coruja dentro de uma gaveta entreaberta, a porta é fechada e Alexa se voltou para mim.

— O quê você está fazendo aqui? — questiona novamente.

Suspiro colocando minha bolsa sobre a mesa. Não estou pensando sobre a pergunta dela — afinal já tenho decorada a frase que usarei nesse momento —, mas sim planejando uma forma de pegar o pendrive.

— Vim saber se minha adorada esposa já almoçou. — Ela sorri debochado se aproximando e tento me manter firme. — Não sei se você sabe, mas sua mãe exige que eu faça papel de uma esposa perfeita. Ao contrário do que você disse ontem, para ela nosso casamento tem que ser muito real sim. Só estou fazendo meu trabalho. — Enquanto digo isso, faço a volta na mesa mesa indo até a cadeira dela do outro lado e descaradamente sento.

Meus olhos vão para a gaveta e minha vontade de pegar aquilo e sair correndo feito uma louca, é imensa.

— Você está abusando de minha paciência...

Eu sei que em poucos minutos ela vai me arrastar para fora e adeus pendrive.

— Você devia ser ao menos cuidadosa... — Coloco o óculos que tenho em mãos sobre a mesa e me inclino para apoiar os braços na mesma. — Casamos faz poucos dias e a empresa toda já deve saber que  estava com sua amante aqui. — Propositalmente escorrego o braço batendo no óculos fazendo com que caia no chão e gradeci a Deus por ter dado certo. — Não me trate como se eu... Fosse culpada de alguma coisa. — Me inclino para pegar o objeto com uma mão e enfio a outra na gaveta onde pego o alvo do meu desejo.

Em um piscar de olhos eu já dou um sorriso amarelo segurando o óculos diante do olhar fulminante de Alexa.

— Não quero você em minha cadeira. — Se aroxima e faz o que eu já imaginava que faria, me puxa pelo braço e fecho a mão com força tentando esconder o objeto. — E não quero você em minha empresa. Não importa o que minha mãe diga. Saía da minha frente!

— Ah, mas é uma grossa mesmo! — Me desvencilho de sua mão. — Quem seria louca de casar por amor com alguém feito você? Essa tal Hazel só pode estar interessada no seu dinheiro.

Como já consegui o que queria e sento meu coração na mão, temendo ser pega antes de sair, pego a bolsa e caminho rapidamente em direção a porta.

A secretária me encara e estreito os olhos para a atrevida que tentou me impedir de ver Alexa e a amante, mas passo direto. Apenas quando entro no elevador abro a mão e vejo a tal coruja, mas ela não me parece um pendrive. Observo, tentando achar algo embutido e quando estranhamente consigo abri-la ao meio, vejo que dentro há uma pequena chave.

Quase choro ao perceber que meus esforços foram em vão. Para piorar terei que colocar a chave de volta na gaveta. Mas quando as portas do elevador se abrem, algo me vem em mente. Uma chave pequena e diferente escondida me faz lembrar daquela porta camuflada.

Seria ela a chave de lá? Se os objetos de Alexa estão naquela sala, provavelmente o tal pendrive esteja também. Pensando nisso sigo para casa fazendo uma oração para que esteja certa e antes do fim do dia possa relaxar sem que Steve me mande uma mensagem ameaçadora.

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