05 • Wedding

A ânsia já não é meu maior problema.

Emily me encara com um maldito sorriso provocante e o telefone em sua mão toca insistentemente. Eu estou parada sem reação, assustada e cheia de sensações que me fazem desejar a morte nesse momento.

Quando adolescente, meus pais costumavam avisar sempre que algo estava indo mal, ou quando alguém não era de confiança. Eles tinham um olho bom para reconhecer pessoas e antes que eu me machucasse me alertavam. Mas claro, como toda adolescente, eu não dava ouvidos e acabava de fato quebrando a cara.

Nesse momento percebo que sem meus pais eu não passo de uma criança amedrontada, uma tola que anda com as pessoas erradas, tomando decisões precipitadas.

— Sabe... — diz Emily dando um passo a frente, então se agacha próximo a mim. — Desde que eu soube sobre o casamento de minha irmã com Katherine, não acreditei no quanto o destino seria cruel me colocando novamente diante dela. Faz três anos desde a última vez que a vi e pensei que seria bom saber como estava vivendo antes de encará-la novamente. No entanto, acabei descobrindo algo bem mais interessante.

Emily conhece Katherine? Mas ela afirmou que ninguém realmente a conhecia!

Eu não consigo encará-la, escuto tudo fitando o chão do banheiro, me perguntando o que fazer ou dizer.

O telefone volta a tocar, então Emily pega minha mão e coloca o aparelho sobre a palma, em seguida levanta e sai do banheiro. No visor esta o nome de Margot.

Atendo e afirmo que estarei no hotel em breve. Não consigo ouvir o que ela diz, pois minha cabeça esta cheia do que Emily dissera.

Levanto, lavo a boca e o rosto. Encaro meu reflexo no espelho, meus cabelos estão secos e desgrenhados. Essa é uma versão lamentável de mim.

O celular vibra sobre a pia de repente. Suspiro pegando o aparelho onde vejo que é uma mensagem de Katherine, mas ao abrir quase deixo o aparelho cair ao ver a imagem na tela. A foto dela ensanguentada com um corte no pescoço me choca a ponto de ter que trazer uma mão a boca para evitar o grito que se forma em minha garganta.

A náusea volta e a vontade de vomitar, junto ao tremor que quase me leva ao chão, mas me seguro na pia tentando ler a mensagem a seguir.

"Quem você acha que seria a principal suspeita do assassinato de Katherine Volkmer? Espero vê-la mais tarde no altar. Siga o plano e nada de mal acontecerá a você ou sua família."

O aparelho escapa de minhas mãos e cai no chão. Sinto o ar me faltar.

Tudo que existe em mim é medo.

— Você exagerou na bebida ontem. — Emily surge na porta do banheiro de repente, me retirando do estado de torpor. — Insistiu que não queria ir para o hotel e...

— Estou atrasada — falo em um fio de voz, mantendo o olhar na pia.

— Você é muito descarada. Está mesmo pensando em seguir com esse seu plano?

— Não é o meu plano! — Viro o rosto para encará-la. — Você sabe o quê me trouxe até aqui? Acha que é mais confortável para mim fazer isso? — Passo as mãos trêmulas por meus cabelos bagunçados.

Há tanto medo que eu não consigo que pensar. Tudo que vem em mente é que preciso casar, independente de quem havia me enviado aquela mensagem. Eu não consigo cogitar hipóteses ou me perguntar sobre como Emily descobriu, ou sua ligação com Katherine.

Não consigo me perguntar quem está me ameaçando e assassinou ela, nem me preocupar com o fato de estar morta. Nesse momento quero sobreviver, manter minha familia segura, por isso só consigo pensar no que preciso fazer, que é casar.

— Você é uma farsa, não vou permitir que esse casamento aconteça!

— Não me interessa o seu dinheiro ou sua família! Não sei qual sua ligação com ela, mas nesse momento eu sou Katherine. E a menos que você traga um exame de DNA antes da cerimônia, irei casar com sua irmã.

Não sei de onde tiro a cara de pau para dizer essas palavras que saíram com uma firmeza absurda enquanto minhas pernas ainda tremem.

Emily sorri com um certo olhar de admiração que me faz perceber o quanto é indecifrável.

— Você é obstinada — afirma se inclinando e pega meu celular no chão.

Arregalo os olhos ao ver a cena. O visor esta apagado, mas temo que ela veja a imagem, por isso rapidamente pego o aparelho de sua mão.

— Vou seguir o plano das duas famílias, eles ganharão com isso. Não desejo interferir em nada em sua família...

— Eu sei que está fazendo isso apenas por um capricho de Katherine que adora usar as pessoas. Tudo bem, vai lá, siga o plano. Estou mesmo curiosa para saber até onde consegue ir. — Abre caminho para mim e engulo em seco obrigando minhas pernas, que parecem pesar uma tonelada, a se mover.

Emily não me leva para o hotel a meu pedido. É estranho que com ela eu consiga falar com segurança, mesmo depois de ter sido descoberta. Algo em seu olhar — que apesar de quase indescritível — me faz acreditar não ser uma ameaça. Parece existir uma certa confiança de minha parte, algo muito errado. O que sei sobre Emily? Nada!

Enquanto o táxi segue em direção ao hotel, minha mente começou a de fato funcionar, me perguntando quem fez aquilo. O que começou como o simples capricho de uma herdeira rica, acabou em sua morte e eu desgraçadamente estou envolvida.

Quais as chances disso terminar bem para mim? Quem poderia ter feito? Steve vem em minha mente como principal suspeito, afinal aparentemente ele é o único que sabe sobre mim, mas ele é irmão dela.

A verdade é que eu não sei nada sobre Katherine. Não sei quem são as pessoas próximas a ela ou seus inimigos. Emily a conhecia e eu nem podia imaginar.

Me sinto observada, cercada por olhos me vigiando. Temo que a polícia venha me buscar a qualquer momento.

Almoço com Margot, na verdade finjo comer um pouco. Seguimos juntas para o spar onde passo horas recebendo tratamentos estéticos. É relaxante, ao menos para meu corpo, já que minha mente ainda trabalhava pensando em Katherine morta e meu destino incerto.

As horas passam tão rápido que quando dou por mim já estou pronta, usando o temido vestido de noiva. Falta apenas o véu, que tem mais de 4 metros e se estende pelo chão do quarto.

Pelo reflexo no espelho vejo Eleanor que já usa seu vestido longo, cabelos presos e uma maquiagem forte demais no rosto esticado pelas plásticas. Ela se aproxima de mim e com cuidado coloca ao redor de meu pescoço um colar de cor prata, com um pingente delicado em forma de coração com uma discreta pedra azul.

— Este colar pertenceu a minha mãe — diz enquanto fecha a peça. — Alexa é uma boa moça. Tem uma personalidade difícil, mas nada que uma boa esposa não possa lidar. Ela é minha única filha e meu bem mais precioso, por isso não meço esforços quando se trata de seu bem estar. Desejo que esse seja seu único casamento. — Ela dá um sorriso forçado me olhando pelo espelho, em seguida sai.

Dou um suspiro longo e pesado, levando os dedos até a jóia em meu pescoço, então fecho os olhos.

Aparentemente aquelas palavras eram de uma mãe que deseja a felicidade da filha, mas para mim foram como uma ameaça. Com aquele colar e com a mensagem implícita em suas palavras, ela deixou claro que meu dever será fazer aquele casamento tornar-se real e fazer sua filha feliz.

Como eu poderia? Me pergunto. Mesmo se Alexa fosse uma mulher perfeita, eu não seria capaz de fazer tal coisa.

Seguimos em uma limusine em direção ao hotel que acontecerá o casamento. Estive apenas uma vez no local, pois ao menos em relação a isso Margot me deixou um pouco de fora e resolveu tudo com a cerimonialista.

Encontro o ministro diante das portas de entrada do salão e seu olhar brilha ao fitar quem ele pensa ser sua filha. Meu coração aperta lembrando mais uma vez da foto de Katherine..

— Perdoe seu velho pai por pedir algo tão grande — sussurra ele em meu ouvido quando seus braços me envolveram. — Mantenha a calma, logo as eleições chegarão e quando eu ganhar você poderá fazer o que quiser. — Franzo o cenho me afastando enquanto ele sorri me olhando.

Percebo que não sei nada do que ele combinou com Katherine.

Sinto-me mais uma peça solta em meio a esse jogo que eu não sei jogar, mas tenho que aprender se quisesse sobreviver.

Minhas mãos frias apertam o buquê, que minutos antes uma moça me entregou. Engulo em seco mantendo os olhos no chão e entrelacei o braço direito ao de Joseph. As portas se abrem e usando tudo que me resta de coragem, levanto a cabeça, dando o primeiro passo em direção ao altar.

Passo os olhos pelo local observando que é tudo branco demais, transmitindo uma pureza que não existe na situação em que estamos. Toda a decoração é em branco; paredes, flores e apenas pequenos detalhes em verde.

Os flashs de uma câmera chamam minha atenção enquanto sigo em linha reta, fixando o olhar em Alexa a minha frente. Ela esta muito bonita usando um terninho feminino todo em branco.

Tudo passa diante de meus olhos como um filme mudo, todas as etapas a seguir; as falas do juiz de paz, a troca de alianças, a saída, a troca de vestido em uma suíte e a ida para o salão de festas.

Tudo passa em preto e branco com flashs em vermelho quando a imagem de Katherine com a garganta cortada passa diante de meus olhos.

Consigo me situar apenas quando vamos receber as felicitações dos convidados e familiares. Só então percebo o quanto Eloise está linda. Depois da família Vielmont vieram os pais de Katherine e logo em seguida Steve que me abraça e sussurra em meu ouvido:

— Parabéns, está tudo dando certo.

Sinto um arrepio percorrer minha espinha e um tremor em minhas mãos junto a meu coração que acelera. Consequentemente meus olhos se enchem de lágrimas. Novamente o medo se apossa de mim.

— Feliz? — pergunta Alexa.

Estavamos sentadas em uma mesa, ao lado dos familiares, após termos cortado o bolo.

— Agora você é uma Vielmont, tem o mundo a seus pés. Não era esse seu objetivo? — Seu tom é irritante.

Tento respirar fundo, mas sou impedida pelo vestido de cor creme com pedrarias em um corpete que aperta meu busto. Viro o rosto para encará-la, notando que está perto demais.

— Felicidade é algo que acho impossível com esse tipo de casamento. Eu diria que estou satisfeita, ao menos por você ter optado beijar apenas minha mão quando estávamos no altar. — Ela sorri me irritando.

— Querida, você precisa jogar o buquê — avisa Margot.

Levanto e caminho pelo salão. Uma moça me entrega o buquê novamente então subo os dois degraus dos pequeno palco diante de uma quantidade de mulheres maior do que imaginei que teria. Não conheço nenhuma delas, mas quando cheguei ao local da festa todas me cuprimentaram como se fossem íntimas. Viro de costas e uma moça que segura um microfone começa a fazer a contagem até que finalmente jogo.

Quando viro avisto uma jovem de cabelos loiros, linda, em um belo vestido vermelho que cai muito bem por seu corpo. Ela sorri enquanto as outras parabenizam. Noto que seu olhar se fixa em Alexa, que também olha em sua direção.

Desço os degraus com cuidado, não deixando de notar a troca de olhares entre as duas, mas alguém que não conheço me para pra falar alguma coisa que não presto atenção e logo saio.

— Vejo que detectou a amante de sua esposa. — A voz de Emily ao meu lado me assusta. — Espero que não seja ciumenta, cunhadinha.

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Comments

Anne Jay

Anne Jay

A Hannah: Hoje eu percebi que fudeu

2024-05-05

0

Anne Jay

Anne Jay

Rapaz

2024-05-05

0

Míope aleatória

Míope aleatória

que porra tá acontecendo agora /Scare//Scare//Scare//Scare/

2024-04-16

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