16 • Truth

Eu estava prestes a abrir a janela quando alguém segurou em meu braço. Assustada já imaginando estar completamente perdida, encarei quem eu mesmos esperava encontrar .

Emily leva um dedo aos lábios pedindo silêncio e logo em seguida sai me puxando em direção a porta da frente. Confusa, não consigo dizer nada, apenas permito que me leve para longe, mas noto que ao invés de seguir para a escada de saída vamos até diante a porta do outro apartamento onde ela bate.

Franzo o cenho não entendendo, mas sei ao ouvir passos vindo da escada, alguém esta subindo. Ela aperta minha mão, nervosa e impaciente, até uma senhora de cabelos brancos abrir a porta.

Nos enfiamos dentro do apartamento enquanto Emily fala sobre desejar conhecer o interior da casa para comprar um apartamento no prédio.

Paramos no meio da sala e a mulher está tão confusa quanto eu. Emily sorri para ela e com calma explica que desejavamos comprar um apartamento, estamos com pressa para ver o interior, porém não conseguimos entrar em contato com o rapaz da imobiliária.

— Ela está com oito semanas, queremos ter um cantinho para começar a montar o quarto do bebê — mente trazendo a mão até minha barriga me deixando embasbacada.

— Vocês duas são um casal? — A senhora analisa nossos rostos e estou extremamente constrangida.

— Sabe como é, os tempos mudaram — diz Emily.

— Bom, sentem-se — fala a senhora, mesmo que ainda nos olhe de forma estranha, começando a falar todos os problemas do prédio.

Se por acaso quiséssemos realmente morar nele com certeza teriamos desistido ao ouvi-la dizendo tantas coisas ruins a respeito. Eu apenas movia a cabeça confirmando, fingindo compreender enquanto Emily entrava mais na conversa que correu bem até a senhora olhar para algo do lado de sua poltrona e nos analisar, desconfiada.

— Espera aí... você não é a moça da revista? — Ela pega o óculos encima da revista que esta aberta e Emily me olha como quem diz "fomos pegas". — Não é você aqui, casando com essa moça? — insistiu a mulher apontando a fotografia.

— Bem, é que... — Percebo que minha companheira mentirosa ficou sem saber o que dizer.

— Sim, sou eu — confesso. — A família dela foi contra o nosso amor e tive que casar com o irmã. Na verdade não estou grávida, nós desejamos comprar um apartamento aqui para nossos encontros secretos. — A mulher abre a boca em espanto.

— Você enlouqueceu? — diz Emily entredentes.

— Esses jovens...  Já é estranho duas mulheres casando, mas ricos nesse país fazem tudo. Minha filha, você não tem vergonha de estar traindo sua esposa com a irmã dela?

A mulher está com uma expressão de desagrado, mas a sirene de uma ambulância soa lá fora. Todas levantamos para observar através da janela. Noto que há também a polícia lá embaixo e enquanto a mulher se pergunta o quê aconteceu, eu não entendo como Emily, uma ambulância e a polícia vieram parar aqui.

— O que você estava fazendo lá? — foi a primeira coisa que perguntei assim que Emily fechou a porta do carro.

— Eu quem devia perguntar isso. — Ela liga o veículo e dá partida. — Estava te seguindo, afinal não tenho certeza de que é de confiança. O quê você foi fazer lá, afinal?

— Quem chamou a polícia? E a ambulância?

— Não faço idéia!

— De qualquer forma obrigada por desconfiar de mim. — Não parece, mas sou sincera. — Mas e você, é mesmo de confiança? — Ela me olha de soslaio e bufa como se dissesse que era óbvio a resposta. Abro a bolsa e de dentro retiro o relógio.  — Sua irmã gosta muito desse relógio, mesmo tendo vários outros usa esse praticamente todos os dias. Hoje cedo ela procurou em todos os lugares, mas não o encontrou. Estava no quarto de Hazel...

— Esse relógio foi um presente da mãe dela, mas porquê está falando sobre isso ao invés de responder minha pergunta?

— Vim até aqui porque Alexa esqueceu o celular e vi uma mensagem de Hazel pedindo que a encontrasse naquele endereço. Eu tinha intenção de tentar falar com ela... Você sabe que Eleanor deseja de mim em relação isso, eu tinha que tentar afasta-las. Mas não tentei mata-la! — explico. — Quanto ao relógio, não acredito que Alexa tenha visitado Hazel ontem a noite, mas mesmo se tivesse, ela não teria enviado o endereço por mensagem. E isso aqui é estranho... — Emily desvia os olhos da estrada enquanto aponto a mancha de sangue na pulseira marrom.

— Então aquilo seria uma armadilha para Alexa? — Não confirmo ou nego, ficamos em silêncio por um tempo, ambas digerindo aquelas informações. — Mas não ficaria óbvio se a polícia encontrasse a mensagem no celular dela? — Emily tem razão e isso me faz repensar. — A menos que alguém apagasse para encobrir, mas como... Será que tinha alguém mais naquela casa?

— Você pode procurar saber sobre a Hazel? — Mudo de assunto, pois só de imaginar que o verdadeiro assassino poderia estar naquela casa sentia todos os pêlos dos meus braços arrepiar. — Ah, e... Tenta descobrir onde Alexa foi beber ontem a noite.

— Sou sua subordinada agora? — Sorrio relaxando um pouco ao notar seu tom brincalhão. — Relaxa, farei isso assim que chegarmos em casa. Posso não ser sua empregadinha, mas você encontrou alguém que possui muitos amigos.

— Amigos que você quer dizer informantes? — Ela confirma com a cabeça.

Em poucos minutos chegamos na mansão, onde assim que atravesso a porta da frente me deparo com Eleanor que está uma fera, tanto por meu sumiço quanto o da filha que não chegou ainda e a equipe para a entrevista já está na sala de visitas a nossa espera.

Lydia chega comunicando ter acabado de falar com a secretária de Alexa que afirmou que ela está há horas trancada na sala. Eleanor logo exige que eu vá buscá-la, então como a boa nora que sou, apenas dou meia volta e saio sem esperar que fale duas vezes.

De fato encontro Alexa trancada na sala, mas quando a secretária comunica minha presença, ela autoriza a entrada. Hesito um pouco antes de entrar e encará-la, mas após reunir minhas forças abro a porta e avisto ela do outro lado da mesa.

— Eleanor está louca a sua espera — falo me aproximando. — A entrevista...

— Não posso fazer isso, não hoje. — Seu semblante me faz temer que ela saiba sobre Hazel.

— O quê está acontecendo? — Sento a sua frente notando que encima da mesa há várias fotografias espalhadas. São as mesmas que deixei cair quando estive em sua sala secreta aquele dia.

— Não consigo entrar em contato com Hazel desde aquele dia no hospital e ela não aparece na casa dos pais há dois dias. — Observo ela engolir a sálvia como se estivesse entalada com alguma coisa. — Como posso fingir ser alguém feliz, fazendo algo a favor daquela família que com certeza tirou de mim a única pessoa que amei e desejei proteger?

Baixo a cabeça me sentindo uma pessoa má por saber mais do que devia e nada dizer.

Mas como poderia dizer que horas antes encontrei Hazel ensanguentada, depois de ver e apagar a mensagem em seu celular?

Alexa com certeza me odiaria.

— Você está disposta a deixá-los? — pergunto decidida a descobrir até onde vão seus sentimentos.  — Está disposta a abrir mão de sua herança e o nome da sua família? Alguma vez na vida você ao menos pensou sobre isso? Já pensou em largar tudo por ela?

Não é preciso ouvir sua resposta para saber que seria não, que ela jamais pensou sobre aquilo. Não era difícil saber que para ela mais valia manter Hazel longe da família, ou tentar encaixá-la alí, do quê largar tudo.

Infelizmente perceber que tive razão ao desejar tentar afastar Hazel não me fez sentir melhor, minha consciência dizia que minhas atitudes egoístas não eram justificáveis.

— Eu sou um lixo, não sou? — Ela dá um sorriso triste pegando uma das fotos encima da mesa. — Durante esses anos consegui impedir que minha mãe fizesse algo contra Hazel devido essas fotografias. — Pego uma delas e observo a mulher na cadeira de rodas. — Essa pessoa é Elizabeth, mãe de minhas irmãs que foi dada como morta há mais de vinte anos, mas a verdade é que minha mãe manteve ela em uma clínica psiquiátrica até alguns anos atrás. — Arregalo os olhos não acreditando no que ouvi. — Mas sabe o que é pior? Eu jamais teria coragem de expor isso.

— Isso é... Loucura — murmuro.

Não consigo entender, mas quero confortá-la. Sei que não sou ninguém para julgá-la.

Meu telefone começa a tocar, é Eleanor que quase estoura meus tímpanos quando atendo. Me resumo a dizer que não daremos entrevista e desligo.

Imagino que logo ela manda alguém ou vem pessoalmente a empresa, então me coloco de pé e junto todas as fotos sobre a mesa colocando-as de volta ao envelope enquanto Alexa me olha confusa.

— Vem, vamos fugir! — Estendo a mão para ela que franze o cenho. Dou um sorriso que não é de felicidade ou de qualquer coisa parecida, é mais uma tentativa de passar um pouco de conforto. — Vem, estou do seu lado. Esqueceu?

Sei que não somos perfeitas como dizem as revistas. Não somos as mocinhas completamente livres de erros e símbolo de perfeição. Nossos pecados estão nos atormentando nesse momento e não seremos capazes de compreender as razões uma da outra. Mas podemos fugir de todos — mesmo sendo impossível fugir de nós mesmas — e tentar nos recarregar para depois enfrentar tudo o que ainda está por vir.

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Comments

Anne Jay

Anne Jay

Aaaah que bonitinho mano

2024-05-05

0

Adriana Gomes

Adriana Gomes

😍😍😍

2023-07-21

1

Sammy

Sammy

aaaaaaah, que lindas, cara🤧😍😍😍😍😍😍😍

2022-11-29

2

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