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Alexa é visivelmente apaixonada por antiguidades, pois a sala pequena tem uma estante repleta delas e outra com livros. Há uma mesa onde vários porta retratos com fotografias dela e Hazel se destacam em meio a folhas e objetos. Não posso evitar sorrir observando o sorriso delas nas fotos tão espontâneas que transmitem um sentimento muito forte e sincero de ambas.

Infelizmente existem momentos na vida que é preciso usar de uma grande quantidade de egoísmo e eu, nessa situação, preciso esvaziar todo o meu reservatório para manter meus pais bem, além de permanecer viva e longe da polícia. Todos temos problemas, alguns mais, outros menos. Não posso me solidarizar com o problema de Alexa e a namorada. Se depois de quatro anos ela acabou tendo que casar com outra e a garota está sendo ameaçada pela família Vielmont, significa que aquele relacionamento não terá futuro e só estou antecipando o fim.

Pensando assim — para me convencer que de certa forma farei o certo —, vasculho as gavetas da mesa e não demoro a avistar o pendrive. Meus olhos com certeza brilham ao ver o objeto que pego rapidamente, mas quando já me preparo para sair, bato a mão em alguns papéis que caem e junto a eles um envelope que espalha fotografias pelo chão.

Choramingo por ter feito tal besteira, pois se Alexa for perfeccionista com certeza notará que alguém mexeu em suas coisas. Se bem que seria inevitável ela se dar conta que o pendrive ou a chave não estavam no lugar.

Me ajoelho no chão começando a juntar as fotos, e não posso deixar de notar que pelo ângulo elas foram tiradas sem o conhecimento das pessoas que nelas estão. Estreito os olhos tentando reconhecer quem são. Reconheço Eleanor sentada em um banco, em pé a seu lado está uma mulher de branco parecendo uma enfermeira e sentada em uma cadeira de rodas, outra que não reconheço, então decido ignorar jogando tudo dentro do envelope.

Não olho mais nada, prefiro evitar mexer em qualquer coisa e me demorar mais do quê o necessário.

Quando volto à empresa decido ir de táxi, pois não gosto de ver o motorista da família sempre me dando umas encaradas através do retrovisor.

Nem almocei e já são quase duas da tarde.

Steve me recebe com um sorriso aberto. Sua sala fica dois andares antes do escritório de Alexa, mesmo assim temi encontrá-la. Ele copiou as informações do pendrive e pelo pouco que vi eram apenas planilhas, coisas referente a empresa.

Me pergunto como farei para colocar a chave no lugar. Ao menos é no escritório e se Alexa perceber que não está lá, poderia ter sido outras pessoas. Já o pendrive é mais difícil imaginar outra pessoa que não eu.

— Você tem que aprender a tomar decisões rápidas. Acha que está lidando com quem? — alerta Steve.

— Se eu tomar decisões mais rápido que isso ganharei um prêmio, tenho certeza. Você não faz idéia das situações que já tive que sair. E só estou naquela casa a menos de uma semana.

— Coloca a culpa em alguém. Ou melhor, na empregada, menos que queira voltar aqui e colocar no lugar. Bem, eu não tenho nada a ver com isso. Você já pode ir embora. — Encaro o idiota com desprezo e saio em direção a porta. — Espera aí. — Paro com a mão na maçaneta. — Minha irmã entrou em contato com você?

Fico tensa, não sei o que dizer, temo que ele ache que eu quem dei um fim a Katherine. Acabo ficando em silêncio por tempo demais, de costas para ele em um momento de muita tensão e medo.

— P-por que ela se comunicaria comigo? Nunca fez isso antes. — Ele nada diz e aproveito para sair da sala.

Depois de chegar em casa, colocar o pendrive no mesmo lugar e trancar a porta, sinto que metade daquele peso saiu de cima de meus ombros, a outra metade está em minha mão, é a chave e eu não sei o que farei com ela.

Será que devo jogar fora e fingir que nunca existiu? Me pergunto, retirando a roupa me preparando para tomar um banho e relaxar um pouco depois daquela correria.

Durante a tarde tomo chá à beira da piscina ao lado de Eleanor e uma amiga dela. As duas só falam sobre negócios.

Dinheiro é o centro do universo daquelas pessoas. Eles vivem para conseguir triplicar seus lucros. Eleanor é muito focada no desempenho das lojas de departamento.

Completamente por fora de tudo, apenas tomei meu chá pensando na chave que escondi dentro do bolso de um sobretudo no closet.

Durante a noite, todos — com exceção de Alexa — estavam presentes durante o jantar.

Assim que acaba subo antes que Emily, ou pior, Eloise me aborde, pois não estou com cabeça para elas.

Deito e deixo que meus pensamentos vagem. Já é tarde quando escuto Alexa chegar.

Acordo acreditando ser cedo demais, pois Alexa ainda está em casa. Decido levantar para tomar café junto a família, antes que eles comecem a me chamar de preguiçosa por levantar sempre tarde, mas quando termino de me vestir e vou pegar meu celular, vejo que já são quase dez da manhã.

Me pergunto o motivo de Alexa ainda estar em casa e caminho o mais disfarçadamente até a porta, ouvindo ela revirar lá encima. Estaria procurando a chave? Estou ferrada!

Coloco a mão na maçaneta e no mesmo momento escuto ela descendo a escada. Abro a porta temendo o que fará, mas passa por mim sem nada dizer. Saio logo atrás e quando descemos a escada avisto Emily entrando pela porta da frente, seguindo direto até Alexa.

A mais velha defere um soco que faz a outra cambalear para trás, se chocando contra o corrimão da escada. Paro no degrau chocada, com as mãos na boca e os olhos arregalados.

A mais velha segura na gola da blusa da outra e seu olhar é de puro ódio.

— Foi você, sua vadia! — grita sacudindo o corpo de Alexa que tenta se desvencilhar — Você vazou as malditas informações. — Eloise solta ela e está prestes a levantar a mão para bater novamente, mas corro me aproximando, seguro em seu braço pedindo que parae.

— Você enlouqueceu? — grita Alexa.. — Por que eu vazaria um arquivo que todos sabiam estar comigo?!

Posso ver sangue no canto da boca dela que está cortada.

Por Deus. Onde Eloise, que parecia uma perfeita dama, aprendeu bater daquele jeito?

Avisto uma empregada que observa a cena, então peço que busque gelo e a caixa de primeiros socorros.

— Você vai se arrepender disso — ameaça Alexa antes de caminhar para outra sala e estou prestes a sair também, mas Eloise segura em meu braço com uma força maior que a necessária.

— Você está mesmo defendendo ela?

Suspiro pedindo a Deus paciência.

— Não seja estúpida! Se vocês estão com problemas na empresa devem sentar e conversar, não agir feito uma lutadora de boxe. — Me solto e saio.

Encontro Alexa no sofá com a cabeça inclinada para trás. Sento na mesa à sua frente e abro a caixa de primeiros socorros que a empregada me entregou antes. Pego algodão e um medicamento para desinfetar a área. Ela me encara e seus olhos dizem que não vai me permitir tocá-la.

— Não aja como uma menina birrenta. Vamos, não vou arrancar nenhum pedaço seu. — Mesmo que ela não tenha respondido, percebo que não vai me afastar.

Me inclino um pouco mais para alcançá-la e começo cuidar da ferida no canto de sua boca. Ela faz careta no início, mas permanece quieta, com o olhar baixo enquanto estou atenta a seus lábios, o nariz fino e cílios volumosos. Nesse momento não consigo evitar achá-la linda. Acabo me distraindo até senti-la segurar meu pulso afastando minha mão.

— Foi você? — pergunta e pisco algumas vezes confusa. — Você pegou a chave e o pendrive, vazou os arquivos...

— Não! — respondo rapidamente. — Não sei do quê está falando.

— A única pessoa que tem acesso a meu quarto e foi até minha sala ontem foi você. — Alexa está séria, parece ter certeza demais e eu estou novamente tensa.

— Ei, você! — diz Eloise entrando de repente e me afasto. — Não pense que nossa conversa acabou.

— O que te faz pensar que vazei alguma informação sobre a empresa a qual sou vice-presidente? — Alexa fica de pé e eu sentada observo as duas.

— Eu sei que você quer a minha posição. — Afirma mais velha e as duas se encaram de uma forma que quase saem faíscas. — Mas para conseguir por as mãos no que é meu você vai ter que me matar primeiro. — Eloise dá um passo atrás me encarando e desvio o olhar rapidamente, tendo certeza de que ela se referia não apenas a presidência.

No mesmo momento uma mulher que eu não vi antes, entra na sala informado que Sebastian está chamando as duas na sala dele.

Enquanto entro na cozinha para guardar o kit, depois das duas irmãs terem ido falar com o pai, escuto as empregadas fofocando sobre a briga.

Uma coisa é certa, não terei um dia sequer de paz nessa casa. Estou completamente perdida. Alexa sabe. Justo eu, que sequer sei qual a importância daquela droga arquivo.

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Comments

Silvia Galdino

Silvia Galdino

tensooooo

2022-10-31

5

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