10 • Bruised

Quando a porta do quarto é aberta eu nem me atrevo a olhar na direção da mesma, permaneço imóvel sentada na ponta da cama. Não cheguei a pensar em nenhuma forma de escapar de Alexa que parou à minha frente e antes que pudesse encará-la segurou em meu braço e puxou meu corpo para que ficasse em pé.

Não sei o que Sebastian disse, mas sem dúvida ela está mais enraivecida do que quando Eloise a atacou.

— Quem mandou você pegar o pendrive? — questiona.

Abro a boca para dizer que não fui eu, mas Alexa alerta que não menta.

Não posso confessar nem mesmo se quisesse, pois teria que apontar alguém. E delatar Steve não é uma alternativa. Estamos amarrados por uma mentira, caso um caia o outro vai junto.

Quanto mais Alexa me pressiona com palavras, mais me desespero e peço que ela pare. Sempre negando. Negaria quantas vezes fossem necessárias, até ela desistir.

Não há provas de que fui eu, então não fui eu! É esse meu pensamento quando Emily entra no quarto e faz Alexa me soltar, se colocando entre nós duas.

— Fui eu quem pediu para ela pegar o pendrive e causei toda essa bagunça. Porque sei que nem você ou Eloise merecem o lugar que ocupam naquela empresa.

— Você? — Tanto Alexa quanto eu estamos surpresas. — Por que você faria algo a pedido dela? — vociferou Alexa se dirigindo a mim. — Com quem se casou, Katherine? Está do lado de quem? — Ela mal termina a frase e Emily empurra seu corpo fazendo com que se afaste de mim.

— Porque você não passa de uma menina mimada. Se deseja respeito e fidelidade, faça por merecer! — Emily cuspiu as palavras e vejo Alexa fechar o punho com raiva.

— Emily... — murmuro segurando o braço dela pedindo de forma silenciosa que não inicie outra briga.

— Vou lidar com as consequências, deixe Katherine em paz — avisa Emily, em seguida sai do quarto.

— Você é uma cobra se arrastando pelas beiradas. — Aponta a mais nova para mim. — Não pense que isso ficará assim. Meu pai saberá que a mulher que colocou sob seu teto é alguém que conspira contra seus negócios junto a aquela bastarda! E sabe o que ele faz com quem interfere...

— Ele os elimina? — interrompo. — Assim como planeja fazer com sua namorada.

— Do quê está falando?

— Não banque a ingênua, você sabe que seu pai é capaz disso e está apenas esperando o momento certo. Vai lá, seja a filha dedicada e entregue minha cabeça nas mãos da pessoa que deseja a de sua amante bem mais que a minha. Afinal, quem você acha que é mais importante para os Vielmont, uma Volkmer ou uma zé ninguém?

— Você não sabe de nada! — berra dando um passo em minha direção, mas sai rapidamente em direção a porta.

Sinto minhas mãos trêmulas. Estou com os nervos a flor da pele.

Já é noite quando Steve me liga ameaçando, para garantir que eu não conte a ninguém sobre ele. E reforça que Katherine é filha do ministro Volkmer, alguém que é tão importante para os Vielmont quanto eles para o ministro, e isso é mais que suficiente para que em momento algum eu baixe a cabeça para qualquer membro da família.

No entanto, antes do jantar, Eleanor me chama na sala de visitas. Mal entro e sou recebida com um tapa que arde em meu rosto, onde parece ter machucado devido ao anel que ela tem no dedo.

— Se tiver alguma coisa a ver com essa tentativa de deixar minha filha mal com a família, irá se arrepender amargamente — grasnou a mulher com sua voz insuportávelmente alterada. — Você é apenas uma peça de decoração nessa casa. Podemos descartá-la em breve, então preste atenção no que faz daqui pra frente. — Ela sai da sala e permaneço com a mão no rosto sentindo a consequência de sua ira, desejando revidar, mas apenas engolindo em seco aquele sentimento de dor e raiva que desce rasgando minha garganta.

Passo no banheiro e vejo que realmente feriu um pouco minha bochecha. Encaro meu reflexo no espelho e sinto pena de quem vejo, mas respiro fundo deixando que meus cabelos caiam cobrindo aquele lado do rosto, impedindo que vejam minha pele avermelhada e o pequeno machucado, em seguida vou para a sala de jantar.

Apenas Emily não está presente.

Mal ocupo meu lugar, Sebastian começa a falar sobre os arquivos vazados alertando as filhas de que se mantenham espertas, pois muitas pessoas tentarão colocá-las umas contra as outras.

Mal mexi em meu prato. Saio da mesa antes de todos os outros, não conseguindo comer com aquelas pessoas e nem encará-las. Me pergunto o quê Katherine faria em meu lugar, como ela agiria diante de cada situação que enfrentei.

— Katherine! — chama Emily.

Eu estava no corredor, a caminho do quarto e sou levada para aquela mesma sala do outro dia. Tenho em mente que não vou seguir com aquela loura, ser amante dela é um problema que não quero enfrentar, por isso decidi dar um fim a aquela relação absurda antes que alguém note.

— Você saiu da mesa e veio atrás de mim? Quer que as pessoas desconfiem? — reclamo.

— Está me evitando? Será que... tem interesse na Alexa?

Penso em usar isso a meu favor, mas corro o risco de causar mais problema entre elas.

— Não é nada disso! Ajudei Alexa mais cedo porque ela estava machucada, faria aquilo por qualquer um.

— Não quero que faça por ninguém! — Ela dá um passo a frente, trazendo a mão até meu rosto, mas seguro sua palma.

— Eloise não podemos continuar com isso — falo com certo receio. — É arriscado e...

— Não estou te reconhecendo.  — Seu tom e olhar são um tanto desconfiados. — Sempre preferiu coisas arriscadas.

— Ah, mas... As coisas são diferentes agora. Eu sou casada e...

— Você afirmou com todas as letras que nada mudaria entre nós mesmo depois do casamento. — Ela fecha a mão que eu segura e me puxa para junto de si. Sinto meu coração indo lá na boca enquanto nossos olhos estão fixos. — Você está diferente.

— As coisas mudaram, pessoas mudam e eu mudei. —  Tento ser o mais firme possível e dou um passo atrás puxando minha mão, mas ela não permite que me solte.

— Sabe que não é assim que as coisas acontecessem. — Eloise dá um sorriso que me faz engolir em seco. — Todas as vezes que tentou me despistar eu a encontrei e estando aqui tão perto, você realmente acha que poderá terminar assim? —  Aperta ainda mais minha mão causando uma certa dor e meu impulso seria protestar, mas suas palavras e o olhar me deixam amedrontada.

— Eloise, por favor... — suplico em um sussurro e ela dá um sorriso antes de me soltar e acariciar meu rosto.

— Eu te perdôo por ter defendido a Alexa, mas com uma condição, que nesse fim de semana você vá comigo a um lugar.

Tudo o que consigo fazer é confirmar com a cabeça, pois nesse momento não seria louca de dizer não a aquela maluca que mais parecia uma psicopata.

— Prometo que não irá se arrepender. — completou, novamente acariciando meu rosto e sinto repulsa quando se aproxima fazendo meu coração saltar no peito novamente, então deposita um beijo no canto de minha boca. — Agora vá descansar.

Não é preciso dizer duas vezes, saio o mais rápido que posso, entro em meu quarto sentindo o choro entalado em minha garganta. Não suportando mais aquela situação, todas as acusações e ameaças, o medo constante e até mesmo a dor física, me permito chorar.

Assim como Alexa disse, eu estava me arrastando pelas beiradas, mas não a espera para atacar e sim lutando por sobrevivência. Permito que as lágrimas rolem e me renove, me preparando para seguir em frente.

Não sei ao certo quanto tempo levo imersa naquele momento em que me permito ser eu, a Hanna assustada e cansada. Paro apenas quando vejo diante de meu rosto vários lenços. Levanto a cabeça e Alexa está de pé ao lado de minha cama, com o rosto virado para o outro lado.

— Por que toda essa barulheira? — pergunta abanando os lenços e os pego de sua mão.

— Desculpa — falo.

Afinal por que eu pediria desculpa? Por estar chorando? Chorando por causa daquela família desgraçada.

— Não desejo desculpas, quero a chave de minha sala.

Após um suspiro, levanto e caminho até o closet. Enquanto procuro o sobretudo onde está a chave percebo que Alexa me seguiu e está parada a meu lado. Assim que pego o objeto ela segura em meu pulso me fazendo ficar de frente, arregalo os olhos assustada e ela segurou meu queixo virando meu rosto para o lado, observando.

— Quem fez isso com você? — pergunta e me afasto rapidamente. — Quem bateu em você, Katherine?

Faria alguma diferença ela saber quem fez aquilo?

— Foi sua mãe! — Estendo a mão com a coruja na palma, mas ela não pega de imediato, em vez disso vira o rosto para outro lado evitando me olhar.

— Desculpa... — fala tão baixo que quase não posso ouvir direito.

— O quê?

— Ela não voltará a fazer isso. — Pega o objeto rapidamente — Mas não volte a me apunhalar. — Alexa sai rapidamente.

Como milagrosamente tive uma noite tranquila de sono, acordo um pouco mais disposta na manhã seguinte. Aproveito para tomar café com toda a família, por mais que deseje que uma bomba caia sobre a mesa.

Emily costuma me ignorar quando estamos à mesa, ela nunca me olha nos olhos. Já Eloise me olha vez ou outra e seus lábios se curvam em um sorriso que me causa arrepios. Quanto a Sebastian, estava estranhamente silencioso e parecia comer bem pouco.

— Mandei remarcar a entrevista para daqui a dois dias — fala Eleanor, quebrando o silêncio.

— Não daremos entrevista essa semana — afirma Alexa.

—  Por que não? Estava marcado para ontem, mas devido ao que aconteceu... — Alexa bate o talher com força na mesa e a mãe para de falar, surpresa assim como todos.

— Não daremos entrevista essa semana e Katherine não irá trabalhar na fundação. — Arqueio as sobrancelhas, só então virando a cabeça para encará-la.

Eleanor nada diz, o café segue silencioso e nós três somos as últimas a sair da mesa. Como saio antes de mãe e a filha, assim que atravesso a porta não deixo de ouvir o que Alexa diz.

— Não volte a bater em Katherine e não tente levá-la para perto de Hazel. — Ela pareceu levantar, então saio rapidamente para não ser vista, mas ao chegar na escada ouço seu chamado. — Na sexta pela manhã iremos a inauguração de um restaurante do grupo.

Apenas confirmo com a cabeça e ela se vai.

Nos dias seguintes eu mal vi as irmãs, todas estavam trabalhando mais que o normal, provavelmente devido ao que Steve fez.

Eleanor não voltou a falar comigo e achei muito estranho, lembrando o tom ameaçador que Alexa usou com ela naquele dia.

A única pessoa com quem troquei algumas palavras durante meus dias foi Lydia que sempre tinha algo para contar.

Em uma de minhas tardes sem nada para fazer vi que Emily tornou-se assunto na internet, um site afirmava que ela estava namorando uma atriz e haviam fotos das duas se beijando em um estacionamento. Me perguntei se aquilo era real ou apenas jogada de marketing. Ainda não tinhamos falado sobre o fato dela ter assumido a culpa naquele dia, então desejava questioná-la sobre aquilo.

Mas esqueci tudo quando recebi uma mensagem do número de Katherine.

"A inauguração do restaurante será cancelada e quem se encarregará disso é você, Hanna. Caso contrário alguém irá se machucar durante a festa. Esse é seu papel como falsa filha do ministro, evitar que eu suje minhas mãos, tendo que tomar medidas drásticas."

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Comments

Caroline Oliveira

Caroline Oliveira

fa loucura viu, esse dinheiro é o pior que ela já ganhou

2024-04-18

0

Míope aleatória

Míope aleatória

Emilly meu bem nunca te juguei 🫶🫶🫶

2024-04-16

0

Míope aleatória

Míope aleatória

karai, que babado kkkkkk, o a Emilly quer de verdade?!

2024-04-16

0

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