Nota: Deixo aqui uma homenagem à Beth
Carvalho e aos meus pais: Carlos Alberto e Nádia Regina.
Que possa descansar em paz e continuar
olhando por nós, minha mãe!
Meu pai, sou eternamente grato por
seus feitos e seus ensinamentos.
Sigamos nossa caminhada juntos!
Devoto-lhes muito amor.
Léo acordou de manhã, sentindo as carícias de Thaís.
— Bom dia, meu amor. — A moça apaixonada disse.
— Bom dia.
— Sabe… tenho algo para dizer… acho que não tive tempo.
— Não precisa. Eu sei. Espero que tenha sido especial.
— Uhum, muito mágico, na verdade.
— Que bom. — O rapaz levantou, beijando-a. — A senhora não dormiu, por quê?
— Queria cuidar de você e Exu me liberou do treino hoje.
— Entendo… Infelizmente, eu preciso correr!
— Já!? Poderíamos ficar mais um pouquinho… — pediu.
— Não posso. Exu deve estar me esperando.
— Entendo. — Charmosa, ela fez um biquinho. — Tudo bem… Depois… será que podemos ficar um pouquinho juntos?
— Meu pai Ogum, como você é charmosa!
— Você é filho de Ogum!? — Ela arregalou os olhos.
— Falei demais, ‘né!? — O jovem torceu o rosto, culpado.
— E sua mãe? — indagou, curiosa.
— Agora, acho que não tem problemas, ‘né!? — indagou-se. — Bom, sou filho de Ogum e Iansã.
— Nossa!
— Por que do espanto?
— Agora entendo porque e como tudo aconteceu naquele dia com nosso irmão Cláudio…
— Claro! — Léo riu. — Vamos?
— Sim, mas depois você me conta mais sobre você.
— Não vai querer… — O jovem disse, com tristeza tomando seu semblante.
— Sempre vou querer. Seus passos, seus erros, seus acertos…. Sei que seu coração é de outra, mas o tomarei de volta e te devolverei para, talvez um dia você me oferecer.
Léo observou para a jovem convicta, mas ela manteve-se olhando para frente, abraçada ao braço do jovem, enquanto caminhava, sorrindo, sem temores ou dúvidas.
— Obrigado… contarei tudo! — O jovem disse, grato.
Quando se aproximaram da casa, Exu já estava à porta, de pé, esperando por Léo. Thaís o beijou e seguiu para o interior.
— Bom passeio, rapazes! — A moça bem-disse.
— Vamos? — Exu indagou o jovem.
— Sim, estou pronto, Exu.
— Ótimo!
Exu passou o braço no ombro de Léo e num piscar de olhos, ambos chegaram a frente da casa onde o jovem vivia com Rebeca, em Realengo.
Léo arregalou os olhos, olhando ao redor, surpreso.
— Exu, estamos na-
— Sim, mas não podem nos ver. Se passaram dois anos desde sua ida a Orum.
— Isso tudo!?
— Sim. O tempo lá é bem diferente. ‘Cê já sabe e eu já falei.
— Entendi… um teste?
— Sim… também… e não só meu!
— Tudo bem.
— Vamos indo. Não há paredes que nos impeçam. Lembre-se disso, então… entramos na casa ou prefere ver outro lugar?
— Outro lugar. Podemos ver aqui por último. Gostaria muito de ver como está a minha casa.
— Foi uma pergunta retórica. Não estamos aqui para um passeio. Lembre-se disso.
— Desculpa, Exu.
Ambos entraram na casa com o passo dos ventos.
Entrando na sala, a alma de Léo gelou com a mórbida visão.
Um intenso frio passeou por sua espinha, causando-lhe uma forte dor no peito.
Ele estava diante de um antro sujo e bagunçado.
Rebeca, que vivia bem arrumada e cheirosa, estava largada sob o sofá da sala com garrafas e copos espalhados.
Todo o lugar cheirava a bebida e outras coisas, óbvio símbolo da autodestruição consumindo a mulher.
— O que houve, Exu? — O jovem indagou.
— Por partes: primeiro, ela surtou porque não sabia se estava morto ou apenas fugiu; segundo, seu pai tomou tudo que era de valor, então, nada sobrou. Isto a levou a fazer muita coisa para não passar fome e, pior, seu sonho morreu… já que junto às coisas de valor, o bloco, seu xodó, também foi levado.
Uma morna lágrima escorreu no rosto do jovem.
— Exu — grunhiu, triste, serrando os punhos —, isso foi realmente por minha causa!? — trincou os dentes.
— Sim e não. Você apenas adiou o inevitável, mas existem três caminhos a partir daqui.
— Quais são!?
— Ela está morrendo, Léo. Você pode sacrificar tudo e voltar no tempo, isso impedirá isso tudo, mas acabará abandonando tudo que prometeu cumprir. Tome aqui.
Exu lhe entregou uma folha feita de um cristal verde límpido.
— Esse artefato se chama Folha de Iroko. Ele mandou lhe entregar e você decide o que fazer e como…
O semblante do jovem foi tomado por seriedade e ele parou de chorar, sentindo que aquele era um momento importante. Concentrou-se, ciente que precisava ser sábio, não apenas movido por seu sentimental.
— Quais são as outras opções?
— Guiá-la assim que ela desencarnar e a última: salvá-la.
— É fácil a resposta, Exu!
— Já!?
— Sim. — O jovem sorriu, serenamente.
— Sabe que ao decidir isso, as coisas mudam drasticamente, não é!? — Exu o indagou, sério.
— Sim. Obrigado, Exu. Deixa comigo!
— ‘Tô te esperando lá fora.
— Tudo bem.
O jovem ficou algum tempo parado, observando a cena com muita tristeza. Foi impossível fugir da sensação de culpa.
Ele aproximou-se de Rebeca e tocou sua cabeça.
Primeiro, usou o domínio de Ossaim e depois bradou, despertando o domínio de Omulu.
Conseguiu sentir sua frequência com Rebeca e buscou tranquilizá-la, renovar suas forças, dizendo:
— Sei que pode me ouvir. Não me procure mais. Já desencarnei, mas você não, meu amor. Não faça mais isso consigo. Se me ama do jeito que mostra ao sofrer, erga-se!
O jovem respirou fundo e retomou sua fala:
— Você é forte. Eu te amei e amo! Sempre te amarei. Lembre-se disso e me perdoe. Sei o quanto lhe fiz sofrer. Se pudesse, faria tudo diferente, mas, agora, o que posso fazer é cuidar de ti, mesmo tão distantes e não se esqueça, nunca jamais se esqueça, por… onde… for… quero ser… seu par.
Rebeca arfou, derramou uma lágrima enquanto se deitava em posição fetal e murmurou:
— Já perdoei. Sinto saudade, meu colibri.
— Até a próxima, minha jasmim. Também sinto sua falta!
— Não se demore, sempre estarei esperando por você.
— Já me fiz a guerra por não saber — cantarolou.
— Que esta terra encerra meu bem-querer — acompanhou.
— E jamais termina o meu caminhar.
— Só o amor me ensina onde vou chegar.
— Por onde for sempre estarei lá! — cantaram juntos.
Léo surgiu a frente de Iroko e todos os Orixás, incluindo Exu.
— Então… — O jovem se ergueu. — Como me saí?
— Axé! — Todos os Orixás bradaram.
O jovem estava arrasado, mas certo de sua escolha.
Ogum e Exu aproximaram-se para abraçá-lo, confortarem-no.
Com o teste bem-sucedido, o jovem apenas se indagou: “O que se deve pagar para o bem-estar do resto do mundo quando se é incapaz de impedir o pranto de um amado? Qual será o real preço de se entregar a um propósito maior?”
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 97
Comments