Léo segue a procura de algum animal que pudesse caçar, mas, apesar do constante movimento da floresta, é incapaz de determinar o que tem capacidade, ou não, para abater.
Lembra dos filmes, séries e programas, que assistia quando não tinha nada para fazer, tentando relembrar formas de rastreio, ou, até mesmo, formas de preparar armadilhas. Como nunca precisou das informações, inúteis, até então, falha miseravelmente.
Primeiro, com a tentativa de cheirar a terra.
O que o faz aspirar poeira e espirrar como um louco!
Depois, ouvir o som dos animais, tanto pondo o ouvido ao chão, quanto tentando detectá-los silenciando-se.
O que serve apenas para sujar seu rosto com terra!
Nada consegue.
A floresta parece mais viva que o comum.
Tudo emite algum som, mesmo que mínimo.
Léo mantém-se em movimento.
Tenta criar uma armadilha com pedras, porém machuca-se quando uma das pedras, que deveria esmagar ou prender um animal, cai sobre seu polegar esquerdo.
O rapaz grita de dor.
Grita, extravasando toda sua raiva e frustração.
Até cansar e se sentar, olhando ao redor percebendo ter perdido o caminho que usara para chegar àquele ponto.
O jovem levanta-se devagar, gira no próprio eixo, observando as copas e troncos sem fim da floresta ilimitada.
Um arrepio serpenteia sua coluna, mas ele busca a calma.
Lembra-se que deve buscar um corpo d’água por três motivos: primeiro, a desidratação pode matar um humano em três dias; segundo, onde há água, há vida, conseguirá caçar e pescar — finalmente os programas mostram-se úteis! — e terceiro, se seguir o fluxo da água encontrará civilização.
“Não desiste. Acabamos de começar!”, pensa, começando a caminhar, “Não desanima. Não se entrega, Léo. Você consegue!”
Não tarda para seu estômago reclamar e sua noção de tempo, espaço e direção, esvaem-se com a vastidão da floresta.
Léo tenta manter a calma, porém já está irritadiço com a impossível, inevitável, sensação de inutilidade e fraqueza perante os desafios que a natureza lhe impõe.
Decide parar e respirar fundo para buscar autocontrole.
Brada de raiva.
Subitamente, risadas de criança soam na floresta.
Léo olha ao seu redor, buscando a direção de onde as risadas parecem vir. Nota silhuetas distantes, correndo.
“Seriam abikus?”, questiona-se. “Só pode ser, mas, para onde estes eres vão?”
Ele segue e chega a uma grande clareira.
Há uma singela nascente saindo de uma enorme árvore.
As raízes da anciã parecem labirintos, elaborados.
Léo corre para beber da água, mas, lembrando das palavras de Exu, mesmo com a boca seca, busca comedimento, sentando-se ao lado e apoiando-se em uma das raízes.
Descansa os pés, enquanto olha ao redor.
Há tranquilidade na floresta.
Apesar de intensa, ela emana paz e conforto.
O jovem descansa o arco e as flechas ao seu lado, por um momento, fecha os olhos, sentindo sua essência ser afagada, tão singelo e imperceptivelmente que adormece.
Não demora para os presumidos abikus, conversarem.
— Será que ele foi? — diz um moleque. — Acho que desencarnou, isso, sim!
— Não seja mau. O tio só está cansado! O pai nos mandou cuidar dele. Ou nós, ou os caçadores… e ele não parece pronto para isso — diz uma menina, mais complacente.
— Que menina chata! Anda! Vamos fazer mais barulho para acordar e guiar ele.
— ‘Cê que é chato, malcriado. Vou falar tudo ‘pro pai.
— ‘Num ligo, ‘num ligo! O Tempo ‘tá vendo! Ele vai interceder por mim. — O malcriado faz pirraça.
— Ele nunca se mete, seu bobo!
— ‘Ué!? Vai que eu dou sorte dessa vez, já que com você eu não posso contar ‘pra nada, ‘né!?
— Ai! Que dramático! ‘Tá bom, ‘tá bom! Eu não falo com o pai, mas ‘cê tem que me dar aquela bola…
— Combinado!
O distante diálogo desperta Léo.
Ele volta ao olhar ao redor, mas ainda se vê perdido — diferente do que sua mente buscou em seus sonhos.
— Abiku… É você? — O jovem pergunta, levantando. — Por favor, intercede por mim… para alguém me ajudar… estou perdido e tenho um trabalho!
Uma das crianças acaba se entregando, dizendo:
— Ih, Mariazinha… ele viu a gente…
— Ai, Pedrinho! Se não tivesse visto, agora viu, seu bobo! — A menina repreende.
— Verdade. — Léo diz, caindo na risada.
— ‘Ô, tio… finge que não viu… por favor… o pai vai brigar…
— Desculpa — diz Léo. — Uma das regras que Exu ensinou é não mentir… e aprendi que dói muito esconder a verdade… então, omitir também é ruim igualmente!
Uma linda menina de pele escura e olhos vívidos, muito alegres, vestindo rosa e branco de aparentes cinco anos, aparece, saindo de trás de uma das árvores, dizendo:
— Desculpa, tio. Sempre digo ‘pro Pedrinho que mentir é feio, mas ele acha que é esperto! Vem logo, seu bobo.
Um moleque de aparentes sete anos, com semblante bastante brincalhão, muito espevitado, vestindo azul e branco, aparece, apoiando a cabeça com as mãos, como se estivesse relaxando.
— Sou esperto… ‘cê que é chata! — Ele diz.
— Não sou! — Ela retruca. — Tio, diz ‘pra ele que não sou!
Lágrimas correm no rosto de Léo.
Lembra-se de conhecer os dois… seus únicos amigos de infância… Pouco podia brincar com eles, já que raramente ia ao terreiro de sua tia, uma zeladora de respeito no Batan — comunidade próxima de onde cresceu.
— Não chora, tio… — Mariazinha vai ao socorro de Léo. — Assim, eu também choro — diz por entre soluços.
Pedrinho faz o forte. Levanta a cabeça, fecha um dos olhos e com o outro, observa de soslaio, dizendo:
— Ele ‘tá feliz, sua burra! Lembrou de nós, ‘ué! Agora, ele é adulto e não pode mais brincar com a gente.
— Verdade… — Ela responde de cabeça baixa, ainda tentando acalentar Léo.
Léo os observa com nostalgia e melancolia, tentando sorrir.
A mente segue lembrando-se que, se não fosse pelos dois eres tudo seria ainda mais solitário. Lembra-se que, inconscientemente, acabou seguindo muitos dos conselhos de seus únicos amigos de infância, não se envolvendo com drogas ou com o crime.
Apesar de sempre estar cercado por pessoas dessa vida, realmente jamais cometera um delito perante a lei ou fizera algo inescrupuloso em demasia perante a sociedade.
Jamais se envolvera com drogas pesadas, senão o cigarro e o álcool, o que lhe era motivo de gozo, afinal foi difícil resistir a tentação de buscar acalento para a falta de amor e carinho naquilo que parecia satisfazer muitos.
— Quem disse que não posso brincar!? — Finalmente Léo responde para Mariazinha e Pedrinho.
— ‘Aham. Sei… — diz Pedrinho, incrédulo, olhando-o.
— Sério, tio!? Jura, juradinho!? — Mariazinha pergunta, com surpresa nos olhos e um belíssimo largo sorriso no rosto.
Léo ri, assentindo com a cabeça.
— Sim… — diz — Eu juro, juradinho. Sou tio, agora, mas ainda sou amigo de vocês, ‘né!?
— Sim, claro, ‘né, bobo!? Então, vem!
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Atualizado até capítulo 97
Comments
Boris
muito bem continue assim afinal com determinação o protagonista consegue qualquer
2022-07-15
0
Boris
bem ele não é 100% lesado só uns 90
2022-07-15
1
Boris
bicho burro
2022-07-15
0