Léo retorna ao pagode, de frente a sua casa, em um passo.
Do lado de fora, consegue ver Exu sentado à mesa, acompanhado por uma silhueta, que não distingue.
— Laroiê! — Ele saúda, ao chegar.
— Eu sou mojubá! — Exu responde, rindo. — Bem-vindo! Não demorou. É cedo, menino Léo. Veio se arrumar ‘pra ir ao rio?
— Como assim!? — indaga, entrando na casa. — Já é noite alta! Já fui e voltei, Exu.
— Eita! ‘Tá perdido mesmo… ou endoidou… Nem chegamos no pico da lua e o jantar ainda será servido.
Léo olha para a lua, franzindo o cenho, e realmente sua posição indicava ser por volta das nove da noite.
— Vi, Exu… — diz, abismado. — Passei um bom tempo co-
Exu olha o jovem, sério, e o impede de tomar a palavra:
— Menino Léo, endoidou mesmo! — Gargalha.
— Desculpa, estou cansado… só pode! Olá, Tatá! Boa noite, Cláudio. — Cumprimenta.
Ambos acenam com a cabeça.
— Onde foi!? — Thaís indaga. — Exu te liberou mais cedo… foi fazer algo importante?
— Fui conhecer as coisas por aqui… Exu achou por bem.
O mestre observa o jovem enrolando os irmãos de treino. Satisfeito com sua capacidade de manter segredo de sua evolução, apenas concorda e sorri, mudando o assunto:
— Amanhã vai até seus amigos?
— Amanhã tenho compromisso, não!?
— Sim, verdade…
— Vocês e seus segredinhos… — Thaís reclama, emburrando a cara. — Não gosto nada disso!
— É para seu bem! Não fica assim, juro não ser por maldade.
— Perdoo se entrar na lista das responsabilidades — chantageia, manhosa.
— Feito! — Léo concorda. — Então, participo.
— Passeando assim, duvido que conseguirá cumprir com os treinamentos e os deveres — diz Cláudio, trazendo a refeição.
— Não precisa se preocupar, Cláudio. Consigo, sim, pode contar comigo.
— Veremos! — diz, descrente.
Thaís, observando Léo tentando ser cordial diante das farpas de Cláudio, toma a palavra:
— Se tiver responsabilidade, Léo, eu te cubro. Depois ‘cê me compensa, tudo bem!?
Espantado com a audácia de Thaís, timidamente, ele responde:
— Sim, claro…
— Eba! — Thaís comemora, o abraçando.
Léo fica sem reação, porém, é distraído com a voz de Exu em sua mente: “Conseguiu o que desejava!? Dominou o que faltava?”
“Sim, Exu. Falta apenas os domínios de meu pai e acabei recebendo as graças de Oxum. Ela queria… na verdade, não sei o que ela realmente queria. É muito misteriosa e confusa!”
“Mulheres realmente são assim, menino Léo!”, ri, “Quanto mais fortes, mais intensas e misteriosas… É parte do charme, não!?”
“Verdade… Eternas Esfinges… Enigmáticas!”
“Olha o poeta!”, torna a gargalhar, “Vai tentar dominar hoje!? Queria ver a cara de seu pai!”
“Prefiro fazer isso em sua frente na primeira vez. Acho justo. Oxum gostou, o senhor e Ibeji também. Creio que será um bom presente a quem tanto zela por mim: mostrar o quanto melhorei.”
“Sim… Deve! Acompanho você. Já avisei que se atrasará um pouco por conta do trabalho em casa e ele não se incomoda.”
“Obrigado.”
— Parecem se conhecer há eras! — As palavras de Cláudio os trazem de volta. — Não precisam dizer nada para conversar.
— Exu é um bom amigo. — Léo sorri. — Sempre foi.
— Entendo… — diz, observando-o, muito enciumado.
A refeição finalmente inicia, porém, é interrompida por batidas na porta. Exu levanta para atender e ouve os abikus conversando.
— Deixa aí. Eles vão ver… Não precisamos ficar…
— Mas, é falta de educação! — Mariazinha diz.
— Mas o tio Exu é assustador!
— Mas é o Tio que não precisamos temer.
— Ai, Mariazinha, ‘cê é tão certinha. Aposto que ‘tá toda borrada de medo!
— Mentira, ‘cê que ‘tá!
Exu abre a porta e vê cada um segurando um livro grosso e pergaminhos de couro maleável.
— Presente ‘pra mim? — Exu indaga.
— Ai, ai, ai… meu paizinho. Que susto, tio Exu!
— Bwaah! Tentei ser boazinha, eu juro, tio Exu! Não fiz nada de errado… foi ele que queria fugir, eu juro juradinho!
— Não farei nada contra vocês… — Exu ri, olhando-os curioso. — Mas, isso realmente é para mim?
— Para o nosso amigo Léo. Ibeji e Oxum mandaram.
— Entendo… — diz, enchendo os pulmões com ar. — Léo! — grita, liberando todo o ar. — Visita!
Léo assusta-se ao ver os abikus, não tem certeza do que fazer para manter o sigilo. Acaba lembrando da mensagem de Iroko.
— Exu, Iroko quer te ver… Quase esqueci, perdão!
— Tudo bem. — Assente.
— Agora, é impossível esconder deles, não!?
— Não estamos mentindo. Se querem que mais alguém saiba, que sejam os responsáveis. Não se gabe por suas conquistas e não se permita bajular. Isso faz mal. Sempre busque o sigilo e, se descobrirem, sempre será culpa de quem buscou falar ou saber.
— Sim, senhor. — Diz, abaixando-se na frente dos abikus. — Não ‘tá tarde para ficar andando por aí, sozinhos?
— Não estamos sós… — Pedrinho ri, apontando para uma silhueta oculta pela noite. — O tio Ossaim ‘tá aqui, ó!
— Ewé ó Ossaim! — Léo brada, cumprimentando-o.
Ossaim deixa a ocultabilidade, caminhando lentamente.
Usa vestes num tom verde-claro e branco; um turbante de pano e o rosto está coberto por um véu, feito de sementes.
Carrega sua haste ladeada com sete lancetes e um pássaro no topo — simbolizando uma árvore e um pilão. Na outra mão, carrega uma bolsa de couro simples, apoiada em seu ombro.
— Então… esse é o rapaz que Ibeji e Oxum mencionaram. — Diz. — Prazer conhecê-lo, rapaz!
— A honra é minha, senhor! — Léo torna a cumprimentar.
— Serei breve. Vim a pedido de Ibeji e, no caminho, Oxum pediu-me para trazer algo também. Notando sua prodigiosidade e seu emi, queria lhe convidar à minha cabana. Um dia desses. Assim conversamos um pouco. — Sorri. — Não tenha pressa.
— Exu, posso ir depois de amanhã?
Exu cruza os braços, assentindo com a cabeça.
— Ossaim chega na minha casa e nem me cumprimenta…
— Perdoe-me, Exu. Não foi minha intenção, mas, fico feliz que se importa. A você, meus cumprimentos. Trouxe a remessa de insumos também… Tome! — Estende-lhe a bolsa.
— ‘Brigado. ‘Tá perdoado. Só porque trouxe presente. — Ri.
Thaís acaba caindo da cadeira, enquanto é levada pela curiosidade a tentar identificar quem está na porta.
— Ai, ai, ai! Doeu! — reclama.
Todos acabam rindo da cena.
Constrangida, ela faz careta para Exu, cruza os braços e permanece sentada no chão mesmo. Quando finalmente percebe indivíduos icônicos à porta, levanta-se rapidamente.
— Abikus! Senhor Ossaim! — diz, espalhafatosa. — Perdoem-me… é a primeira vez que os vejo… Ai, meu pai Oxossi!
Todos tornam a rir da moça esbaforida.
— São para o Léo? Ouvi serem visitas dele. — A moça indaga, observando os livros nos braços dos abikus.
— Sim, é só dele! — Mariazinha responde, ríspida. — Deixa de ser curiosa, garota… ‘Euhein, enxerida!
— Desculpa… qual seu nome, criança linda?
— Sou Mariazinha e ele é o Pedrinho… Agora que conhece a gente, vamos vir sempre ver o Léo. Ele é nosso amigo, viu!?
— É um prazer conhecer vocês… Sou Thaís. — Sorri.
— Conheço bem vocês dois aí… Sei bem, ‘né, Pedrinho!? — A mocinha diz, apontando para Thaís e Cláudio e apontando para um dos olhos, indicando estar vigiando.
Ele olha de canto de olho, relaxando a cabeça nas mãos.
— Sei de nada. Não vi eles fazendo nada de errado… ainda!
Após ser mencionado, Cláudio se aproxima, em silêncio; Thaís, preocupada, os responde:
— Que isso, eres!? Não faria nada de errado, eu juro!
— Juradinho?
— Juradinho! — assente.
— Veremos! — responde, desconfiada.
— Tio Ossaim, podemos ir!?
— Podemos, sim. — Ossaim responde. — Dê ao rapaz o que trouxeram. Jovens, não se incomodem com os abikus. São ciumentos e superprotetores com quem querem bem.
— Que isso, senhor!? Jamais me incomodaria. Entendo bem… — Thaís diz. — Acho uns fofos. Eu os amo! Nunca pude encontrar um nesse tempo todo. Léo, ‘cê tem sorte… parabéns!
Antes que Léo responda, Mariazinha chama sua atenção, puxando sua camisa, e o diz, baixo, com lágrimas nos olhos:
— Toma, tio. Cuidado, ‘tá!? Agora que sei onde está, prometo que sempre virei.
— Já que ela vem, eu tenho que vir, ‘né!? — Pedrinho diz. — Tenho que tomar conta dela.
— Se Exu deixar, são bem-vindos todos os dias. — Léo sorri.
— Se vêm ‘pra ajudar, não me incomodo, mas se vierem ‘pra fazer bagunça, pego vocês, ‘hein!
Os abikus terminam de entregar os papiros a Léo e correm às costas de Ossaim, respondendo em uníssono, amedrontados:
— Aj-ajudamos, sim! S-sem bag-bagunça. Juramos juradinho!
— Assim tudo bem! — Exu assente.
Ossaim se vira, despede-se com um aceno e segue com os dois abikus, agarrados à barra de suas calças, até desaparecerem.
— Vá estudar! — Exu diz a Léo. — Já deixei os meus lá.
— Sim. Amanhã cuidarei da casa, certo? O que devo fazer?
— Tem uma lista no armário da cozinha — responde Thaís. — Não foge! Como assim está recebendo presentes… de quem!?
— Exu pode responder. Ele mede o que podem, ou não, saber. Preciso realmente estudar. Amanhã faço tudo, prometo! Se precisar de ajuda, falo com você, Tatá. Perdão. Boa noite, gente!
Cláudio e Exu assentem. Thaís emburra a cara e olha para Exu, esperando explicações, ignorada pelo mestre.
Léo segue ao quarto. Assim como o que carrega, nota materiais similares sobre a cômoda, nas cores de Exu.
Pega cada um deles para saber do que se trata.
Os materiais portam feitiços, orações, técnicas e exercícios de manipulação do emi, magias e conhecimento de criações de talismãs encantados e artefatos.
A curiosidade o leva a estudar por mais tempo, porém, o desgaste de seu emi durante toda a noite, resulta num avassalador sono que o leva a dormir sobre os papéis.
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Atualizado até capítulo 97
Comments
Raquel Souza
uau
...
o negócio tá upando!
2022-07-08
0
Raquel Souza
ksksksksk fofos
2022-07-08
0
Raquel Souza
ksksksksk Thais racha a cara ksksksksksk
2022-07-08
0