Léo acordou cedo, com a dolorida sensação de dormir muito. Sentia um pouco de febre, mas nada que o impedisse de trabalhar, logo, lavou o rosto, se espreguiçou e foi à cozinha.
Um recado numa letra redonda ensinava a preparar café e pães, também tinha a lista de afazeres copiada.
O jovem foi ao lado de fora para observar o céu manchado de laranja com tons rubros, onde o sol, tímido, ainda demoraria para terminar de nascer.
O rapaz iniciou a organização da casa e quando os raios solares começaram a se aventurar para dentro da casa, iniciou a preparação do café da manhã.
Aventurou-se no preparo de massas de pães e bolos. Realmente esforçou-se para ficar bom, porém, precisou cortar o bolo solado e levar ao forno para fazer torrada.
Observou algumas goiabas no cesto de frutas e lembrou-se de sua zeladora de santo fazendo goiabada. Encorajou-se para tentar fazer o simples doce — afinal, o que poderia dar errado?
Por sorte, lembrou-se de coar a polpa no último instante, rindo da própria ineficiência. Teve o momento cômico interrompido por passos às suas costas e ao virar-se, viu Thaís, admirando-o.
Estava quieta com um dos braços envolvendo a cintura e o outro segurando o rosto, com um olhar que transbordava nostalgia misturada às perdidas fantasias em sua mente.
— Bom dia. Prova? — O jovem estendeu uma colher com um pouco da goiabada mole para a moça.
— Goiabada?
— Uma tentativa. — Riu, acanhado. — Teremos torrada de bolo… errei a massa, eu acho… não parecia ‘tá certo. — Voltou a cair na gargalhada, ainda mais acanhado.
— Oba! — comemorou. — Adorei a goiabada. ‘Tá com gostinho de calda queimada, mas não ficou ruim… tem seu charme, precisa de alguma ajuda?
— Pela letra do recado já ajudou muito. Terminei a organização da casa. Agora, falta lavar as roupas de hoje; pegar as sobras e colocar para deteriorar ‘pra virar adubo.
— Já!? ‘Cê tem certeza que dormiu?
— Sim… e muito! Chego estar dolorido!
— Meu Deus, Léo. — Franziu o cenho, aproximando-se e colocando a mão em sua testa para medir sua temperatura.
Preocupa-se, ao sentir a altíssima temperatura de seu corpo.
— Ai, pai amado! Meu Oxossi! ‘Cê ‘tá pelando em febre, menino. Sai de perto do fogo. Anda!
— ‘Tô bem. Sei que estou um pouco febril, mas nem ‘tá ruim.
— Pouco, Léo!? ‘Cê parece uma brasa, menino. Senta… faço um chá e uma compressa.
Feliz, por finalmente experimentar a sensação de uma preocupação sincera, Léo acabou abraçando-lhe — recebendo a vaga lembrança de já ter sido cuidado assim, apenas de não saber quem, quando ou porquê.
— Não precisa. — O olhar do jovem marejou. — Obrigado por querer meu bem. Isso é muito importante. Não faz ideia, mas ‘tô bem. Aceito o chá, deve ajudar, mas não posso parar. Pelo que sei ‘tô adiantado e isso é bom, tenho muita coisa ‘pra fazer hoje.
Constrangida com o ato repentino, ela sorriu, corando.
— ‘Tá… mas, se piorar ‘cê vai ‘pra cama, ouviu?
— Sim, senhora! Onde está Exu?
— Saiu ontem mesmo e parece que não voltou.
— Entendo… então, comemos sem ele?
— Duvido. Comilão do jeito que é… difícil ele se atrasar para a refeição! — Brincou, rindo com o rapaz.
Léo retomou sua tarefa, colocando os grãos de molho para ajudar com o cozimento. Pôs os pães — já grandinhos dado o descanso da massa — no forno; e começou o cozimento do feijão, optando por algo que já dominava: a feijoada.
Procurou fubá e preparou angu para fazer polenta; cortou e refogou a couve, deixando no tempero para marinar até o almoço; e fez a farofa com ovos, banana e bacon.
Thaís espantou-se com a velocidade, eficiência e organização de Léo, realizando múltiplas tarefas e limpando tudo, impedindo o acúmulo de louça. Há um dia, o jovem fizera tanta bagunça e, subitamente, a mudança era drástica, num tempo muito menor!
Enquanto fazia seu chá, a moça observou o fogareiro para ter certeza que a temperatura não era a responsável pela alta temperatura no corpo do jovem, mas o utensílio estava normal.
O jovem tirou os pães para desenformar e colocá-los no cesto. Arrumou as torradas em uma cuia; e a goiabada em outra. Pôs leite, frutas e o que achou à mesa.
Pensou em fazer um arroz à la grega para acompanhar, mas não tinha todos os ingredientes, logo, apostou apenas na adição de ervilha, milho e cenoura muito bem cortadinha.
Terminando esses prévios preparos, seguiu para pôr as roupas de molho e para lidar com os insumos do adubo.
Retornando, encontrou Thaís fitando-o, bastante espantada.
— O que foi? — Preocupou-se com a moça.
— O-o… o… Seu chá… ‘tá na mesa.
— Ah, ‘tá! Obrigado, Tatá… você é demais! — Sorriu.
— Eu!? Quem é você, Léo?
— Eu… sou Léo, ‘ué!
— Não… sério, Léo. Não é possível.
— O quê!?
— Nada esquece!
— Assim fico pensando que fiz algo errado.
— Não, seu bobo… vai logo! — disse, apontando para dentro de casa com a cara emburrada, batendo o pé.
Quando Léo passou por ela, ela deu um tapa em sua bunda, rindo. Léo entrou na brincadeira, fingindo sentir dor, dizendo:
— Ai, mãe… para… ‘tá doendo! Ai, ai ai!
— Debochado. — Ela riu.
O jovem acabou caindo na gargalhada também.
Quando chegam, veem Exu sentado na mesa, contemplativo. Ele direciona seu solene olhar a Léo e toma a
palavra:
— Bom dia. Primeiramente, menino Léo e menina Thaís, não fará diferença… e sei a resposta, mas, ‘pra
conferir… a prova dos trinta, ‘cê fez tudo sozinho… ou a Thaís te ajudou? Seja honesto!
— A Thaís me ajudou.
Thaís olha o jovem se fazendo de desentendido com espanto.
— Mentira, Exu. Só fiz o chá!
— Mentira nada, Tatá. Sem seu recado, eu ficaria perdido. Logo, me ajudou muito, sim.
— Entendi… — Exu responde, olhando-os. — Bem… tanto faz… Meus parabéns, Léo.
— Sem menino? — O jovem estranha.
— Pois é. Parece que é mais do que eu imaginava… Parabéns!
— C-co-como a-assim?
— Depois conversamos. Thaís, o chá não funcionará. A febre não é um problema.
— S-si-sim, senhor!
Cláudio chega e se anima ao ver tudo encaminhado.
— Oba! Feijoada da Tatá. Sabia que Léo não daria conta.
Os três caem na gargalhada e Léo o responde:
— Feijoada do Léo. A Tatá me ajudou, sim, mas não desse jeito. Cláudio, ‘tô irritadiço hoje, então, não começa… não ‘tô legal.
Exu observa ambos, mas nada fala, apenas sorri.
— Ah! Que medo do moleque! ‘Tá com raivinha? Vai tomar banho. Eu não ligo… acha que vai impôr algo? Sou mais velho e experiente que você, moleque. Respeite seu irmão mais velho.
— Aviso justamente porque te respeito como meu irmão mais velho. ‘Cê não deveria entender que qualquer criatura merece respeito? Tudo tem seu limite. A lei da fé diz que se passar do limite, eu tenho total direito de cobrar!
— Ele ‘tá certo, menino Cláudio! — Exu ri.
— Se Exu não se incomodar, deixo você tentar… — Cláudio sorri. — Senão vai ter que ouvir calado!
Exu gargalha.
— Até gosto assim, mas se tomar na cabeça, menino Cláudio… terá que fazer o mesmo e respeitar Léo como um igual.
— Justo, aceito! — Cláudio ri, arrogante.
Léo sente sua carne tremer e a respiração esquentar.
Serra os punhos, se segurando, e diz:
— Tudo bem. Aceito também… o que quer?
— Uma roda de capoeira séria, sem facão ‘pra evitar os ferimentos perigosos.
— ‘Tô dentro! Vou te entupir de porrada!
— Exu, tem certeza? Cláudio é mais experiente… não que eu duvide do Léo, mas… — Thaís preocupa-se com Léo, afinal, sabe o quanto Cláudio é habilidoso.
Exu ri alto e toma a palavra:
— Hoje, aprenderemos algo importante. Deixa rolar, menina Thaís.
— ‘Tá… mas, não vou cuidar das feridas de ninguém, ouviram!? — diz, franzindo o cenho. — Quanta testosterona! ‘Euhein!
— Duvido! Toda bobinha. — Exu gargalha. — Coração mole do jeito que é… eu duvido!
— Ai, Exu… — Acanha-se. — Para!
A refeição transcorre silenciosa.
O clima torna-se ainda mais pesado a cada instante, com ambos os rapazes se encarando… enquanto Exu, apenas diverte-se observando toda a cena.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 97
Comments
Raquel Souza
na próxima tem fight 😮😮😮
2022-07-14
0
Raquel Souza
😡😡😡😡
2022-07-14
0
Raquel Souza
o Cláudio que é um demônio
2022-07-14
0