Léo, Exu e Ogum chegam a uma área circular, similar a um pagode, de terra batida. À frente, vê-se um firmamento de Ogum, com sua altura, em ferro, oposto a entrada do círculo, que era uma óbvia área de treinamento.
Léo impressiona-se com a simplicidade e extrema beleza, porém tem sua atenção invocada pela fala de Exu:
— Ei, menino Léo! Ficará assim toda hora!? — Ele ri. — Precisa se acostumar.
— Desc-desculpa, senhor!
— Se for ‘pra ser tão formal, ao menos me chame pelo meu nome de verdade… Você sabe!?
— Acho que sim!? — Léo responde, confuso.
— Não, não sabe. — Ele ri alto. — Então, chame apenas de Exu, certo?
— Sim, Exu.
Ogum os observa até finalmente tomar a palavra:
— Prefiro que me chame pai, mas também pode chamar Ogum. Exu, ele sabe lutar?
— Uma pergunta que você sabe bem a resposta, mas, tudo bem, eu respondo. Não, ele é horrível. — Exu volta a cair na gargalhada. — Sim, precisa muito da nossa ajuda em tudo. Tem fé, mas há muito conhecimento, porém pouco aprofundado, como o de costume!
— Sim, claro… Ao menos, quero ver algo. Ei, garoto, qual é sua motivação para estar aqui? — Ogum indaga.
— Ser alguém melhor e ajudar quem precisar… fazer algo de diferente, ao menos, nessa vez. — Léo responde, pego de surpresa.
— Apesar de achar frágil e pouco verdadeiro, aceitarei, por enquanto… melhor que a resposta padrão!
Confuso, Léo apenas concorda.
Ogum desembainha sua espada, franzindo o cenho e olhando para Léo com real firmeza no semblante.
— Se… Pai, por que estamos aqui!? Já sabe que não sei lutar, não!? — Léo questiona. — E, outra pergunta… por que está desembainhando sua espada?
— Se não quer ser honesto nem com seu pai… — Ogum diz, sério. — É meu dever encerrar sua existência medíocre, fraca e sem profundidade!
— Eita, é melhor se defender! — Exu diz. — Ele não está brincando, não.
Léo paralisa, tomado pelo terror de estar diante um inimigo real e invencível.
— Por quê!? Falei a verdade. Fui sincero! — diz.
— Não foi totalmente. Quero a verdade, garoto. Toda a verdade. Pura e límpida, sem manchas. — Ogum diz.
Ogum avança em sua direção para cortá-lo verticalmente, mas, por puro reflexo e desespero, Léo esquiva, mesmo sem usufruir da velocidade de seu pai.
Catando cavaco, Léo tenta se reerguer para não deixar as costas livres para Ogum, que gira lentamente, volta e para, olhando para Léo.
— E-eu juro… falei a verdade… Quer que fale do quê?
— De sua verdadeira face, sua alma, seu coração…
Léo franze o cenho, refletindo.
Acaba alvejado pela espada de Ogum em seu ombro.
O jovem sente o quente e melado sangue escorrer e nota que Ogum realmente não estava brincando, estava realmente querendo matá-lo, se ele não fosse verdadeiro.
Sério, Léo se levanta e diz:
— Quero cuidar dela e corrigir as coisas com a minha família. Provar que não sou quem acreditam que sou. Sei que não posso voltar e jamais poderei contemplar do amor que tanto desdenhei, que ela lutou para me dar. Sei que tenho um dever ao aceitar estar aqui… mas… mas… quero retribuir o único amor que recebi sendo ilusão minha ou fato. Quero limpar verdadeiramente as manchas que minha vida passada, e minha família, carregam!
Ogum fita os olhos de Léo, profundamente.
— Acabei… Ele morreu — diz.
Léo desespera-se, olhando para os lados e estendendo as mãos, louco, parecendo um siri numa panela quente.
— E-eu morri!? E, agora, o que acontece? Cadê meu corpo? Para aonde irei? — O jovem questiona, esbaforido.
Exu cai no chão de tanto rir, deixando Léo ainda mais confuso… e Ogum finalmente o responde:
— É um prazer poder finalmente chamá-lo meu filho. Sou Ogum, qual é o seu nome?
— L-Léo.
— Que maravilha te conhecer. Sim, sei que foi duro e doeu bastante, não!? Ficar refém daquele que estava no seu lugar, mas, eu, Ogum, por amor e zelo a ti, já o venci e te libertei de teu cárcere. Seja bem-vindo de volta à luz do sol, meu filho, Léo.
Léo olha para o ferimento, porém não o encontra, nem vestígios de sua dor, tampouco o sangue.
Apesar de ainda confuso, o jovem entende o que Ogum acabara de fazer e sente uma explosão dentro de si.
Lágrimas que pareciam guardadas há eras, lavam os sentimentos de Léo, expondo-os.
Sem temor, o jovem agradece Ogum, bradando:
— Ogunhê! Patakori Ogum!
Exu senta-se, frente a uma cena tão bela e difícil de ver, para de rir e observa, saboreando o incrível momento, onde uma alma começa a aflorar verdadeiramente.
Ouvindo o brado forte, firme, cheio de vida e luz, de seu filho, Ogum o abraça forte, com um sorriso terno.
— Seja bem-vindo de volta ao lar, meu filho. Agora, começamos os ensinamentos certos. Exu, meu irmão.
Exu levanta, batendo a poeira das vestes.
— Agora, a lida será boa. — Exu gargalha. — Claro, certíssimo, irmão!
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 97
Comments
Da Silva Lopes Clinger
estou todo arrepiado
2023-11-29
1
Islaine dos Reis Lima
Ele gosta de ver o circo pegar fogo
2022-08-06
0
Islaine dos Reis Lima
Que profundo...
2022-08-06
0