Quando Léo finalmente se recompõe, Ogum chama Exu e o rapaz para sentarem-se diante do firmamento.
— Exu deve ter falado sobre a natureza e Olodumarê, certo!? — Ogum indaga.
— Sim, meu pai, mas pouco compreendo.
— Exu gosta de brincar com o mistério e com os enigmas… a confusão é natural.
— Meu jeito de ensinar a pensar, ‘ué! — Exu defende-se, rindo. — Não me recriminem. Sempre funciona. Se não é ‘pra aprender, não aprende. Simples assim. Vontade de nosso pai, meu irmão.
— Claro! — Ogum assente. — Apesar de maldoso, há verdade nestas palavras.
— Então, se eu não aprender será porque não mereci? — Léo questiona, observando-os.
— Aprender é inevitável, pois, em pouco tempo já se esforça como poucos que já vi. — Exu responde. — Além disso, já se liberta de sua consciência carnal a cada segundo. Nem sequer precisou morrer para isso! Apenas se desgarrou daquilo que lhe prendia, logo, será impossível não aprender.
— Sim, meu filho. Para facilitar, já que aprenderá certamente, irei eu explicar. Isto acelerará o que acontecerá inevitavelmente e ganhamos tempo, o que me diz?
— Aceito, obrigado, meu pai!
— Já deve ter ouvido de Exu sobre os Caminhos e o Vento.
— Sim…
— Entenda que a natureza difere, mas faz parte do que lhe disse — diz Ogum, paternal. — Nada se distancia tanto a ponto de não se misturar, logo, lhe ensinarei sobre o princípio e tudo que há nele. Contarei como nosso supremo criou tudo. Tentarei resumir algumas histórias numa só para lhe facilitar.
— Sim, meu pai. — O jovem assente.
— No princípio, havia somente Olokun e Olodumarê, ou, se preferir, Olorum. Obatala teve a ideia de criar Ile Aiye sob os pântanos de Olokun. Instruído por Orumila, trabalhou por quatro dias sem parar. No quinto dia, Olorum criou o sol e enviou Iroko… fez chover até o nascimento da natureza intocada. Esta é a criação do mundo mortal.
Ogum gesticulava, levemente, como um sábio.
— Obatala uniu-se a Nanã e moldou os humanos a partir da argila. Com ajuda de Olorum puseram o sopro fundamental da vida, a energia que tudo permeia, o emi, em cada boneco de argila dando-lhes vida e consciência. Logo, a primeira cidade humana nasceu sendo chamada Ifé. Assim que isto ocorreu, Obatala retornou para dar as boas-novas aos outros Orixás, que decidiram orar com os humanos, porém, Olorum orientou a todos que, para haver harmonia com os humanos, por serem mais evoluídos, deveriam ouvi-los, guiá-los e protegê-los.
O jovem prestou atenção atentamente.
— Tal promessa fora cumprida, porém, os humanos sentiram monotonia, começaram a desejar mais por menos e começaram a clamar a Olorum. Este os alertou: “O cumprimento destes desejos trará desequilíbrio, conflito e problemas!”, mas os humanos não ouviram e insistiram. Olorum cedeu a vontade dos mortais e os concedeu seus desejos. Com o tempo, Ifé encheu-se de contraste e isto trouxe problemas de comunicação, conduzindo a separação em tribos dos mortais. Os Orixás são essenciais para a continuidade da existência e da vida, já que, num resumo, a cada momento da criação um Orixá nascia, ganhando consciência e sabedoria sobre tudo que precisava realizar.
Léo, atento, ouve tudo com muito carinho e dedicação.
— Para facilitar mais seu entendimento, citarei alguns Orixás que, a partir de hoje, poderão permitir que você, meu filho, acesse este conhecimento, se estiver conectado a eles e, se merecer!
— Obviamente! — Exu reiterou.
— Terá contato comigo e Exu e com os segredos místicos que oferecemos, porém, com o tempo poderá aprender mais. Os Orixás e seus domínios podem ser acessados por vocês, humanos, se aprenderem os segredos. Primeiro, vamos aos mais difíceis e raros de serem alcançados.
Léo assente, fascinado.
— Olorum é o céu, a dimensão; Olokun é a memória ancestral, a sabedoria antiga, o princípio da existência; Orumila é o destino e as profecias. Nanã é a chuva, a água parada, os mangues e pântanos, a terra molhada e a lama, a encarnação e desencarnação, senhora dos eguns. Obatala é a criação, a realidade. Iroko é o tempo e o espaço, as árvores, a relatividade e a probabilidade, início, meio e fim.
Exu sorri, observando a atenção do rapaz.
— Agora, os mais comuns de se alcançar e tanger. Eu e Exu estamos entre eles. Omulu é o fogo, a terra e a morte carnal. Xango é a justiça, os raios e relâmpagos, as rochas. Exu é a mensagem, a palavra, os segredos e a comunicação, é a virilidade e a sexualidade, os Caminhos e os Ventos que pairam. Iansa é a ventania e as tempestades, guardiã das almas mortais e das paixões carnais. Iemanjá é a fertilidade, a maternidade, a água salgada e os mares. Oxumare é a metamorfose, o transporte e o arco-íris. Oba é o barro, as enchentes, a violência da água e a cozinha. Oxum é a beleza, a água doce, a fecundidade e o amor. Ossaim é a cura, as matas, as ervas, a medicina e a alquimia. Ogum, eu, sou o ferro, a guerra e a proteção. Oxossi é a caça, a coleta, a sobrevivência e o contato com o selvagem, seja animal, mineral ou vegetal.
Léo volta a assentir e o questiona:
— Como consigo acessá-los?
— É fácil. — Ogum sorri. — Primeiro, sinta-os e encontre-os. Depois, prove seu valor da forma determinada por eles. Além disso, precisa ampliar seu emi e sua compreensão sobre o mesmo para, ao menos, se fazer notar por eles. Isto requer muito estudo e treino, além de meditação e cultivo do emi.
— Desafios!?
— Às vezes, sim, outras vezes, nada além de uma conversa. Varia muito, às vezes basta uma oferenda e tudo se resolve.
— Então… o que o senhor e Exu desejam de mim, meu pai?
— Já nos deu! — Exu sorri.
Léo fica confuso com a resposta, faz cara de bobo levando gargalhadas a ambos os Orixás, o que o confunde ainda mais.
— Precisamos comer — diz Ogum, se levantando. — Estou sem carne, então, meu filho, cace!
— S-sim, senhor, meu pai. Não tenho com o que caçar. — O jovem diz, estendendo as mãos vazias.
— Venha aqui! Tome este arco e estas flechas, ajudará!
Exu olha com seriedade para Ogum, mas nada fala.
Léo não percebe a ação e parte na direção da mata densa em busca de comida, sem nem sequer saber usar o arco.
Sua determinação em cumprir com o ordenado o guia, sem questionar, até porque não se aprende somente ouvindo, ou, ao menos, este era o pensamento de Léo, naquele momento.
Ele não sabia se estava correto, porém, se esforçaria ao máximo e somente voltaria à casa com um rato que fosse! Já que não tinha um plano confeccionado ainda.
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Atualizado até capítulo 97
Comments
Islaine dos Reis Lima
na vdd acho q ele queria ri pensado no aperto q ele vai passar
2022-08-06
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Islaine dos Reis Lima
os Orixás são lindos 😍😍
2022-08-06
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Islaine dos Reis Lima
Este início é mt interessante
2022-08-06
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