Léo e os abikus partiram para brincar e rir.
Sem preocupações. Ora porque Léo perdeu-se enquanto tentava se esconder das crianças na brincadeira. Ora porque outras frivolidades inocentes e gentis capturaram sua atenção.
Há muitos, o jovem não se sentia tão liberto.
Exausto, ao fim, se joga em repouso abaixo da copa da grande árvore. Bebe um pouco de água da nascente e diz:
— Por favor, me dá tempo! — Gargalha. — Já não sou mais aquele moleque…
— ‘Tá bom. Até porque precisa voltar, ‘né!? — A pequena diz.
— Sim, mas ainda não consegui nada para comer e Ogum quer carne!
— Não quero ver eje, mas espera aqui, ‘tá? — Pedrinho pede.
Léo fica curioso, mas assente e recosta-se no tronco da árvore.
Sente Mariazinha recostando a cabeça em seu ombro.
— Vai vir sempre? — A menina pergunta.
— Claro, sempre que puder! Agora, não dependo da preguiça de ninguém… eu sou o tio!
Ela o olha, satisfeita, e ele retribuiu o olhar.
Após algum tempo se encarando, ambos sorriem.
— O tio Casa disse que vai te dar tempo. ‘Cê pediu, ‘né!?
Léo surpreende-se com a fala, não entendendo muito bem.
— E a quem devo agradecer? — pergunta.
A mocinha se levanta e aponta para a grande árvore. Ele se afasta, assustado, catando cavaco, imaginando quem pudesse ser.
De joelhos, busca o ojá e acaba o avistando bem alto.
Confirmando quem, ele reverencia em agradecimento:
— Iroko issó! Eró iroko kissilé!
— Ele sorriu. Disse que gostou de você — diz a menina.
Pedrinho chega, enrolado, com um boi preso em uma corda, segurando um pequeno cesto com alguns acarás e uma gaiola de galhos com dois frangos, pedindo:
— Ai, ai! Ajuda, Léo, seu preguiçoso!
— O que é isso? — O jovem indaga, surpreso.
— Comida, não ‘tá vendo, bobo! Agora, vamos. Logo fica tarde, eu ajudo. Mariazinha, fica fazendo companhia ao tio Casa!
— ‘Tá. — A menina assente. — Tchau, Léo. Não demora ‘pra voltar, não, ‘hein! ‘Cê disse que viria de novo.
— Verdade, tio… quer dizer, Léo? ‘Cê vai vir mesmo? — O menino indaga, fitando-o com os olhos arregalados, brilhando.
— Sim, venho sempre que não estiver estudando ou treinando.
— Assim, eu senti firmeza!
Ambos seguem na direção da mata.
***
Mariazinha senta-se observando a grande árvore.
Uma poderosa voz, advinda de sua copa, diz:
— Obrigado, Ibiku. Provou-me, as palavras de Obatala e erê ibi. Aquela alma é meritosa e pode, sim, quem sabe, fazer diferença, se eu intervier com ele.
— Obrigado, tio Iroko. Posso voltar ‘pra casa?
— Aguarde seu amigo e vão juntos, assim é melhor.
— Sim, senhor.
***
Léo não fazia ideia de para onde estava indo com Pedrinho, mas confiava no menino, logo não tinha o que temer.
Não tardou para avistarem um belo rapaz que, aparentemente, não portava nada consigo. O rapaz tinha pele escura, usava uma cabaça e calças com tom azul-claro e verde-água.
Sua presença era forte e assemelhava-se a de Ogum, mas um pouco mais próxima da presença de Pedrinho.
Ele estava sentado em uma pedra.
Ao vê-los, levantou-se, tomando a palavra gentilmente:
— Olá, jovem Léo. Gostou das companhias?
— S-sim. Obrigado. Quem é o senhor?
— Tive tanto trabalho para me ocultar. — Ele ri. — Sou Ibeji, um dos dois irmãos, é claro, venho liberar meus queridos abikus e seguir até a margem da mata com você.
— Vai. Pode confiar. Ele é bom! — diz Pedrinho, puxando a barra das calças de Léo.
— Eu sei. Obrigado, Pedrinho. Cuide-se!
O menino acena com as mãos para despedir-se e parte, correndo. Deixando Ibeji e Léo a sós.
O belo rapaz aproxima-se de Léo, tomando o cesto, deixado por Pedrinho, para ajudar a carregar.
— Queria mesmo conversar com você, Léo.
— Comigo, por quê!?
— Porque esteve sempre muito próximo de nós o tempo todo. Jamais ignoraria isso, então queria lhe conhecer pessoalmente e dar-lhe algo… Aceita?
— Sim, claro. É uma honra!
Ambos seguiram, conversando sobre muitas coisas.
Léo narrou o quão divertido e curioso seu dia fora.
Ibeji pôde ver a criança vívida, em sua alma, agora, revigorada.
— Chegamos. — Ibeji diz. — Não posso te dar grandes coisas, mas, assim como protejo os abikus, se estiver correto perante as leis de Olorum, e precisar se esconder, nada te alcançará ou encontrará, até que queira ser achado por alguém ou sair de seu esconderijo.
Ele deu um sorriso gentil e retomou a palavra:
— Além disso, sempre conseguirá achar qualquer criança que procurar, seja encarnada ou não. Faça um bom uso disso. Dê um abraço em Ogum e Exu por mim. Diga que não fui visitá-los porque tenho tido muito trabalho com os abikus.
— Sim… Obrigado!
Vendo Ibeji partir, Léo deixa os limites da mata, na direção da casa de Ogum, sem muitas dificuldades, agora, que a paisagem torna a localização muito mais fácil.
***
Chegando próximo de Mariazinha, Pedrinho comemora:
— Deu tudo certo!
— Aqui também, podemos ir agora, tio Iroko?
— Podem. — A forte voz responde. — Vão em paz e descansem. Digo que conduziram uma boa lida. Que Orum abençoe sua coroa!
— Axé! — Ambos respondem, desaparecendo.
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Atualizado até capítulo 97
Comments
Cacaco B.S. Nogueira
verdade imagina a saudade
2022-06-29
0
Raquel Souza
já tô com saudade
2022-06-05
1
Raquel Souza
lindíssimos... quero ver os dois outras vezes...
2022-06-05
0