Léo acorda num quarto simples.
O local é bem ajeitado, mas humilde. Há uma esteira, sobre a cômoda há um jarro com água, um Coité e alguns rolos de pergaminho de linho com um pequeno torrão de carvão.
Na parede há uma janela simples, coberta por uma cortina fina e suave, seu bailar cria efeitos de luz e meias sombras suaves, que Léo jamais experienciara antes.
O jovem nota uma rosa-vermelha em um jarro no beiral da janela e observando-se percebe vestir roupas similares as de seu salvador.
Espantado, a primeira coisa que faz ao sair do transe da curiosidade é buscar pela ferida, responsável por seu possível pacífico fim, mas nada sentiu ou encontrou às suas costas.
Levantou-se para beber água, afinal, ao prestar atenção em si, percebeu a intensa sede e o sabor de meia velha na boca — devido à ressaca —, além da dor de cabeça e o terrível mal-estar estomacal.
Nada incomum, esta era uma das duas únicas condições que conhecia: estar muito bêbado ou como uma terrível ressaca.
Após secar o jarro foi até a janela para ver onde estava, desconfiado de ter sido drogado e tudo que vira ou ouvira fora mera alucinação causada por um “Boa noite, Cinderela”.
Surpreendeu-se a ver um homem de pele escura. Ele vestia um turbante e um véu de finas correntes vermelhas cobria sua face. Ele tinha compleição forte, como de um halterofilista.
O turbante em sua cabeça assemelhava-se a forma que as moças enrolam seus cabelos para secar, deixando-os descansar às costas, no cônico formado de um gorro caído.
O sol resplandecia o brilho e vivacidade da pele do homem.
Apesar da postura orgulhosa, seus movimentos eram suaves.
Suas vestes tribais eram carregadas de aço e guias feitas com contas e sementes.
Ele segurava um bastão com uma cabeça encrustada, porém, observando de longe, lembrava um falo detalhado em seu topo.
Tecidos grossos vermelhos e negros cobriam suas pernas, idênticos aos que Léu estava usando.
O homem treinava um jovem, de cabelos curtos e escuros.
Pelo que Léo pôde perceber, era capoeira. Observou por algum tempo até uma voz feminina chamar sua atenção:
— Motumbá àbúrò, ojo rere ibukun… axé!
Léo vira-se, buscando pela doce voz feminina.
Nota uma jovem, morena de cabelos rosados e olhos dourados, andando em sua direção com um belo e acolhedor sorriso no rosto.
A moça senta ao seu lado estendendo-lhe um prato de argila rústico, há bolinhos de inhame e carne de sol servidos em folhas.
Perdido, confuso, Léo entende a reverência, aceitando um dos bolinhos e a responde:
— Motumbá, irmã! Onde estamos?
A moça sorri e o responde:
— Na casa de Èṣù e seus familiares, meu irmão… em Olodumarê, no próprio colo de nosso supremo Olórun.
Léo arregala os olhos.
Encara a moça sem reação por algum tempo.
Curiosa, ela o observa pacientemente, mas, incapaz de segurar, gargalha, tirando sarro do rapaz, apontando-lhe o dedo.
Percebendo a galhofa da moça, Léo resmunga:
— Se estivesse no meu lugar, estaria surpresa!
Tentando segurar a risada e as lágrimas, de tanto rir, a moça lhe responde:
— Eu já estive e hoje entendo porque Cláudio riu de mim. — Ela volta a gargalhar. — Hilário, realmente!
— Quem é Cláudio… e quem é você!?
— Cláudio é aquele aprendiz sendo instruído e, claro, o mestre Èṣù. — Ela aponta. — Pode chamá-lo Exu, ele deixa. Sou Thaís e você, como se chama?
— Leandro, mas gosto de Léo… é menos formal, sei lá! Por que estamos aqui?
— Prazer, Léo. Estamos aqui, pois, Exu precisa de ajuda e uma enorme tempestade se aproxima do mundo mortal. Um exército de eguns, sem rumo, está se juntando no Ile Aiye e não sabemos o motivo.
A tristeza e preocupação de Thaís preenchem seu dourado olhar com lágrimas, mudando sua expressão.
Para tirá-la do momento ruim, Léo pergunta:
— Como podemos evitar uma catástrofe?
— Exu está ensinando os segredos dos Caminhos e do Vento… assim, sob seu comando, podemos ajudar.
— Entendo… então… quando começo?
— Exu lhe aguarda. Vai lá. Já comeu e bebeu água. Agora, é estudo, treino e muita dedicação diariamente, sem negligenciar as refeições e o descanso, por favor. Claro, lembre-se de se assear… Não seja porquinho! — Ela volta a gargalhar.
— Obrigado. Verei se se posso começar. Até, Thaís!
— Pode me chamar Tatá, okay?
— Okay… e nunca fui porquinho, não será agora!
Por entre risos descontraídos, Léo se despede de Thaís e se levanta, seguindo até Exu para saber o que deve fazer.
Seu desejo para mudar quem é, para mudar seu destino, começa a ganhar cor e brilho. Ele estava determinado a ser alguém melhor, com passos firmes na direção do mestre.
— Terminou de namorar, menino Léo? — Exu indaga, quando ele se aproxima.
— Na-namorar!? Eu, não, senhor Exu!!!
Exu gargalha e pergunta:
— O que tem de mais!?
— Sou casado!
— Desde quando isso impediu você, espertinho!? Conheço-te de cabo a rabo. — O mestre volta a rir alto. — Sei de tudo da tua vida!
As palavras pesam no âmago de Léo, deixando-o triste e frustrado, porém, ele é incapaz de se defender, pois, realmente não fora um marido fiel, tampouco correto, justo ou amoroso. Serrando os punhos, Léo responde:
— Não quero ser assim!
— Boa resposta. Lembre-se que entre o querer e o conseguir, existe uma longa e tortuosa estrada, mas, eu, Exu, estou aqui para lhe guiar… até porque meu irmão Ogum não me perdoaria se o fizesse errado, não é!? — Ele sorri de canto de boca.
— Obrigado, eu me esforçarei! — diz, obstinado.
Léo aproxima-se de Exu e Cláudio, que apenas o cumprimenta com a cabeça, afinal ainda treinava.
Léo se permite observar o treinamento, buscando com afinco, aprender algo, afinal jamais treinou nada similar.
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Atualizado até capítulo 97
Comments
DettLaff Von Everec
um belo banho de sais e espumas seria do krl kkk
2022-07-18
3
DettLaff Von Everec
foi arrastado pra um bagulho que nem sabe o quê kkkkkk
2022-07-18
0
DettLaff Von Everec
apetitoso hein
2022-07-18
0