Findada a refeição, Léo tomou a dianteira e foi para o lado de fora se alongar, enquanto esperava por Cláudio.
— Descansa a refeição, garoto! — Cláudio chamou sua atenção, ao chegar. — Não tem pressa…
— Tenho, sim. Há muito a fazer, louça ‘pra lavar, depois tenho treino… então, se não se importa, vamos logo!
— Tudo bem…
Ambos seguiram ao centro do pagode e Exu disse:
— Tomem suas posições e comecem!
Cláudio iniciou com um salto mortal para trás enquanto Léo concentrou-se. O jovem sentiu um chapéu em sua cabeça, foi permeada por uma imensa vontade sambar.
Permitiu-se.
Ao observarem a cena, Exu e Thaís bradaram:
— Salve a malandragem!
Cláudio parou e olhou para Léo. Ele sambava como se segurasse a ponta do chapéu na cabeça. O homem deu um sorriso debochado, dizendo:
— O-o… que é isso!? Não é capoeira! ‘Tá errado!
— Capoeira, oras! Só não é a que você conhece. — Exu respondeu. — Plantou ventania, agora, colhe tempestade. Segura teu fumo, ‘cumpadi!
Cláudio não hesitou, partiu para cima do jovem, que usava da esquiva com muita facilidade, a independer de serem movimentos efetivos ou meramente fintas.
Na primeira oportunidade, Léo deu um tapa de mão aberta na cara de Cládio. Aturdido, o ex-policial, incapaz de crer no ocorrido, sem entender de onde veio o tapa, congelou.
Léo gargalhou guturalmente e se afastou, debochado.
— Oh! — Exu gritou. — Na cara é maldade, Léo… não se bate na cara de homem, meu querido!
Léo trincou os dentes. Olhou para Exu de canto de olho, com um sorriso debochado, respondendo-lhe:
— Que homem!? É só uma lição num moleque abusado!
— Se ‘cê diz ‘tá dito e assinado! — Exu gargalhou.
Tomado pela raiva, descontrolado, Cláudio gritou partindo para cima de Léo. Como um touro, bufando, berrando. Desferiu socos, chutes enquanto saltava, sem pensar no que executava.
Léo gargalhava enquanto se esquivava, sambando.
Sempre que uma nova oportunidade surgia, ele tornava a dar outro tapa na cara de Cláudio, até que este gritou:
— Acha que esses tapas vão me derrubar!? Seja homem e me encare de verdade!
Léo apenas gargalhou em resposta a frágil fala do oponente.
Aguardou sua aproximação para atingi-lo com uma meia lua tão rápida, que Cláudio não conseguiu reagir, subitamente, estava suspenso do chão.
Antes que Cláudio caísse, sentiu o pesado martelo cruzado atingindo-o e, pouco antes de tocar o chão, um macaquinho aumentou o brusco impacto de sua queda.
A forte dor no abdômen o removeu o ar, parecia ter quebrado alguma costela, dado o incômodo e o exótico sabor no respirar.
Léo aproximou-se, olhando-o com superioridade.
— Antes de atravessar o trilho, vê se o bonde não ‘tá passando, moleque! Na próxima, ‘cê pode morrer. — Léo disse.
Exu vibrou, pulou, dizendo:
— Que espetáculo! — Gargalhou. — Chega, crianças. Léo, relaxa… Ele perdeu, ‘cê vendeu. Agora, ele precisa te respeitar.
Thaís ainda estava congelada, tentando entender o que ocorrera para o corpo de Cláudio mudar sua trajetória tão rápido e velozmente, antes de cair pelo macaquinho lançado por Léo.
— Notei que não usou tudo que podia. — Exu seguiu. — Nem usou dos segredos como você, menino Cláudio. Então, ‘cê teve foi sorte do Léo ter pena. Agora, cumpra com sua parte! ‘Cê não tem nada quebrado, só o ego! — Gargalhou.
Vendo o irmão de treino tentando levantar com dificuldades, Léo o estendeu a mão, perguntando-lhe:
— Diferenças resolvidas?
Cláudio deu um tapa na mão de Léo.
— Impossível! — Exclamou, olhando-o com raiva. — Tenho mais experiência! Mais tempo de treinamento.
— Pois é! — Exu assentiu. — Isso que queria ensinar. Não importa seu tempo de treino, mas, sim, o quanto absorveu e tirou proveito. Léo é o mais novo, mas já controla três domínios… provavelmente, logo serão seis! Tenham mais respeito com ele…
Exu observou os três.
— Digo o mesmo para Léo. ‘Cês estão balanceados, têm tempo e ele é prodigioso. Cláudio tem apenas quatro domínios e ainda não estão sobre seu controle; Thaís tem três, exatamente na mesma condição. Léo já os dominou com perfeição.
Thaís e Cláudio abaixaram a cabeça. Ela sentia-se culpada e Cláudio estava meramente frustrado.
— Léo não perdeu nenhuma das oportunidades com os Orixás, sempre que os encontrou, recebeu a benção de cada um. Repensem suas vidas, o que estão fazendo e como!
— Sim, Exu. — Thaís e Cláudio responderam. — Nós vamos nos esforçar mais!
— Exu, terminarei de preparar tudo — disse Léo — e vou à minha responsabilidade… se os abikus aparecere-
— Eu os manto encontrar com você! — Exu o interrompeu.
— Obrigado.
O jovem cumprimentou Cláudio, formal, e aproximou-se de Thaís para beijar sua testa.
— Pode cuidar dele, por favor? Estou preocupado. — Léo a pediu. — Por mais que ele merecesse, creio ter algo mais por trás disso, além de mero ciúme e ego.
— O que seria? — Thaís o indagou.
— Não sei… É só um palpite. Creio ter acionado alguma lembrança ruim que o machuca. Não queria que isso continuasse, quero realmente ser um irmão que ele gosta, apesar da péssima maneira como começamos.
— Pode deixar que cuido dele. Tento descobrir um pouco mais de sua vida… só sei que antes daqui ele era mais velho do que parece ser agora. Também sei que foi policial.
Léo acariciou o rosto de Thaís, sorrindo, e saiu sem dar nenhuma palavra. Cumprimentou Exu e partiu para seus afazeres.
Lavou as roupas. Ao terminar de cuidar do adubo, começou a cozinhar o arroz enquanto cuidava da hortinha.
Varreu o exterior da casa, estendeu a roupa no varal e terminou de lidar com o almoço, de forma o mais apresentável possível. Deixou quase tudo montado, enrolou os talheres em tecidos para impedir que insetos pousassem.
Deixou um bilhete, avisando que toda a comida estava pronta; avisando do suco no jarro e da sobremesa que fez com goiabada — misturando creme de leite e colocando queijo minas.
Ao terminar, seguiu à casa de Ogum, sentindo a febre aumentar. No caminho, Exu lhe mandou uma mensagem:
“Léo, não se preocupe. A febre é um bom sinal. Duas vezes. Primeiro porque seu emi está evoluindo, tornando a reação inevitável. Segundo, a fornalha de Ogum está acesa em ti, por isso está irritadiço e mais febril. Vá em paz! Cláudio há de aprender uma hora… tenho fé!”
“Obrigado, Exu. Ajudou bastante!”, Léo o respondeu. “Thaís estava preocupada. Se puder, pode cuidar de seu coração!? Já que, agora, ela está sofrendo por mim e por Cláudio. Quanto a ele, tenho fé em meu irmão. Ninguém é perfeito, apenas Zambi!”
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 97
Comments