Léo ficou maravilhoso e extremamente fascinado pela arte da capoeira. Jamais vira tamanha beleza como agora.
Era nítido que a dança carregava, sim, muito valor cultural, porém havia muito poder na arte marcial, extremamente veloz.
Após alguns minutos, Exu encerra o treino com Cláudio, permitindo-o descansar um pouco, e olha para Léo, gesticula de forma fluída, com um gingado informal e o diz:
— Vamos ver o que sabe!
Cláudio se aproxima de Léo e fala, um pouco ríspido:
— Se não souber, deixe claro. É mais fácil e dói menos. Acredite em mim. O orgulho, aqui, só causa dor. Depois conversamos, parece que mestre Exu encontrou mais um possível bom irmão.
Léo fica aturdido sobre em quem prestar atenção, mas se levanta e concorda, pondo base de luta de rua, levando gargalhadas a Exu.
O mestre chama Léo para ensiná-lo a iniciar a cantiga e a dança de capoeira, agachando-se e mostrando onde Léo deveria ficar e Exu inicia, bradando:
— Laroiê! Eu sou mojubá!
Não tardou para Léo se perder nos movimentos de Exu, que parecia voar como um pássaro elegante e ardiloso diante de seus olhos. Entre pernadas e fintas cruzadas com movimentos e rasteiras, muito fácil e rapidamente Léo é derrotado completamente.
Não sabia nada de capoeira, logo, ouvindo os conselhos de Cláudio, entrega-se, dizendo:
— Ai, ai, ai, ai, ai, perdi, perdi!
Exu ri do pasmar do garoto e o estende a mão.
— Vem, menino Léo. Caminhemos… Você ainda não está pronto para a capoeira. Primeiro, explicações e regras.
Léo toma sua mão, bate a poeira da roupa ao levantar.
— S-sim, senhor! Ufa. — Suspira.
Dali, eles seguem, sem rumo ou hora para voltar.
— Primeiramente, regras! — diz Exu. — Sem fazer corpo mole, está aqui para aprender. Sem maltratar a natureza, exceto se precisar e é relativo, sempre busque outra maneira. Não deseje as coisas dos outros. Não mate, exceto se para comer ou se proteger. Seja sábio em suas escolhas, elas lhe reconstruirão a partir daqui. Nem tudo que parece é, então muita atenção, observe tudo sempre. Ajude a tudo e todos que precisarem, sem exceção. Ame e respeite a tudo, sem exceção. Seja honesto em todas as suas palavras, isto lhe poupará muito acredite! Não irrite ninguém, poucos aqui não conseguem lhe fazer mal, aceite isso e viverá. Cuide bem de si mesmo, se não pagará caro por isso. Viu!? É simples. Agora, sabe onde está?
— Entendi… Posso perguntar as regras de novo depois para fazer uma lista!? — Léo indaga, abismado com a quantidade de regras. — E, sim, Thaís… quero dizer, a Tatá me explicou um pouco disso e do exército de egum se reunindo no mundo terreno.
Com um ar brincalhão e curioso, Exu circunda Léo enquanto caminham até que põe as mãos na nuca, como se a apoiasse e relaxasse, respondendo-o:
— Sim, claro… Repito depois. É bom! Isto me poupa tempo. Bem, garoto, esses acontecimentos são apenas reflexo das ações do passado. Muitos desencarnados ainda guardam rancor por tudo que aconteceu e acontece em Ile Aiye, logo, não é de se espantar, não!?
— Não, senhor, mas como posso ajudar? A Tatá me disse que estudando e me empenhando ao máximo é um bom começo… mas ‘pra quê?
— Você será um dos que ajudarão os que ainda não enxergam o imaterial, menino Léo. Não, você não morreu, nem se tornou um guia, mas está entre um mundo e outro. Um dia poderá ser uma alma iluminada, imortalizada pela luz de Zambi. Logo, sim, lutará contra aquilo que insiste em ficar na negatividade e na escuridão. Defenderá e ajudará quem precisa. Para isso, precisa aprender sobre os segredos dos Caminhos e do Vento, além da sabedoria da natureza e dos elementos que a compõe. Isso é cultivar verdadeiramente os frutos que mencionei, naquele dia.
— Por que eu!?
— Você é só uma vítima… e vítimas criam outras. Você nunca quis, apenas foi uma criança sem sabedoria, sem rumo. O que vem se tornando normal no mundo humano, mas isso pode mudar, como também disse. Além disso, você difere, menino Léo. Mergulhou na escuridão, nadou e bebeu dela, mas não se corrompeu verdadeiramente. O que parecia sujo era somente poeira sobre sua roupa.
— Poderei ver e falar com alguém?
— Poderá ver, mas não falar. Ao menos, até Oxalá crer que deve se tornar um guia e, mesmo assim, não deverá dizer quem verdadeiramente é. Usará um título e cargo, entregues a ti no momento que estiver pronto.
— Entendo… e o que faremos, agora?
— Já estamos fazendo. Sinta a natureza. Respire Olodumarê e faça parte do mesmo!
Léo se concentra e tentar sentir profundamente a natureza, sem sucesso. Exu gargalha da tentativa frustrada.
— Não é assim, menino Léo — diz o mestre —, apenas seja parte, como até agora o fez. Ponha em prática o que aprender com a natureza. O resto, eu e teu pai Ogum lhe ensinamos, tudo bem!?
— Claro, mas eu…
Exu gargalha.
— Sim, o conhecerá pessoalmente, sim! — Exu diz.
Léo congela de preocupação e ansiedade. Muitos sentimentos bons e ruins permeiam seu corpo frente a ideia de estar a frente de Ogum, seu pai e grande guerreiro protetor de Ile Aiye, a terra.
Sem perceber, é acordado por um brado de Exu, diante de uma construção, similar a uma forja combinada com um paiol de armas africanas, de cor azul anil e vermelho.
— Ogunhê!
Uma voz pesada, bruta e bem forte, brada de volta do interior da construção, como uma poderosa explosão:
— Laroiê!
Tremor espalhou-se no âmago de Léo.
O rapaz cai sobre os joelhos e chora de emoção e temor, vendo a figura alta e forte de pele escura, muito parecido com Exu, vestindo azul e um capacete de ferro com correntes cobrindo seu rosto.
Ogum vestia braceletes, cobrindo seu antebraço. Sua guia com contas de semente atravessava seu peitoral nu e ele portava uma espada em sua cintura.
Sua envergadura e musculatura superava Exu e ele tinha a aparência mais velha e intimidadora. Carregava muitas cicatrizes por inúmeras lutas e batalhas, porém, ostentava as cicatrizes como medalhas para se orgulhas.
Tinha a postura firme e pesada, impossibilitando confundi-lo. Sim, este é Ogum, um dos irmãos de Exu, o Orixá guerreiro.
Exu estende os braços para abraçar seu irmão.
— Quanto tempo, meu irmão. Que saudade! Trago-lhe novidade e uma boa notícia. — Exu diz.
— Também sinto sua falta, Exu, mas ontem mesmo você estava aqui. — Ogum gargalha. — Diga-me qual a boa notícia que fala… se for trabalho, melhor ainda!
— Por isso é uma boa notícia. Sei que gosta! Se não soubesse, não seria seu irmão favorito. — Exu ri.
— Convencido! Diga, não me deixe ansioso ou nervoso, sabe bem como sou.
— Claro, claro. Veja, este é o menino Léo. Por coincidência é um filho teu e o achei por aí, sabe… perdido… então, pensei: “Por que não trazê-lo ao meu irmão e pedir-lhe ajuda para torná-lo alguém digno de portar o título de filho de Ogum?”.
— Leandro é seu nome… te conheço, garoto! — Ogum diz, medindo Léo de cima a baixo.
— Perdão, meu pai. — Léo diz, aos prantos. — Falhei e provavelmente sou o pior filho que já teve!
— Como!? — Ogum gargalha. — Garoto, é apenas uma criança. Muito do que fez foi por falta de ensinamento e ainda posso dizer mais… não matou, tampouco distribuiu mal gratuitamente. Bem, tirando a moça, mas todos erram, até eu já errei!
Léo abaixa a cabeça, um pouco aliviado, apesar de ainda triste por seus atos, principalmente por, agora, ter certeza de que fizera um grande mal a Rebeca.
— Obrigado, senhor. — Léo finalmente diz.
— Então, aceita a proposta de Exu, garoto?
— Sim, aceito. Entrego-me totalmente às suas mãos e às mãos de Exu.
Exu dá um sorriso arisco e diz:
— Bom garoto. Muito bom! Sei que nos dará orgulho, se continuar assim.
Ogum observa Léo e seu coração.
Seu semblante muda e ele diz:
— Vamos à área de treinamento e teste das armas!
— Já!? — Exu indaga, arregalando os olhos.
— Sim, imediatamente!
— Você é quem manda, meu irmão. — Exu ri alto.
Léo assente com a cabeça, sem perceber a mudança no semblante de Ogum, e os três seguem ao local indicado por seu pai.
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Atualizado até capítulo 97
Comments
Islaine dos Reis Lima
será o que ele viu?? não de e ser boa coisa
2022-08-06
1
Islaine dos Reis Lima
nossa gente q emoção, conhecer o pai de seu ori
2022-08-06
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Islaine dos Reis Lima
Imaginando a força que Ogum emana
2022-08-06
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