~ Raziel
— O que faremos agora?
A pergunta do meu parceiro é a primeira em meio século que não vem acompanhada de uma gracinha. O que torna a realidade pior do que parece, pois ele nunca deixa seu senso de humor demoníaco.
Faz duas horas que ela parou de gritar descontroladamente no porão.
Estou muito puto! A cada minuto a raiva aumenta e já tive que espancar aquela Semyta por duas vezes hoje, me controlando muito para não tirar sua vida.
Estou me odiando por ter aceitado essa missão.
Temos um prazo de 24h para leva-la ou seremos caçados e transformados em sacrifício. E só consigo pensar em como as coisas ficaram ruins desde que a vi pela primeira vez.
— Temos que leva-la — Afirmo não considerando nenhuma outra opção.
Não cumprir uma missão significa banimento imediato seguido de morte; Mas Aurora depende de mim assim como Dylan não tem culpa das minhas merdas.
— Tô com um péssimo pressentimento — ele compartilha seus pensamentos e eu entendo o que quer dizer — Tem uma parte de mim que quer terminar essa parada, mas a outra não quer levar a garota. Tô confuso pra cacete! Mas vou fazer o que for preciso. Já estamos encrencados até o pescoço.
Assinto ainda não entendendo o que aconteceu naquele lago.
Em como não pensei duas vezes ao pular para tira-la de lá. Em como não dei a mínima importância se a outra morreria achando á princípio, que seria apenas uma briguinha de primas. Seu ataque de fúria pouco antes, ao me acertar um soco, fez meu sangue ferver de excitação e ainda o faz só de lembrar.
Uma leoa havia surgido de dentro da ruiva e eu aprovei.
Em outra ocasião, teria lhe espancado e a colocado em seu lugar por me tocar como fazia com qualquer mulher, mas vê-la com tanta energia me satisfez.
Como uma mulher pode sequer satisfazer um homem sem tê-lo dentro dela?
Inimaginável pensar em qualquer satisfação vinda do sexo oposto que não fosse sexual. É pra isso que elas servem. Para satisfazer a nossa natureza.
Mas pensar nela agindo sob um ataque de fúria me deu um prazer que mulher alguma já havia me dado sexualmente. Só por olha-la esquentar.
Minha intenção era vê-las saírem no tapa um pouco e depois separa-las para seguir com o plano e entrega-la á Balthasar.
Estava tudo sob controle.
Até vê-las cair no lago e perceber que nenhuma delas subia de volta.
Pulei e comecei a procura-la.
Cada segundo debaixo daquela água parecia uma eternidade. Não conseguia raciocinar, só pensava nela e no maldito tempo que me fazia perder a chance de acha-la com vida.
De início, achei que fosse puro instinto de autopreservação. O chefe a queria viva. Se morresse, seria mais de um funeral no mesmo dia e minha missão era leva-la sã e salva até o Santuário.
Depois, percebi que acha-la era algo pessoal demais pra eu mesmo entender naquele momento. Não que agora eu entenda e isso com certeza está ferrando com a minha mente.
O que senti foi um forte alívio ao encontrar seu corpo afundando na água escura, e envolve-lo em meus braços puxando pela cintura até a superfície.
Empurrei seu corpo sobre o píer, pulando para fora em seguida.
Chequei sua pulsação. Não estava respirando.
Rapidamente comecei a tentar trazê-la de volta desejando que a massagem cardíaca reanimasse seu corpo congelado.
Usei o meu peso para fazer compressões rápidas e fortes em seu tórax. 1...2...3...4...5... Pressionei minha boca na sua segurando seu nariz. 1...2...3...4...5 sua Boca novamente. E repeti o processo por um tempo que estava me deixando louco. Mantive a frequência de 100 por minuto, o mesmo que 5 compressões a cada 3 segundos.
Seu corpo inerte sob minhas mãos me fez sentir um medo que só havia experimentado uma única vez em toda minha vida, quando era ainda criança. Não era só medo de falhar na missão. Era um medo irracional de perdê-la. Para mim, não é tão simples e fácil sentir medo. No mundo em que vivo Eu sou o próprio medo por onde passo.
Pressionei o ouvido em seu peito e procurei seus batimentos.
Nada.
A sensação foi a mais aterrorizante da minha vida. Algo que nunca tive que lidar antes e que não conseguia entender, só agir.
Ela não estava respondendo.
— Vamos lá garota. — Chamo retomando o procedimento.
1...2...3...4...5 pressiono meus lábios nos seus novamente. Estão tão frios.
— Vamos Kate! — Minha voz saiu como um grunhido quando na verdade queria gritar e soca-la pra que abrisse os olhos. — Merda! Vamos!
Continuei tentando mais um tempo até que senti seu corpo inteiro sacudir e convulsionar.
Foi quando soltei todo o ar que nem sabia que estava prendendo e segurei sua cabeça enquanto a via tossir e vomitar o líquido de seu estômago.
— Isso, Garota. Muito bem.
— Vou levar essa sopa pra ela. Ainda deve estar congelando lá embaixo.
D me faz retornar de meus pensamentos e estou com olhos fixos na adaga em minhas mãos. Analiso minhas iniciais cravadas nela. Aperto firme.
Não importa o que aconteceu naquele lago. Katherine precisava ser levada para o chefe.
Preciso terminar com esse pesadelo.
— Vamos leva-la assim que amanhecer.
D me encara com um prato nas mãos.
Sua expressão é confusa.
— Tem certeza, irmão? — Ele pergunta sério demais pro Dylan que conheço e porque o conheço fico em alerta.
— O que está insinuando?
Minha cara com certeza é de poucos amigos.
Ele não desiste e sustenta meu olhar. Ele tem noção do perigo.
— Conheço você, mano. — Ele começa — Nunca te vi perdido em pensamentos como nos últimos dias. Você é o cara mais focado que conheço. Não deve ser nada, mas acredito que se for, não é uma parada que a gente deve deixar passar, sacou? Não tô entendendo essa merda tanto quanto você, mas uma coisa eu tô ligado...
— Da pra parar de ser frouxo e falar a merda clara?
Interrompo e ele dá de ombros seguindo em direção ao porão.
O vejo parar apenas pra afirmar o que eu já sei.
— Vou estar contigo e te dar cobertura até o fim. E se tu cair vou tá lá também, sacou?
Conhecendo-o bem não esperaria um posicionamento diferente.
Balanço a cabeça sem precisar verbalizar e ele sai me deixando ainda mais perturbado que antes.
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Atualizado até capítulo 29
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