Preparativos

O ar gelado da Rússia ainda mantinha resquícios do inverno, mesmo com a chegada de abril. As luzes da imensa propriedade iluminavam a escuridão da noite, destacando a grandiosidade do lugar. Eu já esperava algo impressionante, mas a magnitude da mansão superava qualquer imaginação. Erguia-se como um castelo moderno, imponente e intocável, cercado por hectares de terra.

Assim que descemos dos carros, fomos recepcionados com uma atenção impecável. Homens e mulheres vestidos elegantemente nos aguardavam, prontos para nos conduzir ao interior. Cada detalhe parecia ter sido planejado com precisão.

— Seja bem-vinda, Aylla. — Eva apareceu à nossa frente, o rosto iluminado por um sorriso orgulhoso. — Todos os Mansur já chegaram, assim como os moradores de outros países.

A ideia de que nosso casamento simbolizava a união dessas potências trouxe um peso novo à minha respiração. Aquilo não era somente um evento. Era um momento que entraria para a história.

— Fico feliz que todos tenham vindo. — Sorri, tentando ignorar o aperto no peito, ficaria longe da minha família, em terra estranha para mim, trocando o calor pelo frio extremo, mas sei que cercada por quem me ama. A responsabilidade era imensa, mas estar ali, cercada por aqueles que agora eram minha família, me trazia uma sensação de pertencimento.

Eva se aproximou um pouco mais com seu olhar atento.

— Tudo começará ainda na madrugada. Cada detalhe da decoração da igreja já está pronta. E a festa… — ela suspirou, como se estivesse diante de sua maior obra. — Será algo que jamais será esquecido.

Os convidados começaram a ser guiados para seus respectivos quartos, e eu apenas observei enquanto Andrei se aproximava de mim, estendendo a mão.

— Vem. Quero te mostrar onde vamos ficar, para que possa deixar suas coisas, finalmente meu amor, já não aguentava mais.

O calor da palma dele contrastava com o frio da noite quando entrelacei meus dedos nos dele. Ele me guiou pelo corredor principal, subindo uma escadaria de mármore negro. O silêncio era confortável, preenchido apenas pelo som de nossos passos ecoando no chão luxuoso.

Quando a porta do quarto se abriu, senti um arrepio percorrer minha espinha. O espaço era elegante e sofisticado, exatamente como Andrei. Janelas amplas revelavam a paisagem branca do lado de fora, e a decoração mesclava tons sóbrios e detalhes refinados, sem perder a imponência necessária para alguém como ele. Como nós.

Andrei se virou para mim, observando minha reação.

— Gostou?

Engoli em seco antes de responder, sentindo o peso do momento.

— É perfeito.

Ele sorriu de lado e me puxou para perto, colando nossos corpos.

— Que bom… porque é aqui que vamos começar nossa vida juntos.

Andrei me conduziu pelo quarto por mais alguns instantes para ver cada detalhe, o closet deslumbrante com casacos grossos e lindos, joias e mais joias, um só para sapatos, ele pensou em tudo mesmo, me deu um beijo doce antes de entrelaçar nossos dedos novamente e me puxar para fora. Seu olhar carregava um brilho satisfeito enquanto descíamos as escadas imponentes da mansão.

— Quero te mostrar tudo. Esta propriedade é nossa agora, e você precisa conhecer cada detalhe, estamos na temporada de neve forte, mas logo não tem mais.

Saímos para o lado de fora, onde o vento cortante da Rússia me fez puxar o casaco com mais força contra o corpo. A imensidão do terreno ao redor era impressionante. Campos vastos se estendiam até onde a vista alcançava, cercados por bosques e construções menores espalhadas pela propriedade.

— Lá ao fundo, temos os estábulos. Temos cavalos de raças especiais, alguns que vieram diretamente da Turquia, outros da Itália. São fortes, ágeis… e todos muito bem treinados.

Meus olhos seguiram a direção apontada por ele, avistando a estrutura imponente dos estábulos. O cheiro de feno misturado ao frio da noite criou uma sensação reconfortante.

— Você anda a cavalo lá e vai amar os daqui — Ele afirmou, arqueando uma sobrancelha.

— Aprendi lá com cavalos que eu vi nascer, mas não sou uma expert.

Ele sorriu, aquele sorriso que me desarmava toda vez.

— Isso não é verdade. Quero te ver cavalgando aqui, explorando nossa terra.

Continuamos andando, e logo chegamos a uma área coberta onde alguns cães enormes estavam deitados, atentos à nossa presença. Suas pelagens espessas os protegiam do frio, e seus olhos inteligentes me analisavam com curiosidade.

— São lobos? — Perguntei, rindo nervosamente.

— Quase. São cães de proteção, treinados para patrulhar a propriedade e nos manter seguros. Eles reconhecem nossa família e são extremamente leais.

Andrei agachou-se e acariciou um deles, que imediatamente abanou o rabo e encostou a cabeça em sua mão. Eu me abaixei também, permitindo que um dos cães me cheirasse antes de deslizar os dedos por sua pelagem macia.

— Vocês são lindos… — murmurei, encantada com os animais.

Depois de alguns minutos ali, voltamos para dentro da mansão, onde um grupo de empregadas aguardava. Eram mulheres vestidas elegantemente, cada uma com uma postura impecável.

— Essas são algumas das responsáveis por manter tudo organizado. — Andrei as apresentou, e elas me cumprimentaram com acenos respeitosos. — Qualquer coisa que precisar, basta avisá-las.

Assenti, agradecendo a cada uma, e então ele me levou até a mesa principal da sala de jantar. O cheiro de especiarias e pratos típicos russos tomou conta do ambiente.

— Fiz questão de pedir que preparassem algumas iguarias tradicionais para você experimentar. — Ele puxou uma cadeira para mim, e sentei-me, observando a mesa ricamente decorada.

Havia pães escuros e robustos, carnes defumadas, queijos, sopas fumegantes e um prato que parecia ser pelmeni, pequenos bolinhos recheados que exalavam um aroma delicioso. Havia também blini, panquecas douradas acompanhadas de caviar.

Andrei se serviu primeiro, pegando um dos pelmeni e mergulhando-o em creme azedo antes de levar à boca.

— Quero que conheça nossa cultura de verdade. Não apenas através das terras, mas também pela comida, pelas tradições.

Fiz o mesmo, provando o pelmeni, e sorri ao sentir o sabor rico da massa e do recheio bem temperado.

— Está delicioso.

— Melhor comer bastante. — Ele disse, servindo um pouco de vinho em duas taças. — Nosso casamento será pela manhã, e a festa…

Ele se recostou na cadeira, um sorriso satisfeito no rosto.

— A festa durará dois dias.

Pisquei, surpresa.

— Dois dias?

Ele assentiu.

— É a tradição da minha família. Vamos celebrar nossa união como deve ser, sem pressa, sem limitações. Apenas nós, nossa família e nossos aliados.

Meu coração acelerou ao ouvir suas palavras. Tudo parecia grandioso, intenso… exatamente como Andrei.

E eu sabia que essa nova vida ao lado dele seria assim também.

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