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O sol mal tinha se erguido no horizonte quando acordei, envolvida no calor familiar que estava, casa de vó é sempre assim. O aroma forte do chá turco se espalhava pela casa, misturado ao cheiro de pães recém-assados e especiarias. Vesti uma roupa leve e segui para o jardim, onde a família já estava reunida para o tradicional kahvaltı.

A mesa era um verdadeiro espetáculo de cores e sabores. Pães dourados e crocantes, queijo branco e macio, mel pingando de favos ainda intactos, azeitonas negras brilhantes e tomates frescos. Ovos mexidos com sucuk exalavam um cheiro picante e convidativo, enquanto o çay fumegava nos pequenos copos de vidro.

Me sentei ao lado de Andrei, que logo deslizou um prato na minha frente.

— Coma bastante, amor. Vai precisar de energia para me acompanhar durante o dia, quero atirar um pouco e andar a cavalo.

Sorri, pegando um pedaço de simit e mergulhando no queijo cremoso. A conversa fluía naturalmente ao redor da mesa, os homens falando sobre negócios e as mulheres trocando receitas e histórias antigas.

Eva, minha sogra, me olhava com ternura antes de falar:

— Faz muito tempo que não temos uma menina na casa. A energia que você trouxe nos dará uma nova vida meu bem, espero que netos também né.

Fiquei corada, mas sorri ao ver Alice assentindo ao lado dela.

— Sua presença é especial, Aylla. Você é forte e determinada, mas também ilumina os lugares por onde passa e isso é sentido onde você vai.

Abracei as duas rapidamente, sentindo-me grata. A conversa mudou para a propriedade, e meu sogro contou sobre os animais que mantinham na Rússia.

— Temos cavalos magníficos, claro. Mas também alguns animais mais exóticos.

— Exótico como? — perguntei surpresa.

— Um zoológico particular, exótico sim, — Andrei respondeu. — Meu pai ama animais e investiu nisso anos. Temos tigres brancos, leopardos e até um casal de lobos negros.

Meus olhos se arregalaram.

— Eu definitivamente preciso ver isso, cada dia mais ansiosa para mudar logo para o frio da Rússia.

O assunto se desviou para a Rússia e o clima severo de lá. Eva falou sobre como sentia falta da neve, mas gostava do calor da Turquia. Nikolayev acrescentou que a Rússia tinha suas belezas, mas que o inverno castigava até os mais resistentes. Andrei, então, resolveu falar sobre seu império fora do submundo.

— Além dos negócios da família, tenho uma rede de hotéis e cassinos de luxo espalhados pelo mundo. Meu foco é o atendimento exclusivo, algo que faça cada hóspede se sentir único.

Cassandra arqueou a sobrancelha.

— Só espero que não seja um lugar para adultos, senão seu sogro nunca poderá visitar.

Ele riu baixo, negando.

— Meu negócio agrada a todos minha sogra. É um império limpo. Tão limpo quanto algo pode ser nesse mundo que vivemos.

A conversa continuou por um tempo, entre piadas e provocações sutis, até que meu celular vibrou sobre a mesa. Peguei o aparelho, esperando alguma mensagem boba da Rafa ou das meninas, mas meu coração gelou ao ver o nome desconhecido na tela.

Julio.

Abri a mensagem e senti o sangue abandonar meu rosto.

Se você não vier ao meu encontro, matarei mais do que uma mãe de criança órfã. Lembra do ataque ao ônibus? Da mãe das pirralhas? Pois é. Você decide.

A respiração falhou. Meus dedos apertaram o telefone com força enquanto minha mente voltava ao dia daquele ataque cruel. Olhei ao redor, vendo todos ali, seguros e felizes, mas uma sombra se espalhou sobre mim. Eu não podia permitir que minha família fosse ameaçada.

Engoli seco e passei o celular para meu pai.

Os olhos de Antony Mansur se estreitaram ao ler a mensagem, seus dedos crispando contra o aparelho. Andrei, ao perceber a mudança no semblante dele, se inclinou para ver também. Assim que leu, sua expressão se transformou em pura fúria.

— Esse desgraçado ousa ameaçá-la?

Meu pai respirou fundo, contendo a raiva.

— Ele está jogando sujo. Quer que ela vá até ele, sabe que ela não tem medo por ela e sim pela família.

Baran bateu a mão na mesa, exalando tensão.

— Isso não vai ficar assim, o certo é que Aylla fique aqui um tempo, ele não pode tocar nela.

Meus olhos estavam fixos no chão. Eu odiava isso. Odiava ver minha família preocupada, ver Andrei tão furioso que sua mandíbula parecia de pedra. Mas eu sabia o que precisava ser feito.

— Por isso preciso saber me defender, agora entendem os riscos?

Levantei o olhar para meu pai e Andrei, que me encaravam. Eu não deixaria que ninguém me fizesse de refém do medo. Eu era uma Cevrit, uma Mansur. E se Julio queria brincar comigo, ele logo descobriria que eu não era uma presa fácil.

O dia rolou lento entre ligações para a Itália e troca de informações com Rússia e Turquia, enquanto arrumávamos nossas coisas para partir, Andrei me observava de canto de olho. Ele parecia perceber minha tensão, mesmo que eu tentasse esconder. Ele sempre percebia.

Sem dizer nada, se aproximou e me puxou contra seu peito forte. O calor de seu corpo e o som firme de sua respiração eram reconfortantes. Minhas mãos repousaram em sua cintura e fechei os olhos, absorvendo aquele momento.

— Eu não queria sentir medo — confessei baixinho, odiando cada palavra que escapava dos meus lábios.

Ele afastou-se apenas o suficiente para segurar meu rosto entre as mãos, seus polegares acariciando minha pele com suavidade. Seu olhar encontrou o meu, intenso e carregado de determinação.

— Você não precisa ter vergonha do medo, isso é normal e você nunca estará sozinha — disse, com uma firmeza que fez meu coração acelerar. — Eu sempre vou proteger você. Sempre estarei ao seu lado.

E, naquele momento, soube que suas palavras não eram promessas vazias. Com Andrei ao meu lado, o medo não poderia me consumir.

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