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Eu tava na cozinha do castelo de gelo, tentando fazer um chá pra acalmar os nervos — porque, né, depois da conversa com o Rafael ontem, eu tava precisando de algo que não fosse cafeína me deixando mais elétrica ainda. O celular tava jogado na bancada, e eu nem queria olhar pra ele, mas aí ele vibrou com uma notificação que me fez engasgar com o gole que eu tinha acabado de dar. Era a Mari, no grupo das meninas: “CLARA, VC VIU ISSO? SAIU NO SITE DA CARAS!”. Junto, um link com o título que me deu um frio na espinha: “Casamento Relâmpago: Quem é a Jornalista que Conquistou Rafael Albuquerque?”.
Meu coração quase parou. Cliquei no link com as mãos tremendo, e lá tava: uma foto minha e do Rafael no evento da empresa, eu de vestido preto agarradinha no braço dele, com um sorriso forçado que agora parecia “mentira” pra quem quisesse ver. O texto era puro veneno disfarçado de curiosidade: “Clara Menezes, uma jornalista desconhecida de Santo André, virou a nova senhora Albuquerque em tempo recorde. Fontes dizem que ela estava afundada em dívidas antes do casório. Será amor ou um golpe de sorte?”. Meu Deus, fontes? Que fontes? O Felipe, aquele canalha, só podia ser ele.
Joguei o celular na bancada e comecei a andar de um lado pro outro, xingando baixo. “Merda, merda, merda. O Rafael vai me matar.” Eu sabia que a mídia ia pegar a gente cedo ou tarde, mas assim, tão rápido e com essa narrativa de “caça-fortunas”? Meu estômago embrulhou só de imaginar a cara do senhor Albuquerque lendo isso. E o Rafael… ele tinha dito que cuidava de tudo, mas como é que ele ia apagar esse incêndio?
Como se eu tivesse invocado o diabo, a porta abriu e lá veio ele, o iceberg em pessoa, com o celular na mão e uma expressão que era um misto de raiva e cansaço. Ele nem falou nada, só jogou o paletó no sofá e me encarou, tipo “explica antes que eu exploda”.
— Tá, eu sei, eu vi — comecei, levantando as mãos como quem se rende. — A mídia pegou a gente, e tá feio. Eles tão dizendo que eu sou uma interesseira que te laçou por dinheiro. E eu juro, Rafael, eu não falei nada pra ninguém, mas acho que o Felipe…
— Felipe de novo? — cortou ele, com a voz afiada que nem faca. Ele foi até o bar — porque, óbvio, uísque era o santo graal dele — e serviu um copo enquanto continuava: — Clara, eu te disse pra bloquear esse cara. Se ele tá por trás disso, a gente tá ferrado.
— Eu sei, eu sei! — retruquei, sentindo o sangue subir. — Mas eu não achei que ele ia virar repórter de fofoca do dia pra noite! Ele deve ter fuçado minha vida e jogado pras cobras. Rafael, o que a gente faz? Seu pai vai ver isso e…
— Meu pai já viu — disse ele, seco, me cortando de novo. Ele tomou um gole do uísque e largou o copo no balcão com um clique que ecoou na sala. — Ele me ligou há dez minutos. Quer a gente lá pra um almoço ‘casual’ hoje, meio-dia. E o tom dele não era de quem quer discutir o cardápio, Clara.
Eu quase caí sentada. O senhor Albuquerque. O tubarão. Meu Deus, ele ia me comer viva. — Um almoço? Hoje? Rafael, ele sabe, né? Ele sabe que é tudo mentira e vai acabar com a gente!
— Ele não sabe — respondeu Rafael, com uma calma que me deu nos nervos. — Ele desconfia, como sempre. Mas agora com essa matéria, ele vai cavar. A gente precisa alinhar tudo antes de ir pra lá. Minha assessoria já tá soltando uma nota: ‘casal discreto, apaixonado, blá blá blá’. Mas você e eu temos que estar na mesma página, Clara. Nada de deslize.
Eu respirei fundo, tentando não surtar. — Tá, beleza. A gente repete a história do evento de caridade, Paris, o pedido romântico. Eu finjo que te amo na frente dele. Mas, Rafael, e se ele tiver prova? Tipo, foto minha com o Felipe no café ou sei lá?
Ele me encarou por uns segundos, e juro que vi um brilho nos olhos verdes dele que não era só raiva — tinha algo mais, algo que eu não conseguia nomear. — Se ele tiver prova, eu resolvo. Mas você precisa segurar a onda, Clara. Meu pai é um tubarão, mas eu sei nadar com ele. Só não me deixa afundar por sua causa.
— Tá, eu não vou te deixar afundar, querido — falei, jogando o apelido com um toque de ironia pra aliviar o clima. Ele deu aquele meio sorriso que eu já conhecia e assentiu, tipo “então tá, vamos pro circo”.
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O almoço foi num restaurante chique nos Jardins, daqueles que têm mais talheres na mesa do que eu sei usar. O senhor Albuquerque tava lá, sentado numa mesa no canto, com um terno cinza e um copo de uísque na mão — porque, né, o DNA dos Albuquerque não falhava. Ele levantou os olhos quando nos viu, e aquele sorriso me deu um arrepio.
— Rafael, Clara, que bom que vieram — disse ele, com a voz grave que parecia ecoar no peito. — Sentem-se. Vamos conversar.
Eu sentei do lado do Rafael, tentando não tremer, e ele pegou minha mão por baixo da mesa, tipo um aviso pra eu entrar no modo “esposa apaixonada”. — Pai, que surpresa esse almoço — disse Rafael, com o tom calculado de sempre. — Algum motivo especial?
O senhor Albuquerque deu uma risadinha seca e tomou um gole do uísque. — Motivo? Bem, digamos que eu acordei com uma leitura interessante hoje. Uma tal de Clara Menezes, jornalista falida que virou a nova estrela da família. Curioso, não é?
Eu engoli em seco, mas o Rafael apertou minha mão de leve e respondeu antes que eu pudesse abrir a boca. — Pai, você sabe como a mídia é. Adoram inventar drama onde não tem. Clara e eu somos discretos, mas não invisíveis. Era questão de tempo até pegarem a gente.
— Discretos, é? — retrucou ele, me encarando com aqueles olhos que pareciam facas. — Clara, me diz uma coisa. Como é que uma moça de Santo André, com o aluguel atrasado e um ex-noivo xereta, vira a esposa do meu filho tão rápido? Eu sei reconhecer um blefe, sabia?
Meu coração disparou, e eu senti o suor escorrendo nas costas. Ele sabia. Ou pelo menos tinha algo. Mas aí eu lembrei do que o Rafael disse: “Nada de deslize”. Respirei fundo, olhei pro Rafael com o melhor olhar de apaixonada que consegui e soltei: — Senhor Albuquerque, eu não planejei nada disso. Conheci o Rafael num evento, ele me conquistou com esse jeito dele — dei um sorriso bobo pro Rafael, que quase disfarçou a surpresa —, e quando ele me pediu em casamento em Paris, eu disse sim porque o amo. Não tem blefe nenhum nisso.
O Rafael entrou na onda na hora. — Ela me mudou, pai. Você mesmo disse que eu tava mais leve no evento. Clara é real, e é por isso que eu quis ela do meu lado.
O senhor Albuquerque ficou quieto. Aí ele riu, baixo e frio. — Real, é? Talvez. Mas eu gosto de certezas, Rafael. E você, Clara, me intriga. Vamos ver quanto tempo essa história aguenta. Aproveitem o almoço.
Ele chamou o garçom, e o resto da conversa foi sobre negócios da empresa. Quando saímos do restaurante, eu desabei no banco do carro. — Meu Deus, Rafael, ele não engoliu. Ele vai procurar saber mais, eu sei.
— Ele vai tentar — disse Rafael, olhando pela janela. — Mas a gente segurou por hoje. Você foi bem, Clara. Melhor do que eu esperava.
— Tá, mas e amanhã? E se ele achar o Felipe? — perguntei, ainda com o coração na boca.
— Amanhã a gente vê — respondeu ele, com aquela calma irritante. — Por enquanto, descansa. Você merece.
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De volta no apê, eu tava exausta. O circo com a mídia e o tubarão tinham me sugado toda a energia, e eu só queria me jogar no sofá e esquecer o mundo. Mas aí, fuçando num canto da sala pra pegar um carregador que caiu, achei uma coisa que me fez parar: um skate velho, todo arranhado, com adesivos desbotados. Era o skate da foto, o que a mãe dele deu. Meu Deus, ele guardava isso?
Sem pensar muito, peguei o skate e desci pro térreo do prédio, direto pra garagem. Tava vazio, só uns carros estacionados e o eco dos meus passos. Coloquei o skate no chão e subi, tentando equilibrar como se fosse uma criança de novo. Claro que eu caí na primeira tentativa, ralando o joelho e xingando alto: — Puta que pariu, que ideia idiota!
Foi aí que ouvi uma risada. Virei a cabeça e lá tava o Rafael, encostado numa pilastra, com uma cerveja na mão — cerveja, não uísque, o que já era um choque. Ele tava sem o paletó, a camisa social aberta nos primeiros botões, e aquele cabelo penteado pra trás meio bagunçado. Meu Deus, ele tava… diferente. Mais solto. E, puta merda, sexy pra caralho daquele jeito, com a luz da garagem batendo no peito dele que dava pra ver pela camisa entreaberta.
— O que você tá fazendo, Clara? — perguntou ele, ainda rindo baixo, com um tom que me fez arrepiar inteira.
— Tentando me soltar, como sua mãe queria que você fizesse — retruquei, levantando com o joelho ardendo. — Mas acho que eu sou uma merda nisso.
Ele veio até mim, ainda com a cerveja na mão, e parou a uns passos de distância. Perto demais. Eu senti o calor dele, o cheiro daquele perfume caro misturado com algo mais… humano, talvez o suor de um dia longo. Meu coração disparou, e eu odiei meu corpo por reagir assim. Ele era o Rafael, o iceberg, o cara do contrato. Mas ali, com a camisa meio aberta e aquele olhar que não era só frio, ele tava me deixando tonta.
— Você tá ridícula nesse skate — disse ele, mas o tom não era de deboche, era quase… brincalhão. Ele pegou o skate do chão e subiu nele com uma facilidade que me pegou desprevenida, deslizando uns metros e voltando com um giro que mostrou que, sim, ele já tinha sido aquele menino da foto. — Vem cá, eu te ensino.
— Tá louco? Eu vou cair de novo! — protestei, mas ele estendeu a mão, e eu, burra que sou, peguei. Ele me puxou pro skate, segurando minha cintura com firmeza, e eu senti os dedos dele apertando minha pele por cima do tecido fino do vestido. Meu Deus, aquilo era quente demais, forte demais. Eu quase perdi o ar, imaginando aqueles dedos subindo mais, descendo mais, apertando lugares que eu não queria admitir que tavam pedindo por ele.
— Relaxa, segue meu ritmo — disse ele, baixo, quase no meu ouvido, enquanto me guiava devagar. A voz dele era grave, rouca, e eu juro que senti um calor subindo pelas coxas, um tesão que eu não podia sentir, não por ele. Meu corpo balançava junto com o dele, o peito dele roçando de leve nas minhas costas a cada movimento, e eu lutei pra não virar a cara, pra não encostar mais, pra não deixar ele perceber que eu tava quase tremendo.
— Tá vendo? Não é tão difícil — falou ele, ainda segurando minha cintura, e eu senti o hálito dele no meu pescoço, quente, com um leve toque de cerveja. Meu Deus, eu queria virar, queria sentir mais, mas não podia. Não ia. Era loucura.
— Tá, eu… eu aprendi, pode soltar — gaguejei, saindo do skate rápido demais e quase caindo de novo. Ele me segurou pelo braço, firme, e por um segundo a gente ficou ali, olhos nos olhos, o ar estranho entre nós. Eu vi o peito dele subindo e descendo, vi a tensão na mandíbula dele, e sabia que ele tava sentindo algo também. Mas nenhum dos dois ia ceder. Não podia ser real.
— Você é um perigo, Clara — disse ele, soltando meu braço e dando um passo pra trás, com aquele meio sorriso que me matava. — Melhor eu te deixar viva pro próximo round.
— E você é um convencido, Rafael — retruquei, tentando rir pra quebrar o clima, mas minha voz saiu tremida. — Vai tomar seu uísque e me deixa em paz. Aliás, um milagre tomando cerveja!
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Atualizado até capítulo 40
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