Vila e Sangue

Durante uma dessas noites, quando ele finalmente não conseguiu se controlar, que o caos se espalhou pela vila. Em um ataque cegante de fúria, ele invadiu o vilarejo, seus olhos vermelhos brilhando com uma intensidade sobrenatural. Os gritos eram ensurdecedores, e o sangue correu pelas ruas, se misturando com a terra. Zeca não sabia mais o que era certo ou errado. O que sabia era que ele não podia mais parar, não podia mais controlar a fera dentro dele. Ele era agora um monstro, e aquele vilarejo seria sua presa, uma vítima final em sua busca por algo que ele não compreendia, mas que, de alguma forma, lhe dava prazer.

A vila estava mergulhada em uma calmaria traiçoeira naquela noite, envolta por um silêncio que parecia pesado, quase opressor. As casas de madeira, com telhados baixos e janelas pequenas, estavam quase todas apagadas, as poucas luzes ainda acesas piscando timidamente, como se estivessem cientes do perigo que se aproximava. O vento cortava as ruas estreitas e poeirentas, agitando as árvores que pareciam sussurrar segredos esquecidos. Era uma noite de lua cheia, e o brilho prateado que vazava por entre as nuvens trazia uma luminosidade fantasmagórica, iluminando as sombras que se esticavam pelas vielas.

Nas casas, as pessoas estavam se preparando para dormir, algumas já haviam se recolhido, outros permaneciam acordados, mas com os olhos cansados, pouco atentos ao que acontecia fora de seus lares. O ambiente era de uma paz aparente, com poucos sinais de inquietação, mas uma sensação indefinível pairava no ar, algo que fazia os cães latirem mais alto, e os animais nas estrebarias se agitarem, sem motivo visível. Ninguém sabia, mas todos sentiam que algo estava prestes a romper aquela tranquilidade, como uma tempestade silenciosa prestes a desabar.

Os mais velhos, que ainda se lembravam das histórias sussurradas pelos mais antigos, falavam de um tempo em que a vila era assombrada por seres das trevas, de uma maldição que pairava sobre a terra. Mas essas eram apenas lendas para a maioria. O medo, há muito tempo, havia sido esquecido ou ignorado. No entanto, algo naquele fim de noite parecia trazer à tona um pressentimento desconfortável. Dentro das casas, os corações batiam mais rápido, uma ansiedade invisível deixando as mãos tremendo ao apagar as luzes ou trancar as portas.

No centro da vila, a praça estava deserta, exceto por uma figura solitária que passava apressada pelas ruas. O olhar da mulher era preocupado, como se sentisse algo rastejando pelas sombras. Ela se apressava, com o paletó puxado sobre os ombros, olhando constantemente para os lados, seu passo apressado refletindo uma ansiedade crescente. Ela sabia que havia algo errado, mas não sabia o quê. Ela tinha ouvido os rumores sobre Zeca, o menino que agora se tornara algo mais, mas ninguém ousava falar sobre isso em público. E, naquela noite, ela sentia que a história que todos tentavam esquecer estava prestes a se manifestar.

E foi então que o grito cortou o silêncio. Primeiro, uma única explosão de som que parecia vir das profundezas da terra, seguido por outro, mais baixo, mas igualmente aterrador. Era um grunhido, quase humano, mas deformado, como se uma besta imensa estivesse sufocando um último suspiro antes de destruir tudo ao seu redor. A luz da lua pareceu se distorcer por um instante, como se o próprio céu estivesse se curvando diante do que estava prestes a acontecer. As portas começaram a se abrir rapidamente, e os primeiros gritos da noite se espalharam como uma doença. A vila, que até poucos segundos atrás parecia tranquila, agora estava tomada pelo pânico.

As pessoas começaram a correr, algumas tentando se esconder dentro de suas casas, outras se reunindo nas praças, olhando para a escuridão que se estendia diante delas, desesperadas por uma explicação. Mas ninguém sabia o que estava vindo. O pânico tomou conta de todos, os gritos se multiplicando à medida que a besta avançava, suas garras afiadas rasgando a terra e deixando um rastro de destruição por onde passava. As janelas se estilhaçaram com o impacto de sua presença, e o som de dentes afiados cortando carne humana ecoou por toda a vila, uma sinfonia de terror que nunca seria esquecida. E, no centro de tudo isso, Zeca, ou o que restava dele, continuava sua caminhada sangrenta, um monstro solitário e imortal em busca de algo que não podia ser mais definido, senão por sua sede insaciável de sangue e morte.

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